Zudizilla revela com exclusividade faixa a faixa para “Zulu: Quarta Parede (Vol. 3)”
No dia 07/07 o rapper e beatmaker gaúcho Zudizilla lançou Zulu: Quarta Parede (Vol. 3), o terceiro e último álbum da trilogia de Zulu – ou Ópera Preta. Segundo o artista, “um manifesto quase homérico sobre as etapas de uma pessoa preta para ter vivências e experiências dadas como “normais” em uma sociedade de extremo racismo”.
Com 17 faixas inéditas e compostas por Zudizilla, o álbum traz feats com Fúria, Don L, Galo de Luta, Melly, Luedji Luna, Paula Lima, Lino Krizz, Shuna (YOÙN) e Tuyo. Em termos de sonoridade, apresenta um universo denso do jazz, além das habilidades do artista enquanto letrista do rap mais clássico.
“Como rapper e beatmaker eu venho testando coisas há muito tempo. Nesse trabalho eu tenho maturidade e experiência para trazer a banda que me acompanha, junto de meus beats e dos parceiros que estão presentes no projeto. Aconteceu tudo de forma muito natural”, comenta Zudi sobre a produção musical e os resultados finais das faixas.
Sobre dividir o álbum em partes o músico de Pelotas (RS) comenta: “É importante entender que eu não tento ser atemporal. Meu som tem no seu cerne a quebra do tempo e é isso que a trilogia comprova. Eu construí uma obra completa e a dividi em três partes que sintetizam a narrativa de Zulu. Sinto que este álbum é o mais próximo do mundo e o que está saindo do mais profundo eu”
No dia 26 de agosto, às 21h30, o músico sobe no palco do Sesc Pompeia para lançar o disco. Com participações de Melly, Galo de Luta e Fúria, o artista retoma a formação original de seus shows com o clássico trio de jazz: Pé Beat na bateria, Wesley Camilo no piano e Rob Ashtoffen no baixo.
Faixa a Faixa de Zulu: Quarta Parede (Vol. 3) por Zudizilla
Com exclusividade para o Hits Perdidos: Zudizilla revela nuances, curiosidades, e impressões, do processo de feitura de Quarta Parede (Vol. 3). Quem assume o comando a partir daqui é o rapper e beatmaker.
Intro (feat: Dayo)
A intro do álbum tem Dayo como protagonista. É um áudio que gravei pra Luedji enquanto ele cantava e foi muito fofo!!
No mesmo momento eu havia mandado uma faixa pro Dj Micha conferir, no outro dia ele respondeu sobre a música que enviei e me mandou um arquivo de áudio com um recado de bom dia.
É um instrumental que tem um toque de nostalgia, lembra Flying Lótus e ao mesmo tempo tem um quê de futurista.
God Bless (instrumental: @djmichacnr e @808luke808 – feat: @fu.ria)
Essa é a faixa que eu mandei pro Dj Micha analisar e que ele ao responder que curtiu, mandou também a que se tornaria a intro do álbum.
“God Bless” é uma música que tem uma atmosfera de rap entre 2005 e 2010, com uns timbres muito potentes ela é dançante e reivindica seu lugar entre os raps que tem saído ultimamente e que não tem a intenção de soar como rap.
A frase “Deus abençoe nosso corre” surge quase como um pedido de licença pro resto do disco chegar!! A virada de instrumental traz FURIA rimando em um flow mais contemporâneo, mas o beat tem uma atmosfera muito afrodiaspórica, muito por conta da percussão.
Azul Piscina (instrumental: @emidois e @zudizilla – teclado: @gabrielgaiardopiano)
Uma das faixas que se propõe a dialogar com a contemporaneidade, produzida pelo Dj e produtor prodígio de Pelotas M2 (que faz beats desde muito cedo e já participou do vol 2 produzindo atraco “matrix”) busca fazer relação entre o corre clássico e o entendimento do que se passa no cenário atual. Não chega a ser um trap. Mas tem elementos muito característicos que colocam essa faixa um espectro que o aproxima muito do gênero que atualmente domina.
O beat Switch tem minha mão, eu produzi justamente imaginando que ela vindo depois da Azul Piscina cria um contraponto onde pode se ver a versatilidade do artista ao propor tamanha quebra.
Alvo (instrumental: @808luke808)
Eu sou conhecido como um dos grandes mc de boombap e apesar de ter algumas canções que caminham nesse sentido, ainda sentia falta de uma que fosse esteticamente voltada para essa modalidade de rap. Em uma sessão de estúdio Luke mostrou esse sample, solicitei uma bateria, levei o bounce casa e as palavras ganharam vida na folha.
