Bonifrate lança 20, EP visual que celebra os 20 anos do projeto
Bonifrate é pseudônimo de Pedro Franke, carioca crescido em Paraty (RJ), onde iniciou seus trabalhos musicais após adquirir um velho gravador cassete de quatro canais. Duas fitas em inglês como The Psilocybian Devils (1999, 2000) foram lançadas e distribuídas entre amigos antes da estreia com o pequeno disco super lo-fi Sapos alquímicos na Era Espacial (2002).
Vivendo no Rio de Janeiro e à frente do grupo psicodélico Supercordas (2003-2016), lançou pela Open Field/Peligro Os anões da Villa do Magma em 2007, que chegou a constar em algumas listas de melhores lançamentos daquele ano. Em seguida, os primeiros concertos tiveram lugar, em São Paulo, com a banda batizada Bonifrate & Os Anões.
Logo em seguida veio o álbum Um Futuro Inteiro lançado em junho de 2011 digitalmente e em CD pela Cloud Chapel Records. O disco foi aclamado por diversos blogs e revistas independentes como um dos grandes de 2011 conforme o artista relata. Seu lançamento fez Bonifrate circular pelo Sudeste, Sul e Centro-Oeste, experimentando formações e atmosferas diferentes em cada ambiente, e mostrando as diversas facetas do álbum. Uma reedição em vinil foi lançada pela Dom Pedro Discos em 2018.
O LP Museu de Arte Moderna (2013) foi lançado em vinil pela Balaclava Records no final de 2014, e traz sonoridades mais diversas e um pulso mais forte que os lançamentos anteriores, ainda que mantendo a tradição das gravações caseiras. O álbum foi majoritariamente gravado em Paraty, onde Bonifrate voltou a residir em 2012. O lançamento oficial teve lugar no Sesc Vila Mariana, em São Paulo, com desdobramentos em Paraty, Rio de Janeiro e Belém do Pará.
Em 2014 também saiu o EP Toca do Cosmos em fita cassete e download gratuito, que inclui uma regravação do primeiro EP de 2002 (“Seqüelagem”) e outras 4 releituras de amigos compositores.
Desde então, Bonifrate andou colaborando em gravações de artistas como Boogarins, Bike, Betina, D Mingus, Novanguarda, Some Community, Acessórios Essenciais, WRY e Luneta Mágica, além de ter integrado como guitarrista as bandas Digital Ameríndio & (American Bigfoot) Mouse Mouse Joe e Simplício Neto & Os Nefelibatas, tendo produzido o primeiro EP destes últimos, Fuscas & Dirigíveis (2014).
Lady Remédios é um pequeno disco conceitual sobre a cidade de Paraty, e foi lançado pela Balaclava Records em agosto de 2017.
No fim de 2018 saiu o single “Alfa Crucis” e em 2019 a parceria com Dinho Almeida dos Boogarins, a Guaxe e seu LP homônimo e ainda Mundo Encoberto, um novo álbum como Bonifrate. Em 2021 foi lançado seu álbum mais recente, Corisco, que entrou na nossa lista de Melhores Álbuns Nacionais (2021) e agora em 2023 ele lança o EP 20.
20 reúne 4 canções de 20 anos atrás (2002), quando ele lançou pela primeira vez como Bonifrate. Todas as canções foram regravadas e registradas em vídeo em cada canal gravado em 2022. O EP visual serve como ilustração de como funciona o processo de gravação solitário do músico carioca.
Para dar lastro as comemorações Bonifrate também aproveita o momento para lançar o clipe para “Unicórnio 2D”, faixa que foi repaginada para 2023.
“Unicórnio 2D é um verdadeiro hit perdido, a versão original, super low fi, chegou a fazer parte do filme Apenas o Fim, do Matheus Souza, em 2009. Por isso é umas das músicas com mais acesso no YouTube. Sempre achei que ela merecia uma versão mais bem gravada e agora rolou.”, conta Bonifrate
Conversamos com o Pedro Franke, o Bonifrate para recapitular mais sobre os 20 anos de carreira no independente, passando pelos avanços tecnológicos e os aprendizados.
Bonifrate: “O processo de revisitar essas quatro canções começou espontaneamente em agosto de 2022, quando me ocorreu com certo atraso que este ano marcava o aniversário de 20 anos de Bonifrate enquanto um projeto musical. O primeiro lançamento foi um pequeno disco que eu fiz em 2002, de onde vem três dessas canções, chamado Sapos Alquímicos na Era Espacial. Na época não existia nem o MySpace ainda, e o Trama Virtual estava começando e eu não tinha acesso, então ele se limitou a ser distribuído entre os meus amigos em CD ou em fita cassete, depois sendo disponibilizado para download direto e pelo Bandcamp.
