Feito um presságio, Bonifrate lança seu sexto álbum “Dragão Volante”

 Feito um presságio, Bonifrate lança seu sexto álbum “Dragão Volante”

Bonifrate lança “Dragão Volante” em Premiere no Hits Perdidos – Foto: Divulgação

“Dragão Volante” é o sexto disco do Bonifrate e faz parte de uma trilogia

Três anos após disponibilizar Corisco, Pedro Franke, que assina seus trabalhos como Bonifrate, disponibiliza nesta sexta (01) em Premiere no Hits Perdidos seu sexto álbum solo, Dragão Volante. Produzido de forma caseira, assim como seus registros anteriores e com parceria com Diogo Santander, companheiro de Supercordas, teve gravações realizadas em Paraty com idas e vindas para São Paulo no meio do caminho em um longo processo que aconteceu nos últimos 3 anos.

O processo de certa forma se relaciona com o disco anterior, onde Diogo pode participar da parte de engenharia de som, como Pedro nos conta e ainda conta com regravações. Claro, que canções inéditas foram sendo lapidadas ao longo do processo e o que era para ser um EP acabou virando um disco em uma trilogia.

Dragão Volante teve masterização de Alejandra Luciani (Carabobina) e a arte é uma ideia de Pedro consumada por Henrique Milen a partir de um impresso antigo.


Bonifrate Dragão Volante
Bonifrate lança “Dragão Volante” em Premiere no Hits PerdidosFoto: Divulgação

Entrevista: Bonifrate Dragão Volante

Você optou lançar antes do disco a faixa “Corisco (Parte 3)” e lembro de você falar que o Corisco estava na sua cabeça desde 2016. O novo álbum é resultado deste mesmo processo criativo ou essa música e a reprise foram apenas canções deste momento que quis repaginar?

Bonifrate: “Como tudo nesse processo, acho que é um diálogo entre acaso e narrativa. Foi uma das primeiras canções que terminei de escrever depois de lançar o álbum Corisco. Eu queria fazer uma espécie de sequência para o álbum, talvez um EP com algumas canções em novos arranjos e uma ou duas inéditas.

Começou assim, mas ao mesmo tempo fui escrevendo mais canções enquanto as outras demoravam pra ficar prontas e logo ficou óbvio que seria um novo álbum. A “reprise” de ‘Grande Nó’ eu senti que tinha que gravar, porque gostei da forma como arranjei pra tocar numa versão voz e violão. A canção aparece mais em seu sentimento, é mais curta e direta.

Além disso, eu sempre quis fazer uma versão definitiva mesmo de “Alfa Cruz”, que eu lancei em 2018 como um single perdido e se chamava “Alfa Crucis”. Foi um exercício em tentar gravar novamente em fita, mas se tornou uma canção que quis construir por inteiro e virou aqui o épico de abertura.”



Na virada do ano de 2022 para 2023, você também lançou sem muito alarde o EP de regravações que completaram 20 anos repaginando e atualizando para aquele contexto. O que sentiu que aquelas canções precisavam?

Bonifrate: “Quando escrevi e gravei essas canções há 22 anos, minha produção era muito rudimentar. Sempre aceitei as canções como elas foram gravadas, mas na minha cabeça elas já eram maiores, com um som grande que eu não tinha condições de conseguir.

Quando me dei conta de que elas estavam fazendo 20 anos, fiz um vídeo bem simples de uma regravação de uma daquelas canções, ‘Casa com piano’, já que tínhamos acabado de receber um piano em casa, e ali curti a ideia e fui registrando outras três canções pra juntar nesse EP, meio que como uma celebração de duas décadas lançando gravações como Bonifrate e mostrando em vídeo como isso tem sido feito.”



Quais foram as principais referências do novo material, tanto estéticas como na interdisciplinaridade do seu trabalho com outras artes além da música?

Bonifrate: “Eu diria que tenho procurado sons e arranjos mais claros e espaçosos, os últimos discos da Cate Le Bon podem ser uma referência nesse sentido. Tenho a impressão de que é um disco com estruturas um pouco mais clássicas do que o último, o que talvez o torne mais aconchegante. Engraçado que, quando já estávamos fechando as mixes, o Diogo, meio de zoeira, comparou com Oasis alguns climas, e acho que tem algum sentido nisso em algumas melodias e arranjos que inconscientemente passaram ali.

