Foi através dos trabalhos ao lado da Soundlights que o coletivo que viria a se tornar a recreio se formou por volta de 2019 e de certa forma a intensa troca na pandemia ajudou a consolidar os conceitos e primeiros sons do grupo. A tecnologia teve um papel primordial no processo, e assim como outras bandas, ferramentas online como o Discord foram um grande ponto de partida para que a consolidação do projeto fosse algo tangível. Eles tem até mesmo um canal na Twitch para interagir com os fãs.
A partir daí o quinteto de Porto Alegre (RS) gravou seu EP de estreia Por que o ódio? e agora já tem planos de no segundo semestre apresentar seu LP. Mas antes por aqui você assistirá em primeira mão o primeiro videoclipe da história da recreio. E olha que a hora do recreio para eles é coisa séria. Para terem uma ideia, passatempos como os jogos de altinha, assim como, as aulas de yoga, são atividades essenciais tanto dentro do roteiro da trama, como na concepção do projeto como um todo.
É da simplicidade do aconchego das gravações realizadas no litoral gaúcho que a banda formada por André Garbini (bateria), Arthur Valandro (voz, guitarra, violão e sintetizador), Bernard Simon (baixo e guitarra), Gabriel Burin (sintetizador) e Ricardo De Carli (sampler e efeitos) que o vídeo foi concebido. Com uma handycam eles registraram a rotina, das gravações passando pelos almoços, brincadeiras, bate-bola e até mesmo a (árdua) rotina de limpeza.
“Sentíamos que o tempo que estávamos fora dos instrumentos, jogando bola, limpando a casa, eram tão importantes quanto a música em si. Era o momento em que pensávamos na produção de uma forma mais desprendida, lúdica, então decidi valorizar isso também no clipe”, conta Ricardo De Carli, músico e produtor responsável por operar os samplers e efeitos no grupo que também assina a montagem do clipe através da produtora frisbe estúdio.
Apesar da produção audiovisual carregar um clima leve e descontraído, e seus riffs serem soltos e lo-fi, a canção propõe uma reflexão sobre um tema que carrega seriedade e traz consigo muita amargura em nosso dia-a-dia, o ódio. Este que em um ano como 2022 dificilmente será um tema longe de ser debatido. Seja na rua, na família, entre governos e civis. Foi do avanço do conservadorismo, e sua carga raivosa dos discursos de ódio, que eles se inspiraram para escrever “Por que o ódio?”, que propõe a reflexão sobre a gratuidade do sentimento.
Produzido pela própria banda e o frisbe estúdio, o vídeo teve imagens registradas por Gabriel Paz, Sofia Lerrer e Ricardo De Carli (que também assina a montagem e pós-produção). Já a faixa foi produzida por Bernard Simon e Ricardo De Carli, tem mixagem realizada por Renato Godoy e masterização por RHR.
A arte da capa do single é de Letícia Lopes, o design por Ricardo De Carli. A produção artística do grupo é dirigida por Marta Karrer e a produção executiva por Gabriel Paz.
recreio: “Anteriormente à recreio, o grupo já trabalhava junto em outros projetos, especialmente na Soundlights. Em 2019/20 nosso vínculo se fortaleceu e a vontade de produzir algo que fosse mais comunicativo vinha aparecendo. Decidimos, então, iniciar um novo projeto, no qual fomos construindo uma dinâmica coletiva de muita troca durante a pandemia inteira.
Inicialmente, a ideia era gravar nosso primeiro disco em 2020, o que não aconteceu. Fomos trabalhando diariamente no discord à distância (inclusive gravamos os últimos singles da Soundlights assim), tocando violão nas chamadas, discutindo a pré. Em setembro de 2020 conseguimos nos encontrar pela primeira vez para tocar na formação da recreio (Ricardo entrou por último e ainda não havia tocado), e aí gravamos nossos primeiros singles: “por que o ódio?” e “eu não quero ser mais um”.
Atualmente estamos numa rotina intensa onde nos encontramos várias vezes por semana: na segunda toda a banda vai pro estúdio fazer reunião presencial e ensaiar, na terça nossa dupla de produtores (Ricardo e Bernard) trabalham na edição e produção das faixas e na sexta-feira, nos encontramos no Discord para finalizar as demandas da semana ou ensaiamos pros próximos shows.
No momento, a prioridade é terminar o disco e o trabalho que resulta dele: mais clipes, shows de lançamento, feats e possivelmente uma turnê são algumas das nossas metas antes do final do ano. O clipe de “Por Que o Ódio?” encerra o ciclo do nosso EP de estreia e abre caminho pra nova fase, que será marcada pelo lançamento do nosso novo single ainda no primeiro semestre.”
A temática do disco é inspirada na trajetória de um pássaro (que eventualmente contaremos mais sobre) e tem esse conceito de travessia e nostalgia. A ideia era fazer um disco que durasse o tempo de uma viagem, seja ela em grupo ou por conta própria. Em termos de sonoridade, tem muito de indie rock, ainda que a gente ande nessa corda bamba entre o pop e o experimental. Algumas das referências que tem nos atravessado são: Alex G, Caroline Polachek, Sparklehorse, Wilco, Rolling Stones, Kate Bush, Haruomi Hosono, The Police, Sonic Youth, Broadcast, Lô Borges, Chris Weisman, Zach Phillips, Nilüfer Yanya, Pavement, Dorgas, Ana Frango Elétrico, LCD Soundsystem, Radiohead (e por aí vai!).
