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Gui Fleming homenageia Luhli em “Hoje Eu Corri Feito Um Rio”

O músico, cantor e compositor carioca, Gui Fleming, se prepara para lançar seu novo disco e hoje em Premiere no Hits Perdidos apresenta o primeiro single, “Hoje Eu Corri Feito Um Rio”. O lançamento que também acompanha um videoclipe, foi inspirado em uma artista na qual além de idolatrar tem o privilégio de ser amigo, a cantora, compositora e multi instrumentista, Luhli.

Conhecida por ser trabalhos sendo apresentados ao público desde meados da década de 70, a artista já se referiu ao material do músico de maneira bastante provocadora: “As músicas desse garoto me deixaram confusa e intrigada, até agora não sei se achei bom ou ruim e é justamente por isso que eu tenho certeza que é muito bom. As letras dele são venenosas e ele é realmente bom maldito”.

O single está sendo lançado hoje (18/08) pelo selo Porangareté. Mais tarde, às 19 horas, inclusive, acontece o show de lançamento, na Casa de Cultura Laura Alvim, em Ipanema (RJ).

“Ela era muito próxima do Rodrigo Garcia – que produziu meu disco e esta faixa – e da Júlia Vargas – minha madrinha na música. Tive a oportunidade de conhecer a Luhli de perto algumas vezes – todas muito intensas.

Em 2018 ela foi a um show que participei junto da Jhasmyna e da Agatha, em Lumiar, e após a apresentação ela falou para o Rodrigo: ‘as músicas desse garoto me deixaram confusa e intrigada,  até agora não sei se achei bom ou ruim e é justamente por isso que eu tenho certeza que é muito bom.  As letras dele são venenosas e ele é realmente bom maldito’ – frase que batizou meu primeiro álbum. Ela falava muito de rio, da natureza e tinha essas melodias ‘encantadas’”, relembra Gui Fleming.

O músico prepara o segundo disco, O Analista de Taubaté, com previsão para setembro, e que sucede o disco de estreia, Bom Maldito (2019), com participações de nomes como Duda Brack, Daíra, Chico Chico, Jhasmyna, Agatha e Fidelis. Anteriormente foram lançadas as músicas “Sinais” (2021), com feat. do violoncelista Federico Puppi; e “Passarim”.  Conversamos com o Gui Fleming para saber mais sobre sua trajetória, encontros, música e produção do clipe. Confira!


Gui FlemingFoto Por: Guilherme Caetano

O Início da Carreira Musical

“Em 2017, eu tomei uma decisão que mudou minha vida: larguei meu emprego de psicólogo/mediador em uma escola chique na Barra da Tijuca, entreguei o micro apartamento onde eu morava em Santa Tereza, abandonei meus planos de seguir fazendo mestrado/doutorado/dar aulas.

Eu tinha acabado de terminar uma especialização em “Psicanálise e Saúde Mental”, no IPUB/UFRJ e tanto a monografia quanto o trabalho da minha própria análise me fez perceber que eu queria fazer arte. Aquilo que eu levava 30 páginas, com muitas referências, citações e linguagem rebuscada para um público super restrito, poderia ser dito de uma forma muito mais simples, poética e acessível numa canção.

Conhecer a turma do selo Porangareté foi fundamental nesse processo: Júlia Vargas, Chico Chico, Rodrigo Garcia, Agatha, Posada, Duda Brack, Daíra, Claos Mozzi, Ivo Vargas, João Mantuano, Jhasmyna e tantos outros – essa galera estava fazendo o que eu sempre sonhei viver, desde os tempos de adolescência quando li “Noites Tropicais” (sobre a MPB, do Nelson Motta) e “Mais Pesado Que o Céu” (biografia do Kurt Cobain): uma cena musical.”

Primeiro Álbum – Selo Porangaraté – Luhli

“Joguei quase todas as minhas músicas fora e comecei a compor do zero. Eu pagava 1.000 reais de aluguel para morar no Rio de Janeiro. A Agatha me apresentou ao Rodrigo Garcia, que me chamou pra gravar um disco e eu entreguei o ap e aluguei uma micro casa de 2 quartos minúsculos por 400 reais para dividir com a Júlia Vargas (200 pra cada). Numa noite boa, dava pra pagar o aluguel com um show. Daí saiu meu primeiro álbum, Bom Maldito (2019).

