Nacional

Mundo Video cria cenários delirantes em “Noite de Lua Torta”

Noite de Lua Torta, álbum de estreia do Mundo Video, é um lançamento Balaclava Records

Quando o duo Mundo Video lançou seu EP de estreia pela Seloki Records até mesmo utilizamos o termo bater no liquidificador referências da cultura pop para tentar definir a sonoridade ao mesmo tempo que distópica super interessante da experimentação sonora proposta pelo projeto.

Formado por Gael Sonkin (Ovo ou Bicho) e Vitor Terra, os cariocas não colocam limites para as experimentações sonoras. Muitas vezes abstratas e com um bom toque de dadaísmo. Passando por uma gama de referências que vão do hyper pop, passando pelo do indie, metal, samples de vídeo games, reggae, cinema, séries e muito mais com o intuito de materializar sua música como um conceito aberto a novas possibilidades e linguagens sem se prender a qualquer corrente ou tendência.

A proposta central, ao mesmo tempo que simples, é complexa: criar canções desprendidas de regras e amarras, tudo isso com estética de produção caseira e independente, como eles mesmo frisam.

Pouco mais de ano depois do primeiro EP, em parceria com a Balaclava Records, eles apresentaram o segundo, A Hora das Revelações (leia entrevista exclusiva) em colaboração com Gab Ferreira. Este com referências que vão de Crystal Castles ao Júpiter Maçã. Agora é a vez de conhecermos o álbum de estreia do duo carioca, Noite de Lua Torta.


Mundo Video lança seu álbum de estreia “Noite de Lua Torta”. – Foto Por: Hick Duarte

Mundo Video Noite de Lua Torta

Em Premiere no Hits Perdidos o duo lança nesta terça (15) Noite de Lua Torta pela Balaclava Records. O material foi gravado entre junho de 2022 e setembro de 2023, no entremeio de projetos individuais e de outros materiais da banda.

Sempre me perguntava ouvindo, principalmente o primeiro EP, sobre como funcionaria ao vivo. Porque muitas vezes quando o som é muito elaborado, repleto de loops e programações, a chance de acontecerem imprevistos e não ser uma experiência tão legal tanto para o artista, como para o público, é enorme. Com a chegada do segundo EP isso de certa forma parece ter sido solucionado.

Eles revelam que a sonoridade do álbum de estreia foi construída na estrada, a cada performance ao vivo em diferentes contextos, ele foi sendo aperfeiçoado. Em relação ao aspecto eletrônico, eles comentam que surgiu após um convite para um show em uma rave. Após isso, o álbum foi lapidado com uma roupagem indie pop, adicionando posteriormente a parte lírica.

No campo das referências para o debut o Mundo Video cita um leque amplo de artistas como Tears for Fears, Tim Maia, Daft Punk e Lulu Santos.

As Gravações e Participações Especiais

As gravações aconteceram no Rio de Janeiro e foram finalizadas em São Paulo, onde atualmente residem. A terra da garoa, inclusive, serviu como inspiração para o disco. A discrepância entre o bucolismo carioca e a urbanidade paulista é um dos temas do disco que tem espaço para a saudade de casa e a solitude da megalópole. Eles ainda revelam que o amor, a paixão e o fim do fascínio também orbitam as temáticas do registro.

Já no campo das participações especiais, o disco conta com colaborações de Ana Frango Elétrico (“Perto da Praia”) ao trapper Putodiparis (“Amantes da Paz), além de coros das artistas independentes Gab Ferreira, Janine Prici e Carol Maia.

A Hora do Play

Noite de Lua Torta tem como faixa de abertura “COMO VOCÊ ME VÊ” que chega criando cenários e espaço para introduzir o universo do disco de forma tropical, por meio de uma viagem embriagada na nostalgia para confidenciar perguntas jamais respondidas sobre histórias (até então) mal resolvidas. Em “O Que Nos Aproxima” o motor dá partida e a arte de tentar reconquistar entra em jogo. Entre cordas de náilon, teclas, ondas elétricas e a vontade de reviver das cinzas um grande amor, a faixa mistura referências de forma pulsante com direito a riffs que ficam na cabeça e vocais femininos para contrapor.

“NO RITMO DO AMOR” feat Letricia abaixa um pouco a poeira em uma canção de quase 7 minutos e meio. Em meio a uma viagem residual, ela carrega consigo toda a tensão, entre sopros e referência de dub, paisagens sonoras de filmes de velho oeste, entre experiências de ambient music, samples, guitarras soltas e seu título ecoado pelas artistas femininas. Entre o calmaria, o transe, a dor e o caos.

“crescendo juntos” revela o sentimento de irmandade, mas aquele agridoce lembrando de quem não permaneceu. De quando você se conecta com um amigo e cria um elo que parece ser de outras vidas – e de uma hora para outra já não estão mais em sintonia. Entre alegrias, choros, contradições e histórias que se cruzam de um jeito juvenil, mas que por uma razão ou outra deixa de fazer sentido. A nostalgia e a vontade de reconectar imerso em pensamentos contraditórios, ganha luz na faixa, entre frequências acachapantes e delírios envoltos em samples e programações.

