Arthur Melo vai ao karaokê para ironizar o egoísmo em vídeo para “Dama da Noite”

 Arthur Melo vai ao karaokê para ironizar o egoísmo em vídeo para “Dama da Noite”

Arthur Melo lança clipe para “Dama da Noite” – Foto Por: Artur Lahoz

No dia 19/04, o músico mineiro Arthur Melo lançava seu quarto álbum de estúdio, Mirantes Emocionais. Quase 4 meses depois, o disco ganha versão física, em vinil. Nesta segunda-feira (12), em Premiere no Hits Perdidos, disponibilizamos o videoclipe para “Dama da Noite”.

Em entrevista exclusiva, você saberá mais detalhes sobre o disco como um todo. A produção e os arranjos do álbum são assinados por Arthur Melo e Lucca Noacco, foi gravado na Vila do Calango, em Belo Horizonte, e masterizado por Lucca, em sua casa em Matozinhos. A mixagem foi realizada pelo renomado produtor Kassin com assistência de Mauro Araújo, no Studio Marino (RJ) e a masterização ficou por conta de Ricardo Garcia, e foi realizada no Magic Master Studios (RJ).

A banda que acompanha Arthur Melo (voz, guitarra, baixo e sintetizadores), chamada Ministério da Consciência, além do músico, tem em sua linha de frente Lucca Noacco (voz, guitarra, baixo, bateria eletrônica e sintetizadores) e Theodora Viana (bateria).

“Esta canção chega cheia de mensagens quase que psicografadas e escondidas por meio de símbolos, entre um comentário e outro sobre o egoísmo e ganância vividos em seu ápice no mundo hoje em dia”, explica Arthur sobre “Dama da Noite”

‘Dama da Noite’ traz a produção de Lucca Noacco e traz uma progressão de acordes que soam misteriosos e ao mesmo tempo dão a sensação de início de uma nova aventura. “Entre o indie pop e a MBP, a canção nos deu vontade de brincar com os mesmos contrastes agora na leitura audiovisual”, completa Arthur.


Arthur Melo - Dama da Noite
Arthur Melo lança clipe para “Dama da Noite” – Foto Por: Artur Lahoz

O videoclipe para “Dama da Noite”

O videoclipe para “Dama da Noite” teve direção de Artur Souza. Com referências de grandes discos da música brasileira, Lilás, de Djavan, e Mestiço, de Luiz Henrique Rosa, tanto na composição, como no instrumental, a canção nasceu fruto de experimentações realizadas no Polvo Studio.

Com temática que esbarra em percepções do cotidiano, divagando sobre a dinâmica entre o egoísmo e a ganância da nossa sociedade, a faixa ganhou ambiências e desde sempre foi planejada para ser um single, sendo a “queridinha” dos envolvidos no projeto, como diz o mineiro em entrevista.

O videoclipe, dirigido por Artur Souza, tem uma estética vintage comum nos karaokês japoneses, entre o analógico, o 2D, o psicodélico e a sobreposição. Algo que dialoga diretamente de forma anacrônica com a construção e as camadas subversivas do disco.

“A ideia inteira para o vídeo veio inteira do Artur, de fazer uma sessão de karaoke para brincar com o comentário satírico da letra, em relação ao egoísmo humano e a tendência a pensarmos que estamos sempre no centro das atenções, quando na verdade a ‘grande piada’ está em nós.”, relata o músico



Entrevista Arthur Melo sobre Mirantes Emocionais

Já acompanho seu trabalho há algum tempo e neste quarto disco foi bem interessante ver a parte da produção e o mix de referências que propôs. Como foi, primeiro, assumir a direção artística (junto do Lucca), segundo, condensar o que poderia fazer sentido dentro desta narrativa de observador em que a introspecção ganha protagonismo?

Arthur Melo: “Grande prazer conversar com você Rafa, obrigado pelo espaço!