Essa parte da Região Serrana do Rio de Janeiro é muito rica musicalmente. E aqui era morada da Luhli, uma das rainhas do independente brasileiro. Junto com a Lucina, elas foram as primeiras mulheres a gravar, produzir e distribuir um LP independente no Brasil, tudo autoral, ainda nos anos 70.

Luhli também foi a pessoa que apresentou o Ney Matogrosso ao João Ricardo, dos Secos e Molhados, além de ser compositora de hits como ‘Fala”, “O Vira”, “Bandoleiro”, “Pedra de Rio”, etc. (para saber mais, recomendo o documentário “Yorimatã“, do Rafael Saar)



Certa vez a Júlia Vargas me levou para conhecer a Luhli, na casa dela em Lumiar, distrito de Nova Friburgo (RJ). De cara ela ignorou minha presença por cerca de 20 minutos. Até que  grudou os olhos em mim, como se estivesse lendo a minha alma. Era um olhar forte, duro e sensível na mesma medida. Deve ter durado uns dois minutos, mas pareceu uma eternidade. Só depois disso ela começou a se dirigir a mim e foi muito simpática. Ela mostrou músicas, os tambores artesanais que ela fazia e a caixinha de quase música, uma espécie de oráculo com pequenos fragmentos de poesia da própria Luhli – que também era muito próxima do Rodrigo Garcia, meu produtor – que a convidou para um show que faríamos no teatro Tribuna Livre, em Lumiar.

No palco, Rodrigo Garcia, Jhasmyna, Agatha e eu. Ao fim do espetáculo, Luhli comentou com o Rodrigo sobre mim: “as músicas desse garoto me deixaram confusa e intrigada. Até agora não sei se achei bom ou ruim e é justamente por isso que eu tenho certeza que é muito bom. As letras dele são venenosas e ele é realmente um bom maldito”. Esse aval da mestra do independente acabou batizando meu primeiro disco. Infelizmente ela faleceu antes do lançamento. Fiquei abalado na época, talvez por egoísmo, pois queria mais tempo com aquela pessoa fantástica, cheia de histórias, melodias e sabedoria.”

“Hoje Eu Corri Feito Um Rio”

“Na semana que ela partiu, eu escrevi “Hoje Eu Corri Feito Um Rio”, junto com o João Mantuano. Não foi intencional, mas acho que a música era pra ela. Luhli falava muito sobre a natureza, sobre os rios e a canção fala também sobre vida e morte. Meses depois fiz o show de lançamento do meu primeiro disco no Ladeira das Artes, no Rio de Janeiro. No dia seguinte fui dar uma canja em um show do Chico Chico, no Manouche – um lançamento do selo Astronauta Discos. Quem apareceu na platéia? Ney Matogrosso. Minha perna tremeu: um ídolo iria me ouvir – uma super inversão de papéis – e nós tínhamos uma mestra em comum, a Luhli.

Quando me chamaram ao palco, antes de cantar, eu falei: “uma pessoa muito importante pra mim está na plateia e eu só fiquei nervoso assim uma vez na vida, quando a Luhli apareceu num show que eu fiz em Lumiar“. Foi a deixa para bater um super papo com o Ney após o show, tietar e tirar uma foto que guardo com muito carinho.

Logo após, me lembro de olhar pro vazio e agradecer a Luhli pelo encontro. Nisso, pousou uma borboleta no meu ombro – lembrando que já era madrugada, em plena babilônia carioca onde borboletas não são tão comuns – ficou alguns segundos em mim e depois saiu voando. Sou um cara relativamente cético, mas não posso deixar de acreditar que tudo aquilo foi um presentinho da Luhli, um jeito de me dizer: “tô aqui”. Só tenho a agradecer a Luhli, ao universo e a todas as pessoas envolvidas nesse processo e essa música é dedicada a Luhli


Gui Fleming e Ney Matogrosso – Foto: Acervo Pessoal

O Clipe para “Hoje Eu Corri Feito Um Rio”

“Hoje em dia não basta escrever e gravar uma música, tem que ter um apelo visual. Mas e a grana? Para fazer o clipe eu chamei a Priscila Caldas, uma colega de Psicologia, na UFF, que também migrou para as artes, no caso dela a dança. Já havíamos feito uma parceria muito bacana em “Ciática”, música do meu primeiro álbum.