Distopia Tropical

“Perto da Praia”, que tem a participação de Ana Frango Elétrico, é daquelas que estava mais ansioso para ouvir. E no fim ficou tudo muito tropical, ou melhor, gelado e tropical ao mesmo tempo. Entre autotune, solos de guitarras oitentistas, sonhos em plano aberto e uma canção estranhamente pop. Tudo isso para falar sobre amores de forma teatral. Um verdadeiro espetáculo sobre colocar um ponto final. A melodia é daquelas que fica na sua cabeça até o final.

Um resquício da anterior fica nos teclados que introduzem a melodramática “estádio vazio”. Ela navega entre mares desafiadores, em meio a melodias rebuscadas, cordas vibrantes e teclas da ambient music… feito um naufrágio inevitável. Em “o céu na sua mão” eles invocam o espírito do hardcore, entre cavalgadas, pedais duplos, o sangue se espalha no horizonte, assim como uma noite de lua sangrenta.

Com o portal aberto, desembocamos em “Noite De Lua Torta”, uma faixa misteriosa feito as canções do Echo & The Bunnymen e do Nick Cave. O peso dos acordes mais pesados da canção anterior permanecem, mas agora imersos no heavy metal, em meio a solos de guitarra, ecos, bateria seca, pausas, vocais sobrepostos e delírios, em sua primeira parte.

Já na segunda parte, em uma frequência melódica (um pouco) mais solar, o interlocutor pondera as coisas boas que aconteceram no relacionamento, dizendo até que “valeu a pena”. Ao desembocar em sua terceira parte, as trevas se encontram com a luz e o sentimento de “querer sair por cima” para “meter o louco” adentra o cenário. Tudo isso envolto entre distorções dantescas e um cenário sombrio.

Os delírios entre o real e o irreal

“Longe da Praia”, canção que tem feat de Carol Maia, é a que mais se aproxima da referência de Lulu Santos. Entre o cruzamento de corações e efeitos solares, o interlocutor conta a história do começo do relacionamento. Os sopros dão toda a dramaticidade para a entrada de Carol, e com isso, a atmosfera indie pop chega junto para falar sobre as transformações e fazer o contraponto.

“fantasmo” delira entre o real e o irreal, envolto em frequências pulsantes, confusões mentais, loops, guitarras de punk rock e colagens do Drum and bass. Ironicamente é uma das canções mais pops do disco. Seu final chega até a ser meio épico. Abrindo a parte final temos “Paradiso” que tenta encontrar no horizonte respostas com acordes e misturas que até mesmo os integrantes do Vampire Weekend iriam curtir.

O último single a ser revelado do disco foi “AMANTE DA PAZ” que traz uma parceria com o trapper do Putodiparis. A combinação, que até parece a primeira vista improvável, encaixa feito uma luva no universo dos cariocas. Entre a putaria, o delírio, o caos, a distopia, a fritação e a camisa 10 no peito. O duo revela que a faixa foi inspirada na trilha-sonora de um jogo de videogame antigo.

Quem fecha é “tchau 2024” imersa na atmosfera da música eletrônica, com referências que parecem ir de Daft Punk a Raça Negra, passando por Tim Maia, videogames, o universo Cyberpunk e as raves. Eles se despedem entre delírios, frames e envoltos em um emaranhado de saudade.

Ouça em sua Plataforma de Streaming Favorita

This post was published on 15 de outubro de 2024 9:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

Posts Recentes

Renata Swoboda lança clipe apolítico para “Meu Dengo ♥️” às vésperas do segundo turno das eleições

Após lançar na sexta (18) o single "Meu Dengo ♥️", a artista catarinense Renata Swoboda…

23 de outubro de 2024

C6 fest anuncia line-up da 3ª edição com Nile Rodgers & Chic, Air, Wilco, Pretenders, Gossip, The Dinner Party, English Teacher e mais

C6 Fest chega a sua terceira edição com line-up de peso Após a primeira edição…

22 de outubro de 2024

Paul McCartney encerra passagem pelo Brasil em Florianópolis

No sábado (19), Paul McCartney fez a última apresentação da atual passagem da Got Back…

21 de outubro de 2024

Fin Del Mundo mergulha nas profundezas em “Hicimos crecer un bosque”

Que a cena de rock argentino é bastante prolífica não é nenhuma novidade. Após lançar…

18 de outubro de 2024

Maria Beraldo reflete sobre identidade de gênero e explora timbres em “Colinho”

Não parece, mas já se passaram 6 anos do lançamento de CAVALA (RISCO), álbum de…

18 de outubro de 2024

Dora Morelenbaum explora as curvas sonoras em “Pique”

Após o fim do ciclo ao lado da Bala Desejo, os músicos têm retomado suas…

18 de outubro de 2024

This website uses cookies.