My Morning Jacket revela detalhes sobre o processo criativo de “is” e a necessidade de fazer um álbum baseado em canções
My Morning Jacket lança seu décimo álbum de estúdio, is. – Foto Por: Silvia Grav
Quatro anos após o lançamento do álbum autointitulado My Morning Jacket (2021), a banda norte-americana retorna com seu décimo trabalho de estúdio, intitulado is. O disco chegou às plataformas no dia 21 de março, via ATO Records — selo que abriga nomes como Alabama Shakes, King Gizzard & the Lizard Wizard, Black Pumas, Rodrigo y Gabriela, Nick Hakim, Altin Gün.
A trajetória do My Morning Jacket
Formado em 1998, o My Morning Jacket nasceu em Louisville, Kentucky, e mantém até hoje dois de seus fundadores: o vocalista Jim James e o baixista Tom Blankenship. Conhecido por sua sonoridade única que mistura rock psicodélico, country, indie rock e elementos de southern rock e art rock, o grupo conquistou uma base fiel de fãs ao longo dos anos — mesmo sem nunca ter se apresentado no Brasil.
Apesar disso, a Som Livre chegou a distribuir alguns dos álbuns do grupo no país, e a banda já teve duas oportunidades de se apresentar por aqui, conforme revelado em entrevista exclusiva ao Hits Perdidos.
Entrevista: My Morning Jacket
Em bate-papo exclusivo com o Hits Perdidos, o baterista Patrick Hallahan, integrante da banda desde 2002, compartilhou detalhes dos bastidores da criação de is. Ele também comentou como o grupo precisou se reinventar durante a pandemia, período em que a continuidade do My Morning Jacket chegou a ser colocada em dúvida.
🎧 Ouça o álbum is nas plataformas de streaming e conheça a nova fase do My Morning Jacket!
Algumas semanas atrás o My Morning Jacket lançou “is”, seu décimo disco. Como tem sido a recepção desse disco para você?
Patrick Hallahan: “Tem sido muito positiva para mim, desde a composição até o lançamento tem sido uma experiência incrível. Quando você faz um álbum e lança ele para o mundo, você nunca sabe como vai ser. Você tem que estar feliz você mesmo primeiro e torcer para que as outras pessoas gostem, mas a recepção tem sido muito boa. Nós não podíamos estar mais felizes.”
Esse é um disco com muitas das características que você espera do My Morning Jacket, com a mistura de indie rock, psicodelia e southern rock. Como foi o processo de composição?
Patrick Hallahan: “Esse álbum é o topo de um grande iceberg. Tiveram muitos passos até chegarmos no resultado. Nós fizemos um disco inteiro e o descartamos antes desse. Levou cerca de dois anos para fazê-lo. Foi uma longa jornada, muito significativa para a banda.
Nós definimos uma meta de fazer um álbum que fosse baseado nas canções em vez de chegar no estúdio e escrever lá mesmo. Nós trabalhamos muito antes de entrar em estúdio tentando lapidar cada uma das músicas e entender quais eram os seus núcleos.
Esse é o disco mais curto que nós já fizemos, cerca de 38 minutos de duração. Não há nenhuma música acima de 5 minutos no disco. Isso é bem doido para gente porque tem alguns dos nossos discos onde a menor música dura 5 minutos. Foi um processo bem diferente de aparar tudo que não precisava estar lá para fazer as canções soarem completas. Foi um exercício incrível, eu não diria de minimalismo, mas talvez de eficiência.”
Já que vocês descartaram um disco inteiro, vocês reiniciaram do zero ou algumas ideias foram reaproveitadas?
Patrick Hallahan: “Na verdade, duas músicas daquele projeto inicial estão nesse disco: “Die for it” e “River Road”, as duas faixas finais do álbum eram do tracklist original. Depois que entendemos o que queríamos fazer, acho que as ideias começaram a aparecer de verdade. Foi como se precisássemos de algumas sessões de gravação para entender o tipo de álbum que queríamos fazer.
O Jim (James, vocalista do My Morning Jacket) é uma pessoa muito prolífica nas suas demos. Ele fez cerca de 700 demos. Comigo na bateria foram cerca de 150. Com a banda completa, uns 75. Nós filtramos isso tudo e encontramos dez músicas, se isso te diz algo. Foi muita escavação até chegar a essa bola bem concentrada que é o disco.”
Esse também é o primeiro disco da banda que é produzido exclusivamente por alguém fora da banda, já que o Jim produziu ou co-produziu todos os outros discos. Como foi esse processo?
Patrick Hallahan: “Sim, Brendan O’Brien é o único produtor creditado. Nós tivemos que escolher a pessoa certa para esse processo. Nós cinco podemos produzir e escrever, mas para entregar para uma pessoa de fora, teria que ser a pessoa certa. E o Brendan, basta você olhar para a discografia dele, ela fala por si só. Ele sabe o que está fazendo. Ele abriu, principalmente para o Jim, a possibilidade de não focar na produção, engenharia de som, essas coisas mais macro.
Jim pôde focar então em cantar, trabalhar mais nas letras, fazer mudanças com base no que estava ouvindo. Já o Brendan, sendo um observador externo, ele tem uma perspectiva que nós não temos, isso foi muito importante. Foi como ter um treinador ali. Nós temos criatividade o suficiente para seis bandas, ele foi capaz de tirar o melhor de todos nós com essa perspectiva externa.”
