The Vaccines é daquelas bandas que dispensa qualquer tipo de apresentação. Mas também daquelas que ficou no quase. Aquela que bateu na trave. Que mesmo viajando o mundo e tendo reconhecimento dentro da leva de indie rock/neo punk dos 10s, ainda faltou algo para o sucesso estrondoso. E muito também se dá dentro da música para uma coisa chamada oportunidade e estar no lugar certo na hora certa. Algo que aconteceu com o Franz Ferdinand, mas principalmente com o Arctic Monkeys. Os escoceses que por coincidência estiveram por aqui na última semana.
A nostalgia está sendo uma constante neste fim de ano com tantos shows focados nos 30+, Travis não deixa mentir. A verdade é que é impossível para mim começar esse texto sem fazer uma pequena viagem no tempo. What Did You Expect from The Vaccines? chegou em março de 2011 em uma época que a Rua Augusta fervia e o revival do indie era protagonista nas principais baladas de lá.
Não era difícil se deparar com um show do Carl Barat, no Beco 203, ou do Ok Go em um estacionamento por lá. As marcas tinham como “influencers”, vamos chamar assim, os músicos, e o Cultura Inglesa Festival, nesse período, foi marcante trazendo nomes como Gang Of Four, Blood Red Shoes, Franz Ferdinand, The Horrors, Miles Kane e We Have A Band. No lado nacional, o Studio SP era uma das grandes referências retroalimentando a cena. Eram tempos diferentes onde tínhamos Planeta Terra, Tim Festival e Popload também ajudando a sedimentar tudo isso.
Em 2011, bateu na trave a vinda do The Vaccines, com apenas um ano de banda. Em 2012, não teve jeito, vieram, e no ano seguinte, em 2013, em festa de uma marca, no meio do alvoroço de uma Virada Cultural no centro de São Paulo, eles se apresentaram no Cine Gran Metropole, curiosamente, assim como o Cine Joia, do show 12 anos e meio depois, um cinema de outros tempos.
São dois momentos meio que opostos os shows. Da alegria de “caramba, estamos tocando na América do Sul com apenas um disco e todo mundo sabendo as letras” ao retorno após um disco mais sério, como é o caso de Pick-Up Full Of Pink Carnations (2024). Eles nunca chegaram a refazer ou revisitar as origens do What Did You Expect from The Vaccines?, o que é bem verdade. Não que precisassem, mas tentaram se consolidar no midstream com Como Of Age (2012), largando um pouco o espírito punk e abraçando influências da corrente indie que o The Strokes se propunha, com flertes com o powerpop do Big Star.
A verdade é que depois disso a banda perdeu um pouco o rumo. Eles mesmos não são muito fãs dos discos que sucederam. A vida adulta e o amadurecimento tem disso. Esse distanciamento físico deles com o vocalista morando em Los Angeles e maior inspiração, aliado a reflexão em temas mais maduros, e músicas mais trabalhadas, neste novo disco, de fato elevaram eles como uma banda que ainda consegue, sim, criar hits. Longe de serem aqueles de estádio. Talvez por isso nunca chegaram nesse patamar. Mas que consolidam um show divertido, bem ensaiado e feito para cantar junto feito um grande karaokê.
Se eles fossem mais novos e estivessem mais “no pique” não duvidaria que, assim como o Shame, estendessem o rolê para algum lugar como o Vivos. Fato é que o show que tinha tudo para ter uma carga nostálgica para os trintões e quarentões que lotaram o Cine Joia, sem deixar muito espaço para a locomoção, viram um setlist que se repetiu na turnê, tanto no Peru, como na Colômbia.
Uma boa observação, o baixista islandês do The Vaccines, Árni Hjörvar Arnason, teve uma perda de um familiar e teve que abandonar a turnê sul-americana para estar com seus entes queridos. Em seu lugar, um membro da equipe assumiu o baixo, o que definitivamente fez com que o setlist fosse mais conservador e sem grandes surpresas.
Durante o show, as passagens pelo país foram relembradas. Para o vocalista Justin Young, o Brasil tem um carinho especial e isso é um fato que na comunicação do grupo sempre aconteceu. Inclusive, meses antes de anunciarem o show no país, eles já haviam cravado que em 2024 estariam aqui. Agradece o carinho e sempre que pode pede para o público entrar no show em meio a palmas.
Não sei se gosto muito das escolhas do setlist, algumas músicas marcantes ficaram de fora. E o show tem seus momentos de contemplar discos menos endeusados pelos fãs. É divertido ver a insistência deles nessas músicas, mas de fato, o brilho é diferente em canções dos primeiros álbuns. Seria interessante ver um cover de ABBA no set (eles têm dois – “The Winner Takes It All” e “Dancing Queen” do EP acústico Please, Please Do Not Disturb), seria, mas isso ficou para a abertura do show, onde tocaram “Dancing Queen” e “Live And Let Die” do Paul McCartney.
A burocracia do show ao menos para mim tirou um pouco do brilho do show. E quem já viu antes a fúria deles com 20 e poucos sabe que eles já se arriscaram mais com músicas de 2 minutos que viravam 1 minuto e por aí vai. Fato é que é interessante ver o apreço pela boa execução das músicas e a felicidade que tocam as novas. Do novo material, 6 estiveram presentes.
As mais celebradas pelo público foram: a explosiva “Wreckin’ Bar (Ra Ra Ra)”, o hit do anticlímax de término, “Post Break-Up Sex”, a flertadora “Wetsuit”, a romântica “All in White” e a marcante “Teenage Icon”. No BIS poderiam caprichar mais nas escolhas, caso a intenção fosse a nostalgia… mas das antigas ficou apenas uma no baralho – a um tanto quanto contemplativa, “A Lack of Understanding”. Se voltarem em breve estão perdoados. Público eles têm de sobra, pequenos ajustes e temos o indie da última década vivo, ainda bem!
Love to Walk Away
Wreckin’ Bar (Ra Ra Ra)
I Can’t Quit
Post Break-Up Sex
Wetsuit
Your Love Is My Favourite Band
Discount de Kooning (Last One Standing)
The Dreamer
Headphones Baby
Jump Off the Top
No Hope
Handsome
Heartbreak Kid
Teenage Icon
I Always Knew
If You Wanna
All in White
Encore:
Sometimes, I Swear
A Lack of Understanding
Lunar Eclipse
All My Friends Are Falling in Love
This post was published on 22 de novembro de 2024 2:45 am
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