Hoje vamos falar de um artista um pouco mais para lá do que para cá, no bom sentido da coisa. Um artista que através de sátiras e de críticas bem humoradas, tenta desconstruir o que chamamos de senso comum.
Algo do tipo: sucrilhos de ironia no café da manhã, torta de climão no almoço e Pizza de hipsters no jantar.
Se tem uma coisa que Aletrix quer é te tirar da sua zona de conforto, te instigar, mostrar um lado do ser humano mais humano e racional ao mesmo tempo. Tudo isso por conta de uma sociedade que prega a todo momento regras de convivência, e aos poucos vai nos fazendo aceitar muitas vezes coisas absurdas.
O melhor adjetivo que pode definir Aletrix: é chama-lo de Anti-herói de uma rock-epopeia.
Ele na verdade é um grande estudioso da indústria da música em seus mais diversos setores, e tenta se encaixar a sua maneira usando suas armas. Ele mesmo faz sua própria assessoria, divulgação e o “corre” todo que muitos não estão dispostos a fazer. Não faz um material para agradar rádios ou ser o som da moda, acredita na música como forma de expressão da arte.
Segundo entrevista ao Crush Em Hi-Fi, Aletrix diz que a época mais prolífera do rock independente nacional foi a primeira metade dos anos 90, vê os gaúchos do Graforreia Xilarmonica como um marco ímpar no rock nacional e tem extrema admiração.
Tem como ídolos bandas de rock alternativo altamente respeitadas como PULP, Guided By Voices, Pixies, Big Country , Lemonheads e bandas de post-punk como The Cure. Mas como dito, Aletrix é um estudioso e sempre está disposto a ouvir os mais diversos estilos para extrair o seu melhor mesmo que isto não se manifeste através de seu som a primeira ouvida. Afinal de contas influência é influência e as vezes nem precisa estar diretamente lá crua para ser citada por nós que escrevemos sobre as bandas, catzo.
Sua banda já passou por várias formações e a atual conta com Alexandre Lemos (apresentador do programa Snooze Zero, da Antena Zero) tocando guitarra, a Mia (ex-Hugh Grants), no baixo e o Ed Avian, baterista que também se apresenta com o Brothers of Brazil.
Ele vai contra a maré, aliás, de modismo ele está cansado e já até declarou Herpes Aos Hipsters (2014) logo de cara no nome de seu disco. Aliás, o álbum tem uma arte incrível, soa como uma colcha de retalhos, cheio de referências a pop art, cultura pop, ícones do rock e criatividade. Um detalhe bacana é a preocupação em o fã passar a mensagem em frente: no disco, vem um CD EXTRA para você presentear um amigo.
Ou seja, nada de achar que tudo é bagunça porque na verdade: tudo é pensado no mínimo detalhe. A experiência já começa a partir daí.
A primeira música do disco já é literalmente um murro na cara com luva de pelica. “UFC, Aneroxia” critica a cultura de amor ao UFC e as lutas livres em geral que tem se instalado nos últimos anos com um super empurrão da mídia.
Ainda questiona o estilo de vida em que o aspiracional é ser um “Ogro” de academia. A sonoridade te remete ao lado rápido e introspectivo que Robert Pollard (Guided By Voices) sempre imprimiu ao longo de seus projetos.
“Eros X Tânatos” na sonoridade remete a algo do tipo fusão do Trompe Le Monde (1991 – Pixies) com as transições alá Pavement somadas as chiadeiras do grunge. A letra bastante irônica lida com problemas sociais como o convívio com sociopatas e o desespero por aceitação social (“O passageiro ao lado/ Mostra as fotos do seu carro/ O seu carro do ano é um extensor peniano”). Deboche e um grau ímpar de astúcia chocam aos que não entendem sua proposta.
O rock gaúcho e o lo-fi misturado com aquela atmosfera que Peter Bjorn And John – no álbum Gimme Some (2013) – e PULP sempre gostaram de criar no ouvinte com o artifícos sonoros traduzem um pouco de como a canção “Caixa Vazia”. Já nesta faixa o tapa na cara soa como uma indireta – BEM DIRETA – a pessoas que nem o trabalho de responder as outras.
Além de brincar com o pesadelo que é viver num mundo em que as redes sociais praticamente consomem o tempo todo de atenção de uma pessoa. A atenção seletiva em frente da educação. Uma versão atualizada desta canção poderia brincar com a ironia de estar em um restaurante com os amigos e eles não pararem de mexer no celular sendo sociais e anti-sociais ao mesmo tempo. Um verdadeiro dilema moderno.
“Herpes aos Hipsters” é faixa título do álbum e é super rica de elementos do rock em geral, do rockabilly ao progressivo, a confusão sonora parece uma grande brincadeira com algum disco hipster tentando ser inovador ou quem sabe algo milimétrico como o som do Mars Volta?
A letra é ironica até a última ponta. O incômodo com a falta de personalidade das pessoas, a mudança de ser e pensar a cada estação. Tudo isso para se manter IN ou ser visto como de vanguarda.
