Little B. and the Mojo Brothers transforma seu debut autoral em uma intensa live session
É difícil hoje em dia dizer que o período de pandemia trouxe grandes transformações nas mais diversas esferas para algo melhor como era o discurso romântico de março de 2020. A realidade por si só é dura, além das perdas, muita coisa aconteceu. Mudanças essas que fizeram com que muitos pudessem se reinventar das mais diferentes formas, a reclusão por si só é um fenômeno que afeta cada um de maneira diferente. Colocar regras seria justamente limitar o que nos faz humano, vivo e capaz. Questionar o futuro, vislumbrar novos saltos e mergulhar em novos sonhos também é uma possibilidade e foi isso que aconteceu com a banda paulista, com alma paranaense, Little B. and the Mojo Brothers.
Assim como muitas bandas do circuito autoral e cover, eles viram os planos de turnês tendo que ser adiados. No caso deles, foi uma possibilidade de se reinventar e passar por um momento chave dentro da carreira do grupo que iniciou sua trajetória em 2016 no universo do cover mas que com o tempo passou a querer compôr suas próprias canções.
Processo tão natural que ganhou corpo durante o período de reclusão forçada que este momento permitiu.
O Efeito Pandemia
“Em março de 2020, mais especificamente no dia 14, nós fizemos os últimos shows e, em seguida, tudo fechou. E foi justamente durante a pandemia que as produções autorais começaram a ganhar vida. Eu e o Marco, além de parceiros musicais, hoje somos companheiros e moramos juntos, então nosso isolamento está sendo em conjunto, e ano passado começamos a trabalhar na ideia de iniciarmos as produções próprias em casa, já que não rolava tocar ao vivo.
Foi difícil: demorou cerca de um mês para termos alguma inspiração, e foi quando criamos juntos o riff e a melodia de ‘No Land For Young Folks’, eu no baixo e ele na guitarra. Em seguida, criei a letra.”, diz Little B
Little B é o nome artístico da musicista Beatriz Colgano, que assim como Marco e seu irmão, são naturais de Presidente Prudente (SP) mas estão já há algum tempo vivendo em Maringá (PR).
“Desde abril de 2020, passamos a compor com facilidade, eu principalmente, que faço as letras e crio a maioria das melodias no teclado/baixo. Hoje, temos 10 sons com esqueleto e letra escrita, com 6 deles prontos ou em fase de finalização (4 estão nesse EP que será lançado).
Desses 10, 2 terão letras em português, 7 em inglês, e 1 provavelmente será um instrumental em collab com um duo aqui da região. Tudo dentro do rock and roll psicodélico: alguns sons mais groovados, outros mais desconstruídos, algumas baladas e o instrumental com características latinas/regionais.”, conta a compositora que também revela um pouco mais sobre a sonoridade escolhida pelo grupo
O Início da Little B and the Mojo Brothers
“Eu e o Marco, que é o guitarrista, criamos a LBMB em 2016 em Maringá (PR), junto com o irmão dele no baixo e um colega nosso na bateria. Eu, o Marco e o irmão dele somos de Presidente Prudente (SP), e já havíamos nos encontrado – e até tocado junto – por lá no passado.
Todo mundo já tinha uma carreira na música, mas eu e o Marco estávamos meio parados porque não era nossa profissão principal: ele é psicanalista, eu atuava ativamente com registros documentais, audiovisuais e fotográficos da cena autoral aqui da cidade.
A ideia de montar a banda surgiu então pra gente tirar um repertório de músicas e fazer um som mesmo, e aproveitar para fechar alguns shows menores em bares e eventos. Mais uma forma de curtir e se expressar, sabe? Foi tudo muito rápido no entrosamento e fomos conseguindo umas datas.
No início, o foco da banda era voltado praticamente pra interpretação de sons do movimento blues e soul: Muddy Waters, Howlin’ Wolf, Stevie Ray Vaughan, Bonnie Raitt, Eric Clapton, Robert Johnson, Amy WineHouse e outros, além de alguns rockabillys. