Joe Silhueta cria um universo à parte em “Outras Trilhas”
Nesta quarta-feira de cinzas o Joe Silhueta, de Brasília (DF), apresenta seu novo EP com canções que acabaram não entrando no álbum Trilhas do Sol (2018) e uma versão para um clássico de um dos ícones da vanguarda paulista, Walter Franco, “Cena maravilhosa / Eternamente” – produzida especialmente para a coletânea do Scream Yell lançada ainda naquele ano.
“Esconderijos”, “Peggy, Your Leather Boots (Vaqueiro Pobre)” e “Bicho bicho bicho” aparecem no campo das canções autorais. Lembrando que a última é uma versão com a banda completa de uma canção de Guilherme Cobelo originalmente lançada de forma bem intimista em 2016 no EP Ritos do Leito.
Outras Trilhas chega como um aperitivo para o álbum Sobre saltos y outras quedas, já finalizado como comenta Cobelo, mas ainda sem data anunciada. A produção é de Guilherme Cobelo e Jota Dale (que também assina a mixagem), já a masterização por Bruno Giorgi. A premissa é a e traduzir a energia e intensidade dos palcos um EP em um momento onde shows presenciais ainda não são possíveis.
Alexandre Lindenberg, do Estúdio Margem, assina a identidade visual, o mesmo contribuiu em Trilhas do Sol. O registro ainda conta ainda com participações especiais de Pedro Pastoriz criou e gravou o arranjo de kazoos na abertura de “Bicho bicho bicho”, Edgard dos Santos gravou trompetes e trombone em “Cena maravilhosa” e Jota Dale gravou um órgão Farfisa em “Esconderijos”.
Além de Cobelo (Voz, Violão), o grupo candango “grogue” conta em sua formação com Gaivota Naves (Voz), Marcelou Moura (Baixo e Voz), Carlos Beleza (Guitarra e Voz), Sombrio da Silva (Clarinete, Clarone, Synth, Sanfona e Percussão), Márlon Tugdual (Bateria) e Tarso Jones (Teclado).
Joe Silhueta Outras Trilhas
Com uma vibe western do cerrado, “Esconderijo” cria toda uma epopeia envolvendo a fuga de Brasília para a selva de pedra da cidade de São Paulo. Caminho este escolhido por muitos artistas para explorar a visibilidade e possibilidades que a capital paulista proporciona para a carreira artística. Cheia de alegorias e até mesmo evocando a teatralidade do grupo candango, a canção ganha uma roupagem cinquentista que em nosso imaginário cria até mesmo cenas de ação com direito a uma fuga implacável.
“Vaqueiro Pobre” é astuta em tirar onda com o estereótipo do cowboy e mantém a toada de trabalhar guitarras bebendo do rhythm & blues. Além de criar cenários de bang bang, a faixa ainda aproveita para criticar clichês envolvendo o comportamento, a passividade, o escapismo e a alienação.
“Bicho, bicho, bicho” é daquelas para se ouvir direto do gramofone. Na versão, o minimalismo da original não se perde mas os arranjos dão corpo e nos transportam para um outra tempo. O pântano é o cenário, entre medo, profundeza, escuridão e amargura.
Quem fecha é o medley presente em Um Grito Que Se Espalha (Scream Yell / 2018), “Cena Maravilhosa / Eternamente”, canções de Walter Franco.
Sendo uma das mais belas do registro, vale pontuar, a versão consegue ganhar uma órbita própria e reinventa o clássico com direito a sopros, teatralidade, espírito de marching band e delírios psicodélicos. Com direito a um virtuosismo que me levam de volta para o show do Wilco realizado no Auditório do Ibirapuera (2016).
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