No ano passado elencamos o EP Nordeste Futurista da paraibana Luana Flores como um dos Melhores EPs Nacionais de 2021. Agora, um ano depois, ela lança um filme no formato álbum visual com belas imagens do seu estado natal; com direito a territórios quilombolas, vilarejos de pescadores, o sertão paraibano e a modernidade dos espaços urbanos.
A cantora ainda assina no projeto audiovisual o roteiro, direção criativa, argumento, produção executiva e o design de som. O curta-metragem que chega nesta sexta-feira (29/07) conta com imagens bastante diversas.
Uma senhora, Vó Mera, por exemplo, aparece sentada em sua sala enquanto uma jovem indígena potyguara é entrevistada, apresentando sua relação com o Mocororó, bebida sagrada de seu povo. Até que um óculos aparece e Vó Mera passa a ver uma outra dimensão: o Nordeste Futurista. É esse choque de realidade virtual com vanguarda que traduz na narrativa as nuances deste nordeste que a artista quer representar.
Dividida em 5 atos, sendo cada canção um deles, ela apresenta ao longo dos 17 minutos as canções: “Eu vem”, com Vó Mera; “O Que Vem Ver”, com Ana do Coco; “No Mei dos Mato”, com Letícia Coelho; “Vai trovejar”, com Doralyce; e “Suspendemos o Céu”, com Georgia Cardoso. A fusão ainda se entrelaça com a mistura de sua estética musical que vai da música eletrônica aos ritmos populares.
Em sua equipe a artista priorizou mulheres nordestinas em diversas áreas da produção como figurino, cenografia, direção de arte, captação de imagem, fotografia, edição e montagem. O mesmo se repete no elenco que conta com profissionais da dança, musicistas e percussionistas, além das próprias Mestras da Cultura Popular e artistas que participaram do EP.
“O disco começa lá em cima, como se o sol estivesse torando. Aí ele dá uma abrandada e depois vai ficando aquela bola de fogo que deixa tudo dourado, terminando com a chegada da noite, quando o sol se põe e chega a lua. O filme também carrega esse arco”, explica a artista que mostra como o sol guia a produção
Locais como Quilombo do Ipiranga, no litoral sul, ou a Barra de Mamanguape, uma vila de pescadores no litoral norte da Paraíba, um território indígina servem como locação do filme.
“Os locais que escolhemos para gravar o filme se relacionam com cada território do EP. Gravamos na Barra de Mamanguape, gravamos no Quilombo do Ipiranga, no sertão da Paraíba e no espaço urbano de João Pessoa, que quis trazer pro filme. A gente parte do urbano e termina no campo”, completa Luana.
A artista preparou um Frame à Frame para contar mais sobre os 5 atos do filme, confira!
A primeira canção a ser retratada no filme é “Eu Vem”, que se passa no espaço urbano de João Pessoa. Luana quis retratar os espaços que ela frequenta na cidade, como o Mercado Central que possui locais que vendem temperos, chaveiro, loja de artigos de religiões de matriz africana, loja de conserto de celular, entre outras. Os dois personagens mascarados aparecem neste ato são os dois personagens que performam nos shows de Luana Flores, uma espécie de cosplayers da artista, com a identidade de signos bem marcada do Nordeste Futurista. Segundo Luana, a ideia das máscaras é de trazer certa confusão que a artista experimenta: é menino? É menina? É menine?
O segundo ato traz um fashion movie para a obra. Recém-lançado como clipe, “O Que Vem Ver” se passa no Quilombo do Ipiranga, quilombo esse que Luana Flores morou por um período ao longo da pandemia. Neste ato, vemos tanto a Mestra Ana do Côco, que participa também da canção, como personagens do próprio território protagonizando a obra. Acontece, em um certo momento, um desfile no rio Gurugi, desfile esse que já acontece anualmente no quilombo, e as peças utilizadas no desfile são da Biojóias do Duá, marca do próprio Quilombo.
No “Mei dos Matos” é o terceiro ato, e se passa no litoral norte da Paraíba, mais especificamente em um vilarejo de pescadores na Barra de Mamanguape. A canção, que é uma love song da artista, fala do amor de Luana com sua companheira, e sua composição aconteceu justamente na Barra de Mamanguape, quando moraram juntas por lá. Luana conta que é tão elétrica, sempre com a energia lá em cima, que a sua love song tem 154 bpm, que é em formato de um ritmo comum da manifestação popular Cavalo Marinho. Pode-se observar a influência dessa cultura popular tanto na música, quanto nos passos das personagens que saem em cortejo pelo vilarejo.