Tempo (instrumental: @808luke808 – feat: @galodelutaoficial – teclado: @gabrielgaiardopiano)
Tempo é um jazz spoken da melhor qualidade. Já havia fechado a produção do disco com o Luke e conversávamos sempre , trocando referências e etc, numa dessas ele me fala que falo estaria lá.
Pedi pra Luke gravar algo dele que eu usaria.
Só não imaginava que ele ia roubar a cena (risos).
Tempo Ruim (instrumental: @beats.jazza – feat: @donl)
Essa música é produzida por Sweet Jazza que é um dos mais criativos do país. Ao sample lembra algo da América Central, e lembro que o antigo grupo de Don, Costa a Costa, também tinha algumas paradas que soavam assim.
É uma das melhores músicas de rap do ano de 2023.
Thetahealing (instrumental: zudizilla e @808luke808 – feat: @paulalima – baixo: @wesleirodrigo_ – teclado: @gabrielgaiardopiano)
Produzida por mim, busca flertar diretamente com o jazz, que é uma de minhas grandes paixões, é uma faixa que vira a chave da forma de pensar a vida para todo o resto do álbum. Ela possui 4 climas diferentes que acompanham a poesia de uma forma muito competente. Conta com a excelência de Paula Lima que traz essa autoridade no assunto de cura pois sabemos que a voz dela tem o poder de nos elevar.
Sem sono (instrumental: @dariobeats)
“Sem Sono” é definitivamente minha top 3. Ela começa com vozes dando a ideia de que essa música é esse momento só fazer sentido pra pessoa que realmente entende ela. É como se fosse um monólogo no meio da multidão.
É um boombap que faz muito referência a minha própria carreira se pensarmos sonoramente e tem uma letra muito sofisticada e intimista.
O preço da guerra (instrumental: @808luke808 @mathinvoker @inivbeats @h4lfmeasures – feat: @linokrizz)
Mais uma referência aos tempos modernos, é uma das faixas mais pesadas do disco.
Com bastante 808 e graves, a primeira parte dessa música lida com a urgência de se atingir algo e o ritmo frenético imposto pelo instrumental de trap proporciona essa atmosfera.
A segunda parte é como se a consciência despertasse e trouxesse o mesmo narrador para a realidade vigente, inclusive trazendo a dinâmica musical para uma atmosfera mais sóbria e clássica, contando com timbres mais orgânicos quase como se o mesmo personagem obtivesse um amadurecimento. Lino Krizz no refrão, grande ícone do rap nacional desde os primórdios traz essa conotação que viria a ser o adjetivo das minhas músicas na internet: rap de adulto.
H.E.R. (Humano em reabilitação) – (instrumental: @808luke808 – teclado: @gabrielgaiardopiano)
“HER” é a faixa mais interessante em matéria de produção musical que esse disco traz, ao lado da última faixa.
Da pra perceber que eu amo colocar mais de um instrumental nas minhas músicas pra tornar elas plurais. Faço isso desde a faixa “de César a Cristo” que precede o disco homônimo (Vol.2) mas nesse álbum eu pude explorar muito mais isso.
“HER” nasce do final de “O Preço da Guerra”, quando baixamos o pitch da voz de Lino e nos soou como sample.
Eu pedi esse loop, com um bumbo marcante e aproveitei que já tinha solicitado outro mixdown e me propus a escrever uma das duas e saíram ambas, “HER” é Alvo.
“HER” começa com um diálogo que simula uma sessão de terapia, passa por instrumentais de Ragga e se transforma em uma marcha moderna, vai crescendo de acordo com a tensão da letra e finaliza de forma abrupta pra dar espaço pra música seguinte.
O fato mais curioso dessa música, e esse fato se repete no disco, é que o diálogo simulado entre eu e a médica são ambas as vozes minhas. Simulamos a voz dela em inteligência artificial pra chegar no resultado.
De Longe (instrumental: @_dudaraupp – feat: @shuna808 (YOÙN) – teclado: @gabrielgaiardopiano)
Essa faixa produzida por Duda Raupp foi uma das primeiras que surgiu quando eu me propus a fazer um disco.
Musicalmente é um grande acerto em se tratando de variar os ritmos do álbum.
