As incríveis histórias de Evan Dando e seu maior arrependimento com o The Lemonheads

 As incríveis histórias de Evan Dando e seu maior arrependimento com o The Lemonheads

The Lemonheads – Foto Por: Barry Brecheisenn

Escrever sobre música é uma das coisas mais legais do mundo para mim, mas tem textos que são difíceis de sair. Imagina essa situação: seu amigo querido te manda uma mensagem dizendo que o vocalista de uma banda irada dos anos 90 está disponível para uma entrevista e pergunta se você topa. A banda além de ser importante no rock alternativo e no grunge, já te deu colo em noites de choradeira e ainda guarda uma parcela sentimental porque seu pai é tão fã quanto você. Claro que topei, eu só não esperava que uma entrevista com o Evan Dando do The Lemonheads ia me deixar tão vulnerável. 

Para você que não conhece, o The Lemonheads se formou em 1986, em Boston, Massachusetts, por Evan Dando, Ben Deily e Jesse Peretz. A primeira ideia era ser uma banda punk quando lançaram seu álbum de estreia, Hate Your Friends, em 1987, seguido por “Creator” e 88 e “Lick” 89. 

O tempo foi passando, os movimentos acontecendo e a sonoridade do grupo começou a se transformar em um estilo mais melódico e pop. Se parar para pensar, era pouco provável que esse movimento não acontecesse. O Lemonheads dividia o cenário musical com Nirvana, Pearl Jam, Red Hot Chili Peppers, Radiohead e Oasis

A agridoce versão para “Mrs. Robinson”

Os caras atingiram o mainstream no início dos anos 90, com o álbum It’s a Shame About Ray, de 1992, que inclui o hit “Mrs. Robinson”, um cover de Simon & Garfunkel, música que hoje em dia é odiada pelo Evan Dando. Durante a entrevista, quando apenas citei a faixa para contextualizar uma pergunta, ele já me interrompeu dizendo que odiava ter feito aquilo, a única coisa boa é que saiu em um filme e rendeu alguns royalties. 

O filme em questão é A Primeira Noite de um Homem, comédia romântica dirigida por Mike Nichols e estrelada por Dustin Hoffman, Anne Bancroft e Katharine Ross. A dupla Simon & Garfunkel coordenou a trilha sonora que contou com “The Sound Of Silence” e a querida “Mrs. Robinson”. 


The Lemonheads Barry Brecheisenn
The Lemonheads. – Foto Por: Barry Brecheisenn

A volta do The Lemonheads

Após alguns outros lançamentos e mudanças na formação, The Lemonheads entrou em hiato no final dos anos 90. Evan Dando seguiu com projetos solo e trouxe eventualmente a banda de volta em 2005, resultando em um novo álbum autointitulado em 2006. Desde então, os Lemonheads têm continuado a se apresentar e lançar música, incluindo “Hotel Sessions” em 2012, com demos acústicas e gravações caseiras de Dando.

Agora, em 2024, a banda anunciou um novo lançamento que está sendo gravado em São Paulo, no estúdio A9 Audio e ainda com produção do brasileiro Apollo Nove, que já trabalhou com Rita Lee e Seu Jorge

Legal, uma banda norte-americana dos anos 90. Não, não é só uma banda norte-americana dos anos 90, é uma banda com um dos vocalistas mais doidos e divertidos que já conversei. 

Quem atendeu o telefone quando liguei foi Antonia Teixeira, a videomaker brasileira, filha do renomado cantor e compositor Renato Teixeira. Falamos um pouco em português e ela levou o celular até Evan Dando, que ainda estava com as mãos cheias de tinta devido a um quadro que ele estava pintando, que, aliás, foi a primeira coisa que ele me mostrou quando pegou o telefone. Perguntei para ele qual a sua relação com artes plásticas e ele me respondeu: “Eu pinto para estimular a minha criatividade quando a música não consegue fazer isso por completo”. Eu compartilho desse mesmo sentimento, Evan

Foi então que o vocalista acendeu seu primeiro cigarro e começou a andar pela casa que estava. Evan e Antonia moram no Brasil, na Serra da Cantareira, ele me contou, mas estavam nos Estados Unidos durante a nossa entrevista, em uma casa enorme, com um jardim extenso e bem cuidado e, claro, muitos quadros e instrumentos espalhados por todos os cantos. 

Confesso que meu inglês está meio enferrujado e a cabeça (e filmagem) frenética de Evan não facilitaram as coisas, mas acho que isso tornou a entrevista mais íntima e, como o editor deste site descreveu bem, rock’n’roll. 

As curiosas histórias de Evan Dando

A minha primeira pergunta foi justamente sobre gravações, álbuns e a relação do Evan com o Brasil. Não é a primeira vez que o Lemonheads grava no país. Em 1994, a banda estava escalada para tocar no M2.000 Festival, no Rio de Janeiro, mas teve a apresentação cancelada por conta de uma confusão da organização do festival com a polícia. 

