Ana Frango Elétrico - Foto Por: Hick Duarte
Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, terceiro disco de Ana Frango Elétrico, tem espaço para o amor, o passado, o futuro e se entrega a pista de dança
Em tempos de discussões que ficam pelo raso, em que vemos tantas repetições e estratégias envolvendo redes, ver artistas que propõe se desafiar para alçar novos voos no campo da criação e co-criação é inspirador. Ainda mais quando se trata de alguém como Ana Frango Elétrico em que a inquietude e a vontade de experimentar sem medo de chegar num resultado completamente diferente, seja em sua música, numa versão, seja na sua poesia, seja nas artes plásticas e na força da sua mensagem…nos lembra o porque começamos a amar a música.
Não é sobre perfeição. Não é sobre reproduzir. É sobre ir de encontro a sua alma. Sentir a pulsação. Não ter medo de errar. Buscar novas soluções que desafiem até mesmo o que tentam cravar como seu marco. Com 25 anos e agora 3 discos, ela até riu na audição ao falar sobre o tempo de carreira. Fato é que ela traça seus próprios caminhos de forma bastante particular.
Seja nos desafios em criar texturas, experimentar novos caminhos, a artista está pronta para mostrar sua identidade e revelar seu lado mais humano. O que faz de Ana um dos principais nomes da música alternativa brasileira. Não que rótulos a definam. Até porque ouvir seus discos é também se permitir fazer viagens que exploram tantas figuras. Sejam elas imagens ou sejam elas figuras de linguagem, um arte de zine ou um clipe que traga uma mensagem para pensarmos sobre as coisas da vida.
Poesia, artes plásticas e música, tudo se intersecciona em seu campo de criação. Neste terceiro lançamento, Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua, disponibilizado em parceria com os selos RISCO (Brasil), Mr Bongo (Inglaterra) e Think! Records (Japão), ela faz experimentações que constroem pontes com a música popular das décadas de 70 e 80 mas não se limitando a revisitar, e sim, propondo novos caminhos colocando um tanto de si. Da rebeldia, dos amores, do espírito jovem. E não é isso que artistas fazem e nos fascina?
Depois do turbilhão do Little Electric Chicken Heart (2019), que ganhou APCA como revelação, indicado ao Latin Grammy e Prêmio Multishow, a visibilidade de Ana Frango Elétrico aumentou tanto que chegou até mesmo em Anthony Fantano, que virou praticamente um discípulo, podemos assim dizer.
Neste novo disco ela elevou o sarrafo abraçando as funções múltiplas. Ana dirige, canta, compõe, toca e assina a produção musical do álbum. Com direito a um time de dar inveja a muitos músicos. Nele há arranjos de cordas de Dora Morelenbaum (em seu debut como arranjadora) e de metais, por Marlon Sette, baixo de Alberto Continentino e a bateria de Sérgio Machado. Tendo participação de JOCA, em “Dela”, fazendo uma linha de rap, em uma combinação que deu liga, o disco tem uma ficha técnica com muitos músicos timbrados que mostram como o trabalho de muitas mãos faz toda a diferença. São violinistas, percussionistas, trompetistas entre outros elementos que enriquecem sua experiência sensorial.
A autoria é de Bruno Cosentino, Márcio Bulk e Sylvio Fraga. Em sua companhia Ana tem um time afiado de instrumentistas do cenário brasileiro.
A aura de vanguarda é notória desde os primeiros segundos através dos timbres setentistas, poesia, clima de paixão no ar e um embalo de frequências que se fundem flertando com o que acostumamos chamar de “vanguarda paulista”. Aquele elo entre os 70 e o quebradiço experimental que veio logo depois com artistas como Patife Band, Arrigo Barnabé e cia.
Atmosférica, até mesmo em detalhes como os metais elegantes de bandas como a Black Rio, a faixa é um deleite para quem gosta de sinestesia. Algo que a artista costuma propor nas diferentes formas de arte que se expressa. Seja na poesia, nas artes plásticas ou na música, seu universo sempre colide para criar algo singular.
“Electric Fish resume bem todo o pensamento de produção musical do disco: timbres setentistas com processamentos oitentistas, testando os limites da música orgânica. Diferentes referências de décadas com diferentes processamentos. A escolha da faixa parte de um desejo meu pela produção musical no geral, eu tinha muita vontade de produzir essa música”, conta Ana
Sobre a música Bruno Consentino postou na época em sua conta no Instagram:
“Compus esta canção a pedido do Márcio de Oliveira para o disco dele com Cadu Tenório, Banquete. Márcio me enviou a letra em português e quando fui fazendo a melodia e a harmonia percebi que com uma letra em inglês — e a opulência das consoantes, para usar o termo que meu amigo Paulo da costa me disse uma vez — ficaria melhor, eu poderia fazer ataques explosivos no canto e deixá-la mais percussiva. com a autorização do márcio, pedi ao Sylvio fraga para fazer uma versão para o inglês. Ele fez lindamente, me dando várias opções de versos — um luxo — entre os quais eu escolhia os que soavam melhor.
