Refused se apresenta pela primeira (e última) vez no Brasil. - Foto Por: Tim Tronckoe
Dos grandes nomes da cena punk e hardcore dos anos 90, misturando diversos estilos, como eletrônica, post-hardcore e jazz, revolucionando a estética e tendo o ativismo político e o discurso afiado como força nas composições e atitude, o Refused vem ao Brasil pela primeira vez.
É bem verdade que em tom de despedida, já que o grupo que tem Dennis Lyxzén como vocalista, encerrará as atividades em dezembro com uma série de shows em seu país natal, a Suécia. O show único no Brasil, realizado pela Powerline Music & Books em parceria com a Balaclava Records, acontece no dia 31/10, em São Paulo, no Terra SP.
Criado em 1991 na cidade de Umeå, tem como marco o clássico álbum The Shape of Punk to Come, um urgente e atemporal manifesto revolucionário. O álbum de 1998 é frequentemente citado como um dos discos mais inovadores da história do punk e do rock alternativo, com sua mistura de hardcore punk com jazz, eletrônica, spoken word e estruturas não convencionais.
Após uma pausa na carreira, retornaram em 2012 e, em 2015 trouxeram ao mundo o álbum Freedom, que concorreu ao Grammy na categoria Melhor Performance de Hard Rock/Metal. War Music, de 2019, é o último disco de inéditas, que foi listado pela Loudwire como um dos 50 melhores álbuns daquele ano.
Ao vivo, o Refused entrega o show mais verdadeiro que o rock pode oferecer com a energia do instrumental impecável, momentos catárticos e conexão passional com o público. Tivemos a oportunidade de conversar com o carismático e performático Dennis que nos contou boas histórias.
Dennis Lyxzén: “Eu estou muito animado. Eu tenho vontade de ir ao Brasil há muito tempo e nunca tivemos a oportunidade. Eu empurrei essa ideia muito forte, falei para todos da banda que eu precisava ir ao Brasil antes de acabarmos com a banda e uma hora os caras concordaram comigo. Estou muito animado para isso, acho que vai ser divertido.”
Dennis Lyxzén: “Um dos motivos de estarmos acabando com a banda é para não precisar tocá-las mais (risos). Eu me sinto muito bem com relação às músicas, afinal é nossa última turnê, estamos tocando essas músicas pela última vez e isso tem feito as pessoas muito felizes. Tem sido incrível, um amigo inclusive me perguntou há algum tempo “Não é entediante tocar “New Noise” toda noite?” e eu digo que não. É fantástico. A resposta que recebemos é sempre fantástica. Então tem sido ótimo tocar essas músicas uma última vez.”
Dennis Lyxzén: “Normalmente uma banda de hardcore é composta por um bando de punks, que se juntam e vão se tornando cada vez melhores no que tocam. Quando eu conheci o David (Sandström, baterista do Refused), ele tocava em uma banda de death metal progressivo e ele gostava muito de jazz. Ele não era um baterista de punk. Na nossa cidade todos sabiam que ele seria o próximo grande baterista. E quando o Kris (Steen, guitarrista do Refused), gostava de hardcore, mas também gostava de Mahavishnu Orchestra, essas coisas de art music.
Então nossa banda não era simplesmente um bando de punks que não sabiam tocar se juntando. Nós tocávamos hardcore, mas o hardcore não era o gênero favorito de ninguém. Então quando Kris e David começaram a infusionar suas influências nas nossas músicas, foi quando o The Shape of Punk to Come aconteceu, basicamente. Eu teria sido muito feliz apenas sendo uma banda de hardcore, mas eles trouxeram todas essas influências incríveis. Naquela época eu estava muito interessado em northern soul e garage rock, então pegamos todas essas influências e isso se tornou o The Shape of Punk to Come. Tudo enraizado no hardcore, mas com esses sabores por cima também.”
