saudade lança bem vindo, amanhecer, segundo disco da carreira solo
A pandemia foi um momento de refletir, entender e vislumbrar novos caminhos. Das crises existenciais a entender o propósito do seu ofício como artista e se aquilo ainda fazia sentido…ao desejo de se transportar para o mundo que gostaria de viver. Foram estes alguns questionamentos e backgrounds do lançamento do segundo disco do saudade, projeto do músico Saulo von Seehausen, conhecido por seu trabalho ao lado da banda de rock/hardcore fluminense Hover.
Apesar de a primeira vista parecer um projeto solo, o projeto é feito a várias mãos, algo exaltado durante a audição do disco que aconteceu três dias antes do lançamento na Fauhaus, nele os integrantes da banda base, que conta inclusive com antigos companheiros de banda, e produtores puderam contar mais nuances de um disco que em relação a jardim entre os ouvidos, ganha ainda mais texturas, sopros, ritmos e misturas.
Tudo isso fruto de uma busca incessante por referências da Funk music brasileira, como Tim Maia, e também a outros nomes da MPB como Jorge Ben Jor. Saulo até contou no encontro que uma das grandes influências foi justamente as caminhadas em que acordava às 5 horas da manhã e colocava no fone de ouvido o álbum de estreia da banda Black Rio, Maria Fumaça, de 1977, que além dos elementos do funk ainda agrega elementos do samba, do soul e do jazz.
Até por isso o disco intercala vibes e propostas sonoras. Como ele projeto um mundo ideal existe espaço para a alegria e as cores do amanhecer que enchem e encorporam o cenário de um disco que tem como capa um material gráfico feito por Vinícius Massolar que além de artista gráfico também toca guitarra, teclado e faz vocais na banda carioca The Outs. Nele, todos que participaram diretamente do disco seja na parte técnica, feats, banda base ou produção acabam aparecendo em praia aproveitando um dia de sol. Algo impensável no momento de concepção do disco.
O disco tem produção de Felipe Vassão e Pedro Serapicos. Aliás, as participações do disco incluem feats. com Lio Soares, da Tuyo, Rebeca Sauwen, Nina Oliveira, Bibi Caetano e Lorena Chaves.
A narrativa de maneira poética narra o fim de uma longa noite em direção de um novo amanhecer, o que acaba sendo reproduzido logo na dobradinha que abre o disco, da introdução com “Maria Comprida” (que quase se chamou Maria Fumaça por conta da banda Black Rio mas que ganhou nome de um estúdio) chegando na explosão de “Bem Vindo, Amanhecer”, quarta faixa do disco que conta ao todo com 10 faixas.
O interessante da jornada é a mescla entre os momentos de experimentação mais torta e jazzística, ao pop quase radiofônico mas repleto de camadas que tiram ele do ponto comum sem sair da zona de conforto para o ouvinte da música brasileira.
“Do Avesso” carrega o tempero mais romântico e na conexão faz do seu irradiar a balada uma balada com direito a linha de baixo groovada e nos sopros uma energia do Chic, projeto de Nile Rodgers ao lado do baixista Bernard Edwards. O interessante fica justamente pela intersecção de estilos, tendo espaço até mesmo para a distorção na voz em seu trecho final.
Falando em tempero e experimentação, “Se For Pra Ir Contigo, Eu Vou” tem participação de Bronze, como intérprete e da cantora Nina Oliveira. Efeitos de pedais se juntam as ondas das teclas e aproximam o ouvinte com seu calor. O dueto de vocais se misturam em uma faixa que elucida o reerguer após tempos no escuro.
Com espírito alegre e guitarra pujante quem “coerência coração” tem como norte o encontro entre os vocais de Saulo e Lio Soares. Por mais que não seja nem de longe uma referência para a canção, a melodia e vibe tropical me remeteu aos trabalho do 311. Mas é nessas referências indiretas que fazem a graça da coalizão de uma banda base de rock expandir seus horizontes para revisitar a música brasileira de vanguarda. O flerte com a R&B da Tuyo entra na delicadeza da faixa que permite com que a razão e emoção andem de mãos dadas feito as escolhas que temos que fazer ao longo da vida.
Na sequência vem “O Caminho que Há em Mim”, canção com participação de Lorena Chaves que fala sobre esses altos e baixos, entre se sentir perdido mas buscando um caminho por mais que a resposta não estejam em outros corpos e sim em nossa própria essência e autossuficiência emocional para encarar os desafios da vida adulta.
O disco conta com duas canções com “Bem Vindo, Amanhecer”, em sua parte dois a experimentação e o lado tropical aparecem com direito a flautas e uma malemolência que flerta com o samba e o lado orgânico. A ânsia por viver o offline após muito tempo de se privar disso, se elucida em seus versos que contemplam a arte dos reencontros e novos quereres. A percussão é um dos grandes destaques e suas camadas deixam um clima de bonanza pairando no ar.