Evan contou que, para não desperdiçarem a viagem, gravaram uma música no Rio. Ele me perguntou se eu era do Rio, respondi que não, perguntou se eu já havia estado no Rio, respondi que sim e aí concordamos novamente quando ele falou: “I want to tell Rio that we’re not forgot about them. How can you forget about Rio? (Quero dizer ao Rio que não nos esquecemos deles. Como você pode esquecer o Rio?)”

Puxei o assunto do show da Madonna que aconteceu em Copacabana esse ano. Ele pensava que tinha sido o Black Sabbath que tinha tocado e quando lembrou da Madonna me perguntou se eu tinha gostado, ele não curtiu muito. Relembrei do show dos Rolling Stones que aconteceu na mesma praia em 2006, que reuniu mais de 1,3 milhão de pessoas e foi aí que começaram os nossos desentendimentos de comunicação. Hoje, escrevendo esse texto dou risada, mas, na hora, estava super nervosa. 

Comentei dos Stones em 2006 e ele falou: “Não, não, eles se formaram nos anos 60 e me contou como a música brasileira, principalmente a viola, tiveram papel importante na construção do som da banda. Evan deu um peteleco na bituca do primeiro cigarro e acendeu outro logo em seguida. 

“O Keith (Richards, guitarrista lendário dos Rolling Stones) é um grande amigo meu. Falo bastante com ele, conheço ele faz 25 anos, sou até padrinho de sua neta.”, contou Evan. Ele continuou: “Eu acho que esse cara que está na bateria agora faz um bom trabalho, claro, você não quer ficar vendo os vídeos dele tocando, é estranho, mas eu respeito o cara.”

Contei que tinha visto que a banda tinha mudado a foto de perfil de seu Spotify para uma sem o Charlie Watts, baterista dos Stones que morreu em 2021 e que fiquei decepcionada, mas Evan me mostrou outro lado. 

“Ele não está mais vivo, não faz mais sentido. Claro, eu sinto muita falta dele e do Brian (Jones, guitarrista insano da formação inicial dos Stones), mas o tempo passa e as coisas mudam.” Você tem razão, Evan

Ainda em seu segundo cigarro, Dando me contou de quando curtia uma rolê no backstage e cheirou cocaína com o Keith Richards, o guitarrista então falou para o amigo “Cuidado com isso aí, pode ser muito bom”. “Uma das coisas mais engraçadas aconteceu em um Natal que passei na casa de Keith, todo mundo estava lá e ele virou para mim e disse: “Me encontre na ponta da escada daqui a três minutos e onze segundos. Eu fui e quando vi Keith estava tropeçando na escada, ajudei ele a levantar e então ele põe a mão sob seu peito e diz: agora você que vai me dar um pouco da sua coca.”

Evan então começa a me contar uma piada que Keith lhe ensinou. “Dois irlandeses saem de um bar. Então pergunto: “E vão para onde? “Os irlandeses nunca sairiam de um bar.”

Voltando a conversar sobre o The Lemonheads pergunto como é ter uma banda e ele responde que é difícil para caralho. “Uma banda de quatro pessoas significa cada uma dando uns 25%, no melhor dos casos. Mas, o que acontece, na verdade, é que sempre tem um cara que é o mais bagunçado e ele que escreve mais e as melhores músicas. Por exemplo, no Oasis, o Noel fazia e os caras iam atrás seguindo. Hoje em dia eu acho que o Liam está arrasando, mas o cara quer mesmo é dinheiro. Ele toca todas as músicas do Oasis, ele não escreveu quase nenhuma delas, mas é assim que funciona.”

Evan Dando já fez uma turnê com o Oasis e contou que, em um show sem querer, colocou sua cerveja em cima de uma caixa de som e derramou tudo. Ele ri. “Eles são pessoas ótimas, tivemos momentos incríveis.”

Pergunto sobre covers e se eles ainda gostam de tocar algum, apesar da infelicidade com “Mrs. Robinson”. Evan conta que sim e que inclusive terão alguns no álbum novo, mas que não pode me contar, que é segredo. Vou esperar para saber quais covers são esses, Evan

A banda ainda está gravando seu novo disco, que deve sair ainda esse ano, se apresentou no último fim de semana em Belo Horizonte, e em Florianópolis, e na sexta (19), sobe no palco do Cine Joia, em São Paulo


The Lemonheads - Banda - Foto Por Barry Brecheisenn
The Lemonheads encerra mini-turnê brasileira, em São Paulo, e volta para uma série de shows nos EUA. – Foto Por: Barry Brecheisenn

Serviço The Lemonheads – São Paulo

19 de julho de 2024
22h – Abertura da casa
23h – Show Thunderbird
00h30 – Show The Lemonheads

Ingressos:
Lote 1: meia R$ 60 / ingresso social R$ 60 / inteira R$ 120
Lote 2: meia R$ 80 / ingresso social R$ 80 / inteira R$ 160
Lote 3: meia R$ 100 / ingresso social R$ 100 / inteira R$ 200

*Ingresso Social mediante à doação de 1kg de alimento não perecível.

CLASSIFICAÇÃO ETÁRIA: +18

Cine Joia
Praça Carlos Gomes, 82 – Liberdade – São Paulo/SP


Poster do show no Cine Joia por Magoo Felix (@magoofx), do Twinpines
error: O conteúdo está protegido!!