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Bebé abre os caminhos para uma pista de dança nada convencional em “SALVE-SE”

SALVE-SE mostra uma Bebé mais leve e solta para dialogar com novos públicos

Para quem acompanha os passos de Bebé, todos os saltos que tem acontecido em sua carreira, mesmo que com pouca idade, não são uma surpresa. A paulista, de apenas 20 anos, de Piracicaba (SP), além de ter uma família musical, mostra foco e compromisso em cada passo de sua jornada em um mercado difícil – em um momento que precisa ser repensado em várias esferas e cheio dos seus caminhos.

Após apresentar sua face artística para o mundo com seu primeiro álbum, ela apresenta nesta quinta-feira (23), SALVE-SE, projeto em que além de ter novamente parceria com Sérgio Machado Plim, agora dá um passo ainda maior dentro do estúdio, o de assinar a sua co-produção.

O álbum teve mixagem de João Milliet e masterização de Felipe Tichauer, gravação do instrumental no Estúdio Plim e das vezes no estúdio Buena Família com engenharia de Tofu Valsechi.

Durante a audição, a artista revelou para os presentes um pouco mais sobre os detalhes da sua obra. Como, por exemplo, a brincadeira com seu nome (Salvego) com “Salve-se” e essa busca inerente ao ser humano. Ela ainda contou que a tentativa de se aproximar com um público da sua faixa etária fez com que ela experimentasse ainda mais, tanto esteticamente, como nas possibilidades sonoras. De indie ao jazz, do psicodélico ao pagode, do inventivo funk carioca, o hype do trap, a música eletrônica. Ouvir o disco acaba sendo um deleite para quem pesquisa por estéticas sonoras e quer ver os artistas novos cada vez ousando mais.

“Visualmente, mostro-me mais madura, contrastante e vibrante na imagem. Musicalmente, desejo estar presente nas pistas de dança, de alguma forma, conectando-me mais com o público da minha idade. Quis, nesse registro, incorporar elementos eletrônicos e acústicos, que fazem parte da minha pesquisa, de uma forma latina e híbrida, ainda mais comunicativa e menos experimental.

Dou protagonismo para a minha voz e a percebo como um instrumento em toda instância. Sem dúvidas, o ponto de partida desse trabalho foi o desejo de trazer um pouco mais do Brasil para o som que eu faço, além de pontuar o quanto esses sentimentos todos que nos cercam – de maneira individual, mas também coletiva – podem ser vistos de uma perspectiva serena e confiante”, revela Bebé sobre o momento de SALVE-SE


Bebé apresenta nova fase estética em seu segundo álbum. – Foto Por: Wallace Domingues

Bebé SALVE-SE

É justamente nesse universo estético livre, que a geração Z consome música, procurando vibes e menos atenta a se fechar em caixinhas mercadológicas, que a artista ganha lastro em um disco que não passa dos 28 minutos. Algo que temos notado cada vez mais comum no mercado, onde alguns bombons, por assim dizer, ficam para as versões Deluxe. O modo de consumo também mudou e toda indústria tenta repensar formas de realizar seus lançamentos.

Ao mesmo tempo que permite ser vulnerável, desde elucidando sentimentos, dentro da experiência de autoconhecimento e conflitos da sua juventude, a artista sabe que não pode errar e colabora com artistas como Dinho Almeida, dos Boogarins, em “Recado Dado” e o rapper fluminense BK’, em “De Ponta Cabeça”. Ela vai em busca de encontrar uma forma mais simples de se relacionar com o mundo e a cena musical ao seu entorno.

Dinho e BK’ dão a este trabalho uma força imensa, me conectando a dois artistas, muito relevantes, de dois mundos com os quais minha música dialoga: indie e rap. Tê-los presentes fortalece minha posição nesses gêneros, pelos quais sou completamente apaixonada, e que são pertencentes da minha comunidade preta”, comenta a artista

Representatividade muito importante de ser salientada… ainda mais na cena indie onde sabemos que infelizmente ainda é uma minoria que tem acesso a médios e grandes eventos do segmento de mercado.

Quando o assunto são referências, Bebé é enfática: Milton Nascimento, Lô Borges, Boogarins, Tuyo, BK’, Kali Uchis, Esperanza Spalding e Solange Knowles.

“Este disco é um chamado para preservar nossas inquietações e aprender a nos relacionar com o mundo de forma mais simples, trazendo novas perspectivas para a vida”, reflete ela ao nos convidar para apreciar a obra.

