Internacional

A voz e o protesto de Sade Adu contra a Guerra ainda ecoa!

Como afirmei na publicação anterior “Sade Adu: uma crítica do amor Neoliberal?” -, existem aspectos sociais na obra da cantora que vão além da dimensão amorosa, a qual é comumente associada ao seu trabalho. Outros temas sociais são visíveis, igualmente, seja a mensagem de autoconfiança em “Keep Looking”, a importância da manutenção da fé diante da vulnerabilidade social, em “When Am I Going To Make A Living”, ou a crítica a superexploração do trabalho e o morticínio feminino em “Pearls” (conhecida no Brasil devido ao sample dos Racionais MC’s em “Capítulo 4, versículo 3”). Outro tema de sua obra é a crítica à guerra apresentada na canção “why can’t we live together” do álbum Diamond life (1984) – Epic Records.

Timmy Thomas uma voz contra o Imperialismo Norte-Americano

Nascida na cidade de Ibadan, Nigéria, imigrada ao Reino Unido com seus familiares, filha de mãe inglesa e o pai nigeriano, desde jovem Sade Adu teve contato com as musicalidades afro-americana e jamaicana.

A título de exemplo, seu quarto álbum “Lovers Rock” (Epic Records, 2000) recebe o nome do subgênero de reggae criado por imigrantes jamaicanos no país europeu. Além de que o repertório desse trabalho apresenta influências sonoras desse estilo musical.

“Why can’t we live together” não foi escrita por Sade, todavia. Lançada como single em 1972, compõe álbum homônimo de estreia de Timmy Thomas do ano seguinte da Glade Records, esse alcançou o terceiro lugar na ‘Billboard Pop Singles’, o primeiro no gênero R&B o 6º lugar no Reino Unido.



Em entrevista para a revista Spin, em 2015, o cantor disse o que lhe inspirou escrever a letra:

“Eu posso olhar para trás e analisar vividamente o que aconteceu. Eu tinha acabado de me mudar para Miami e eu nunca vou esquecer, pois estava sentado para estudar, estava me preparando para o ensino superior.

Eu estava sentado no meu estúdio e eu escutei Walter Cronkite [jornalista da rede CBS Evening], eu nunca esquecerei isto, 35 mil Vietcongues morreram esse dia e 15 mil americanos. Então, eu disse: o quê? Então quer dizer que muitas mães perderam suas crianças hoje? (…) Por que não podemos viver juntos?” – (tradução livre de Katiuscia Moreno Galhera e Willians Santos).

Mas, o que faz a versão de Sade especial? E o que a torna tão atual? Não é apenas a influência da Bossa Nova na sonoridade com uso de atabaques, tal qual, a versão original. Essa canção não foi escolhida sem razão no seu álbum de estreia considerando
a capacidade de reflexão sobre seu tempo presente e a iniciativa em expressar alguma mensagem aos seus ouvintes por parte dos artistas, como já afirmei noutras publicações no Hits Perdidos.


SadeFoto Por: Getty Images

Sade, uma voz por solidariedade internacional

No dia 13 de julho de 1985, Sade Adu performava no palco do Live Aid. Um festival de dimensões gigantescas cujo objetivo foi arrecadar fundos para combater a fome na Etiópia que contou com aproximadamente um bilhão de telespectadores ao redor do
mundo, realizado simultaneamente nos EUA e no Reino Unido, quando participaram artistas de status na época – David Bowie, Elton John, Queen, Black Sabbath, U2, Eric Clapton, Elvis Costello, The Pretenders, entre outros –, e Madonna e Sade, naquele momento, consideradas estreantes.



Os shows foram realizados no Estádio Wembley, em Londres, onde Sade se apresentou, e no John F. Kennedy, na Filadélfia, contando com cerca aproximadamente de 150 mil pessoas e ao todo 1,5 bilhão de espectadores ao redor do mundo. Uma das canções do repertório foi “Why Can’t We Live Together”, todavia, em uma versão encurtada:

“No matter, no matter what color / Mmm, you are still my brother / I said, ‘No matter, no matter what color/Mmm, you are still my brother’/Everybody wants to live together / Why can’t we be together? / Everybody wants to live / Everybody’s got to be together / Everybody wants to live / Everybody’s going to be together / Everybody’s got to be together / Everybody wants to be together.”

O trecho escolhido para este dia foi aquele ao qual a poesia se referia as divisões raciais, justamente, adequado ao contexto que era de ação voltada a solidariedade do ocidente à África. Não somente isso torna a música importante. Havia um outro fator que tornava a escolha política: a Guerra das Malvinas entre Inglaterra e Argentina, ocorrida entre os dias 2 de abril e 14 de junho de 1982, dois anos antes do lançamento de Diamond Life em 1984.

Timmy Tommas fez uma música criticando o Imperialismo Norte-Americano na Guerra do Vietnã, Sade Adu, por sua vez, a resgatou como forma de protesto ao imperialismo britânico na América do Sul. Vivemos em 2024, ainda, um contexto de Imperialismos, como a Guerra Russia x Ucrânia, e de Genocídios, no caso, de Palestinos, resultante do combate ao terrorismo
antissemita. Por isso os protestos de Timmy Thomas e Sade Adu se tornam mais do que atuais e a pergunta permanece: “Por que não podemos ficar juntos?”

Referências Bibliográficas

Y Roumieh, Erica. Live Aid será disponibilizado na íntegra pela primeira vez; saiba como assistir. Wikimetal, notícias, online, publicado em 26/12/2022.
Araujo, Guilherme. Há 35 anos acontecia o histórico Live Aid; relembre shows de Queen, Madonna e mais. Papel Pop, online, publicado em 13 07 2020.
Redação. “Why Can’t We Live Together; Singer, Timmy Thomas, Dies of Cancer at 77. Revista Super Throw Back Party, online, sem data.
Unterberger, Andrew. Q&A: Timmy Thomas on Drake Sampling His ’70s Soul Hit for ‘Hotline Bling’. Revista Spin, online, 05 10 2015.

This post was published on 3 de julho de 2024 9:00 am

Willians Santos

Willians Santos é doutorando em ciências sociais pela Unicamp, professor da rede pública do Estado de São Paulo, ator e curador musical do projeto "Conexão Jamaifrica" (musicalidades africanas, diáspora, jamaicana e northern soul), também, integra a equipe do "Fronteiras Cruzadas" e o projeto "Conexão Diáspora: arte e política sem fronteiras". Possui publicações em mídia nacional e internacional sobre os temas da diáspora africana, imigração, refúgio, anti racismo e direitos humanos, e música.

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