Festival MADA reuniu 40 mil pessoas em sua vigésima sétima edição. - Foto Por: @BIAZVEDO
A segunda edição da Curadoria de Palco conta com uma entrevista exclusiva com Pedro Barreira sobre o MADA
O Festival MADA aconteceu nos dias 17 e 18 de outubro, na Arena das Dunas, em Natal, e reuniu mais de 40 mil pessoas. Sendo um dos mais relevantes do circuito no Norte e Nordeste, a programação e curadoria são diferenciais justamente pelo olhar clínico capaz de equilibrar grandes nomes ao mesmo tempo que fortalece novos artistas da região.
Entre os destaques, nomes nacionalmente conhecidos e com destaque nos últimos anos como Mano Brown, Liniker, BaianaSystem, Dominguinho, projeto de João Gomes, Mestrinho e Jota.Pê, que acaba de vencer o Grammy Latino, Marina Sena, Boogarins, Rachel Reis, Potyguara Bardo, Melly e o rapper cearense Don L marcaram presença.
Um dos diferenciais, o Baile da Amada, que surgiu no pós-pandemia como revelado pelo diretor artístico, Pedro Barreira, foi ampliado em espaço dedicado à música eletrônica e urbana contemporânea.
Com curadoria própria, o “festival dentro do festival” reuniu artistas como Irmãs de Pau, Febem, Jadsa, Edgar, KENYA20Hz, Aya Ibeji, Katy da Voz e as Abusadas, Dani Cruz, Afreekassia (DJ set), D.Silvestre, MC RB convida Mika, Bateu Pode Comemorar!, Jennify C. convida Casixtranha e Tinoc. Além de Sou Rebel, Taj Ma House, Guto Brant, O Cheiro do Queijo, Seed Selector, Brisa e Val Pescador.
Além dos shows, o público pôde aproveitar experiências como tirolesa, estúdio de tatuagem, touro mecânico, espaços instagramáveis, lojas de moda e área de beleza.
O festival também teve transmissão ao vivo pela Inter TV Cabugi/Globo, com exibição nas afiliadas da Globo no Norte e Nordeste. A cobertura foi estendida ao G1, Globoplay e aos telejornais locais, ampliando a visibilidade do evento e projetando a cena cultural nordestina para milhões de espectadores em todo o país.
“O Festival MADA carrega o frescor da juventude, mas caminha com a sabedoria de quem se aproxima das três décadas de história. Cada edição tem seu brilho, e chegar à 27ª com esse reconhecimento do público e da crítica é a prova de que seguimos no caminho certo”, afirma Jomardo Jomas, idealizador e diretor do evento.
O festival gera mais de 1.150 empregos diretos e milhares de indiretos, aquecendo toda a cadeia turística e de serviços. Alinhado a práticas sustentáveis, o MADA também mantém parcerias com o IDEMA (Instituto de Defesa do Meio Ambiente do RN), empresas de reciclagem e cooperativas de catadores, reforçando seu compromisso com o meio ambiente.
A nossa editoria Curadoria de Palco chega à sua segunda edição dando destaque a um dos mais importantes festivais do circuito nordestino. Confira também o papo que tivemos com o Festival Carambola, de Maceió (leia mais).
Curadoria de Palco mapeia o que leva os artistas aos palcos dos principais festivais e casas de show. Um espaço feito para programadores, curadores, bookers e amantes da música ao vivo poderem falar sobre o seu lado do bizz sem amarras ou cortes. Com direito a entrevistas, provocações e análises pensadas por quem vende e contrata o front.
Pedro Barreira: “Rapaz, gosto de fazer referência ao MADA como se fosse uma escola de se fazer festivais. Com uma liderança ativa e participativa, as trocas são tão fluidas entre o time, que acabei por colecionar infinidades de aprendizados. Talvez a maior seja: meu gosto pessoal não importa tanto na hora de fazer uma curadoria.
Sou um cara que vem do underground, que pra mim é onde tá o creme da produção contemporânea, mas entendi muito rápido com Jomardo e com o resto do time, que o festival é bem maior do que aquilo que a gente pensa. O Festival MADA é feito no encontro de pessoas que amam muito a música e querem compartilhar isso com o máximo de pessoas possível e por isso, ajudam ativamente não só na curadoria, mas nas decisões estratégicas do evento.”
