Brvnks passeia por memórias no agridoce “Morri de Raiva”

 Brvnks passeia por memórias no agridoce “Morri de Raiva”

Desde que lançou o EP Lanches lá em 2016 a Brvnks definitivamente entrou no radar de muita gente. Com letras irônicas, divertidas e com uma sonoridade que flerta com o rock alternativo dos anos 90 e o dream pop, não é muito difícil cantarolar seus versus açucarados.

O ecoar de suas guitarras pops e aliados aos vocais melódicos de Bruna Guimarães reverberam e se tornaram meio que uma marca registrada.

Não é muito difícil lembrar de grupos como Snail Mail, WavvesSoccer Mommy, Pixies, FidlarBest Coast, AlvvaysCourtney Barnett e tantos outros nomes parecem fazer parte da trilha sonora do grupo goiano.

Não é a toa que a Sony Music abriu os olhos e fechou a parceria para o álbum de estreia da banda, Morri de Raiva. Tendo circulado por diversos festivais, abrindo show do Wavves e sendo uma das atrações do Lollapalooza Brasil 2019.

Nos últimos meses pudemos conhecer os singles “Tristinha”, “Fred”, “Yas Queen” que se juntaram a “F.I.J.A.N.F.W.I.W.Y.T.B (Freedom Is Just A Name For What I Want You To Be)” e “Don’t” já velhas conhecidas dos fãs. Mas no dia 31 as outras 5 faixas foram reveladas.

Por ter acompanhado de perto a cada single que foi sendo lançado previamente quando ouvi de fato o registro “do começo ao fim” para mim já parecia o encontro com um velho amigo. E talvez pelas referências e estética ele seja meio que isso.


brvnks
Brvnks lançou no dia 31/05 seu álbum de estreia. – Foto Por: Rodrigo Gianesi

Brvnks – Morri de Raiva (31/05/2019)

Muitas das composições foram escritas quando Bruna tinha 17 anos e suas temáticas são bastante autobiográficas dando ainda mais intensidade e sentimento quando ela canta.

Já a produção é assinada por Edimar Filho (também baterista do grupo), gravação e mixagem foram realizadas por Alejandra Luciani e masterização por Fernando Sanches.

São 34 minutos de disco, 10 faixas, tiro curto e muitos sentimentos são revisitados. Entre eles a instabilidade dos relacionamentos, frustrações, passagens, e até mesmo as raivas – como o próprio nome do disco já sugere.

Quem já foi a algum show praticamente conhecia boa parte do repertório da banda que além de Bruna conta com Edimar Filho (Bateria), Ian Alves (Guitarra), Rodrigo Gianesi (Baixo) e Heloisa Cleaver (Teclados / Guitarra). Mas este fato não tira em nada o brilho de um consistente álbum de estreia.



“Tristinha” abre o álbum em ritmo de balada desolada e parece procurar por motivos para fazer as passes consigo mesma. Os pensamentos e pequenas conversas consigo mesma parecem ganhar versos e guitarras que destilam acordes powerpop que tanto amamos. Nostalgia! Pixies!

“Fred” por sua vez carrega um peso diferente. Ela homenageia o amigo que morreu em 2016. Na época do lançamento do single, nas vésperas do Lolla, Bruna abriu o coração para falar sobre a história por trás da canção.

“Foi o pior momento da minha vida. Foi a pior dor que eu já senti. Foi inacreditável, foi inaceitável, e até hoje eu não aprendi a lidar com a falta que faz. Ele amava a banda e eu fui a última música que ele ouviu antes de ir. Ele disse que isso era a única coisa que tava deixando ele feliz. Tenho certeza que ele ia amar ter uma música pra ele aonde quer que ele esteja e é por isso que eu fiz essa.”, contou a compositora em sua conta no instagram

Até por isso a sensação de paz e de afeto são expressos na canção que tem aquela aura de discos como it’s a shame about ray (1992) do Lemonheads, R.E.M., ou até mesmo do brit pop da mesma década.

“Don’t” canção presente no EP de estreia, carrega uma roupagem mais “clean” do que a versão anterior. Que valoriza mais os vocais mas que por outro lado perde a estridência. Com uma cara mais Alvvays, Snail Mail, Japanese Breakfast e até mesmo me lembrando Dum Dum Girls.

Definitivamente “Yas Queen” é uma das mais radiofônicas do álbum e vai agradar em cheio a fãs da australiana Courtney Barnett. Justamente por este poderio em saber construir a faixa que passa por camadas leves, horas sinfônicas e outrora explosivas. Sentimento que transborda à flor da pele. Destaque para os teclados que irão agradar a quem curtir tUnE-yArDs.

“F.I.J.A.N.F.W.I.W.Y.T.B (Freedom Is Just A Name For What I Want You To Be)” tem riff tão açucarado que é impossível não imaginar coreografias e um clipe no mínimo engraçadinho cheio de pequenas “tiradas”.

A própria letra sugere algo um tanto quanto cômico feito o vídeo de “No Waves” do FIDLAR. Podiam logo chamar a Carrie Brownstein (Sleater-Kinney / Portlandia) para dirigir, atuar e coordenar essa produção.

Já a “I Hate All of You” distila sua raiva de forma bem dançante feito o belo álbum do The Drums, Portamento (2011), e irá agradar tranquilamente a fãs das espanholas do Hinds justamente por sua explosão e ar jovem.

O Wavves, em King of the Beach (2010), se funde ao Beach House, do Teen Dream (2010) na agradabilíssima melodia de “Tired” e mostra como o tédio – e cansaço – nos consomem. Seja pela preguiça de lidar com as pessoas ou o mundo a nossa volta. Quem nunca?

Com guitarras rápidas e aquela energia Half Japanese “I Am My Own Man” tem o espírito ríspido do Bikini Kill e é ideal para ir para a rodinha.

Energia que não se dissipa na sequência em “Your Mom Goes To The College”, que é inevitável ler e já lembrar do Descendents. O espírito é punk, flerta com o alternativo e o college rock, que ultimamente tenho visto por aí sendo chamado de Jangle Pop.

Mas quem fecha é “Snacks” que é mais Lanches que qualquer outra coisa. Explico, lembram que o EP de estreia carregava este nome?

Então, a canção é basicamente um tributo muito digno (diga-se de passagem) ao Big Mac e ao famoso Pão de Alho (hmm). Também cita o Subway e o terrível cheiro que os sanduíches deixam na sua mão (é real!). Já em seu instrumental é total nirvanesca. Mas adoramos, certo?

É a música comercial de Fast Food que não pedimos mas muito obrigado. E se puder completar com mais picles por favor me vê mais dois.


CAPA


O álbum de estreia da Brvnks, Morri de Raiva, diverte por seu jeito despojado, dream pop, ora ruidoso, ora punk, outrora pop. Como foi sendo lançado aos poucos várias faixas já eram conhecidas dos fãs do grupo goiano mas como seu sentimento de nostalgia era iminente pouca diferença fez para o resultado final.

Altamente recomendado para fã de Snail Mail, WavvesSoccer Mommy, Pixies, FidlarBest Coast, Alvvays Courtney Barnett. Dê o play e se deixe levar pelas faixas que fazem um passeio por lembranças da adolescência. Entre raivas, amores, tensões e aprendizados.

4 Comments

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

error: O conteúdo está protegido!!