Pouso é o primeiro álbum de estúdio dos paulistas desde Sala Dois (2022)
Quem conhece a Zimbra, já tá acostumado a uma coisa: letras fortes, identificáveis e que tocam a gente de um jeito que faz com que queiramos logo um show para poder gritar em conjunto com outras pessoas. Mesmo que desconhecidas.
E com Pouso, o novo disco da banda, não é diferente. Lançado no fim de agosto, o álbum é marcado por diversas faixas que trazem a sensação de olharmos para nós mesmos e refletirmos sobre quem somos.
O segundo single lançado, “Eu Vi Tudo”, é como uma conversa com nós mesmos, ressaltando a autocrítica que habita em todos nós:
“O refrão da música não é você falando pra outra pessoa, é você falando pra si mesmo, sabe?
É como se você estivesse vendo as suas atitudes, o seu dia a dia de fora do seu corpo, sabendo que nem sempre você é aquilo que você tá demonstrando, né?
Nem sempre você tá feliz ali no rolê que você tá, nem sempre você tá animado, nem sempre as coisas são tão bonitas quanto parecem quando você tá num rolê sábado à noite, sabe?”, conta Bola, vocalista da banda.
Ainda de acordo com o vocalista, ele acredita que essa é uma das músicas que mais vai gerar identificação no público:
“Acho que a gente não consegue expor 100% de tudo que a gente é e de tudo que a gente sente pra ninguém, a não ser para si mesmo, né? Nós somos as únicas pessoas que não conseguimos nos enganar, né? Não dá pra correr de si. Então, eu acredito que essa música por ter essa mensagem bem forte e acredito bem incomum, vai gerar uma identificação nas pessoas.”
Sobre a autocrítica, Bola comenta ser um tema que acaba estando presente na vida cotidiana de todo mundo e, principalmente, em sua cabeça. Sobre o processo de olhar para suas próprias questões e acabar trazendo isso nas músicas, ele diz:
“Eu falando como compositor e letrista, eu escrevo sobre o que eu enxergo da vida, sobre coisas que eu vivo e que eu também não vivo. Mas que são leituras que eu faço de acordo com como eu enxergo.”
“Às vezes acaba sendo bem difícil de expor isso em forma de música, de letra, principalmente, porque você está ali se expondo, de certa maneira, apesar da música ter esse cunho artístico e tal. E você conseguir passar essa película de arte, acaba sendo uma exposição pessoal também, de certa forma. Então, de vez em quando é meio doloroso. Meio difícil, mas eu acho que é necessário e inevitável. É a minha verdade, é o que eu sinto e é sobre o que eu escrevo.”
Os refrões da Zimbra são muito marcados pela vontade que gera na gente de gritá-los e com este single, em específico, não é muito diferente. Para os fãs da banda, é muito fácil compará-lo a outras músicas já lançadas. Como, por exemplo, “O Redator” e “Viva”. Bola conta que essa música foi single desde a primeira vez em que ouviram no estúdio e uma escolha muito natural. Nelas eles se agarraram muito à mensagem que a música queria passar, nem pensando se ela funcionaria comercialmente ou não.
“A mensagem dela, quando começou a aparecer ali, durante as gravações, que a gente foi gravar os instrumentais, gravar a voz, aquilo se tornou automaticamente uma escolha meio que unânime entre a gente.
Aquela mensagem do refrão, principalmente, trazia muita identificação com todo mundo. E a gente sabe que, no fundo, nós como seres humanos e pessoas, temos muitos pontos em comum, então, pra ter gerado aquela unanimidade de sentimento na gente não teria como a gente escolher outra coisa, outra música.”
Esse é um disco de resgate às raízes. Tanto que o nome “Pouso”, vem de “Repouso”. dD ideia de voar, mas voltar pro lugar de onde veio. Perguntado se este é o álbum que sempre quiseram fazer, Bola conta que, não necessariamente. E que, cada álbum é um momento, uma fotografia do que a gente vive enquanto sociedade, tanto musicalmente quanto artisticamente.
Ele afirma que Pouso é o retrato do que a banda vive agora, calhando de ser um momento de resgate e nostalgia, muito influenciado pela tour de 10 anos do Tudo, O Nada e o Mundo, primeiro disco da banda:
“Eu acho que depois da tour de 10 anos do O Tudo, O Nada e o Mundo, trouxe muitos sentimentos e reapareceram muitas coisas para a gente que talvez a gente tivesse esquecido, ou enfim, não dado muita atenção ao passar dos anos, como referências musicais e tal, que eu acho que a gente conseguiu retomar neste trabalho.”
