Depois de anunciar a série de shows da reunião, o projeto Titãs Encontro (saiba mais) é a verdadeira chance dos fãs mais novos poderem assistir pela primeira vez a formação clássica em atividade. E para os mais velhos que puderam ver os primeiros dias, uma forma de se reconectar com o passado.
Ao todo a turnê terá 21 apresentações e que passará por 17 cidades, além de ter uma ida a Portugal confirmada, com show marcado em 3 de novembro, na Altice Arena, em Lisboa. Nos últimos dias foi confirmado um show beneficente no Vibra, em São Paulo, dia 27/06, eles também tem outros 3 agendados nos Estados Unidos.
“Nas poucas vezes em que reencontrei os Titãs nos palcos — depois da minha saída —, foi sempre uma emoção regada a muitas risadas, lembranças, histórias compartilhadas e afetos. Agora, com essa turnê, teremos a oportunidade de conviver um pouco mais com essa cumplicidade que não se extingue”, comentou Arnaldo Antunes sobre a reunião
Chegar ao repertório também não foi uma missão simples para eles e olha que o show em São Paulo realizado na última sexta-feira (16/06) foi bastante generoso com direito a 32 canções dentro do setlist (incluindo “32 Dentes”, seria essa uma coincidência planejada?)
“Tivemos dificuldade para preparar o repertório, porque são muitos hits durante 40 anos, mas a gente focou no momento em que estávamos todos reunidos, em uma lista de três dos mais importantes discos da década de 80”, disse Paulo Miklos em coletiva
É bem verdade que infelizmente Marcelo Fromer (1961- 2001) não pode estar presente e isso virou motivo para homenagear ele por mais de uma vez na apresentação. A primeira foi com a escolha acertada de trazer o produtor Liminha para a base da banda, o ex-baixista da banda Os Mutantes, e produtor responsável por produzir discos como Cabeça Dinossauro (1986), Jesus não Tem Dentes no País dos Banguelas (1987), Go Beck (1988), Õ Blésq Blom (1989), Acústico MTV (1997), Volume 2 (1998) e Como Estão Vocês? (2003), que se sentiu bem a vontade já que vivenciou todo processo. A segunda homenagem e bastante simbólica foi a participação da filha de Marcelo, Alice Fromer, de 29 anos, que se juntou na parte acústica do show para cantar junto “Toda Cor” (composição de Carlos Barmack / Ciro Pessoa / Marcelo Fromer), “Não Vou Me Adaptar” (composição de Nando Reis e Arnaldo Antunes), nesta fazendo o dueto com Arnaldo Antunes, e “Ovelha Negra” (homenagem a Rita Lee).
Por volta das 20:50h, cerca de 20 minutos após o horário programado, subiram ao palco Arnaldo Antunes, Branco Mello, Charles Gavin, Nando Reis, Paulo Miklos, Sérgio Britto, Tony Bellotto e Liminha para realizar a primeira das três apresentações no Allianz Parque, localizado na Pompeia, local no qual o produtor quando teve acesso ao microfone bradou: “O berço do rock em São Paulo e a casa dos Mutantes“, logo após a homenagem a Rita Lee que nos deixou no dia 08/05. O timing perfeito.
Eles entram todos com o telão em p/b com as sombras dos músicos que fazem poses para se destacarem como se estivessem vindo diretamente de uma história em quadrinhos para o palco. Sem precisar explicar nada a primeira música deixa tudo muito claro, a “Diversão” é o foco da reunião, que além de claro, aproveitarem para fazer o que amam e tirar uns belos trocados, tem esse elemento de celebrar a vida como algo que transcende qualquer apelo comercial.
É notório ver como a comoção com a superação do câncer de Branco Mello motivou com que isso fosse possível. Ver a alegria estampada no rosto e na movimentação de Arnaldo Antunes era algo contagiante. Paulo Miklos sempre que podia posava para as câmeras, que assim como no show da Rosalía, engrandecem a experiência para quem está longe do palco. Tecnicamente em seus instrumentos se destacam o baterista Charles Gavin e Tony Bellotto, que além de ter a missão de conduzir o bando, ainda mantém a precisão.
Interessante é a espécie de jogral que fazem com o set no começo do show onde cada canção do primeiro bloco, mostra como ter tantos possíveis vocalistas e compositores, contribuiu para os primeiros dias. Esse revezamento e riqueza de propostas artísticas acaba sobressaindo para quem observa no detalhe a construção da performance. Os Titãs tentam usar sempre que podem toda a estrutura do palco e o 3D Mapping dos telões também contribui para uma experiência além de moderna, bastante imersiva, com direito a cores, montagens, colagens e afins. Em determinado momento eles emocionam colocando trechos de arquivos do grupo, onde cenas de Marcelo Fromer, de discussões sobre composições e até o álcool (ou não uso dele) entram em cena. Um momento onde a intimidade é revelada e as personalidades de cada titã ganham destaque.
Em “Lugar Nenhum”, Arnaldo Antunes já no fim da música solta um “Pátria o caralho”, deixando claro para quem ainda não fez questão de entender o posicionamento político da banda. Em “Nome Aos Bois”, mesmo eles não citando, era possível ouvir alguns gritando “Bolsonaro” no meio de nomes como Hitler, Delfim, Borba Gato e Flávio Cavalcante.
Um dos momentos mais emocionantes da noite foi quando Branco Mello dividiu com o público o motivo da sua voz estar debilitada. Após os Titãs tocarem “Desordem”, o músico que venceu recentemente a batalha contra a doença revelou que está muito feliz pela reunião e que retirou um tumor na garganta. E isso não acuou ele durante a apresentação fazendo questão de assumir os vocais e backin vocals sempre que podia, inclusive em “Tô Cansado”.