Um tempo depois, gravei “Electric Fish” no meu disco Babies, em parceria com a banda Exército de Bebês. Num show coletivo que aconteceu se não me engano no escritório, do Lê Almeida, faz já uns bons anos, toquei essa música e a ana me disse que gostava muito dela e que queria gravá-la. Eu achei de cara que ficaria maravilhoso.
O tempo passou e ontem ela lançou como single do seu próximo disco uma versão deslumbrante de “Electric Fish”. com uma banda perfeita, arranjo incrível, dançante, cantando do seu jeito bonito e criando novos contornos para a melodia que adorei — especialmente na hora da letra que diz “So late at night, You light a cigarette”. Eu amo esta canção e sempre gostei muito de cantá-la. E fico tomado de alegria ao ouvir esse prazer se espraiando na voz da Ana, do Calu, da Dora, do suingue incontrolável da banda. um baita presente. ouçam!”.
Lirismo noir e timbres nostálgicos com processamentos futuristas, tem tudo isso ao longo do disco que tem espaço para a pista com luzes coloridas, clima de romance, experimentações, versões para canções de músicos que admira e parceiros de longa data. Ana que produziu recentemente o disco de Sophia Chablau e uma Enorme Perda de Tempo escolhe para (quase) fechar o disco, por exemplo, uma versão para outras pistas de “Debaixo do Pano”, da paulista. Até guitarras distorcidas surfistas tem espaço em “Coisa Maluca”, uma espécie de Beach Boys psicodélico com coros da nossa música brasileira. Se o ápice do romance, e da entrega, está no single “Insista em Mim” – uma balada confessional intensa – o refrão é daqueles que parecem ter sido feitos para colocar no rodapé de cartas de amor.
Em “Boy of The Stranger Things”, ela explora um canto solto dos anos 70 com direito ao brilho dos sopros e assobios que deixam ela próxima do pop embalado pelo futurismo. Em momentos o future funk, tão cultuado na terra do sol nascente, parece ganhar asas nessa viagem eletrificada e pulsante. “Camelo Azul” surpreende com sua entrada que nos lembra até mesmo trilha dos filmes de Walt Disney, como por exemplo, Bambi, composta por Frank Churchill e Edward H. Plumb. Seu lado mais vulnerável se mostra vivo em “Nuvem Vermelha”.
Uma das mais experimentais é “Let’s Go To Before Again” que parece brincar com a música eletrônica em meio a bossa nova. O choque entre o futuro, o presente o passado. Uma fritação calma eletrificada e vistosa pela delicadeza de seus arranjos que poderia estar tanto numa trilha de videogame como numa de anime.
“Dr. Sabe Tudo”, versão do disco Rubinho e Força Bruta (2004), de Rubinho Jacobina, fechar chega até mesmo a ser uma cartada para que a noite se estenda e que o clima de romance se espalhe pela pista de de dança entre luzes rosa neon e o swing do quadris. Uma versão estendida com remix é uma boa pedida, com certeza. Ela tem algo de Rita Lee, fase new wave, que aprendemos a amar.
A liberdade é um convite para Ana em Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua. Com tantas referências e um leque de repertório de cada um, trata de deixar o caminho aberto para que cada um tenha sua própria experiência.
“Comecei esse álbum em 2021 com intuito de demonstrar sonoramente entendimentos e sentimentos sobre um amor não-binário, de me expor subjetivamente. O sentimento foi o motor, mas este é um álbum sobre produção musical: baterias setentistas com processamentos oitentistas; diferentes referências de décadas com diferentes processamentos. Testar os limites dos sons orgânicos, voltar atrás/ir além!
Vinha me perguntando: o que é a produção musical? Concluí recentemente que é esculpir o ar. Acho que a pesquisa fica aberta para interpretações. (E quem é contemporâneo a mim sabe do bálsamo de influências múltiplas e infinitas que vivemos no tempo do algoritmo) Então, mesmo que não encontrem as minhas próprias referências, irão encontrar as suas. Talvez esse seja o maior objetivo.”, pontua Ana Frango Elétrico.
É dessas misturas, desse balancê, desta tentativa de explorar novos processos que o disco ganha um tempero diferente. Em algumas canções você fecha os olhos e se sente no Rio de Janeiro. Seja no atual como também em gafieiras, em uma roda de samba, entre paisagens de praias e uma gelada no copo. Em outras o clima de se sentir vivo por um romance se faz presente. Cria climas, vai para diferentes moods, hemisférios sem se fazer nem por um segundo previsível. Daqueles que a gente fica ansioso para ver essa arte linda em vinil.
“Eu acho que é um disco que fala por si só, do título as letras, então, se puderem ouvir, tem umas músicas dançantes, umas músicas mais baladas que dá pra beijar na boca, chapa, o que quiser, e é isso, eu espero que vocês gostem, que se incomodem, enfim, sintam alguma coisa.”, contou Ana Frango durante a audição de Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua que aconteceu no Cine Clube Cortina, em São Paulo
Me Chama de Gato Que Eu Sou Sua tem design de capa por Maria Cau Levy.
This post was published on 23 de outubro de 2023 10:00 am
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