Dennis Lyxzén: “E é verdade, somos de gerações e gerações de fazendeiros de batata (risos). Eu gostava muito de metal. Eu desde cedo sempre soube que queria tocar em uma banda, mas metal era um gênero muito técnico, daí eu descobri o punk e o hardcore.
Na verdade eu descobri o que chamamos de crossover, que é a ponte entre o hardcore e o metal, daí isso me levou para o punk e o hardcore. Daí eu pensei: “pera, isso tem a mesma energia, a mesma agressividade, a mesma violência que eu amo no metal, mas as músicas são curtas e eu consigo tocá-las?”
Eu me apaixonei pela ideia do punk e do hardcore. Eu descobri que era isso que eu queria fazer, sabe? Para o David, por outro lado, ele descobriu o hardcore vendo uma das minhas bandas tocar, na verdade. Era a minha primeira banda de hardcore e o David veio ver um dos nossos shows e ele falou: “É isso que eu quero fazer, não quero ser um baterista técnico de jazz, quero tocar em uma banda assim”.”
Dennis Lyxzén: “Foi um período incrível nos anos 90. Tem bandas suecas de punk e hardcore dos anos 80 que eu amo, também, mas ainda era uma cena muito pequena. Nos anos 90, quando começamos, nós tínhamos nossa pequena cena local em Umeå, mas também tinha todo aquele movimento da Burning Heart Records, com bandas como Millencolin e The Hives, também tinha uma grande cena de hardcore.
Os anos 90 foram muito interessantes, e como a Suécia é um país pequeno, nós tivemos chance de tocar com todas essas bandas. Todos são nossos amigos. Para os shows finais que faremos em dezembro, nós convidamos várias dessas bandas para tocar conosco para ser um grande fechamento de ciclo. Nós tocamos com eles em 1993, vamos fazer um show juntos em 2025.”
Dennis Lyxzén: “Não (risos). Eu acho que tinha uma ideia, principalmente do Kris e do David, de que poderíamos chegar a outro patamar, pegar a música pesada e fazer algo diferente com ela. Mas eu acho, na verdade, que o título de The Shape of Punk to Come era um tipo de “F#da-se”, sabe?
Antes do disco, fizemos uma turnê pelos Estados Unidos em 1996 com o Snapcase. Nós éramos muito políticos e muito radicais, mas as outras bandas que tocaram conosco naquela época não eram. Não tinham interesse nesse desenvolvimento além da música. Quando voltamos para casa, nós sentimos que o mundo do hardcore estava parecendo muito pequeno e sem imaginação. Muito do Shape of Punk é uma reação àquilo, sabe?
Vamos nos libertar disso e fazer algo completamente diferente. Nomear o disco dessa forma foi um grande “vão se f#der” para essa mentalidade. Eu não acho que nenhum de nós acreditava que era uma forma de profecia que se autorrealizaria. Nós só achamos que seria engraçado ter esse título.”
Dennis Lyxzén: “Eu acho que o momento atual é maravilhoso! Tem muito mais bandas interessantes e animadoras surgindo do que houve em um longo tempo. Eu acho até que os gêneros tiveram uma certa popularização no mainstream, eu adoro isso. Acho que é um tempo muito bom para a música nova.”
Dennis Lyxzén: “É até estranho porque nos últimos anos eu tive tantos projetos acontecendo ao mesmo tempo, então quando o Refused aconteceu esse ano, tudo entrou em pausa, afinal esse é o ano da banda. Mas sim, eu sou membro do Fake Names, junto com algumas pessoas super legais da velha guarda do hardcore dos Estados Unidos, nós gravamos um disco em maio e ele vai sair no próximo ano. É o terceiro disco da banda.