Pedro Barreira: “Todas elas sempre são grandes provocações a minha pesquisa pessoal de vida que é a produção artística contemporânea brasileira. Alguns me provocam no universo mais pop, outros num campo mais intimista da música e isso me leva a criar diferentes mecanismos de pesquisa, negociação e decisão na hora de fazer uma curadoria.
Nem todas as demandas, por exemplo, abarcam todas essas necessidades que você listou, mais presente numa dinâmica de um festival de grande porte. Agora a busca por esse equilíbrio é uma constante já no princípio da minha pesquisa, então estou sempre frequentando seja a festa underground de som eletrônico experimental, seja um grande show de estádio ou uma casa de jazz mais intimista, procuro visitar e ter o máximo de experiências possíveis na minha pesquisa, para entender a melhor forma de encontrar um denominador comum que possa contemplar as diferentes linguagens e possibilidades da música.”
Pedro Barreira:
2024 – Mago de Tarso / Duquesa / Ebony / Cami Santiz
Selecionei especialmente esses artistas porque todos eles, ao serem anunciados, foram motivos de mensagens na minha DM de que eu estava equivocado, pois nenhum dos artistas tinham maturidade o suficiente para apresentar um show num palco da grandeza do festival. Pra mim, o que eles fizeram em 2025 foi calar a boca de geral que falava mal e ainda seguem fazendo isso e eu acho lindo ver como hoje dominam grandes públicos.
2025 – SouRebel / Taj Ma House / O Cheiro do Queijo / Jadsa
Esse ano acabou por ser algo mais de consagração. A forma como esses artistas envolveram o público presente e a grandeza com que ocuparam os palcos do festival demonstra a maturidade e importância de um trabalho contínuo, resiliente, muitas vezes, e com objetivos bem definidos. Foram 4 shows que eu não vi, nem ouvi, mas ouço muito falar até hoje, semanas depois do festival.
Pedro Barreira: “Todas possíveis. Nós não costumamos tematizar nosso processo de curadoria por achar que isso pode acabar dando um viés para o festival que não conversa com o público. O que temos são diretrizes gerais que dão a toada do nosso trabalho. Diversidade, por exemplo, é uma delas. Para nós é um conceito atrelado a um projeto de construção de marca.
Construímos essa diversidade no festival em consonância com o público. Se uma senhora de 60+ sente a necessidade ou saudade de estar num baile, porque não trazer isso pra dentro da nossa política de composição de line-up. Então ela vai se ampliando com o tempo.
Outra história que queremos contar com isso é a força do Nordeste e da sua capacidade criativa. Ter um festival que movimenta algumas dezenas de milhões na cidade, sendo pautado majoritariamente por artistas nordestinos, mostra o quanto nossa produção cultural é um ativo econômico de grande relevância. Essas são as histórias que queremos contar. O resto é perfumaria.”
Pedro Barreira: “Muita troca, muita leitura, muita escuta, muito debate, muito dedo no cue e gritaria.
No Festival MADA a curadoria é quase uma entidade para a qual praticamente todos os colaboradores e público trazem sua oferenda. Fico ali meio que na função de conciliar o desejo do público, as sugestões da diretoria, os lançamentos do mercado e os grandes shows em turnê de uma maneira equilibrada a fim de atender aos anseios do máximo de gente possível. É claro que sempre vai ter o rockeiro amargurado porque não tem mais tanto rock no festival, mas num geral, esse processo de ampla escuta tem sido o principal fator para a construção do line-up. Costumo dizer internamente que o público do nosso festival é o melhor curador do Brasil.”
Pedro Barreira: “Faça o seu muito bem feito.
Pra mim, que sou um curador que estou sempre na rua, a melhor forma será sempre a forma como você apresenta seu trampo. Se eu chego num lugar, e tiver 15 pessoas no público, mas o artista tá ali dando tudo de si e tem uma qualidade desejável do festival, com certeza passará a ser observado e será envolvido em projetos que eu atue, porque nem só de festival vive o curador. Fico logo imaginando aquele som batendo nos peito de milhares de pessoas a fim de viver a música, assim como eu. Mais cedo ou mais tarde a parada rola para quem se empenha e se entrega no que faz.”