Sobre a ideia de repousar, ele diz que isso vem muito de acreditarem que os shows da Zimbra são um lugar seguro, tanto para eles enquanto banda, quando para o público que os acompanha.
“É um local onde as pessoas conseguem se encontrar para falar sobre algo em comum, sobre dividir sentimentos. Então, eu acho que o pouso vem dessa ideia de que enquanto a gente tá voando, nós estamos sujeitos a todas as adversidades da vida e do tempo.
Quando a gente pousa, dá uma sensação de segurança. E a gente quis trazer essa sensação de segurança um pouco familiar para a gente, em primeiro lugar, e para o nosso público também, de trazer algumas “Nostalgias”, com músicas que a gente fez nesse disco.”
Além da nostalgia, o disco também é marcado por muitas parcerias em suas composições. Bola comenta que este é um “processo muito massa em si” e que, particularmente, não é um processo que tenha feito muito e ainda não é muito confortável, mas que todas às vezes que acontece. Ele percebe que é muito saudável, principalmente por ouvir ideias que não teria e que acha legais e que é um ambiente meio desafiador, mas que agora que está entendendo, está gostando bastante.
“É porque eu sempre considero a composição algo muito pessoal, né? E a partir daí, quando você tá fazendo uma música sobre algo que você sente e tem outras pessoas falando a respeito daquilo, sem saber se é o que você tá, de fato, sentindo, é onde pra mim tava o atrito e a dificuldade.
Mas eu entendi hoje, né? Hoje, pra mim, é algo muito prazeroso de fazer, que a gente consegue achar pontos em comum e inclusive, construir histórias do zero.”, conta ele.
“Medo Bom, “Eu Não Ligo” e “Melhor Pra Nós”, são faixas compostas tanto por Bola, quando Vitor, guitarrista da banda. “Leve” é uma composição de Bola com Deco Martins, vocalista da banda Hotelo e Matt Basso. Esta parceria, inclusive, já tinha acontecido no EP Infinito, um trabalho em conjunto da Zimbra e Hotelo.
Além de parcerias nas composições, este trabalho também marca a parceria com Rick Bonadio novamente, que já havia trabalho com a banda anteriormente. Sérgio Fouad também fez parte da produção. Segundo Bola, este foi o primeiro trabalho da banda com ele e amaram, principalmente a liberdade que o produtor deu a eles e que o processo de criação foi bem saudável. Sobre a visão de Bonadio influenciar no resultado final do disco, Bola diz:
“A visão dele, do Rick, né, especificamente, sempre influencia porque o Rick é uma pessoa que vive o mercado há 30 anos, né, cara? E assim, sem querer ser demagogo ou ficar aqui fazendo falsa modéstia, a gente é uma banda que se importa muito com o que a gente faz, com o nosso valor artístico e tal, mas a gente também não é uma banda de herdeiro, né?
Ninguém é nepobaby, nem nada do tipo. Então, a gente, no fim das contas, tem que fazer um… Tentar achar um equilíbrio saudável entre o que a gente gosta de fazer, né? O que a gente considera que tem um valor artístico pra gente e a visão mercadológica da coisa, porque a gente precisa pagar a conta, cara.
A gente não vai ficar enganando os outros também, dizendo que a gente não liga, né? Que a gente não pensa no retorno disso e tal. A gente liga muito, é o nosso trabalho. A gente paga as contas com isso. E nesse disco a gente conseguiu encontrar esse equilíbrio saudável, com certeza absoluta. Foi algo que a gente conseguiu achar.”
O vocalista também diz que estão muito felizes e satisfeitos com este trabalho, principalmente pelo feedback das pessoas que está sendo ótimo e que isso os faz colocar muita fé na turnê que irão fazer do disco. Turnê esta, que já tem data para começar: 20 de outubro, no Cine Joia, em São Paulo (Ingressos) e promete ter o novo álbum tocado ao vivo na íntegra.