A Vännäs Kasino, que é minha banda punk mais nova, na qual eu toco guitarra, também estamos trabalhando no nosso terceiro disco, será gravado no começo do próximo ano. Para o INVSN, estamos trabalhando em músicas novas, mas deve ser algo mais para o fim do ano que vem. Daí eu, David e Magnus (Flagge, baixista do Refused) temos uma banda de free jazz junto com o Mats Gustafson chamada Backengrillen. Nosso disco vai sair em janeiro, acho que vamos fazer alguns shows ano que vem com essa banda. E então nós quatro do Refused vamos começar uma banda nova ano que vem, para fazer algo novo e diferente. Eu acho que estarei bem ocupado no próximo ano!”
Dennis Lyxzén: “É, um pouco diferente porque não será um ano doido de turnês como esse tem sido, mas vai ser interessante encaixar todos os meus projetos diferentes.”
Dennis Lyxzén: “Eu amo sair em turnê. Se eu pudesse escolher, eu estaria sempre em turnê, mas tem outros membros das bandas que se sentem diferente sobre isso. Excursionar com o Refused é estranho porque são as turnês mais confortáveis que fazemos, em termos de hotéis, ônibus e coisas assim, mas também são muito exaustivas fisicamente para tocar essas músicas. Quer dizer, o último show que fizemos durou mais de 90 minutos, o que é doido para esse tipo de música. Mas eu amo isso. Eu quero estar em turnê enquanto meu corpo me permitir, basicamente.”
Dennis Lyxzén: “Eu realmente não sei. Eu sempre me surpreendo quando algo se populariza. Mas eu acho que o que o Turnstile tem feito, sendo uma banda de hardcore com essa sensibilidade pop esquisita, acho que isso é algo que muita gente vai pegar.
Você pode escrever músicas pop muito boas mesmo no contexto de uma banda de hardcore. Isso já está acontecendo e acho que eles vão influenciar muita gente. Acho essa mistura muito interessante e excitante para a cena.”
Dennis Lyxzén: “Você está correto. Quando eu entrei para o hardcore, a cena era completamente política. Todas as bandas falavam sobre política, com ideias muito diretas. Para mim, isso sempre foi muito importante. Se você vai falar algo, que seja algo que importe, denunciando coisas que vê ao seu redor. Eu não gostaria que todas as bandas do mundo falassem sobre as mesmas coisas e eu entendo também que nem todo mundo entra na música para falar sobre política.
Há pessoas que só querem tocar em uma banda, basicamente. Mas eu acho que da maneira que o mundo está hoje, eu acho que é importante que todos se eduquem. Mesmo que não mudemos o mundo tocando rock, eu acho que o senso de comunidade e pertencimento são muito importantes.
Quando tocamos nos nossos shows, queremos passar essa sensação. Em um mundo que é um pesadelo político, ninguém está sozinho, esse é um aspecto importante da comunidade. E se existem bandas de direita, elas não deveriam ser parte da nossa cena, essencialmente. Elas não fazem parte do nosso mundo e nem falam a nossa língua. Punk e Hardcore são baseados nos fundamentos de igualdade e inclusão, o sentimento de rebelião e a vontade de fazer uma revolução.
Esses são os fundamentos do punk e do hardcore, mesmo que você não seja abertamente político, isso tem que ser parte da cena. Todos têm que se sentir parte disso. A partir do momento que você entra nessa mentalidade da extrema-direita, a ideia é de exclusão, nem todo mundo é bem-vindo ali. E então esses caras podem ficar bem longe da nossa cena.”
Dennis Lyxzén: “Eu estou tão animado de finalmente tocar aí. Tem estado no fundo da minha mente por tanto tempo e eu não consigo nem acreditar que finalmente vai acontecer. E também, você planeja as coisas com tanta antecedência… “Ah, vamos para o Brasil em outubro”, agora finalmente estamos aqui! Estou muito animado e espero que as pessoas venham cantar conosco. Vai ser incrível!”
Data: 31 de outubro de 2025 (sexta-feira)
Local: Terra SP
Endereço: Av. Salim Antonio Curiati 160, São Paulo, SP
Abertura: Eu Serei a Hiena
Venda online:
Ingresso: https://fastix.com.br/events/
This post was published on 27 de outubro de 2025 8:00 am
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