T-Shirtaholics: Os Segredos Por Trás das Camisetas
Hoje vamos falar de uma paixão que vai muito além do mundo da música ou da própria moda vigente: o fascínio pelas camisetas de banda.
Como alguns sabem, Ramones e Misfits batem todos os recordes de produtos licenciados no mundo da música por um fator que vai muito além da popularidade das suas canções: o poder dos logos.
Não importa o que digam: o ser humano é muito visual. Quantas vezes você soube de alguma história de seus pais, tios e amigos de quando descobriram o mundo da música de comprarem discos pela capa?
E roupas de grife que querem ser invocadas, quantas já usaram logos de bandas antes consideradas “subversivas”? O que sempre gera uma certa polêmica. Muitas delas são relatadas no Dangerous Minds (blog que tem como colaboradores figuras carimbadas do punk americano e de fanzines como a Revista Maximumrockandroll) com ar de desprezo pela cooptação da contra-cultura. Em outras palavras: comercializar o que era antes uma afronta aos moldes da sociedade.
Quantas pessoas você já viu em grandes festivais de música (como o Rock In Rio ou o Lollapalooza) ou na própria rua, trajando camisetas de bandas emblemáticas, e não conhecem nem ao menos uma música do repertório delas?
Bom isso já virou até piada na mão da banda punk galesa, Future Of The Left: (https://www.youtube.com/watch?v=JcD2cqNT1bQ)
Mas não estou aqui para ser purista, afinal de contas isso é coisa de gente chata.
Hoje contarei a história de alguns icônicos – e poderosos – logos de bandas.
Rolling Stones: Em agosto de 1970, John Pasche foi convocado para fazer o poster da tour européia dos Stones. Na época John estava no último ano de design no Royal College of Art que fica Londres. E ele até se surpreendeu quando ninguém menos que Mick Jagger compareceu em sua graduação. Um tempinho depois, Mick – que tinha se apaixonado pelo seu poster – o convidou para fazer o logo do selo do Rolling Stones.
Com um convite desses ele não poderia deixar de dizer: SIM. Mick então mostrou para ele a imagem do deus hindu, Kali como ponto de partida para o logo. Ele então pagou cerca de 50 libras a John para que fizesse o logo. Uma semana depois, ele estava pronto. Em 1972, ele recebeu uma bonificação de 200 libras pelo sucesso de sua arte.
A primeira aparição do logo foi na capinha que cobre o disco, Sticky Fingers (1971). Álbum que teve a capa principal feita pelo Andy Warhol, ou seja atribuíram nos créditos tudo errado e parecia que o logo também era obra do Warhol – como tantos outros trabalhos do polêmico artista. Como ele era muito novo e amador, não patentiou direito também a obra e a pirataria com seu logo: virou uma festa.
O conceito do logo é simples: A língua representa a atitude anti-autoritária da banda, a boca de Mick e sua conotação sexual. Como a popularidade foi mais rápida que a velocidade da luz, a banda decidiu manter desde então. Muitos artistas já alteraram por diversas vezes seu logo, mas John trabalhou com os Stones até 1974, fazendo inúmeros posters do grupo.
Queen: Usando tudo que aprendeu em ilustração e design gráfico na universidade, Freddie Mercury criou o icônico logo do Queen, com a intenção de ser apenas uma ilustração para a contracapa do primeiro albúm do conjunto, Queen (1973). E acabou virando a capa.
O destaque do logo fica por parte dos elementos de sua criação. E se você que está lendo curte muito o Zodíaco, vai adorar essa curiosidade.
Freddie misturou os signos dos integrantes do grupo em sua composição: Fadas representando o signo de virgem (Freddie – 05/09/1946), caranguejo representando o signo de câncer (Brian May – 19/07/1947), leões representando o signo de leão (John Deacon – 19/08/1951 – e Roger Taylor – 29/07/1949) além de adicionar o simbolo mitológico de uma fênix. E olha que a ideia começou apenas como: um simples rascunho para a contracapa do disco.
AC/DC: Talvez dessa vez vamos falar mais sobre o designer do que propriamente o logo. Mas o cara é realmente uma lenda. Gerard Huerta fez curso no Art Center College Of Design (Pasadena, EUA), e começou seus trabalhos como designer na CBS Records de NY. Em 76 largou tudo e criou sua própria empresa confeccionando logos para importantes marcas como: Swiss Army Brands, Nabisco, Calvin Klein Eternity e para revistas como Time, People, Money, Adweek e Architectual Digest. Ufa, o cara é realmente uma máquina da indústria.