Eu li que o “Circuital” foi gravado inteiramente ao vivo em uma igreja de Louisville, a cidade natal da banda. Vocês preferem gravar ao vivo? E como foi o processo dessa vez?
Patrick Hallahan: “Nós descobrimos que a nossa banda funciona melhor quando trabalhamos as músicas de forma antecipada, de forma que quando chegamos ao estúdio não estamos pensando nas músicas, estamos apenas reagindo emocionalmente a elas. É assim que trabalhamos melhor, quando não estamos pensando, estamos apenas sentindo.
Gravando ao vivo nós conseguimos fazer isso, e fizemos por anos. Mas notamos que quando trabalhamos da forma que fizemos agora, que foi o mesmo processo que em Z e Evil Urges, onde nós fizemos um trabalho maior de pré-produção antes de ir ao estúdio gravar tudo, nós preferimos isso. É o que nós fazemos nos shows, estamos reagindo emocionalmente a músicas que já conhecemos bem. Dessa forma podemos capturar um pouco dessa energia no estúdio também.”
Como você mencionou os shows, a banda é muito conhecida pelas apresentações bem explosivas. Qual a sua expectativa para adicionar essas músicas aos setlists? Vocês pensam nisso enquanto estão compondo?
Patrick Hallahan: “Sim, nós pensamos nisso enquanto estamos fazendo o disco. Pensando em como cada música vai se encaixar na dinâmica dos nossos shows. Na verdade, é quase como se estivéssemos compondo discos para ter mais ingredientes para o nosso setlist ao vivo.
Nós já fizemos quatro shows até agora e as músicas novas combinam muito bem com as antigas e nos permitem muitas variações, para podermos fazer combinações diferentes a cada show. Essas dez músicas se encaixam perfeitamente ao que gostamos de fazer. E tem sido divertido porque mesmo depois de poucos shows, elas já têm mudado. É interessante porque o álbum é uma coisa e a apresentação ao vivo é outra completamente diferente, e é legal vê-las evoluindo para músicas diferentes.”
Algo que eu acho interessante é que o seu nono disco foi o autointitulado “My Morning Jacket”, depois de mais de 20 anos de banda. Já esse é chamado “is”, fazendo com que a sequência seja “My Morning Jacket is”, quase como se vocês continuassem se reinventando a cada disco. Para você, o que define o My Morning Jacket?
Patrick Hallahan: “De fato, isso está continuamente sendo definido. Nós quase acabamos a banda na época de The Waterfall II e quando nos juntamos novamente, o disco autointitulado foi como um reset. Foi quase como nosso primeiro disco de novo.
A chave para o nosso crescimento contínuo como uma banda foi trabalhar em nós mesmos, na nossa saúde mental, alimentando a nossa criança interior. Aquela criança que muitos de nós queremos fingir que não existe, ela nos ajuda bastante também. E sermos basicamente abertos e honestos uns com os outros.
A saúde da banda nunca esteve melhor, eu diria. Nos comunicamos melhor e isso leva a apresentações melhores, sem ressentimentos entre os integrantes. Essa é a minha época favorita da banda, já depois de 25 anos de história. Tem melhorado com a idade e eu nunca esperei isso. Sucesso é uma coisa que não me interessa muito, eu acho que é mais importante saber que posso olhar no rosto dos outros membros da banda todo dia e dizer que os amo e fazer o que amamos. É aqui que estamos e acho bem bonito.”
Falando um pouco do seu processo, o que você escutava durante o processo de composição para buscar inspiração? Tem algo novo que você está ouvindo agora?
Patrick Hallahan: “Eu tenho escutado muita coisa. Vou ler aqui meu histórico de buscas no Spotify para você ver: Kendrick Lamar, Cymande, John Coltrane, Fugazi, Refused, Sam & Dave, Stevie Wonder…
Tem também uma artista da nossa cidade natal, Louisville, Kentucky, chamada Maggie Halfman que tenho ouvido bastante. Ela tocou conosco no nosso festival, foi muito bonito. Tem muita coisa, eu podia sentar por horas falando, gosto de uma grande variedade de artistas.”
Para finalizar, o Brasil é famoso nas redes sociais por pedir para que os artistas venham pra cá. My Morning Jacket nunca veio para o Brasil!
Patrick Hallahan: “Eu sei! Nós queremos muito ir, mas nunca deu certo. Já nos convidaram para tocar no Lollapalooza Brasil, mas nós tínhamos uma turnê marcada. Outra vez o Pearl Jam tentou nos levar para abrir os shows deles, mas também havia conflitos.
Eu juro que estamos tentando chegar aí e seria uma alegria imensa! Nós nunca tocamos em nenhum lugar ao sul do México. Isso é um absurdo, já temos 25 anos de banda. Com quem puderem falar a respeito disso, por favor nos ajudem!”
Você tem alguma mensagem para seus fãs brasileiros?
Patrick Hallahan: “Muito obrigado por nos ouvir ao longo dos anos. Vocês estão ouvindo nossos trabalhos gravados, mas nunca nos viram ao vivo. Nós somos uma banda do ao vivo. Esperamos muito poder tocar aí em breve, para mostrar esse outro lado completamente diferente da banda que o Brasil nunca viu antes!”