Então pensei em fazer algo simples e direto como uma celebração desses 20 anos. Em praticamente um dia eu finalizei o vídeo de “Casa com piano”, gravando tudo em apenas quatro canais e filmando as performances de cada um. Logo a ideia cresceu para se tornar o EP 20 e seu acompanhante visual, que traz o mesmo tipo de registro com as outras faixas e também algumas vinhetas com sons e vídeos desenterrados desses últimos 20 anos.
Embora de uma forma completamente diferente das gravações antigas, essas releituras me soam bem low-fi também, no sentido de serem gravadas de forma rústica e artesanal, sem grandes produções envolvidas, só algo que eu consegui fazer nas brechas de tempo entre o trabalho, a rotina, a vida com a família e tudo mais. E isso meio que sempre foi o que eu fiz, frequentemente com muito mais calma, então fiquei feliz com o resultado.”
Bonifrate: “Tenho a impressão de que eu e meus contemporâneos começamos uma trajetória musical num momento muito singular, um tempo latente entre paradigmas do mercado musical e tecnológico. Esse primeiro disco foi todo gravado num porta-estúdio cassete de quatro canais, algo que veio parar na minha mão anos antes e que consegui operar facilmente, mas de uma forma bem crua. Por exemplo, eu não tinha um delay ou um reverb pra gravar essas coisas, acho que sequer me ocorria que isso fazia muita falta nesse tipo de som.
Talvez isso fosse um reflexo de certo isolamento musical que logo se romperia com as parcerias com meu amigo Diogo e a galera com quem fiz os Supercordas pouco tempo depois, que foi quando começamos a usar software para gravar. O primeiro álbum que gravei com software foi Os anões da Villa do Magma, de 2005, e o Diogo fez comigo a mixagem, depois trabalhamos juntos em vários discos e em outros não, mas até hoje ele me ensina muito sobre gravação, mixagem, sobre o universo do som em geral.
Os discos que se seguiram como Bonifrate – Um Futuro Inteiro (2011), Museu de Arte Moderna (2013) e os EPs – foram construídos digitalmente em grande medida. Usei à vontade loops prontos e samples de baterias de gravações alheias, simuladores de amps de guitarra, plugins até explodir.
Depois que eu comprei uma bateria em 2016 comecei a mudar o equilíbrio dessa predominância digital, e no último álbum Corisco (2021) o que você escuta são os instrumentos mecânicos ou eletromecânicos gravados digitalmente, com algumas poucas exceções, e tratados digitalmente pela mixagem do Diogo.
Acho que hoje estou tirando uns bons sons em casa, com técnicas rústicas que funcionam pros meus instrumentos e equipamentos, que não são nada, mas nada demais em termos de qualidade ou valor de mercado. Gosto da ideia de que se pode fazer música com pouco, mesmo música espaçosa e acústica em grande medida, sempre tentando fazer o melhor e mais interessante som possível com o pouco que se tem. “
Bonifrate: “As ferramentas no sentido da tecnologia sonora de produção, gravação e distribuição são o centro de uma transformação no cenário musical muito importante, que ampliou acesso e democratizou a produção musical em alguma medida – um processo que anda junto com a efervescência dos festivais independentes em todo o Brasil e das políticas culturais e sociais do primeiros 15 anos dos anos 2000.
Na época que escrevi essa canção, se ouvia muito menos a palavra “algoritmo” do que hoje, e seu sentido era bem diferente. Eu acho que algoritmos e big data são ferramentas em disputa, e hoje na nossa sociedade temos essas ferramentas nas mãos de monopólios bilionários e acumuladores de riquezas às custas da exploração do trabalho técnico e artístico de milhões de pessoas. Não acho uma curadoria musical muito confiável ou interessante. Acredito que possam ser utilizadas de forma mais inteligente e harmoniosa, mas os problemas são amplos e são sobretudo políticos.”
Bonifrate: “A música ter entrado no filme foi uma feliz coincidência. O Matheus curtia o som e eu o conheci lá por 2007 através da minha então namorada Débora, que era colega dele na faculdade de cinema. O filme fez bastante sucesso nos circuitos independentes, e tinha duas músicas minhas, então sou muito grato aos envolvidos.
Sobre haver ganhos relevantes, nessa versão original de 2002, essa é uma das vozes que eu gravava cantando através de um cilindro de papel enrolado, provavelmente a xerox de um texto da faculdade, pra dar esse efeito de filtro. Eu não sabia fazer isso com um equalizador, ou talvez não ficasse tão interessante.
Eu gosto da versão original e de todas essas, muita gente curtiu e começou a ouvir nessa época, mas eu curto também revisitar essas canções hoje num contexto mais maduro sonoramente, e que é bem próximo daquilo que eu imaginava na minha cabeça quando gravava na fita sem efeitos além de distorção – eu imaginava esse solo de guitarra soando como o de “No More Lonely Nights” do Paul McCartney ou algo assim, e acho que esse EP é uma nova versão desses desejos e hipóteses musicais, 20 anos depois.”
This post was published on 14 de fevereiro de 2023 1:49 pm
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