Nova MPB: Jonathan Ferr, Ana Spalter, Ekena, Melifona, Da Cruz, Luíza Boê e muito mais!

Elisa Maia é um dos destaques da Nova MPB. – Foto Por: Demi Brasil
A Nova MPB trará conteúdos em micro-resenhas do que de melhor tem acontecido na música brasileira. Singles, discos e novidades com o radar antenado do Hits Perdidos ganham o palco em um post informativo que acompanha sempre uma playlist!
Sobre a Nova MPB
A música brasileira em permanente reinvenção.
“Nova MPB” olha para artistas que transformam a tradição em novidade, misturando gêneros, territórios e experiências pessoais em obras que falam diretamente ao nosso tempo. Aqui cabe desde o samba torto até o folk psicodélico, passando por eletrônica, afrobeats, indie ou funk. Porque MPB é muito mais do que um estilo – e não parou na década de 70.

Nova MPB #5
Elisa Maia “Quando Sai”
Antecipando o lançamento do seu debut, a cantora, compositora e produtora cultural, Elisa Maia disponibilizou o single “Quando Sai” através da Natura Musical.
A estreia é resultado de um longo processo de resiliência e persistência; visto que atua na música há 20 anos. “Esse álbum mostra a cantora que sempre esteve aqui, mas que precisou de uma vida inteira de experiências para se revelar plenamente”, conta a artista.
Elisa revela que a canção foi composta antes da pandemia: “Ela nasceu sem que eu soubesse as motivações na época, sem perceber que meu ‘mundo conhecido’ estava começando a desabar para que eu renascesse em outro”. A escrita sendo ponto de partida, tanto é que o videoclipe que acompanha a faixa, teve como inspiração diários e anotações pessoais que viraram músicas.
A produção musical é assinada por Ian Fonseca (Supercolisor), com direção artística de Estêvão Queiroga. No single, Be-Atrz (baixo), Felipe Coimbra (guitarras), Beto Montrezol (bateria), Alv Lara (beatbox) e Malu Ribeiro (arranjos vocais) a acompanham.
Entre as referências da faixa estão influências de rock, R&B, além de corais, o que a deixa com um andamento bastante plural e até mesmo épico. “Queria que o arranjo desse a impressão de um chão desmoronando, de vazio sob os pés. Mas ouvir a faixa em loop é, para mim, como ver a vida se reconstruindo, ressignificando corpo, sonhos, perdas e sentimentos – tudo em direção ao novo”.
Essa aura de renascimento acompanha as melodias e escolhas estéticas da artista que também em outros sons vai buscar timbres e facetas em ritmos como o reggae. “Quando Sai” acaba explorando todo o poder lírico e a força que o ato de ilustrar seus cadernos com versos que trazem… entre memórias, reflexões, aperfeiçoamento e processos inerentes ao amadurecer.
Gabi Farias “Flores”
A cantora e compositora amazonense Gabi Farias, em parceria com Lumanzin, apresentou o single “Flores” com referências que unem reggaeton, beats eletrônicos e o pop. A música vai envolvendo o ouvinte aos poucos, com energia tropical de uma lambada, arranjos que vão criando uma atmosfera quente, sinestésica envoltos num emaranhado de sentimentos.
“Flores é uma música que foi se construindo naturalmente dentro de um caminho de afirmação de força e pertencimento que sinto no meu projeto artístico. Misturar os versos que são como um mantra, com uma batida eletrônica presente e dançante são marcas importantes desse momento mais quente que eu quero apresentar pra quem já me conhece e quem vai vir a me conhecer.”, revela a artista que atualmente reside em São Paulo.
A artista já pôde colaborar com artistas como Victor Xamã, O Grilo, Thomé e Batuc Banzeiro. Agora, Gabi está pronta para aos poucos apresentar sua nova fase pós-álbum de estreia, Enchente (2022).
Jonathan Ferr LAR
Dos nomes mais inventivos e com os timbres mais afiados da sua geração, Jonathan Ferr chega ao seu terceiro álbum, LAR, explorando ritmos como Urban Jazz e com referências que vão do hip-hop, soul, neo-soul, música brasileira e um emaranhado de arranjos orquestrais.
“O lar é o lugar onde muitas memórias são feitas e guardadas ao longo da vida. O que seria isso senão o próprio tempo?. O lar deixa de ser apenas uma casa física para se tornar um conceito expandido. É um espaço ancestral e cultural de onde nós viemos. É o estado de presença e conforto acima de tudo”, comenta Ferr.
