A todo momento somos bombardeados de informação. Tragédias, notícias, anúncios, discos, filmes, séries, esportes, polêmicas nas redes sociais e desentendimentos. De certa forma isto faz parte da cultura pop nos dias atuais. Com apenas alguns cliques você acessa a discografia de um artista, assiste uma maratona no Netflix ou acompanha uma tragédia  ou cerimônia do outro lado do mundo: em tempo real.
Isso por sua vez tem seu lado bom e ruim – como tudo na vida. Nos deixa confusos, nervosos, agitados e com ânsia de mais informação. Algumas pessoas por exemplo já esbravejam ao ler títulos tendenciosos de matérias. Pelo lado bom temos acesso rápido a experiências que teríamos que viver mais de uma vida para conseguir usufruir.
Fora isso temos nossos problemas e dilemas do dia-a-dia que nos afligem e somados a essa loucura tendem a ser estopim de discussões, reações precipitadas, isolamento social e indiferença com o outro. Algo que o texto do Matheus Krempel para o portal Guitar Talks de certa forma mostra como um “grito” nas redes sociais pode por tudo a desabar.

Talvez lidar com espantar toda essa negatividade, tentando trabalhar esta energia de maneira equilibrada seja uma maneira de plantar sementes para um futuro melhor. E tudo começa com nós mesmos, colocando energias positivas em nossa vida, tentando melhorar o dia das pessoas com um simples “bom dia”, “obrigado”, olho no olho e sorrir. Pode parecer simples e óbvio mas repare como um elogio, um agradecimento, tratar com respeito e plantar o amor: tem o poder de mudar o dia de um desconhecido.
Você automaticamente se sente mais leve com um simples sorriso voltando. O principal de tudo é fazer as coisas esperando absolutamente nada em troca. Sempre vale lembrar que nunca sabemos o que se passa na vida do outro. Suas dificuldades, seus traumas, seus obstáculos, suas dores, seus receios e o que o futuro lhe reserva.

É esta a luta do dia-a-dia de milhares de brasileiros que saem de suas casas para trabalhar e se deparam com diversos tipos de energias e mentalidades. E nada como fazer sua parte. Devemos pensar antes de tudo em agir localmente para que isso reflita globalmente, com a era da informação 3.0 talvez uma energia positiva possa feito o “efeito borboleta”: transformar o mundo. E é neste contexto que chegamos ao disco que falaremos hoje.


Após 4 anos de seu primeiro lançamento solo, Beto Mejía apresenta seu segundo trabalho: Wahyoob. Lançado em novembro, o álbum foi um dos destaques de 2016. – Foto: Calu Corazzi
Reverberando positividade, Beto Mejía traz em seu segundo disco solo o conceito de “Wahyoob”. Mas antes disso vamos contar quem é Beto. Multi Instrumentista formado pela Escola de Música de Brasíli, vegetariano, amante da música e das séries de TV ele se dedicou 16 anos como flautista da banda brasiliense, Móveis Coloniais de Acaju.
Ao lado do conjunto ele teve a oportunidade de se apresentar por todo o Brasil, Europa e América do Sul, lançou 3 discos, 2 EPs, 1 DVD e um longa metragem. Atualmente a banda se encontra em hiato por tempo indeterminado.
Além disto, no período de 2005-2102, ele criou e produziu o festival Móveis Convida, por onde passaram mais de 40 artistas e um público superior a 50 mil pessoas. Em 2012 ele lançou seu primeiro EP solo, Abraços, no qual gravou e produziu ao lado de Diego Marx.
A produção também é um campo onde costuma trabalhar bastante. Já tendo assinado discos de artistas como Velhos e Usados, Lafusa, Perfecto e Kelton Gomes, além de compor trilhas sonoras para curtas-metragens e campanhas publicitárias. Essas são algumas facetas de Beto que pretende em breve lançar um disco e um livro infantil.
Um dos motivos desta futura empreitada é justamente a paternidade. Como poderemos ouvir em Wahyoob que tem uma canção dedicada a sua filha, Amora. Suas vivências também fazem parte da obra, sua visão crítica e busca por um estado de espírito mais Zen.
Tanto que ele aliou outros aspectos em seu disco:
“O trabalho foi feito de maneira totalmente independente e incorporando o espírito “Wahyoob” do disco, 70% de toda a arrecadação pelos downloads no site betomejia.com.br serão destinados às ONGs Santurário Terra dos Bichos, localizada em São Paulo e que já resgatou mais de 500 animais de 18 espécies, e Desabafo Social, de Salvador, projeto que visa a transformar vidas por meio da promoção da cultura dos direitos humanos, do incentivo ao empreendedorismo social e novas práticas pedagógicas embasadas por indicadores e dados. O valor da contribuição é livre e dá direito ao download do disco, que também está disponibilizado nas plataformas de streaming de música.”