As referências são muitas, às vezes se escondem, às vezes aparecem de uma forma mais clara – tem uns minutos no disco que soam demais como uma canção do Gorky’s Zygotic Mynci, por exemplo. Todos os artistas brasileiros que eu escuto e acompanho tem alguma influência no som que eu faço também, de Luiza Lian a Oruã, de Boogarins a Ava Rocha, tantas outras, é uma questão de estar no seu tempo e no seu espaço, de olhar em volta e de se ver ali de alguma forma.

Alguns versos podem evocar algum romance que li nesses tempos, alguma série ou filme, mas talvez as leituras e os eventos mais políticos e históricos acabam influindo mais nos versos do que outras formas de arte que não a música. Tem uma canção chamada ‘Fuga da História’, que é o título de um livro do filósofo italiano Domenico Losurdo, mas sem um ponto de interrogação no final. Eu devorei vários livros do Losurdo nesses tempos e talvez essa canção tenha evocado um bocado disso.”

Em relação às temáticas, o que quis explorar e o que acredita que fecha o conceito do novo material? Por que “Dragão Volante” no título?

Bonifrate: “Não quis explorar algo específico de antemão. As canções foram aparecendo. Mas eu gosto de conceituar esteticamente as coisas, organizar o fluxo da associação de ideias. Esse termo Dragão Volante está associado de alguma forma ao termo Corisco. Parece ter sido uma expressão antiga que em Portugal se referia a um fenômeno atmosférico como uma tempestade de nuvens e raios. Esses fenômenos eram vistos como uma anunciação, um presságio de que algo novo está chegando.

Vejo um paralelo com a nossa história recente e o dragão é um símbolo precioso da humanidade. O lugar onde moro há sete anos se chama Sítio do Dragão, então tudo vai convergindo.

Gosto de pensar que esse álbum lança pontes em direção ao último e também ao próximo. Serão três álbuns bem relacionados entre si, meio como uma trilogia.”

Como foi esse processo de retomar a parceria com o Diogo Santander ou vocês nunca deixaram de produzir em conjunto?

Bonifrate: “Nós trabalhamos juntos em Corisco também, o Diogo fez uma mixagem muito fina e atenciosa, quase como uma produção. Mas dessa vez ele participou dos estágios mais iniciais do processo, sugerindo arranjos, orientando a captação dos sons e também mixando.

A maioria dessa parceria foi à distância, eu em Paraty gravando e ele em São Paulo. Mas nos juntamos duas vezes em SP para mixar e gravar uns canais extras. Por uma ótima orientação dele, mandamos a masterização para a amiga Alejandra Luciani, que é uma engenheira sonora incrível e também metade do duo Carabobina, que curto demais.”

Em “Teto de Estrelas” já vemos referências diferentes do último trabalho com direito a arranjos como se fosse uma big band. Como foi produzí-la?

Bonifrate: “Sim! É tudo MIDI. As cordas e os metais. Tem alguns outros arranjos do tipo ao longo do disco, mais do que nos anteriores. Os sons e variações de MIDI estão muito bons hoje em dia e eu vou pegando a manha de usar e dar uma cara “sinfônica” a algumas produções.

Essa é uma das minhas favoritas desse novo álbum e também foi uma das últimas a serem escritas e gravadas. Ela chama uma onda meio clássica que esse clima big band ajuda a consolidar. Acho que é uma canção sobre amor e guerra, com referências a Gaza, algo como um amor entre dois mártires ou futuros mártires.”

“Ando Cabreiro” faz um paralelo com o desafio das relações humanas nos tempos modernos – e parece ter uma carga política mesmo que indireta. O que a inspirou?

Bonifrate: “Talvez o desafio da relação humana com a morte. Eu diria que é sobre isso e sobre o apego que temos à vida. “Meus sais! Não me deixem!”. Esse verso foi livremente inspirado num monólogo muito bonito da série Missa da Meia Noite sobre a decomposição da nossa matéria na terra. Acaba sendo uma referência também à vida noturna, a ser inimigo do fim, querer sempre mais, “não antes do som terminar”. Mas isso digo agora que ela já está pronta, uma canção pode ter muitos sentidos diferentes e isso é um dos seus poderes.”

Sente que desenvolveu ainda mais intimidade com o Casiotone nesse novo material?

Bonifrate: “Ah, ele é um grande companheiro, de muitos anos. Não consigo mais abrir mão, e talvez ele informe uma paleta sonora que acabe sugerindo uma unidade aos trabalhos. Se nos instrumentos de orquestra e em alguns Mellotrons o que rola é MIDI, nos sons de teclado, órgãos, pianos elétricos, drones, etc., quase sempre uso o Casio MT-400v.”


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