Foi o primeiro trabalho que dividi a produção inteira com mais alguém de uma forma tão democrática e foi melhor do que eu imaginava. O Lucca é um grande amigo da vida e foi a música que nos uniu, então por termos essa conexão tanto musical quanto fraternal foi super prazeroso e leve de fazer essa direção artística e produção com ele. E também me acostumei a fazer o trabalho dos discos de forma mais solitária, então foi bom que esse primeiro trabalho com mais alguém fosse com uma pessoa próxima.

Na parte de condensar esses diversos pontos de vista na narrativa de observador introspectivo foi um trabalho principalmente lírico, de pegar todas as frases, ideias, poemas, rascunhos de letra que tinha guardado durante o processo e ir mapeando quais faziam sentido entre si e escolher o que fosse melhor para a música, o que no final levou a esse tom introspectivo e observador.”

Em relação às texturas, camadas e mixagem, como foi trabalhar as sobreposições, nuances e escolher os elementos?

Arthur Melo: “Acredito que o que ajudou muito no trabalho de mixagem e em todas as escolhas estéticas foram os diversos “filtros” que o disco teve, primeiro só comigo fazendo a primeira produção, escrevendo as músicas, fazendo os primeiros arranjos, escrevendo as letras e definindo quais seriam as faixas.

O segundo junto do Lucca, fazendo escolhas mais objetivas nos rearranjos, mudando pequenas coisas e adicionando detalhes nas estruturas de cada instrumento, o que chamamos de pós-produção e eventualmente a mixagem com o Kassin, que foi quando fizemos todas as escolhas estéticas, texturas e definimos qual seria realmente a cara final do disco.”

“Dama da Noite” acaba sendo uma música que evoluiu de introdução para um single com videoclipe, como foi isso? Ela foi crescendo de que forma?

Arthur Melo: “”Dama da Noite” inicialmente era um dos potenciais singles do disco, mas depois decidimos trocar ela com “Na Avenida com Benito”. Ela sempre foi uma das preferidas de quem estava trabalhando junto comigo na produção do disco, ela é a faixa que abre o show então era meio que uma questão de tempo até que ela também ganhasse um clipe ou um lyric video.

Inicialmente eu e Artur, que é quem assina a parte visual do disco, estávamos gravando outra coisa e no meio do processo veio essa ideia de aproveitar que estávamos com o fundo verde e gravar um clipe/karaokê para “Dama da Noite”, acho que isso deixa claro a forma como ela sempre esteve no nosso inconsciente.”

Você cita o Djavan e Luiz Henrique Rosa como a grande referência deste single, como sente que te inspiraram?

Arthur Melo: “Acredito que os dois de formas diferentes tiveram grande influência na produção dessa faixa. Djavan na parte da letra, e trazer simbolismos para falar de forma mística e criptográfica as mensagens da música.

Luiz Henrique como referência musical, principalmente o disco mestiço dele de 72, que mistura muito a Bossa Nova com referências de música estadunidense e cria algo próprio.”

O mistério, o intangível, o simbolismo e as críticas indiretas ao mundo acabam permeando a narrativa do disco como um todo, quais as inspirações fora do universo da música que te inspiraram?

Arthur Melo: “O Cinema é com certeza minha maior inspiração fora da música pra criar histórias, sentimentos, emoções e sensações no formato sonoro e também meus próprios questionamentos, inseguranças e alegrias que pos si só me fazem mover de uma forma artística.”

A capa também tem várias referências retrôs de um tempo bem diferente da indústria, onde trabalhos como o teu poderiam sonhar em ter uma estrutura forte de radiodifusora e quem sabe com o tempo se tornar vanguarda. Como observa as possibilidades do mercado neste momento e quais artistas tem artisticamente servido como exemplo de trajetória atualmente?