Até que na década de 70 após ter se envolvido com várias gravadoras ele pegou para fazer a capa de um disco do AC/DC. High Voltage (1976) foi o primeiro que ele pois a mão na massa e não pegou tanto. Mas seu segundo convite para fazer o logo do álbum Let There Be Rock (1977) foi quando ele acertou a mão no logo – e fez o sucesso arrebatador. Sua influência veio da bíblia de Gutenberg, sendo assim ele fez uma releitura de sua tipografia deixando ela meio “do capeta”. Tudo a ver com o AC/DC, né?
Aliás como todo bom designer ele tinha esse truque na manga e já tinha usado a mesma tipografia na arte da capa do álbum do Blue Öyster Cult dois anos antes no álbum On Your Feet or On Your Knees (1975), um álbum ao vivo.
KISS: Quando Ace Frehley entrou no KISS, ele fez mais do que assumir as guitarras. Ele criou o logo icônico do grupo. Tendo formação em Design ele tentou combinar a sinergia da empolgação e teatralidade que definiam muito bem o que é o KISS. Em um lustroso emblema que misturava as cores vermelho e amarelo com relâmpagos. Sem querer ele criou a estética da tipografia do Heavy Metal.
Curiosidade: Pelo lance dos relâmpagos se assemelharem ao logo da fronte nazista alemã (força de combate Nazi SS) e isso causar enorme confusão no país. Os álbuns vendidos em Düsseldorf e Berlim sempre continham os relâmpagos ao contrário.
Black Flag: A polêmica banda de hardcore, Black Flag, foi fundada em 1977 por Greg Ginn. E ele mesmo tratou de convocar, Raymond Pettibon – artista, professor e por algum tempo: membro da banda – para criar o logo do grupo.
Para quem não sabe, o nome Black Flag é uma referência a um símbolo anarquista, a um repelente de insetos e ao Black Sabbath: tudo isso – devidamente – misturado.
Pettibon tentou traduzir a intensidade, a agressividade, a raiva e a angústia dos palcos para as ruas. E com o poder do logo das quatro barras criadas pelo artista, começou a ser comum ver os muros de Los Angeles grafitados com as quatro barras, além de muita gente começar a tatuar em tudo que era parte do corpo feito um “vírus”.
Querendo ou não, o logo foi importantíssimo para o hardcore seminal dos EUA.
A bandeira negra “tremulando” dividida em barras verticais, representa também os pilares da cena punk californiana. Mas o trabalho de Pettibon não se encerrou no Black Flag, ele contribuiu também para obras de outras bandas como o Minuteman e a lendária capa do álbum Goo (1990), do Sonic Youth. Além de contribuições para museus, fora do universo da música.
Para saber mais sobre o logo e Pettibon, confira o documentário: The Art Of Punk – Black Flag – Art + Music feito pelo canal MOCAtv.
Mas vamos fechar o post com polêmicas e provocações:
1 – Repare na semelhança entre o logo do The Modern Lovers e o The Strokes.
2 – Repare na semelhança entre o logo do Nine Inch Nails e do MUSE.
* Deixe sua opinião nos comentários após a análise.
Hoje você aprendeu sobre a origem de alguns logos de bandas. Caso se interessar, em alguns dias publicarei sobre outros no blog Hits Perdidos. Fique ligado!
BÔNUS
O post foi feito originalmente para o Blog da Ideal Shop, blog que eu (aka Rafa_77) sou colunista; e você pode conferir ele aqui. Na minha coluna, Cyco Vision, a cada duas semanas vocês também poderão ler meus textos.
Mas quem lê o Hits Perdidos sempre vai ter uma canjinha de saber mais, é claro! Selecionei mais alguns logos para contar a história para vocês.
Sex Pistols: No caso dos punks – literalmente – de boutique dos Sex Pistols o logo foi semi-colaborativo. Pois se trata de uma releitura de um desenho. O logo foi baseado no desenho de Helen Of Troy – prima anã de Malcolm Mclaren, sim, o empresário da banda e marido da estilista Vivian Westwood. Inclusive as Edições Ideal lançaram um interessante livro de quadrinhos contando a história do Sex Pistols e você pode saber mais sobre, “Malcolm”, aqui.
A releitura de Jaime Reid foi ao conhecimento do mundo em Julho de 1977, quando o single de “God Save The Queen” foi lançado no Reino Unido.
O logo foi feito no melhor estilo recorte e cole, no melhor estilo colagem – que todos tivemos que fazer nos tempos de escola – com letras de diferentes tamanhos e fontes. O logo tem a intenção de passar a mensagem: anti-autoritarismo, ar de perigoso, anárquico, pertubador e psicótico. Algo que define completamente o som da banda, não é mesmo?