Pedro Barreira: “Nós somos o mercado descentralizado da música, então qualquer esforço mínimo que façamos em prol dos nossos já é uma contribuição nesse sentido. Fora isso, a projeção que fazemos para o público fora da cidade também contribui para que o artista chegue em outras praças e obtenha um alcance maior.
O que aconteceu nos últimos anos é que passamos a ter um entendimento, através do sucesso artístico do festival, que investir na cena local para que ela tenha condições de fazer o melhor show da vida, é nosso melhor investimento. A nossa responsabilidade será de oferecer cada vez mais, melhores condições para que esses artistas e essa cena, projete seu trabalho.”
Pedro Barreira: “No Festival MADA esses encontros não são encomendados, eles são provocados ou viabilizados.
Quando SouRebel, por exemplo, chama Gracinha e Cami Santiz pro seu show, o festival não tem nada a ver com isso a não ser o fato de ter dado palco. Quando BaianaSystem coloca O Cheiro do Queijo no seu palco, não é um plano nosso, é uma esperança que alimentamos por conhecer o fato de o Russo Passapusso ter um envolvimento real com os artistas da banda e ser um grande entusiasta do seu trabalho.
A gente não planejou o encontro, a gente permitiu que ele acontecesse. E isso é algo que tem acontecido nos últimos anos do festival, mas não por esforço nosso, mas por conta do ambiente que criamos que acaba fomentando esses encontros… E quero que continue sendo assim, porque adoro ser surpreendido por essas paradas.”
Pedro Barreira: “O Brazil não conhece o Brasil. Sempre trago nas minhas falas o constante sentimento de que os vários preconceitos que regem a sociedade naturalmente influenciam na distribuição desses apoios. Quando a gente lê em uma pesquisa que 61% de todo valor captado na lei Rouanet está concentrado numa região específica da cidade de São Paulo, isso me enche de desesperança, porque algo que era para ser um descentralizador de investimento, acaba sendo usado para concentrar ainda mais a renda no setor.
Então o que eu acredito que precisa mudar? O Brazil precisa conhecer mais o Brasil. Saí da publicidade ao entender que aquele universo estava completamente desconectado da realidade que eu vim. Então pra mim, o setor que administra esses recursos, precisam aprender o que de fato é a cultura contemporânea brasileira, porque estão desplugados demais do que tem acontecido nesse território chamado, Brasil.”
Pedro Barreira: “Assunto tão delicado quanto polêmico (risos).
Acredito que a entrada de diversos grupos de investidores com muito dinheiro para gastar sem o compromisso com a real rentabilidade, focando apenas no potencial de captação de recursos do setor por meio de patrocínios diretos e incentivados, criou um momento de anomalia no mercado. Cachês de grandes atrações nacionais, por exemplo, foram inflacionados ao ponto de se tornarem inviáveis em alguns casos, mesmo para grandes festivais como é o MADA.
Na prática, na minha função, que é justamente a de negociar cachês, isso criou uma enorme dificuldade e que também aumentou o tempo de negociação, criando às vezes um cenário com muita ansiedade envolvida.
Ainda bem que existem muitos agentes conscientes do lugar e importância que a música e o circuito independente têm na cadeia produtiva e tem apresentado a flexibilidade necessária para tornar possível a vinda de grandes shows pro festival. Todos os artistas presentes no line-up deste ano foram muito parceiros e acolheram nossa demanda com muito carinho.”
Pedro Barreira: “Olha, não acho que sabemos disso ainda, pois, na verdade, as grandes marcas ainda não entenderam como funcionam as dinâmicas de migração turística, por exemplo, dentro do território nordestino, que é no qual atuamos e onde as marcas ainda não chegaram com a força necessária. Mas é fato que, por movimentarmos milhares de pessoas de todo o Brasil para virem à Natal curtir o festival, um holofote foi aceso no festival.
A mídia, por exemplo, através de emissoras locais, têm entendido isso primeiro e 2025 já é o segundo ano de transmissão na televisão, especialmente pelos esforços das redes transmissoras locais. O caso do MADA é curioso porque essa parceria rompeu a questão regional e neste ano, passamos a ser transmitido em quase todo território nacional, exceto alguns estados e também para o mundo via Globoplay.”
Pedro Barreira: “Acredito que uma das coisas que o MADA tem contribuído para o circuito na questão das políticas públicas é ter virado uma referência também para a indústria do turismo.