Assim chegamos ao tal do significado de “Wahyoob”:
Wahyoob é o nome de um conceito Maia, povo que habitava a América Central antes da chegada dos espanhóis, no qual todo ser humano, lá no fundo, possui parte de sua energia psíquica formada por energia animal. Logo, a relação com o bem estar e a vida animal está estampada no nome do trabalho.
Desta forma tudo se encaixa. O vegetarianismo, a ação social em doar para as instituições com trabalhos que Beto admira e acredita, o bem estar, a vida animal e a positividade. Tanto é que o disco foi feito com a seguinte perspectiva: Como alterar a energia das pessoas para se sentirem melhores e poderem espalhar esse bem estar para outros ao redor.
Como na introdução falamos, a negatividade está presente na sociedade e deveríamos plantar pensamentos positivos para que essas energias caminhem na direção do bem estar. Que isto contamine o próximo de maneira positiva e que assim, aos poucos, o mundo vá se transformando em um lugar melhor. Onde o respeito, a harmonia e a reciprocidade de boas energias seja passada para frente em cada pequena ação da vida.
O Disco: Wahyoob
Lançado no dia 04/11 do ano passado, o disco foi produzido por Beto Mejía e Kelton Gomes e gravado nos estúdios Gravaqui (Brasília) / Family Mob (São Paulo) / Rootsans Studios (São Paulo) / Casa do Loows (São Paulo). Além de diversos músicos que participam nos instrumentos, o destaque fica pelas parcerias com os artistas Esdras Nogueira (Móveis Coloniais de Acaju – Sax Barítono), André Whoong, Gustavo Bertoni (Scalene) e Victor Meira (Bratislava / Godasadog).
A mixagem ficou por conta de Henrique Andrade (faixas 1,4,5,7,9,10), Diego Marx (faixas 3,11 12), Xande Burzstyn (faixa 2), Gustavo Dreher (faixa 6) e Fernando Jatobá (faixa 8). Já a masterização foi feita por Xande Burzstyn.

[spotify https://open.spotify.com/album/5ZfypQf3Civu2iPfIU96oC]


A viagem pelo mundo sensorial já se inicia com “Começo, Meio e Fim”. Uma canção que originalmente foi composta como abertura dos shows do Móveis Coloniais de Acaju porém que nunca vingou.
Ela tem uma energia que vai aos poucos contagiando, o barulho dos efeitos eletrônicos no começo estabelecem uma conexão instintiva com a natureza. As guitarras dão um tom de alto astral logo nos primeiros acordes que perdura até seu prematuro fim que feito um punk rock: se abrevia em um minuto e meio.
A segunda faixa, “Kaningawá”, foi o primeiro single do disco a ser lançado, ainda em Outubro.


“Kaningawá” veio em um sonho. Durante o período de gravidez da minha esposa, sonhei com a minha filha me dizendo essa palavra. Estava compondo a música e sabia que aquela palavra tinha sido feita para aquela música”, revela Mejía.


Esta que conta com ritmos da bahia – como o axé – somados a efeitos eletrônicos que soam um tanto quanto pop. É uma canção que te pega na primeira audição. A guitarra parece dançar ao ritmo da batida e os metais somados aos synths ampliam a sensação de relaxamento.


“Ela representa a minha vontade de uma energia mais colorida e tropical. Essa canção busca trazer o ouvinte para um nível energético que as canções do outro trabalho solo não alcançavam. A instrumentação e temática da letra foram pensadas para isso.
Estou encarando essa canção, nesse novo momento da minha carreira, como um passo para o aprendizado do desconhecido. Se ela fosse um livro, seria Capitães de Areia. Se fosse uma novela, Tieta. Se fosse um barulho, o do vento nas ondas do mar”, define Beto em entrevista para a Noize (publicada no dia 21/10/2016)