Wu-Tang Clan: Mas como nem todas histórias interessantes vem do Rock, vamos falar de um logo de uma das mais emblemáticas e polêmicas bandas de Rap: o Wu-Tang Clan.
Uma curiosidade: O primeiro show de Rap que a cantora Debbie Harry, do Blondie, foi era de quem? Isso mesmo do Wu-Tang Clan. E olha que a Debbie morava em Nova Iorque. Shame on you! Mas tudo bem Debbie, dessa vez eu te perdou, já que contribuiu tanto para a história da música.
Em fevereiro de 2007 durante uma entrevista para Brian Kayser do site HipHopGame.com, o produtor Mathematics contou um pouco sobre o trabalho de criação do logo icônico do Wu-Tang Clan. Bom, o logo tá aí desde 1993 e possui uma história bastante interessante.
Segundo palavras dele mesmo:
“O logo apenas surgiu. De verdade, foi feito em uma noite. Quando RZA ainda atendia pelo nome Tommy Boy, que foi quando a ideia do Wu-Tang realmente veio. Eu fiz um adesivo para ele em grafitti, e era um “W”. Isso foi quando o primeiro “W” surgiu na verdade. Nós vínhamos conversando sobre como precisávamos de um logo que grudasse na cabeça das pessoas. Quando você vê o símbolo do Batman, você sabe que o Batman está vindo. Todos sabem que o Batman está vindo. Não são necessárias palavras. Você apenas sabe que Bruce Wayne está vindo. Nós queríamos algo assim. E é por isso que nós tínhamos o “W”. Eu estava no laboratório, na época morava numa espécie de COHAB (40 Projects – Queens – subúrbio Jaimaicano de NY), e foi quando eu sentei e foi isso que eu fiz. O pessoal da banda veio e me pegaram na vibe como se eu estivesse trabalhando em um layout para um site. Mas na realidade, eu trabalhava na época como carpinteiro. Quando eles viram o desenho eles gritaram: É isso! É isso!”
Prince: Que Prince é uma lenda viva e não precisa provar mais nada para ninguém, todos sabemos. Mas talvez alguns não saibam da história do símbolo dele, que outrora foi usado como SEU NOME. Isso mesmo, ele trocou o nome por um símbolo.
Prince, muito antes de exibir suas pecularidades, nasceu como Prince Rogers Nelson no ano de 1958. Mas em 1993, no seu aniversário de 35 anos, Prince anunciou que seu nome artístico sob seu nome real estava com os dias contados. A partir daquele momento ele queria que a imprensa, assim como sua gravadora e qualquer um que se referisse a ele APENAS usando um símbolo impronunciável.
Este símbolo começou a aparecer em suas capas de disco a partir do ano de 1982. Visualmente o símbolo parece com a combinação dos símbolos dos gêneros masculino e feminino. Durante as negociações para seu próximo álbum, até então, ele entrou em uma batalha judicial contra sua gravadora da época, a Warner Bros. esta que conflitava sobre os direitos artísticos e financeiros do cantor. Quando o nome foi mudado, nenhuma razão foi justificada.
A consenso popular foi de que era apenas mais uma birra de super estrela. Na época Prince apareceu em público com os dizeres “SLAVE” (Escravo em inglês) pintados em sua bochecha. Logo depois ele se explicou sobre tal fato para o site The Dawn.
“O primeiro passo foi dado para dar um ultimato de emancipação das correntes que me prendiam a Warner Bros. foi mudar meu nome de Prince para o símbolo. Prince é o nome que minha mãe me deu ao nascer. A Warner Bros. pegou meu nome, transformou numa marca, e o usou como ferramenta de marketing para promover toda a música que eu escrevia. A companhia tem os direitos sobre o nome Prince e toda a música abaixo do nome Prince. Eu me tornei uma commodity usada para produzir mais dinheiro para a Warner Bros.“
“Eu nasci Prince e eu não queria adotar outro um nome convencional. A única troca aceitável pelo meu nome, minha identidade, era um símbolo impronunciável, que é a representação de mim e o do que minha música é. O símbolo é presente no meu trabalho ao longo dos anos; é o conceito que evoluiu da minha frustração; é quem eu sou. É o meu nome.”
Prince parou de usar o símbolo em 2000 após 6 álbuns e voltou a assinar seus discos novamente como “Prince” quando seu contrato com a gravadora expirou. Em uma conferência com a imprensa ele declarou que agora era livre das indesejáveis relações associadas com seu nome de nascimento, e voltou a seu nome original. Ele até hoje continua usando o símbolo como logo em seus discos, além de continuar a tocar sua clássica guitarra em formato do símbolo.