Um neo soul funkeado que facilmente estaria no álbum de Anderson Paak, me fez pensar em um refrão que levasse pra esse timbre agudo e mais rasgado. Trazer Shuna do Yoún pra essa música foi dar a última pincelada em uma obra de arte. A doçura dele, contrastando com um bumbo mais na cara é uma poesia que empurra a música pra frente foi a combinação perfeita (na verdade eu tô tentando entrar pro Yoún e pra Tuyo).
Pequenas Coisas (instrumental: @808luke808 – feat: @luedjiluna – teclado: @gabrielgaiardopiano)
Pequenas coisas é uma versão minha para um ritmo que eu amo demais, o Afrobeats.
É uma música envolvente, que fala da simplicidade do amor e pra isso eu convidei minha companheira Luedji Luna, e na parte dela eu trouxe um piano mais jazz pra deixar ela na elegância que lhe é de direito (risos).
Supernova (instrumental: @808luke808 – feat: MELLY @oficialmelly)
Esse é um RnB clássico, love Song de fazer nenê exceto pela letra.
Melly foi incrível no refrão essa balada de amor na verdade é a antítese do mesmo.
Supernova é a morte de uma estrela.
Essa música é sobre a beleza e os problemas do amor entre pessoas pretas.
Groove ou caos (instrumental: @djnyack – feat: TUYO @oituyo – guitarra: @dilsonlaguna – trompete: @lucasgomestrp – baixo: @machaaado)
Mais uma vez, esse é eu tentando fazer parte de um grupo que amo.
Sempre quis fazer música com o trio e essa canção eu fiz toda pensando nessa galera.
“Groove ou Caos” traz uma estética sonora que eu amo muito e que é também um dos pontos fortes do Dj Nyack. Quando nos propomos a fazer uma música pro meu álbum, sabíamos que seria um house pois estudamos e escutamos o ritmo há muito mais tempo do que se imagina. Incluímos elementos orgânicos pra dar uma cara ainda mais nossa nesse som e chegamos no nosso objetivo de produção.
BSSSSF (instrumental: @djmichacnr – teclado: @gabrielgaiardopiano – baixo: @robashtoffen)
Um jazz moderno que representa muito daquilo que eu imagino fazendo ou produzindo em uns anos, começou com um beat programado em software e foi ganhando dinâmicas e camadas de acordo com os instrumentos que foram entrando e ampliando o alcance estético dessa faixa que se propõe a ser uma quebra no marasmo e mimese que se encontra o cenário musical, sem contar a potência da poesia que ao utilizar o áudio do WhatsApp aproxima da contemporaneidade.
EGOT (instrumental: @beats.jazza – teclado: @gabrielgaiardopiano – guitarra: @thechangekato)
Quem conhece minha carreira sabe que eu tenho essa busca por um som mais sofisticado, que seja dançante, dialogue com o que está acontecendo no momento do cenário musical mas que traga um tom de clássico e “EGOT” é exatamente essa faixa, que emparelha muito com as músicas de minhas principais referências.
Em todos os álbuns eu tenho no mínimo uma tentativa dessas, e “EGOT” é a síntese daquele tipo de som que me bate no âmago.
Uma letra profunda, um beat dançante, baixos, guitarras e pianos compondo uma sonoridade que exemplifica muito o que é esse álbum.
O grande último manifesto (instrumental: zudizilla e @808luke808 – teclado: @gabrielgaiardopiano)
Faixa que encerra o disco também é uma dessas que passa por diversas dinâmicas sonoras com a intenção de fazer uma flashback de todos os outros álbuns e terminar a trilogia de forma época.
A música literalmente desenha uma trajetória inteira até chegar ao seu final, com uma letra forte e verdadeira, é o final perfeito dessa saga.
Ouça Zulu: Quarta Parede (Vol.3)
Ficha Técnica Quarta Parede (Vol.3)
Zulu: Quarta Parede (Vol.3)
Produzido por Zudizilla e @808luke808
Mixado e Masterizado por @808luke808
Manager/ Produção Executiva: @sentidosproducoes / @jucmelo
Foto capa: @noenajera_
design e tratamento de imagem: @guilefarias_
Serviço:
Zudizilla
Lançamento do álbum “Zulu : Quarta Parede (Vol. 3)” Part. Melly, Fúria e Galo de Luta.
De 26 de agosto de 2023
Sábado, 21h30.
Local: Comedoria
Classificação indicativa: 14.
Sesc Pompeia – Rua Clélia, 93.