Lembram quando disse que o mundo mágico das séries de TV também fascina Beto? Pois bem, a faixa seguinte, “Eu Cruzei o Seu Caminho” tem como inspiração em seu instrumental a canção tema de The Leftovers (HBO), série que em 2017 chega a sua terceira e última temporada. Essa influência se traduz no uso dos sintetizadores duelando com os instrumentos de sopro. Estabelecendo assim, um encontro improvável.
Para quem acompanha a série sabe como estes encontros e trocas de olhares de fato mudam o destino de toda uma população. A série fala sobre o dia em que uma pequena porcentagem da população desaparece sem deixar vestígios.
A partir daí os questionamentos ganham desdobramentos, alguns apelam para seitas outros cometem atrocidades. A confusão mental geral acaba fazendo com que a cidade onde se passa a série viva em um luto eterno sem ter a certeza do que aconteceu. Mas sem SPOILERS, a série é boa demais para estragar com eles e neste ano o desfecho acontece!
Com notas delicadas no teclado se inicia a balada, “Eu Cruzei o Seu Caminho”. A troca de olhares com um desconhecido e a instantânea troca de energias é o ponto de partida para a faixa. A cura e o bem estar através dessa breve conexão traz a tônica o misto de good vibes e melancolia da música.
Um dos desafios do disco segundo Mejía foi: “Como juntar grooves de macumba, guitarras indies e melodias tipo Beatles e Beach boys em canções solares?”. E isso se reflete principalmente nas canções “Odoya” e “Bubna” de maneira mais visível.
“Odoya” por sua vez sauda a rainha do mar, Iemanjá. Uma curiosidade: Na mitologia yoruba, é filha de Olokun, soberana dos mares.”Iemanjá”, deriva da contração da expressão em yoruba: Yèyé omo ejá (“Mãe cujos filhos são peixes”).
Desta forma a canção tem uma levada mais de transcendência e conexão espiritual, algo que se reflete em seu ritmo tribal. Com direito a batuques, sintetizadores, e vocal contemplador. Como Iemanjá é tida como mãe de quase todos os Orixás, ela no Brasil é considerada a protetora dos pescadores e jangadeiros. Além de trazer o amor e harmonia para os lares e pessoas que convivem sob o mesmo teto.
A purificação através da espiritualidade é o berço da canção. Que através do choro e da volta para o mar, permite a cura. Assim o espírito protetor de mãe é exaltado nos versos: “No fundo do mar / mamãe avisou / se eu choro ela chora também”.
“Bubna” conta com a participação especial de Gustavo Bertoni (Scalene). Mais uma vez a figura feminina é vista com respeito e admiração como conta Mejía: “Essa foi feita para todas as vozes de mulheres que um dia foram emudecidas”.
A canção é narrada através do ponto de vista feminino, e talvez o mais apropriado seriam vocais femininos. Por outro lado é extremamente necessário o ato de ouvir e ter empatia. E é isto que a canção carrega: empatia por todas as mulheres que já sofreram caladas. Sabemos que todos os dias milhares de mulheres sofrem com a violência doméstica, desrespeito e falta de compaixão – por conta da sociedade que tem o machismo enraizado.
Gustavo Bertoni adiciona vocais melódicos no dueto com Mejía que deixam a melodia agradável. Dando espaço para que a mensagem seja ouvida e abraçada pelo ouvinte. Os synths e os teclados deixam o plano aberto para que o discurso discorra da melhor maneira.
Com ritmos carnavalescos, “Diminutivo” reflete sobre nossa importância no universo. Muitos de nós temos a falta sensação de importância mas na verdade somos apenas mais um milímetro deste universo. Os teclados ajudam a que sensação de vazio fique ainda mais evidente na faixa.
Uma das canções chaves do disco “Eu Me Perdi” toca em um tema delicado e que boa parte da população não quer enxergar. Estamos falando da invisibilidade social.
Todos os dias nesses encontros e desencontros que a vida nos permite vemos pessoas menosprezando ou simplesmente ignorando a existência dos moradores de rua. Os tratando como seres inferiores e não como seres humanos com os mesmos anseios, sentimentos e necessidades. O sentimento de desprezo por essa “superioridade” é o mote da canção que dá um tapa na cara em quem “se acha melhor”.


“A letra saiu depois de caminhar um dia pela Cracolândia. A energia lá é muito densa. Pra sair dali, só com ajuda e nada de indiferença” – reflete Beto.


