Toy Dolls reverencia a vida em noite que celebra os 44 anos de trajetória

 Toy Dolls reverencia a vida em noite que celebra os 44 anos de trajetória

Toy Dolls São Paulo – Foto Por: Mazzei

Fazer um show intenso, circense, cômico e divertido é parte do espetáculo que Olga desde 1979 se compromete a fazer com o Toy Dolls. Por uma série de coincidências da vida não consegui estar presente no show de 2006, nem o de 2010…e nem no mais recente até então…em 2018.

Todos estes já com a mais recente formação que além de Michael “Olga” Algar (vocais principais, guitarra) conta com Duncan “The Amazing Mr. Duncan” Redmonds (bateria, vocais) e Tom “Tommy Goober” Blyth (baixo, vocais), algo que Olga em entrevista para Leonardo Vinhas no Scream & Yell celebrou o fato de achar que “estes caras vão comigo até o fim”. A formação já completa 15 anos marcados por muito entrosamento, acrobacias, palhaçadas e dedicação por entregar um show recheado de storytelling (e surpresas).


Toy Dolls São Paulo - Foto Por Mazzei
Toy Dolls em São Paulo – Foto Por: Mazzei

Dig That Groove Baby

Apesar de estar longe de ser um dos discos favoritos de Olga, o fantasma do primeiro disco, Dig That Groove Baby (1983), parece ser um dos grandes pontos de nostalgia – e ser o trabalho mais aclamado pelos fãs brasileiros. Por esse motivo 8 faixas do disco, das 24 músicas do set de pouco mais de 1:30h de duração, fazem parte da aprentação (“Dig That Groove Baby”, “Dougy Giro”, “Fiery Jack”, “Glenda and the Test Tube Baby”, “Nellie the Elephant”, “Spiders in the Dressing Room”, “Theme Tune” e  “Up the Garden Path”).

Por estas coincidências da vida, como dito anteriormente, a data deste show também coincidiu com o aniversário deste mero editor. Assim quando no interlúdio do show eles tocaram uma vinheta com “happy birthday to you”, me senti também homenageado mesmo que indiretamente. Os anos de espera de certa forma foram se compensando a cada nova faixa que eles tiravam debaixo daqueles óculos coloridos que ostentam em suas fases.

Toy Dolls apesar de ser uma banda punk da primeira leva sempre levou sua arte muito a sério. Diferente de outras bandas contemporâneas que se resumem a emular discos de outrora de forma como se quisessem voltar para uma época, Olga independente da formação sempre buscou pelo frescor. A própria discografia com 16 álbuns de estúdio, sendo o último EPISODE XIII (2019), não deixa mentir que as influências vão muito além dos três acordes do punk rock. Tendo espaço para o rock de arena, para a new wave, para o powerpop, melodias do heavy metal e a música clássica. Talvez este ponto em comum entre Algar e os Adicts – vale lembrar que ele atuou como baixista da banda de Ipswich, em 2003.

O trio de Sunderland, cidade localizada no noroeste da Inglaterra a apenas 16 km de Newcastle, com 240 mil habitantes, não demora para entregar seus hits e já no começo tira da cartola canções em que os fãs cantam junto em meio a rodinhas punks de um público que envelheceu com a banda. Aliás, apesar de termos alguns jovens, isso é algo que acaba marcando o show, uma noite para punks mais velhos por volta da casa dos 50. Canções como “Fisticuffs in Frederick Street” e “The Death of Barry the Roofer With Vertigo” fazem com que a casa cante alto e o tímido “Tommy Goober” esboce alguns sorrisos para a plateia.

Sobre este fato de um público mais velho, e se vendo um senhor cantando músicas bem humoradas da juventude Olga dispara “Vocês acham que estamos ficando muito velhos para isso?” e logo completa “Vocês acham que vocês estão ficando velhos pra isso?”. Ele sorri e aumenta ainda mais a intensidade do show.

Entre confetes, roadie que se veste como um mordomo, atuação digna de teatro e vários passinhos, a dupla Tom e Olga desfila pelo palco com passinhos, guitarras que giram pelo ar coreografadas, brincadeiras, trocas de figurinos e diversas entradas. Até com a viralidade o vocalista brinca quando tira a camisa. Fato é que entretenimento não falta.

O show vai passando com pouco intervalo entre as músicas que são tocadas com muita facilidade de quem conhece elas de trás para frente. Chega o momento mais clássico do show. A tríade de “The Lambrusco Kid”, esta com a tradicional cena de Olga dizendo que “está com sede” e vindo garrafas cada vez maiores do vinho barato….até a explosão de uma grande garrafa com confete e serpentinas. Emendando com o mega hit “Nellie the Elephant”, este com o público até mesmo estendendo sua duração, o que faz Olga sorrir genuinamente; e “She Goes to Finos”.

O ritmo frenético não para com os interlúdios que o Toy Dolls coloca sempre para dar um equilíbrio após músicas que exigem muito da voz do inglês. Tocar “Toccata and Fugue in D minor, BWV 565 (Johann Sebastian Bach cover)” nos leva até mesmo para trilhas de filmes dos anos 70 como Laranja Mecânica.

Brincadeiras com Duncan, o baterista, que é bastante bem humorado e não arreda o pé em nenhum momento cantando junto com Algar, sem tirar o sorriso do rosto, aparecem na dobradinha “Alec’s Gone”, do Absurd‐Ditties (1992), e “Harry Cross (A Tribute to Edna)” em que Olga puxa sua introdução junto ao público feito um exercício de “me acompanhem”.

Com cerca de 1:15h quase sem tirar um momento para respirar, eles saem pela primeira vez do palco. Olga volta com uma espécie de “vendinha” distribuindo óculos para alguns felizardos fãs (amarelos e vermelhos), tocam com “Dig That Groove Baby”, e se retiram. O Toy Dolls volta para mais três músicas com direito a encerrar a apresentação com “Idle Gossip”, outro hit da carreira dos ingleses cantada a muitos pulmões.

Ver a alegria estampada no rosto de Olga mesmo 44 anos depois do início do projeto, entregando um espetáculo de quase 1:40h com muita intensidade e dedicação como faz não deixa de ser algo inspirador. Não é por acaso que no fim do show só haviam merchs no tamanho GG, visto a capacidade de tocar corações do trio que continua a se apresentar com a mesma simplicidade e alegria dos primeiros dias. E que voltem logo!



Setlist Toy Dolls @ São Paulo – Carioca Club – 16/09/2023

Fiery Jack
Cloughy Is a Bootboy!
Bitten by a Bed Bug
Fisticuffs in Frederick Street
The Death of Barry the Roofer With Vertigo
Benny the Boxer
Up the Garden Path
Dougy Giro
I’ve Got Asthma
Spiders in the Dressing Room
El Cumbanchero
The Lambrusco Kid
Nellie the Elephant
She Goes to Finos
Toccata and Fugue in D minor, BWV 565 (Johann Sebastian Bach cover)
Alec’s Gone
<Duncans Drums>
Harry Cross (A Tribute to Edna)
Wipe Out (The Surfaris cover)

Encore:
Dig That Groove Baby

Encore 2:
When the Saints Go Marching In
([traditional] cover)
Glenda and the Test Tube Baby
Idle Gossip
Theme Tune

Realização: Powerline
Vídeo Por: Maurício Martins (Nada Pop)

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