Em “Igreja” é até engraçado olhar a reação do público, visto que a canção não é celebrada por todos presentes justamente por ser no mínimo controversa, e isso faz a graça deste hino ateísta com espírito punk ser ecoado em frente a uma plateia com 50 mil pessoas, com os mais diversos tipos de crenças.
Antes de tocar “Comida”, Arnaldo Antunes fala o quão especial é tocar em São Paulo e lembra que foi onde tudo começou. Antunes entra um pouco antes o que faz o baixista Nando Reis fazer o sinal de “você errou mas segue o jogo”, ele ri e volta pro segundo verso intercalando com a plateia. Provando que em um show festivo como esse, não há espaço para qualquer tipo de desavença.
Nando antes de apresentar “Jesus Não tem Dentes no País dos Banguelas” diz “As músicas continuam comunicando com a gente”. Pro bem ou para o mal eles na casa dos 60 conseguem compreender a importância do legado e como a história infelizmente em muitos casos se repete.
A emoção volta a ecoar quando Branco Mello depois de cantar “Eu Não Sei Fazer Música” fala “Tá demais aqui, nossa casa” e emenda com “Cabeça Dinossauro”. Após uma breve pausa eles voltam no formato acústico e Sérgio Britto lembra como o Acústico MTV foi um momento importante para a banda por diversos motivos.
Nesta parte eles tocam “Epitáfio”, “Os cegos do castelo” e “Pra dizer adeus”.
Enfim o momento de Alice Fromer brilhar. Ela toda contida agradece pelo carinho do público em interação bastante carinhosa com os outros integrantes dos Titãs com direito a homenagem a Rita Lee (em versão para “Ovelha Negra”), canção do pai (“Toda Cor”) e “Não Vou Me Adaptar” feat. com Arnando. Depois de “Go Back”, Liminha é apresentado e fala brevemente sobre a Pompeia e a honra de estar do lado deles neste momento tão especial, tocam “Família”.
Outro que partiu recentemente, Erasmo Carlos, o “Tremendão”, é homenageado em “É Preciso Saber Viver”, canção de autoria do músico ao lado de Roberto Carlos. Depois apresentam “32 Dentes”, uma surpresa dentro do set de hits. E falando de hits esse bloco vem com “Flores” emendada de “Televisão”, esta última que ganha telões que ornam muito bem o espetáculo.
Daqui para frente a fase inicial da banda, numa espécie de bloco de música mais punk, ganha a linha de frente com as explosivas “Porrada”, “Polícia”, “AAUU” e “Bichos Escrotos” com direito a Paulo Miklos apresentar toda a banda e se autoproclamar, “Um Bicho Escroto”
A verdade é que parecia que eles não queriam encerrar os show. Os Titãs dão mais uma pausa, naquele o momento a apresentação já cravava 2 horas e 5 minutos de duração (por volta das 22:55h).
Eles voltam para mais, e tocam “Miséria” seguido do hit radiofônico “Marvin”. Se estamos falando de hit, esse aqui não poderia ficar de fora do show. Se na TV eles brincaram de trocar as funções na banda na oportunidade em que se negaram a fazer playback, algo que aparece no documentário A Vida até Parece uma Festa (2009), em “Sonífera Ilha” Paulo Miklos aproveita para contar um fato inusitado sobre a faixa.
O vocalista dos Titãs revela que o primeiro sucesso comercial da banda às vezes era tocada três vezes durante o mesmo show. No começo, no meio e no fim, e dá gargalhadas com isso. É nesse espírito titânico, fugaz, ativista, irônico, rebelde e feito um cometa que o grupo se despede bastante emocionado com direito a duas despedidas e uma bandeira LGBTQIA+ para celebrar o mês do orgulho. O show se encerra às 23:20 (com 2:30h de duração)
A sensação que fica é de que vida pode até parecer uma festa mas celebrar ela com seus amigos faz toda a diferença. 42 anos depois eles reconhecem e se divertem sendo os mesmos garotos punks com muitas ideias na cabeça e talento de sobra. Quem puder acompanhar a turnê com certeza irá se emocionar.
* Confesso que o primeiro bloco do show vendo cada um dos Titãs cantar as músicas que compuseram nos auge dos seus 20 e poucos anos arrancou algumas lágrimas deste mero editor. Câmbio, desliga.
Início do show dos Titãs (20:50h)
Diversão
Lugar nenhum
Desordem
Tô cansado
Igreja
Homem primata
Estado violência
O pulso
Comida
Jesus não tem dentes no país dos banguelas
Nome aos bois
Eu não sei fazer música
Cabeça dinossauro
Set Acústico
Epitáfio
Os cegos do castelo
Pra dizer adeus
Toda cor (Alice Fromer no vocal principal)
Não vou me adaptar (Alice Fromer no vocal)
Ovelha negra (Rita Lee cover) (Alice Fromer no vocal)
Set 2
Família
Go Back
É preciso saber viver (Roberto Carlos cover)
32 dentes
Flores
Televisão
Porrada
Polícia
AAUU
Bichos escrotos
Encore:
Introdução por Mauro e Quitéria
Miséria
Vinheta final por Mauro e Quitéria
Marvin
Sonífera ilha
(Encerramento) Domingo (às 23:20h nos alto-falantes)
This post was published on 17 de junho de 2023 4:31 am
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