O lado mais pop se choca com o indie em “Fiz um Feitiço”, tendo em sua musicalidade influências do projeto solo de Jónsi (Sigur Rós). Este que utiliza bem do recurso das flautas. O lado folclórico é algo presente na obra dos dois compositores e o aspecto global de assimilar o pop – como disse no começo do texto – através das ondas da internet possibilita essa conexão Brasil-Islândia.
“Sopro No Ar” é uma canção que se destaca pelo seu peso, flerte com o rock psicodélico, o regional e trabalho de percussão. Ela é quase que uma rock-epopéia por outros campos e desta soma que a faz pop. É uma canção para sentir e viajar por suas camadas, fechar os olhos e se permitir voar. É na diversidade de ritmos e sensações que ela encanta.


“Gravar essa batera, por sinal, não foi uma das coisas mais simples. Mérito do Anderson Nigro. É talvez a mais doidona do disco, tem quebra de parte, modulações e batuque de macumba” comenta Beto Mejía


“Uhuuu” é a cara do carnaval da bahia, cheia de swing, ferveção e ritmos dançantes. Ela celebra os bons momentos que a vida nos permite, de maneira alegre e viva. A faixa conta com a participação do músico André Whoong e explora a felicidade do povo brasileiro. O sopro deixa a canção ideal para ser executada feito uma marchinha de carnaval nos trios elétricos.
A canção mais bonita do disco é em homenagem a sua filha, Amora. A recente paternidade motivou Beto a refletir sobre o mundo que ela vai ser forçada a encarar. Ele mostra todo o receio, os medos em coloca-lá em um mundo cheio de desafios e injustiças.
É o abrir do coração para abraçar e celebrar com alegria a chegada de sua primeira filha. Os instrumentos se encaixam de maneira delicada feito uma canção de ninar, com sopros conduzindo o ritmo da batida.
“Ao descobrir que você vem /
Ao desmentir que o mundo tem só tristeza e peso para te dar /
se tem amor no meio Amora vem /
a vida muda e vem dizer que está na hora /
O céu laranja anunciou  que o mundo vem te receber /
que o rio chora de alegria com a sua chegada” – trecho de “Amora”
E assim chegamos a canção que fecha o disco, “Minerador”. Esta que conta com a participação do talentoso Victor Meira (Bratislava / Godasadog). A música fala sobre nossas imperfeições, nossos erros, nossas pequenas culpas e todo esse sentimento que carregamos em nosso dia-a-dia. Essa carga energética que deveríamos transformar em algo positivo para nossas vidas.
Seu minuto final conta com um bonito solo de sopro próprio do jazz e tem a frase ecoada no ar: “Talvez, eu nunca pise no céu.” De certa forma assumir os nossos erros e lutar constantemente para melhorarmos como seres humanos seja sim uma batalha que deveríamos escolher para confrontar todos os dias.


“Dentro do conceito do disco, acho que não havia frase melhor pra terminar. A gente luta o tempo inteiro, se suja o tempo todo. Vale assumir que ninguém é perfeito. ‘Talvez, eu nunca pise no céu’” conta Beto Mejía.



O segundo álbum de Beto Mejía, Wahyoob, consegue alterar a energia das pessoas para se sentirem melhores e poderem espalhar esse bem estar para outros ao redor através da sua leveza, sua delicadeza no encaixe de cada instrumento e atmosfera vibrante. É um disco imersivo para ouvir mais de uma vez. Reparar nos detalhes e nas camadas que por muitas vezes encaixam como um pop perfeito.
O tom crítico com a mediocridade humana perante o universo também pode ser observado em “Diminutivo”, o lado de empatia por aqueles que são invisíveis socialmente é um dos pontos a ser exaltado no disco e presente na faixa “Eu Me Perdi”. A religiosidade, a espiritualidade, o candomblé e as energias de certa forma conduzem o disco. Que tem como mote a carga energética que carregamos para enfrentar os desafios e cobranças do dia-a-dia. A paternidade também tem espaço na canção mais bonita – e de coração aberto – do disco, “Amora”, feita em homenagem ao nascimento de sua filha.
Outro ponto que não pode ser deixado de destacar é a empatia, afinal de contas além das letras que visam um futuro melhor plantando sementes do bem nas breves pequenas ações cotidianas, ele reverte parte da renda das vendas online do disco para ONGs com causas que ele apoia. Por ser vegetariano e o espírito de Wahyoob estar presente do disco, ajudar uma instituição como o Santuário Terra dos Bichos faz todo sentido. Assim como a doação para o Desabafo Social, uma instituição que visa a transformar vidas por meio da promoção da cultura dos direitos humanos.
Cada parceria no disco consegue agregar de maneira ímpar ao trabalho que mergulha por influências de ritmos até então não explorados na carreira do músico. Gustavo Bertoni (Scalene) dá a leveza a uma canção que faz o apelo pelas fortes mulheres que sofrem caladas. André Whoong ajuda a celebrar a vida e os amigos na animada “Uhuu”. O ponto alto talvez seja a participação de Victor Meira (Bratislava, Godasadog) em “Minerador” pois conseguimos ver mesmo de longe a conexão das ideias, a riqueza da letra e melodia que fecham o disco beirando a perfeição.