Arthur Melo: “Hoje o mercado é muito pautado em números, seguidores, streamings e outras coisas que são de uma esfera nada criativa e mais corporativa. Meu principal objetivo e foco é fazer o tipo de música que eu escutaria e entender que esse não é meu trabalho, por mais que gostaria que fosse, então encaro muito como uma forma de expressão independente de números, hype e todas as outras distrações da forma como consumimos música hoje em dia. Minhas maiores inspirações são todos os artistas que acho autênticos e verdadeiros em suas mensagens, Luiza Lian, Sessa, The Voidz e tantos outros.”

Pegando o gancho, esse disco tem muito das referências da música brasileira que já permeavam os outros discos, mas é super moderno brincando justamente com o indie pop, que mira nos 80 para fazer algo novo, e em ritmos bem enraizados como cumbia, eletrônica, jazz e funk, mas com referências de gente que fez releituras dos gêneros. Como é essa dicotomia para você, de olhar para o retrovisor, sim, mas também para o novo em um mundo globalizado?

Arthur Melo: “Esse foi um dos grandes desafios e também um dos objetivos do disco, de conseguir pegar todas as referências que escutamos, gostamos e admiramos ao longo do caminho e fazer delas uma base para o disco e, partindo dessa mistura, fazer um disco de 11 faixas com referências diferentes, mas que conversem entre si. Acho que principalmente com a internet esse tipo de trabalho vem se tornado cada vez mais comum, onde diversas referências e eras da música se misturam em um único disco. O grande desafio é fazer isso ser interessante e despertar curiosidade no ouvinte.”

Sente que a velocidade das coisas e a internet acabou formando a sua biblioteca? E como vê que os artistas podem usufruir deste mecanismo em um mundo cheio de possibilidades, mas, ao mesmo tempo, onde muitos optam por navegar pelo raso… ou até mesmo abraçar tendências passageiras?

Arthur Melo: “Com certeza, o número absurdo de discos e músicas que somos expostos todos os dias, tanto das milhares de músicas que são lançadas todos os dias quanto da facilidade que é de hoje em dia descobrir algo dos anos 70, 80, 90… Sinto que hoje existe uma certa produção desenfreada e sem controle em cima de tendências relâmpago e que não duram e acabam se tornado algo com uma coleção que se recicla todo verão, assim como no mundo da moda. A música hoje é algo perto de uma fast fashion, a música mainstream.”

Pegando carona, outro dia vi um famoso músico dos anos 80 falar justamente sobre como o gosto e as convicções são importantes na hora da produção. Ele particularmente nunca gostou da bateria seca que muitos usavam como recurso estético nas músicas e por sua vez obteve sucesso mesmo fugindo das fórmulas. Pensando nisso, como sente que a ansiedade das redes sociais, e a comparação com outras trajetórias, afeta até nessas escolhas?

Arthur Melo: “A comparação é a maior armadilha na carreira de um artista moderno, principalmente que vive ativamente nas redes sociais, é inevitável se comparar com outros artistas, movimentos e estilos de vida. Por isso é extremamente importante se conectar com o que você gosta de verdade, seu estilo musical, os artistas que admira e a partir disso desenvolver seu próprio estilo e sua forma de abordar a carreira artística.”

Você também tem tido uma abertura no exterior com seu trabalho, como tem sido essa recepção e quais os planos em relação a isso?

Arthur Melo: “A recepção fora, principalmente no Reino Unido, tem sido incrível e em sua maior parte pelo fato do selo ser de Londres então isso cria uma abertura maior para o mercado de lá, acho que o fato do disco também ter tido o lançamento em vinil e um artigo na Uncut ajudou muito para esse crescimento e abertura por lá.

Tem sido incrível viver isso e ouvir as impressões de todos sobre o disco. Por enquanto, penso em aproveitar ainda mais o lançamento do disco e organizar uma mini tour por aqui e por lá e lançar eventualmente o b-side do disco com as faixas que não entraram no corte final.”

Arthur Melo Mirantes Emocionais


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