A Pri estava estudando o “Tarot de Marselha”, de Camoin e Jodorowsky (um puta cineasta, responsável pela melhor versão nunca filmada de Duna, clássico da ficção científica). Ela tirou umas cartas para mim e dentre elas, saiu o “Louco” e a “Temperança”. Decidimos que seriam essas as personagens do clipe. O resto foi um pouco de improviso. Decidimos que seria filmado no “Encontro dos Rios”, em Lumiar, um lugar paradisíaco, cheio de água, verde e pedras.

Não tínhamos grana pra filmar, então foi tudo meio na parceria. Lumiar é um lugar cheio de artistas. Através do Rodrigo Garcia, eu conheci o Jander Ribeiro, vulgo “Ameba” da Plebe Rude (desculpa Jander, eu sei que você refuta esse apelido hoje em dia).

Jander largou o rock e hoje toca um instrumento maluco que é uma mistura de guitarra elétrica com viola caipira e tem um show chamado “Drinks, Night, Love Show”, só ele no palco, com programações eletrônicas e seu instrumento peculiar. Jander já havia gravado algumas faixas do meu primeiro disco e viramos amigos. Eu tinha um controlador midi da Ableton parado em casa e ele me pediu emprestado para montar seu novo show.

Acontece que o Jander também é fotógrafo e tem um equipamento bem legal. Fizemos uma troca: eu arrumei pra ele o controlador e ele foi filmar o clipe na faixa. Chamei o amigo Filipe Ribeiro pra ajudar nas câmeras e na produção, a Rosane Amora fez o figurino/direção de arte; a Pri dirigiu o clipe junto comigo e eu, sem grana, mas muito curioso e fã de cinema, acabei editando o clipe no meu celular. Eu já tinha feito algumas experiências assim em outros vídeos meus e também para a Júlia Vargas. Assim nasceu o clipe de “Hoje Eu Corri Feito Um Rio”. Não é um clipe tecnicamente perfeito, mas acho que é muito artístico e foi feito de coração, espero que transpareça para as pessoas.”



Participação do Cesinha

“Outro ponto curioso desse lançamento é a participação do Cesinha, um monstro da música brasileira. O Cesinha me foi apresentado pelo Rodrigo Garcia na época em que estávamos fazendo a pré produção do meu primeiro álbum.

O Rodrigo estava trabalhando no lançamento do álbum póstumo “Todo Veneno Vivo”, da Cássia Eller. Cesinha era o baterista desse disco. Papo vai, papo vem, o Rodrigo comentou que estava gravando uma galera nova – Agatha, Jhasmyna e eu.

Cesinha pintou no estúdio para gravar uma ou duas faixas. Gravou 11 num dia, 9 no outro e sei lá mais quantas no terceiro. Ficamos amigos desde então, ele tocou no show de lançamento e tudo mais.

O Cesinha já gravou alguns dos meus discos favoritos de todos os tempos: “Noites do Norte”, do Caetano; “Barulhinho Bom”, da Marisa Monte; e “Feijão Com Arroz”, da Daniela Mercury só pra citar alguns. Ele é conhecido como baterista, mas também toca baixo e bandolim. Inclusive tem um disco instrumental lindo chamado “Lá Pelas Tantas”, onde ele toca o bandolim.

Rodrigo e eu nos lembramos disso enquanto gravamos “Hoje Eu Corri” – mandamos pro Cesinha que gravou a bateria e o bandolim lá da casa/estúdio dele em Petrópolis (RJ) e o resultado vocês podem conferir aí na faixa.”



Serviço

Lançamento do clipe/single “Hoje Eu Corri Feito Um Rio”
Data: 18/08/2022
Horário: 19h
Local: Casa de Cultura Laura Alvim
Endereço: Av. Vieira Souto, 176 – Ipanema – Rio de Janeiro (RJ)
Classificação etária: Livre
Ingresso: R$ 1,00

This post was published on 18 de agosto de 2022 8:00 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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