Hoje, mais da metade do público do festival vem de fora de Natal, o que gera um impacto econômico muito grande na cidade. Isso tem servido para aproximação do setor da cultura com o setor do turismo no universo político e tem sido usado de exemplo como uma iniciativa que promove o estado e sua economia para além das fronteiras.
Recentemente o festival foi reconhecido pelo estado como patrimônio cultural imaterial dado a sua relevância econômica/social e desenvolve o MADA FAZ ESCOLA, um programa que leva profissionais da música para instituições de ensino a fim de ajudar no entendimento de que aquela grande festa, na verdade, é um imenso gerador de emprego e renda para muita gente.
Na luta, acreditamos no fazer mais do que no falar. A resistência do festival de quase 3 décadas e seu crescimento econômico constante, mostram para o Brasil que há muito o que se aprender quanto a importância desses eventos enquanto fonte de emprego e renda.”
Pedro Barreira: “O Baile ficou conhecido como o festival dentro do festival. Uma coisa muito interessante que tem acontecido nos anos que a gente realiza eles é de ter uma parcela do público do festival que fica apenas nesse palco, que não chega a ver os shows em palcos maiores. Muito disso se deu por sua curadoria inovadora, um híbrido de palco alternativo com palco eletrônico, que deu a ele a característica de ser um palco de novas tendências musicais.
A nova demanda…
A demanda nasceu do momento pós-pandemia. Fomos praticamente um dos últimos festivais sobreviventes que voltaram, quando foi liberada a aglomeração e por conta disso, criamos o Baile da Amada, fazendo uma alusão a como o público se refere ao festival nas redes sociais. Aproveitamos esse momento para integrar o Gabriel Greiner, um jovem articulador e grande produtor do underground da cidade, que tem sido o principal responsável por tudo que vem acontecendo no Baile.”
Pedro Barreira: “Vou me focar na segunda parte da pergunta porque acho mais interessante, até porque esse tem sido o principal foco de minha pesquisa no campo da curadoria. Esse ano tivemos 4 grandes shows de artistas “novos” do Nordeste que nos surpreenderam tanto pela entrega quanto pelo engajamento do público, como foi o caso de SouRebel, Taj Ma House e Dani Cruz, de Natal, e O Cheiro do Queijo, de Fortaleza.
Para os próximos anos tenho observado alguns artistas da região que acredito merecerem destaque e aqui vai uma lista: Amém Ore, Elon, Clara Potiguara, Papangu, Léo da Bodega, Mumutante, Má Dame, Agê, Rei Lacoste, Dandarona, WavEzin, Núbia, Vieira, A Fúria Negra, Moon Kenzo, Camaleoa, Seu Zé quer Coco entre outras.”
Pedro Barreira: “Uma coisa que poucas pessoas sabem é que o MADA já vem fazendo movimentos nesse sentido desde seus primeiros anos. Ao longo da sua história, alguns artistas estrangeiros passaram pelo palco do festival. Nesse período que estou no festival, já trouxemos, por exemplo, Franz Ferdinand e Mayra Andrade.
Todos os anos tentamos, mas a concentração de investimentos e da mídia do Sudeste deixa essa missão mais difícil e agora pós-pandemia está impossível. Mas, todos os anos, investimos esforços para trazer atrações internacionais para o Nordeste, porém é bem mais difícil. Quem sabe alguma marca parceira acredite com a gente em levar os argentinos para um rolê em Natal.”
Palco 1
DJ
Melly
Marina Sena
Don L
Segundo Palco
Dani Cruz
Boogarins
Dominguinhos
Palco TIM – Baile da Amada
Tinoc
Bateu Pode Comemorar
Jadsa
DJ Silvestre
MC RB convida Mika
Afreekassia (DJ Set)
Febem
Jennify convida Casixtranha
Palco 1
SouRebel
Raquel Reis
Liniker
Segundo Palco
Guto Brant
Potyguara Bardo
BaianaSystem
Mano Brown
Palco TIM – Baile da Amada
Novíssimo Edgar
Cheiro do Queijo
Katy da Voz
Aya Ibeji
Taj na House
Irmãs de Pau
Seed Selector
Brisa
Val Pescador
This post was published on 18 de novembro de 2025 7:55 am
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