Apesar disso, buscamos uma coerência em criar uma identidade da banda a partir de tantos estímulos. Algo que temos notado como uma destas marcas é que nossa formação tem variados arranjos: às vezes trocamos de instrumento, e isso nos traz tonalidades novas dentro de uma paleta que compõe o recreio.
Se fosse pra gente resumir em um tweet seria mais ou menos assim:
uma história contada por um pássaro;
uma travessia por sonoridades nostálgicas, ainda que frescas;
alguns indie hits (esperamos);
e que dure o tempo de uma viagem
Ricardo: “Sentíamos que o tempo que estávamos fora dos instrumentos, jogando bola, limpando a casa, eram tão importantes quanto a música em si. Era o momento em que pensávamos na produção de uma forma mais desprendida, lúdica, então decidi valorizar isso também no clipe. Desde o começo do nosso desenvolvimento musical como grupo, trabalhamos os arranjos em cima da relação entre nossos corpos e os instrumentos. Acho que essas práticas coletivas são muito importantes no nosso desenvolvimento musical tanto individualmente quanto em grupo.
Durante as gravações de “Por Que o Ódio?” e “Eu não quero ser mais um”, praticamos yoga e alguns jogos com bola (e com instrumentos musicais também). Atualmente estamos iniciando um trabalho de preparação corporal através da dança e deixando isso ressoar no nosso fazer musical.”
André: “Na real, o rec é a parte mais fácil pra gente kkk
Estávamos gravando em casa e temos como característica de processo gravar todos os ensaios, tudo sempre está valendo, então ameniza um pouco esse protocolo de gravação. A base de eu não quero ser mais um, por exemplo, surgiu de um momento de ensaio em que improvisávamos a própria estrutura – gostamos tanto que acabou se cristalizando como o arranjo definitivo. Então esse som tem isso, de ir sendo descoberto enquanto tocado. Nos pareceu fresco e em movimento, e aí ficou.
Esses momentos de descontração são quando nossa cabeça segue trabalhando em segundo plano, que podemos sair de algo muito racional que pode tomar conta enquanto se produz. Eram momentos de respiro dentro de um respiro, porque nosso encontro pras gravações em si enquanto a pandemia estava ainda em ascensão foi um grande respiro. Foi a primeira vez que reencontramos pessoas fora daquele ciclo familiar ao qual cada um tinha organizado no isolamento. Depois de incontáveis horas em reuniões do discord, poder ver o pessoal e tocar um som foi muito libertador. Além dos singles, disso saiu também um bootleg chamado “Vôo Livre” que tá no Bandcamp da Soundlights.
recreio: “Sim e não – já que estávamos juntos, tínhamos a consciência de que era importante registrar o momento, mas sem pretensão de pensar já num clipe. O clipe veio com uma necessidade de ir marcando presença e experimentando visualmente o que pode vir a ser a recreio.”
Ric: “Sendo músico e produtor audiovisual, é uma beleza montar clipes de canções gravadas com metrônomo, pois há uma boa possibilidade de sincronia entre som e imagem, podendo aproximar os espectadores do clima no estúdio. É assim: como todos os takes que fizemos estão num mesmo andamento, fica fácil de misturar tomadas de vídeo de momentos diferentes de gravação, quebrando um pouco a aparente linearidade do processo. Produzir música tem muito disso, de ir e voltar e sobrepor e apagar e somar – realmente não é um processo linear, e o vídeo também não tenta ser categórico nisso. Por outro lado, essa sincronia mais precisa é muito apelativa ao olhar.”
Arthur: “Sinto que o clima de imprevisibilidade e instabilidade pode ditar o ritmo dos próximos tempos. Olhando a partir de uma perspectiva mais individual, penso que a ausência de referências que inspiram segurança traz à tona uma vulnerabilidade enorme. Pessoas sem lugar de ancoragem, suscetíveis a um movimento desesperado de buscar alívio pro desconforto, se perdendo em discursos reativos e sem fundo.
Esse desconforto tá presente aqui e agora enquanto tento visualizar algum cenário futuro (hahaha), talvez impossibilitando qualquer tipo de aposta sobre os próximos tempos a nível macro. Talvez a aposta possível seja mais um desejo, mesmo, que tá contido no questionamento da própria música “por que o ódio?”.
Acho que já estamos num ponto em que é claro o buraco em que nos encontramos (revanchismo, guerra, etc) e temos muitos porquês já dispostos na mesa (que fazem ainda mais sentido a partir duma perspectiva histórica). Acho que resta entender como mobilizar ações práticas que possam ir na direção de efetivamente produzir mudança e estabelecer diálogo.
Como chegar lá parece nebuloso, mas parece inevitável agir coletivamente e abandonar a crença de que a libertação individual vai mexer qualquer peça nesse jogo complexo. Nutrir e exercer uma consciência coletiva pode ser uma forma de produzir um sentimento de esperança a nível macro.”
This post was published on 13 de abril de 2022 3:10 pm
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