ÀTTØØXXÁ se apresentou no Cine Joia na noite do feriado de Tiradentes
Se você quer saber onde buscar por música boa, com trocas intensas e toda comunidade unida em prol de fazer acontecer, você precisa sempre estar antenado com a cena viva e multicultural da Bahia. É como uma força da natureza acompanhar essa movimentação e capacidade de colocar o sorriso no rosto das multidões. Não é por acaso que o carnaval de Salvador é um dos mais importantes do planeta.
O axé, ritmo nascido na terra de todos os santos, de certa forma representa toda essa mistura que a cultura brasileira nos permite. Ijexá, samba-reggae, frevo, reggae, merengue, forró, samba duro, ritmos do candomblé, pop rock, bem como outros ritmos afro-brasileiros e afro-latinos, tudo tem espaço na potência rítmica e multicultural que o estilo abrange. Quem já assistiu ao excelente documentário Axé: Canto do Povo de um Lugar sabe do que estou dizendo. O próprio heavy metal é uma das grandes influências e referências para grupos como o Asa de Águia, um dos grandes expoentes do gênero.
Com mais de 40 anos de história, ele continua a reverberar por gerações. Nos anos 90, década seguinte da criação do Axé, também explorando ritmos como o samba-reggae, o samba de roda do recôncavo baiano, samba duro, ritmos do Candomblé e pagode, tendo como principal diferença a inclusão de percussão, um ritmo mais acelerado e geralmente acompanhado de coreografias, surge o Pagode Baiano (ou pagodão, swingueira ou quebradeira). Entre os grandes expoentes que podemos citar temos o É o Tchan!, Harmonia do Samba, Terra Samba, Companhia do Pagode, Psirico e Parangolé.
É sob esse contexto que foi criado em 2015 o ÀTTØØXXÁ, misturando pagodão e sons periféricos de várias partes do país, indo da bass culture mundial, passando pela cultura do Soundsystem e abraçando a música eletrônica. Na formação fixa eles contam com Rafa Dias (aka “RDD“, idealizador e produtor musical), Oz Bvng (vocal, bateria e percussão), Raoni Knalha (vocal) e Chibatinha (guitarrista). O show ainda conta com músicos de apoio para temperar ainda mais o caldeirão e reverberar o arsenal de hits que não deixam o baile parado nem sequer por um segundo.
Prestes a lançar seu quarto disco de estúdio, GROOVE, programado para o primeiro semestre, eles tem na sua discografia É Foda Porra, Blvckbvng e Luvbox – o último de 2018. Sendo cada vez mais referência da nova geração da música baiana festivais como o AFROPUNK Bahia, Favela Sounds, Coquetel Molotov, Rec Beat, Bananada, Coala, Rock The Mountain e Festival Sarará já receberam espetáculos do grupo.
“O Pagodão é groove como o Blues, é groove como Funk, é Groove como Disco, é Groove como Afrobeat. Groove é música negra, e a música negra é universal”, definem os baianos do ÀTTØØXXÁ
Tendo participação no carnaval de Salvador, dentro do bloco sem cordas, desde 2019 eles arrastam multidões no carnaval mais democrático do planeta. RDD também cada vez é mais reconhecido por seu trabalho como grande produtor tendo trabalhado com nomes relevantes da música independente contemporânea e até mesmo assinando a co-produção de “Me Gusta”, single de Anitta em parceria com Cardi B e Myke Towers. Outro destaque é o guitarrista Chibatinha que também está entre os autores da música e também atua como integrante da banda da MC Tha.
“Groove é muito mais do que um simples ritmo. É a alma da nossa música, a essência de cada batida. O Groove move nossos corpos e nos faz sentir vivos”, é assim que o ÀTTØØXXÁ apresenta o novo disco. Inclusive, o single “A Noite do Golpe” lançado em fevereiro, do vindouro quarto disco dos baianos serve como cartão de visitas do que está por vir.
“O groove é a sincronia perfeita entre as percussões, baixo, guitarra e todos instrumentos envolvidos. É base musical de todos os movimentos da Black Music, e o pagodão é Black Music. É a expressão da nossa cultura, do nosso povo e das nossas raízes. O Pagodão é groove como o Blues, é groove como Funk, é Groove como Disco, é Groove como Afrobeat. Groove é música negra, e a música negra é universal.”, afirmou o ÀTTØØXXÁ em um manifesto publicado em suas redes.