Falando sobre shows, a Zimbra é considerada uma banda de rock, um gênero considerado “morto” por muita gente. Sobre o espaço do rock no mercado e grandes festivais, Bola diz que sempre se fala muito sobre “a volta do Rock”, mas que eles não se apegaram a isso para fazerem o disco e sim, em resgatarem algumas coisas, principalmente referências e ideias que tinham no começo da banda e que, inclusive, muitas composições deste trabalho são bem antigas, como a faixa e primeiro single do disco, O Que Era Certo, escrita em 2014 ou 2015.
“A gente conseguiu entender que anos depois elas (essas músicas) têm o seu valor, né?
Resistiram ao famoso teste do tempo, na nossa opinião. Então, foi mais um lance da gente estar identificado com coisas que a gente ouvia há anos atrás, né? A gente se apegou mais nisso. “
Ele ainda comenta:
“Eu, honestamente, não faço ideia qual é o espaço do rock no mercado hoje em dia. Acho que ninguém faz.
A música, depois dela ter entrado nessa seara digital e ter se tornado muito mais democrática e fazer ser possível você chegar no seu público sem precisar de grandes recursos, tornou a coisa imprevisível, né? Então a gente não sabe.
A real é que a gente não sabe mesmo. A gente fez o disco baseado no que a gente achava que seria legal e em como a gente estava se sentindo no momento.”
É possível perceber uma saturação de mercado quando a gente fala de certos ritmos e gêneros. Será que é possível manter um equilíbrio entre fazer o tipo de música que se gosta, manter as contas em dia e ainda conseguir conquistar as pessoas?
Bola comenta que é muito difícil encontrar esse equilíbrio e que, embora seja um assunto chato de falar, o mercado da música é igual a qualquer outro mercado comum no mundo capitalista: “Existem pessoas que precisam daquilo pra pagar conta e existem pessoas que não precisam exatamente daquele dinheiro da música pra se manter e tem outros negócios e outros jeitos de sobreviver, e aí conseguem essa liberdade de fazer as coisas exatamente do jeito que querem, sem pensar muito no feedback público, porque não há esse compromisso com o ganho financeiro e tal.”
E ele complementa:
“Hoje a nossa profissão é de músico. A gente não faz mais nada, a gente vive em função da banda 24 horas por dia. Então, a gente precisa fazer essa equação o tempo todo, né? Ao mesmo tempo que a gente quer fazer algumas coisas, a gente precisa entender também que talvez a gente precise ceder outras.”
“Para a gente, música é arte, música é a nossa vida, e a gente sempre vai fazer o que nós gostamos e achamos que deve ser feito. Mas a gente também sempre vai tentar equalizar com esse lado de que sabemos que precisamos pagar a conta, então a gente sabe que no fim de semana a gente vai precisar estar tocando e vendendo ingressos para pagar a conta no fim do mês.
Então, essa equação a gente luta muito para entender ela, é uma equação muito difícil, mas o que a gente sabe é que para a Zimbra, pelo menos, ela é extremamente necessária.”
E com o primeiro show do disco chegando, pedimos para Bola escolher uma música para apresentar a Zimbra para quem ainda não conhece. Mas não valia escolher o single!
“Poxa, eu ia falar “Eu Vi Tudo”! (risos). “Eu Vi Tudo” acaba que ela é o segundo single, né?
Mas tudo bem, eu não vou falar “Eu Vi Tudo”. Talvez eu indicasse “Medo Bom” ou “Tantos Lugares”, talvez. Qualquer uma das duas, eu acho que vai dar pra sacar a banda. Ou o primeiro single, né? Já que não vale o single do disco que é “Eu Vi Tudo” ou o primeiro single que saiu antes, que é “O Que Era Certo” que também acho que tem muita cara da Zimbra. Qualquer uma dessas três aí tá valendo.”
E para você que já tem o ingresso do show, mas não tem a companhia, que tal usar as dicas do Bola para apresentar a banda para aquele amigo que ainda não conhece? Para quem está conhecendo agora, já sabe por onde começar a ouvir o quarteto.
Pouso está disponível em todas as plataformas digitais e é a nossa dica para você ouvir e se deliciar com canções que fazem a gente pensar e talvez até, derramar umas lágrimas. Mas que, com certeza, nos fazem sentir acolhidos e pensar que, realmente, nenhuma experiência é individual. E que bom que tem músicas assim para a gente saber disso.
This post was published on 12 de setembro de 2024 9:03 am
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