Você é o camaleão da vez
É uma traça de brechó
Coçando o bigode irônico
E a tattoo lo-fi de Popeye
Óculos sem grau
A calça apertada
Não tem bola que aguenteTanto esforço em vão
Para parecer legal
Me visto de saco e grito aos céus
“Herpes aos hipsters” (Aletrix – “Herpes aos hipsters”)
Aletrix faz a proposição da faxina na augusta, exige o fim do twitter e deseja herpes aos hipsters. Tudo isso se visto da maneira adequada, é apenas seu jeito peculiar de dizer: seja você mesmo, cara. Não seja mais um boçal atrás de uma onda. Ácido e direto, esse é o estilo que emprega nas suas composições.
“Ele é Mais Qualificado”, é a quinta música da obra, ele tem a delicadeza das canções do Smiths mas a mesma acidez das letras irônicas de Morrissey. O intimidar com o EGO alheio, fruto de uma sociedade que preza muitas vezes diplomas acima de caráter, gentileza, competência, educação e boas maneiras.
“Dr. Bichano” em sua sonoridade é um CRAMPS autêntico, Aletrix se preocupa com os detalhes vocálicos do falecido mestre, Lux Interior. A letra por sua vez tira sarro disso, visto que fala sobre um gato de estimação que tem diploma. Numa visão de conjunto da obra, a música conversa com “Ele é Mais Qualificado” em sua narrativa e tema central.
“Milk Shake” é uma balada dos desesperados por uma vida para chamar de sua. A crítica sobre a um sociopada que critica tudo, alguém que não consegue fazer algo por sí só e não valoriza os outros, e passa por cima dos outros feito rolo compressor. Alguém que se preoucupa tanto com o que os outros vão achar, que deixa de viver. Um neurótico indefensável. Uma verdadeira ODE ao Ódio.
A oitava música traduz um cenário que estamos vivendo no momento, com a estreia da décima sexta edição do BBB (Pode isso, Arnaldo?) e a mediocridade humana que isso nos transparece. “Ex-BBB” chama os Ex-BBB’s de pragas, que carregam germes por onde passam.
A indiferença com que o público os trata após esses 15 minutos de fama. A dificuldade de rotularmos após o programas, o erro em chamar alguém de artista sem este de fato fazer algo agregador. Destrói o mundo das sub-celebridades, as cobranças de cachês por idas a festas e o mito do “artista”. O interessante deste som é a transição de estilos e a dislexia proposital das guitarras, nos riffs e nas sobreposições de instrumentos, tudo meticulosamente calculado.
“Garfinho de Ouro”, detalha a vida daquele gordinho que se lambuza nos prazeres das comilanças. Sabe aqueles blogueiros/vloggers que só falam de comida como se tivessem a propriedade de um chef de cozinha para falar no assunto? Estes mesmos são os “homenageados” da vez. A música é um punkrock lo-fi que poderia ter sido composta por Bob Mould (Husker Dü). Aliás vale a pena ouvir os trabalhos recentes do músico.
“Mestre & Pupilo”, mais uma vez vai conversa volta o tema do cultivo a luta e o corpo, como na faixa “UFC, Anorexia”. O esforço de um aprendiz perante seu mestre, o respeito em troca de humilhação. A crônica de Aletrix fala sobre o cenário de luta em sí, mas se transportarmos esse assunto para outros campos da vida: Quem seria o seu carrasco?
A vibe da canção é dark, quase um de Bauhaus com o Guided By Voices se chocando com o som desesperado do Fugazi. Visceral, o descontentamento da narrativa vai de encontro a sonoridade.
Confesso que quando li “Louie Louie Chuva Dourada”, tomei um susto pois imaginei o clássico do rock e perversão sexual e minha reação foi: WTF. Mas não se trata nada disso, apesar de ser a história de um psicopata daquele tipo C.E.O. de multinacional workaholic e seu anseio por poder e aventuras ela por sí só trata de mostrar apenas quão perverso esse sociopata pode ser.
Quem narra a história é seu algoz, aquele que mostra as verdades, que ele mesmo quer esconder. Diria que alguma similaridade com os acusados no caso da Petrobrás não é mera coincidência. Sujeira para todo lado, lavagem de dinheiro e proteção. A melodia por sí só lembra os hits do The Cure, mas principalmente do álbum Wish (1992).
“Debut do Aletrix” diz explicitamente o que Aletrix espera do seu disco. Emoções, angústias e um mar repleto de expectativas. Como fazer? Planejamento? Organização? Como lidar com tudo isso? O que faço? Ansiedade define os devaneios que está canção ilustra. Aquela crítica indústria fonográfica em todos seus tentáculos. Da gravação ao produto final e sua exposição. Ele trata de quebrar a cartilha de regras e explana seus paradigmas. Uma vibe Country Punk toda em ritmo de locomotiva para narrar sua epopeia.
“DJ Nerd” é uma crítica a um rejeitado por todos que busca seu lugar ao sol e cai nas trevas da falsa ilusão. A balada de um covarde, um destemido que tenta abraçar tudo e não encontra nada. Uma crítica a um fã de música que acha que será respeitado pelos seus sets originais e autênticos e cai na malha fina do TOCA AQUELA. DJ’s da rua augusta se identificarão com a mediocridade de nosso personagem. Está rua que já foi criticada na música central do disco “Herpes aos Hipsters”.
No momento, a banda trabalha em seu segundo disco e apenas aguardamos o tapa na cara com luva de pelica que está por vir!
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This post was published on 21 de janeiro de 2016 6:10 pm
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