Uma das faixas que mais chamou a atenção por aqui foi justamente “Ah, que Maravilha”, canção que tem participação de Rebeca Sauwen – e o clima de um fim de tarde ensolarado. A mudança de perspectiva de maneira positiva sobre o futuro tendo o mar como porto-seguro mostra que o caminho está apenas se abrindo para novas aventuras. A liberdade e a leveza como ares que conduzem a proa em direção ao novo mundo.
A faixa “interação mente-matéria” em parceria com a artista Bibi Caetano, que já foi indicada ao Grammy, deixa um pouco de lado o indie pop e o folk tristonho de Sufjan Stevens da estreia. O que se mantém são as referências a MPB, da bossa nova passando pelo ao movimento da tropicália e o psicodelismo brasileiro, estes presentes no primeiro disco. Sendo cada vez mais antropofágico em reverenciar a música feita no país.
A composição foi feita em parceria entre Saulo, Bibi e Felipe Vassão e segundo os músicos surge a história de um casal que decide tentar controlar as ondas do mar com a força do pensamento após o uso de psicotrópicos em uma praia. Dessa viagem metafísica, eles aprofundam por um conceito científico. O uso das metáforas encaixa e dá asas a imaginação de uma faixa que sugere a possibilidade de poder mudar o mundo através da força dos pensamentos.
Tudo isso foi inspirado no conceito da psicocinesia – de forma resumida, a capacidade de mover objetos com o poder da mente, instaurado ainda nos anos 30 como parte dos estudos de saúde mental; tema tão recorrente durante o período de isolamento social.
Com grooves e metais que dão corpo a psicodelia involuntária, saudade mostra versatilidade em um vocal pop apurado indo de encontro com os timbres leves de Bibi Caetano. A transição da faixa com direito a efeitos dá o tom esperançoso por um mundo mais solar e menos repleto de preocupações com as mazelas do dia-a-dia.
Para fechar o disco, Saudade escolhe o formato de trilha, que ressoa como o fechar dos créditos de um filme, com “camisa 10” (part. Jorge Amorim, Breno Morais e Rodrigo DÁvila) com o espírito do jazz em sintonia com o encerramento de um ciclo onde não há mais espaço para as sombras.
01. maria comprida
02. do avesso
03. se for pra ir contigo, eu vou (part. Nina Oliveira e Bronze)
04. bem vindo, amanhecer
05. coerência coração-mente (part. Lio)
06. o caminho que há em mim (part. Lorena Chaves)
07. bem vindo, amanhecer pt. 2
08. ah, que maravilha (part. Rebeca Sauwen)
09. interação mente-matéria (part. Bibi Caetano)
10. camisa 10 (part. Jorge Amorim, Breno Morais e Rodrigo DÁvila)
bem vindo, amanhecer, álbum de saudade.
gravado entre 2021 e 2022 no Estúdio Araras (Petrópolis/RJ), Estúdio 12 Dólares (São Paulo/SP) e Cada Instante (São Paulo/SP).
Direção Artística: saudade
Produção Musical: saudade, Pedro Serapicos e Felipe Vassão (faixas 2, 3, 5, 8 e 9)
Arranjos: saudade, Leandro Bronze, Bruno Bade, Renan Vasconcelos, Felipe Vassão e Pedro Serapicos
Direção Vocal: Rique Azevedo, saudade, Pedro Serapicos e Felipe Vassão
Edições Vocais: Pedro Serapicos
Arranjos de Cordas: Felipe Vassão e saudade
Arranjos de metais: Breno Morais, Felipe Vassão, Pedro Serapicos e saudade
Edição: Matheus Souza
pianos e vozes: saudade
violões: saudade e Pedro Serapicos
guitarras: Renan Vasconcelos, Felipe Vassão, Pedro Serapicos, Felipe Duriez e saudade
baixos: Leandro Bronze
baterias: Bruno Bade
percussão: Jorge Amorim
bateria “camisa 10”: Jorge Amorim
saxofones: Breno Morais, Marcelo Cebukin e Marcel Enderle
trompetes: Reinaldo Godoy
flautas: Breno Morais
programações, sintetizadores e beats: saudade, Felipe Vassão e Pedro Serapicos
sintetizadores e programações adicionais: Bernardo Massot
piano “camisa 10”: Rodrigo D’Ávila
engenharia de som: Vinicius Junqueira, Paulo Maganinho e Pedro Serapicos
assistência de engenharia de: Jr. Ayres e Arthur Ayres
mixagem e masterização: João Milliet e Pedro Serapicos
This post was published on 29 de junho de 2022 10:07 am
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