O material que chega pela Som Livre reúne participações de Marcos Valle, Pedro Bial, Dino D’Santiago, Luccas Carlos, Ana Karina Sebastião e da Nova Orquestra. Entre os produtores do material estão Julio Raposo, da Moodstock Music, e Douglas Moda. No campo das temáticas, além de se relacionar com temas já abordados anteriormente nos discos anteriores, como o amor, a perda do pai, em 2023, aparece em meio a outras reflexões.
O encontro, e amizade, com Marcos Valle (“Almar”), veio justamente de uma participação no programa Conversa com Bial. O texto poético de apresentação programa, feito por Bial, acabou sendo incluído dentro do disco como uma forma de apresentar o músico para novas audiências. Esse cerne colaborativo, misturado às referências que o artista orquestra ao longo da sua caminhada, ganham camadas e texturas leves. O resultado é cada vez mais pop e próximo das massas, sem perder a densidade e sensibilidade que coloca quando resolve tocar as notas em seu piano.
Melifona “Água Régia”
O cantor, compositor, multi-instrumentista e produtor paulistano Melifona, lançou recentemente o single “Água Régia”, que encaixa perfeitamente na playlist após Ferr. Capitaneado pelo selo Sound Dept, a faixa integrará seu álbum de estreia, Radiação do Corpo Negro.
Multi-instrumentista, o músico autodidata, ao longo da sua obra toca trompete, sax, flugelhorn, contrabaixo, piano e sintetizadores. Jazz, experimentações, música brasileira e outras referências aparecem ao longo da audição da faixa, que traz consigo um tom contestador. Entre a tensão e palavras duras de serem ouvidas, a canção ao longo do seu andamento cria cenários e colore sua narrativa, indo dos tons pastéis da paixão ao cinza do questionar.
“A música “Água Régia” fala sobre a superação de um relacionamento. É um fim definitivo? É uma volta? Em que estado está? Às vezes, trata desse lugar indefinido, quando você tenta se desvencilhar e se afastar, porque percebe que existe uma toxicidade no ar.
Água régia na química é uma mistura de ácidos capaz de dissolver metais nobres tipo o ouro, e o ouro é conhecido como um metal muito difícil de ser corroído, ele dura pra sempre basicamente. O amor é algo nobre. Como você corrói algo que é nobre? Por que ele está sendo corroído na minha frente? Por que está sendo dissolvido?”, reflete o músico.
Bruna Black Fulorá
Bruna Black, que também compõe o duo ÀVUÀ, ao lado de Jota.Pê, apresenta uma nova fase na carreira, agora abraçando ainda mais a MPB e ritmos como o Forró. Esse é o caso de “Saudade”, parceria com Juliana Linhares, que abre o álbum Fulorá – e ganha destaque em nossa playlist. A maternidade às relações amorosas, da vivência em São Paulo às inspirações espirituais e culturais, acabam entrando na narrativa do material que chega pela Som Livre.
Entre as outras parcerias do disco estão, também, “Marrom Cremoso”, com Chico César, “Quebra Prato”, com Baobá, e “Zoin” com Clarianas e Jéssica Gaspar. Segundo a artista, o álbum funciona como um manifesto pessoal sobre honrar o passado, viver o presente e preparar o futuro.
“O ‘Lado A’ vem com referências do nordeste do Brasil, composições mais antigas, ligadas ao que escutei na infância pelo meu bairro e ao que vivenciei em muitas apresentações. Já no ‘Lado B’, as músicas foram levadas ritmicamente para o contexto do significado, sem deixar de apresentar influências enraizadas na música negra”, explica sobre o disco que saiu no dia 19/09.
Da Cruz “Rolexxx”
Da Cruz, atualmente sediada em Berna, mistura raízes africanas e brasileiras em seu novo single, “Rolexx”.
Entre as referências estão justamente o Gqom, o Amapiano, o dancehall, o funk brasileiro, o shatta caribenho e a Global Bass Music. Para ter ideia, ritmos como o kuduro angolano ou o trap brasileiro, acabam também entrando no caldeirão de influências diretas e indiretas nos singles já apresentados do vindouro álbum.
Suas letras são contundentes e tem DNA questionador. Mistura essa que ao longo dos seus trabalhos faz do seu som moderno e envolvente, ganhando a cada novo lançamento novas camadas e linguagens.
Som Sistema será lançado no fim de janeiro de 2026 pela Boom Jah Records.
Ana Spalter Coisas Vêm e Vão
Ana Spalter, cantora, compositora e multi-instrumentista, é das gratas surpresas da nova música brasileira. O álbum de estreia, Coisas Vêm e Vão, chega com a produção de Betão Aguiar (Arnaldo Antunes, Marisa Monte, Gilberto Gil), e tem participações especiais de artistas como Francisca Barreto, Fernanda Ouro e Luiza Villa.