Caminhando até a floresta, inicia-se o ato “Vai Trovejar”, feat com Doralyce. Dentro da floresta Luana encontra com Yakecan Potyguara (detentora do saber do Mocororó, bebida sagrada do seu povo, que é uma bebida fermentada de caju). Interessante se atentar que a própria Yakecan Potyguara está aparecendo no filme desde a televisão da sala de Vó Mera, que é o fio condutor do filme. Ao beber o Mocoroó, Luana acessa outras vidas e abre os olhos em outro lugar: uma realidade parecida com um jogo de videogame. Nessa realidade, há uma figura guardiã que está realizando rituais. Trata-se de Yasmin Formiga, que é uma artista visual do sertão da Paraíba.
Ao encontrar uma árvore com “on” e “off”, Luana é teletransportada para uma visão onde aparece uma mulher com fones de ouvido e uma mandala de cajus em volta. A mandala de cajú é uma referência à bebida fermentada de caju e a mulher é Georgia Cardoso, artista visual indígena do Ceará, que participa declamando esta poesia na faixa “Suspendemos o Ceú”, no EP. O mais interessante deste encontro é que Georgia representa em seus trabalhos muitas vezes indígenas com fones de ouvido, dialogando e debatendo esta questão dos povos originários e suas relações com as tecnologias.
No fim, já à noite, temos Luana Flores fazendo uma performance com fogo. É quando Vó Mera se dá conta que estava em outro universo ao tirar os óculos.
Ficha Técnica do filme
Direção: Luana Flores
1ª Assistente de direção: Helena Lima
2ª Assistente de direção: Natália Di Lorenzo
Argumento: Luana Flores+
Roteiro e Direção Criativa: Luana Flores, Ludmila da Mata (CURVA) e Renna Costa
Produção executiva: Luana Flores
Direção de produção: Paula Cavalcante
Direção de Fotografia e Câmera: Helena Lima
Direção de Fotografia (Cenas Vó Mera): Ana Moraes
1ª Assistente de Fotografia e Câmera: Natália Di Lorenzo
2ª Assistente de Fotografia e Câmera: Maelle Cruz
3ª Assistente de Fotografia: Juliana Xu
Drone: Maelle Cruz
Direção de Arte: Ludmila da Mata (CURVA) e Renna Costa
Cabelo: Dan Cardozo
Edição: Helena Lima e Olivia Franco
Efeitos especiais: Rodrigo de Carvalho
Design de Som: Luana Flores
Designer: Helena Lima e Tainá Lima
Still: Kio Lima
Elenco: Fábio da Silva (Fabinho) / Josefa dos Martires (Zefinha) / Maria do Rosário Santos (Rose) / Francisca dos Santos / Flávia da Silva (Flavinha) / Ray Vitor Bispo / Ludmila Nascimento / João Pedro dos Santos / Geisa Rodrigues / Wilma Bernardo / Raissa da Silva / Camila Vitória / Marineide Batista / Maria Rita Santos / Gustavo Batista / Pedro Luiz dos Santos (Seu Pedro) / Hastia Mariane / Karla Olip / Lua Camboatá / Drika Passos / Carla Muniz / Gabriela de Brito (Azul) / Yasmin Kleine / Rita Maria da Conceição (Dona Rita) / Ana Catarina Mota / Leandro José da Silva / Miguel Soares / Ricardo Ribeiro / Vitoria dos Santos / Auridionay da Silva / Cinthia Gonçalves / Maria Janaína de Brito / Ana Cleide de Oliveira (Aninha) / Isa Vasconcelos
Cachorros: Cigana / Plantinha
Participação especial: Mestra Ana do Coco, Georgia Cardoso, Vó Mera, Yasmin Formiga e Yakecan Potyguara.
Agradecimentos: Antonio do caminhão / Ana Luíza Lucena / Bar do Quilombo / Coco Novo Quilombo Ipiranga e Gurugi do Conde / Bio Jóias Duá / Riso da Terra / Acervo Nequesa Vintage / Agüa Yayu / Casa dos Preto Velho (estabelecimento) / Benedito Herculano (Seu Bené) / Taperabá / Espaço Mundo / Aélia Lucena
This post was published on 29 de julho de 2022 10:30 am
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