As Camadas Sonoras em Busca da Salvação

SALVE-SE é um disco bastante poético e conseguimos ver nos timbres e notas que procura alcançar, o misto de técnica com ousadia. Sua introdução serve como um prelúdio de que a conversa não vai ficar na superfície.

Em “Recado Dado”, música em parceria com Dinho, podemos fazer um paralelo estético com duas artistas britânicas, Nilüfer Yanya e Arlo Parks, desde a mixagem a capacidade de fazer uma música que quebre a caixinha do que é psicodelia, o que é música eletrônica, o que é soul e o que é o rap.

As colagens e propostas disruptivas criam o diálogo poético nessa busca pela essência – e constante transformação. Os ensinamentos sobre a vida, e as porradas que ela dá, muitas vezes sem chance para replicar, ganham canetadas e atmosfera que provoca o ouvinte a reagir.

Bebé pega essa propulsão para em “Fiquei de Cara” experimentar um trap em que ela mostra seu talento em arriscar um verso livre em pouco menos de 2 minutos. A crítica as relações modernas recaem na faixa de forma direta com beats que flertam com o funk carioca e teclado, na mesma estética dos remixes. Interessante ver o experimento justamente se compararmos com a estética do disco anterior, muito mais focado em técnica. Esse choque que mostra a capacidade artística de criar do simples ao complexo. Ambos podendo gerar reflexão e tendo suas particularidade.

Primeiro single a ser revelado, “Assome” é a quarta faixa do disco e chegou acompanhado de um clipe dirigido por Tristian Pae e Martina Quezado. Segundo eles, o filme apresenta Bebé ressaltando sua beleza do jeito que é, com a solitude contrastando sobre os reflexos do que canta e sente. O que dá ainda mais protagonismo para a história que a artista quer contar, o clipe, inclusive, é bem minimalista e encaixa na estética do novo trabalho.



“É uma música escrita não apenas sobre o momento que eu estava passando, mas também como um lembrete. Hoje em dia, sei o quanto qualquer tipo de mudança pode doer”, explica Bebé, que completa: “estou no processo de criar intimidade com o término de ciclos sem perder o meu rumo”, conta Bebé

“Essa música marca um momento especial de reconstruir as minhas relações e me fortalecer. Meu legado, para além do disco em si, é valorizar o processo. É sobre se aproximar daquelas partes que precisam ser vistas”, diz a artista.

A produção do clipe tem direção de Tristian Pae e Martina Quezado e explora a estética minimalista presente em SALVE-SE.

“A estética é minimalista, mas muito autêntica também. Brindamos a essa nova fase com inovação na parte de maquiagem e de figurino, através do stylist de Juny Martins e a produção de moda de Maria Rocha,  comenta.

O destaque da produção audiovisual é a fotografia, edição, apresentação da estética que engloba o trabalho e intensidade que a trama dá para exaltar a força da composição.

“Assome” por sua vez, é a canção que mais condensa a mistura e conceito artístico do trabalho. Essa busca por se compreender, em meio a terremotos, inseguranças e permitividade, acaba refletindo nos versos sobre todo esse caldeirão de emoções, em meio a distrações e descompassos das relações humanas. Os backin vocals dão ainda mais punch para a mensagem equalizar ainda mais nos fones do ouvinte.

Fora da Zona de Conforto

A faixa com BK’, “De Ponta Cabeça”, continua na temática da anterior, mas ganha beats, rap e foca no debate de ideias enquanto engole o choro. Os vocais de ambos simulam um diálogo de casal, entre as dicotomias, visões de mundo… e o conflito ficando em primeiro plano. Entre a inevitável procura por culpados, conexões por um fio, ciclos quebrados e emancipação.

“Gelo” é daquelas que conversa com o R&B moderno, até por isso Bebé aponta Solange como uma referência latente dentro do seu processo de pesquisa. As camadas deixam tudo mais envolvente, espacial e onírico.

O moderno e o clássico se chocam, o batidão e o refinado colidem. Tudo em contraste e mostrando um pouco das vivências da urbe. Entre a impaciência das redes sociais, a intensidade, e distanciamento das relações, a falta e o querer dos compromissos, e a rapidez dos nossos tempos… onde temos pouco tempo para absorver as coisas, imagina, então, para vivê-las em sua totalidade.