Cinco anos após lançar o disco LUVBOX (2018), o grupo formado por RDD, Raoni, Oz e Chibatinha anunciou nas últimas semanas um novo trabalho, GROOVE. O material já tem datas confirmadas em São Paulo, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, e o show que aconteceu no feriado de Tiradentes (22/04) no palco do Cine Joia ainda não é pautado na nova fase – mas já apresenta um tanto desse groove contagiante em um show que agitou a casa de shows localizada no bairro da Liberdade.
Sobre as datas da nova turnê, podem ficar tranquilos que em breve, elas serão reveladas.
Ao adentrar o Cine Joia podemos notar que a casa estava com cerca de 70% da sua capacidade de lotação e com o público pronto para entrar no clima de um bloco de carnaval. Logo nas primeiras canções executadas eles já avisam: estão prontos para fazer 3 horas de show. E quem achou que era apenas um blefe, ou força de expressão, a entrega foi realmente de três horas de apresentação.
Era possível ver na entrada a chegada de artistas como Karol Conká, que inclusive se apresenta no dia 06/05 ao lado do YOÙN no Cine Joia, Linn da Quebrada, Urias e influenciadores como Esse Menino. Nas redes sociais a DJ, psicóloga e ex-BBB baiana, Lumena Aleluia, lamentou não estar em São Paulo para prestigiar a festa.
Para quem pensa que eles administram a energia para aguentar as tais três horas, se engana. A explosão percussiva e o chamamento para o público vir para frente do palco acontece desde as primeiras faixas a executadas. Logo na terceira música, a primeira “roda punk” ganha a pista. Ao longo do show, eles orientam os presentes e ela vai ficando cada vez maior.
Uma das canções em que o público fica mais inflamado é “Caixa-Postal (TUM TUM)” que inflama justamente por sua narrativa envolvente e swing na batida colocando todo mundo para dançar. O show acaba mostrando bastante o conceito de paredão do ÀTTØØXXÁ, onde todos os ritmos entram para somar através de uma espécie de sampleagem de sons, como os Soundsystems costumam fazer tanto na Bahia, como no Maranhão e na Paraíba. Uma cultura forte, periférica, viva e de massa.
É interessante ver como através das homenagens a artistas, eles contam a história da música negra e periférica brasileira; fundindo ritmos, linguagens e expressões culturais. As colagens, as explosões, a estética polirritmia e multicultural transcende e ritmos como R&B, o trap, o surf rock, a guitarrada, o axé, a música eletrônica, o pagode, o rock, o metal, o funk carioca e a energia contagiante do carnaval acabam transformando a potência da apresentação em um verdadeiro caldeirão sonoro.
As homenagens ao longo do show, entre as músicas do grupo, se multiplicam e fazem com que os presentes cantem versos marcantes da história da música pop nacional embalados por um liquidificador sonoro de frequências.
Entre os pot-pourris e mashups executados dentro do repertório estão: “Banho de Chuva”, da Vanessa da Mata, “Bololo Haha”, do Mc Bin Laden, “Zona de Perigo“, do Leo Santana, no qual reverenciam a amizade com GG durante a execução, “Satisfaction”, do Benny Benassi, “Até Que Durou”, do Péricles, “Deixa Tudo Como Tá”, do Thiaguinho.
Além de “Ai Preto”, do L7NNON, Dj Biel do Furduncinho e Bianca, “Malvadão 3”, do Xamã, “Verdinha”, da Ludmilla, “Som de Preto”, de Amilcka e Chocolate, em uma versão meio metal meio pagodão, “Seven Nation Army”, dos White Stripes e até mesmo versão de uma canção da saudosa Marília Mendonça entra no set do ÀTTØØXXÁ.
Em “Pé Na Areia”, do Diogo Nogueira, eles pedem para a Urias subir no palco para cantar e dançar até o chão. A artista é bastante aclamada e aplaudida pelo público. É interessante também observar a dinâmica do palco, onde os músicos entram em saem do palco, em canções onde os batuques preenchem o espaço da bateria e até mesmo para ter um (merecido) breve descanso para o baterista que se destaca pela condução da cerimônia.
Chibatinha também não fica para trás e mostra seu talento ao dominar a guitarra e tirar o som que gostaria na frequência que escolher na hora, tudo isso mostrando facilidade, versatilidade e muito swing. Um fato que é interessante é ver justamente que entre os integrantes e músicos de apoio, o show se segura entre vocais e backin vocals. Ao todo quatro músicos revezam nas funções.
O show do ÀTTØØXXÁ é uma experiência que todo mundo que gosta de ver a arte como expressão de transformação social e fusão sonora deveria assistir ao menos uma vez na vida. É divertido, irreverente, alto astral e surpreende até quem não os acompanha no dia a dia.
This post was published on 24 de abril de 2023 10:00 am
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