“Passo muito do meu tempo refletindo, pensando nas relações entre nós e a natureza, nós e o tempo, nós e os outros, nós e nós mesmos. Nada mais verdadeiro do que deixar registrado no álbum um pouco desses atravessamentos que vivo”, comenta no texto de apresentação do disco à imprensa.
Com leveza, explorando ambiências, aprendizados, o disco olha pelo retrovisor com direito a arranjos delicados e reflexões sobre o amadurecer. Sua voz calma dirige o ouvinte durante sua caminhada em um disco fácil de ouvir e com DNA moderno, mas sem deixar de reverenciar a música brasileira, da bossa ao choro.
Alegorias essas aparecem, por exemplo, nos vocais sussurrados de “Acrobata”, já o samba reluz em “Bobagem” e “Quintal”. A sobreposição de vocais é o destaque de “Privilégio Meu” que vai do blues ao pop/rock. O canto e o coral aparecem em sua introdução que curiosamente vem quase no fim do disco… está que serve como uma ponte para a densa faixa título que reverencia a caminhada até aqui e fecha o disco numa leveza mais jazz.
Um disco que sabiamente se guia pela potência da voz de Ana.
Luíza Boê “Nada de Extraordinário”
A cantora e compositora mineira-capixaba Luíza Boê apresentou o single “Nada de Extraordinário” pelo selo Alá Comunicação. A faixa, segundo a artista, nasceu num dia comum, em que seu aniversário caiu numa terça-feira sem grandes acontecimentos, mas com um contentamento enorme por estar viva.
“A música fala sobre isso: a vida não precisa ser extraordinária pra ser boa. A felicidade pode estar no ordinário, no aqui e agora. Depender do extraordinário pra ser feliz é esperar demais da vida.”, comenta Luíza.
Pop e com arranjos de metais, a canção brinca justamente como esses momentos mais introspectivos podem sim ser memoráveis, ainda mais quando tendemos colocar tanto peso nos obstáculos do dia a dia. A progressão solar dos acordes guiam o ouvinte ao êxtase.
Faixa foi produzida por Gustavo Ruiz, além dos arranjos vocálicos da artista vem com um time de peso formado por Pupillo (bateria), Marlon Sette (trombone), Alberto Continentino (baixo), Guilherme Monteiro (guitarra), Thomas Harres (percussão). O clipe que acompanha, foi filmado em Super 8 por uma equipe criativa formada por mulheres, com direção de Gabriela Boeri.
Ekena “Me Faz de Abrigo”
Prestes a lançar o álbum AURA, com produção de Rico Manzano e Kaneo Ramos, Ekena disponibilizou a faixa “Me Faz de Abrigo” que foi gravada pelo Estúdio Central e chega via Central Records. Intensa, com força nos vocais, e arranjos delicados, a faixa reflete sobre ciclos de amor ao abordar suas idas e vindas, suplicando pela reconciliação… ao mesmo tempo que aguarda pelo melhor momento de um retorno ao lar, ao entender o perdão, a paciência e o acolhimento necessário nesta jornada.
“‘Me Faz Abrigo’ fala muito sobre recomeços e o quanto amadureci para entender que alguns dramas não cabem mais na minha vida. É uma canção que traz essa ideia de construir um lar afetivo mesmo na distância, de ter sempre um lugar seguro para voltar. Para mim, ‘casa’ é sinônimo de força e proteção, e essa faixa traduz esse sentimento”, comenta a artista.
Seu terceiro álbum de estúdio foi construído como uma homenagem a uma amiga que já se foi. Até por isso, o mergulho nas conexões, afetos e recomeços transbordarão em sua audição. “Por isso a faixa antecede o álbum: porque também fala sobre estar em um ambiente seguro, de me sentir em casa, confortável e inteira dentro da minha própria música. Quero que todo mundo saiba o quão importante Aura foi pra mim, e o quanto ainda é”, completa.
Ina Magdala Cabe Quem Quiser
Com referências que vão de Rita Lee a Marina Lima, a cantora e compositora mineira Ina Magdala lança o álbum de estreia Cabe Quem Quiser pela LAB 344. Com produção de Renato Neto (Prince, Rod Stewart), o material reúne 10 faixas e é justamente na pluralidade rítmica que ganha novas cores, texturas e soluções sonoras.
Rock, MPB, soul, funk, samba, maracatu, baião, reggae, jazz, tudo entra no caldeirão sonoro de um disco que mira no pop oitentista bastante confessional. Um disco que tem seus momentos de pista de dança… e outros mais introspectivos, ideal para ser ouvido diretamente de uma mesa em casas de show como o Blue Note.