Essa dinâmica circunstância ganhando a pista em “Day bye day”, entre o rápido, o frívolo e a reprodução de comportamentos. É a parte menos frenética, e mais reflexiva, do registro. “Quem Diria” volta a explorar a espiral do indie em sua base, bebendo da psicodelia ao mesmo tempo que dialoga com o urbano. Algo um tanto quanto Melody’s Echo Chamber em suas guitarras que faz o riff ficar na sua cabeça. Ela volta ao tema da autodescoberta e o processo de viajante, entre superar o trauma e estar pronta para vivenciar o novo.

A parte final, de SALVE-SE, começa com “Novas Ideias/¿Pq no Puedo?”, uma das mais experimentais, e fora da zona de conforto, em termos estéticos. Das batidas, as colagens sonoras, o autotune na voz, do desconforto da letra e a atmosfera de uma canção que parece que já nasceu para virar um remix. Ela abre o coração e se joga na pista para viver intensamente cada novo momento. É o convite para chegar junto. Em sua segunda parte ela canta em espanhol, dialogando com artistas como Kali Uchis e Rosalía.

“Eu Quero Viver”, como o próprio nome diz, funciona como uma espécie de luz para o despertar. Com atmosfera do soul e mais perto da sonoridade que está acostumada, sua voz pede passagem para uma das faixas mais confessionais e bonitas do álbum.

A linha de baixo equaliza os sentimentos, a vontade de despertar ganha efervescência, e com certeza, ao vivo será um dos momentos mais esperados das apresentações, com possibilidade de ficar ainda mais frenética e dançante. Feito uma balada de uma mulher só. Parafraseando o disco dos Los Hermanos. A frase “Eu quero viver”, com o baixo pegado, ao fundo, com certeza ficará na sua cabeça.

Ouça em sua plataforma de streaming favorita



Faixa a Faixa de SALVA-SE – Por Bebé

01. SALVE-SE! (intro)

“Explorada melodicamente a capella com uma poesia, a faixa introduz o tema geral do disco. “Quem vai me salvar a não eu mesmo?”

02. RECADO DADO

“Em parceria com Dinho Almeida, a música refere-se a situações que parecem brilhantes por fora, mas estão vazias por dentro, incapazes de esconder sua verdadeira natureza. O recado é sobre a necessidade de evitar ser enganado por fachadas superficiais.”

03. FIQUEI DE CARA

“Um desabafo dançante misturado com Funk e Miami Bass, onde não é necessário carregar a culpa do problema do outro, que pertence apenas a essa pessoa que está refletindo e depositando em você esses acúmulos.”

04. ASSOME

“A palavra “assome”, derivada do verbo “assomar”, significa manifestar, aparecer no pensamento. Com um R&B contemporâneo e elementos de pagode, me desapego da distância nas relações e estou no processo de criar intimidade com o término de
ciclos, sem perder meu rumo.

Em um amor intenso, onde apenas a distância mantém a chama acesa para um reencontro, envolvendo considerar e descartar modelos de relacionamentos, abrindo o leque para novas possibilidades de relações mais saudáveis e consolidadas, uma música escrita não apenas sobre o momento que estava passando, mas também para mim mesma.”

05. DE PONTA CABEÇA

“A faixa, com participação de BK’, explora elementos de Trap enquanto busca o desapego e alívio no choro. É sobre enxergar os desafios das relações de outra perspectiva e iniciar outro ciclo.”

06. GELO

“Em um beat de funk, exploro e me autoconheço em relação aos desejos sexuais, quebrando o “gelo” nos modelos de comportamento.”

07. DAY BYE DAY

“Nesse dark trap canto sobre o tempo que se torna cada vez mais rápido e a luta para lidar com as transformações e transições de momentos, quando estamos muito dispostos a viver e logo depois desanimamos de existir.”

08. QUEM DIRIA

“Lidando com começos e fins, essa faixa foi feita para reforçar minha autoconfiança, mostrando que chegar a algum lugar pode ser apenas uma questão de perspectiva. Tudo isso através de um instrumental indie rock.”

09. NOVAS IDEIAS / PQ NO PUEDO¿

“Recalculando as rotas, respirando e separando o que foi moldado do que não me pertence. Com um beat e synths suspensos, reflito sobre modelos antigos e surgem as possibilidades de construir novos caminhos.”

10. EU QUERO VIVER

“Esta canção é uma resposta a “SOL”, faixa do meu primeiro disco, onde consigo enxergar o equilíbrio do amor próprio e me confortar em minhas sombras.”

This post was published on 23 de maio de 2024 5:04 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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