Beto Mejía planta o bem em Wahyoob. – Foto: Calu Corazzi


[Hits Perdidos]
O último lançamento do projeto solo, o EP “Abraço”, foi em 2012. Como sente que amadureceu ao longo do tempo as ideias para que assim chegasse ao mundo, Wahyoob?


Beto: “Sinto que esse disco é um disco mais pessoal. O EP foi feito com músicas pra minha esposa, minha irmã, meu afilhado. Pessoas que estão ao meu redor e que amo. Já este disco não tem essa pegada. Não sei se é mais maduro. Só tem um conceito diferente. Sei que a paternindade me influenciou muito nesse disco. Desde a composição da música para minha filha, Amora, até a questão do formulação de doação para ONGs. Nesse mundão maluco que vivemos, só temos nossos valores para seguir caminhando.”

[Hits Perdidos] O lançamento feito de maneira total independente é beneficente. Como conheceu o trabalho da ONG’s Santuário Terra dos Bichos (SP) e Desabafo Social (BA)? Para quem tiver interesse em fazer doações, por onde pode contactar?

Beto: “Minha mãe fez cursos de Reiki para animais e me contou do projeto do Santúario. Como sou vegetariano, achei perfeito convidá-los para participarem do projeto. Além disso, casam muito bem com o conceito Wahyoob, da incorporação animal. Já o Desabafo conheci num seminário sobre idéias e ações criativas realizado pela ONG Imagina na Copa. Conhecia a Monique Evelle, fundadora do projeto, e me apaixonei pelas ações de ensino de representatividade e democracia para crianças e adolescentes de Salvador. Trabalhos muito distintos, mas cada um com sua importância extrema.”

[Hits Perdidos] “Wahyoob” é a busca por uma força arquetípica animal para se vivenciar o cotidiano”. Quais forças de animais acredita que faltam para o ser humano encarar a “selva de pedra” do cotidiano?

Beto: “Nossa… na realidade, Wahyoob é a energia em si que se incorpora para vivenciar o cotidiano. Vale tudo. Força de formiga pra carregar as pauladas do dia a dia. Olhar de águia para encarar e se aprofundar na compreensão de processos pessoais. A agilidade do balançar de um macaco em uma árvore para se desviar  dos ataques diários. Do amor da lambida de um gato em sua ninhada para refletir o amor pelo outro. São inúmeras e infinitas formas.”

[Hits Perdidos] O ano passado foi um tanto quanto agitado para você. Entre a pausa do Móveis, a paternidade e o disco. Como acredita que essa soma de fortes emoções influenciou no resultado final do trabalho?

Beto: “A gente fica realmente mais pensativo e sensibilizado por isso. Tudo isso só me trouxe a tona o pensamento de que o aprendizado é o maior presente que se tem nessa vida. Fazer disco, compor música, ser pai, acabar e fazer novas bandas… tudo isso é um grande aprendizado para sermos melhores como pessoas. O disco foi feito sobre esta perspectiva: como alterar a energia das pessoas para se sentirem melhores e poderem espalhar esse bem estar para outros ao redor.”

[Hits Perdidos] É um tanto quanto interessante ver como as influências tanto do Móveis como desta empreitada solo ecoam por horizontes além de Brasília. Visto que o disco vai dos orixás ao eletrônico. De onde vem essas inspirações da cultura pop?

Beto: “Acho que a inspiração vem da loucura do excesso de informações que estamos expostos. Tudo é pop, em algum momento, né? Hoje você consegue ouvir uma discografia inteira de gerações num clique. Eu fico pensando o que será da “cultura pop” dentro da produção da garotada de 20 e poucos anos. A grande questão é como você codifica e decifra essas informações a que foi exposto. Pra mim,  o que consigo decifrar e tornar como verdade momentânea, vira pop.”

“Amora” homenageia a chegada da filha ao mundo. – Foto: Calu Corazzi

[Hits Perdidos] “Começo, meio e fim”, canção que introduz o disco, tem a curiosidade de ter sido a canção do Móveis que nunca “vingou”. Conte mais sobre.


Beto: “No Móveis, sempre tive a pala de imaginar a banda entrando com um tema antes de começar o show mesmo. Vibe Ramones e outros… O Móveis até já usou algumas outras trilhas. Essa foi composta no meio da produção do “De lá até aqui”. Mas, acho que no fim, tinha tanta música lá pra trabalhar que acabou se perdendo.”

[Hits Perdidos] “Eu cruzei o seu caminho” tem inspirações na canção tema de Leftovers. Aliás, bom gosto, é uma das minhas séries favoritas, muito por conta da trama espiritual.
Já que cultura pop é o carro chefe da obra. Quais trilhas de séries destacaria? E qual desfecho para a última temporada acredita que ser o “perfeito”?

Beto: “A do Leftovers é fantástica. Suspense e beleza intensos. A trilha do Westworld também tá animal. Curto bastante o que o Ramin Djawadi vem fazendo. Não consigo nem imaginar o fim do Leftovers… Está bem imprevisível. Fim perfeito? Hum… difícil essa…  vou deixar pros roteiristas! =)”

[Hits Perdidos] Inclusive no disco temos a forte “Diminuitivo”, que toca em um tema muito importante: a invisibilidade social. Como observa as políticas públicas feitas ao redor da Cracolândia e na região central da cidade para revitalizar a região? Como acredita que cidadãos e governos deveriam lidar com o problema?

Beto: “A Cracolândia e a revitalização da cidade é uma questão muito complexa. O vício é uma discussão de saúde pública. Sou a favor de políticas assistencialistas na tentativa de reversão de alguns casos, como era no modelo de gestão Haddad. Mas também sei que tem suas limitações. Acredito que o primeiro passo seja admitir que pessoas e energias como as que estão ali existam. Não dá pra fingir que não estão lá. Essa indiferença mata. Literalmente.”

As linhas melódicas da bahia de artistas como Gilberto Gil, Caê, Pepeu, Dorival Caymmi somados ao axé e o indie são as influências principais de Wahyoob. – Foto: Calu Corazzi

[Hits Perdidos] Influências no disco não faltam. No álbum você ainda executa uma série de instrumentos. Desde a flauta, passando pelas guitarras ao baixo. Além do Sigur Rós, quais as inspirações crê que te influenciaram em cada instrumento?

Beto: “As linhas das músicas mais dançantes foram pensadas sobre a base de linhas melódicas da bahia. Gil, Caê, Pepeu, Dorival e muito axé. As linhas melódicas das músicas mais lentas me foquei mais em coisas do folk rock indie traduzindo pra linguagem brazuca. Mas, o que você disse é bem verdade… são tantas influências que não consigo colocar numa coisa só. Ouvi muito ponto de macumba, Beatles, Beach Boys, Local Natives, Tropicália, Mutantes, Fleet Foxes, O Terno, Jeneci, Wado… e por aí vai!”

[Hits Perdidos] O disco conta com participações de diversos artistas entre eles Gustavo Bertoni (Scalene), André Whoong e Victor Meira (Bratislava) como crê que cada um adicionou ao disco? E como foi o processo?

Beto: “O Bertoni é um menino bom demais. Canta muito, timbre bonitão e tem coração limpo. Trouxe muita beleza pra “Bubna”. Eu adoro o trampo do André. Oitentista com timbragens fodas e loucura na medida certa. Acho que ele trouxe outra energia dançante pra Uhuuu. E pra mim, o Victor é um dos melhores letristas da geração rock de São Paulo hoje. Tê-lo nesse disco comigo foi a certeza de criação de uma música que não conseguiria fazer sem ele.”

[Hits Perdidos] Quais discos mais gostou em 2016 e já que temos uma música inspirada na trilha de Leftovers, quais foram suas séries favoritas?

Beto: “Gostei muito do Vitor Araújo, Levaguiâ Tere. O do Terno. O da Solange Knowles, irmã da Beyoncé. O do Esdras Nogueira, saxofonista do Móveis. O do Godasadog, Escorpião. O do Xóõ. Tem vários… =)
Das séries, gostei muito do Westworld. Curto muito Game of Thrones. Sense8. E o 3% me surpreendeu. O difícil e ter tempo pra ver tanta série. =)”

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Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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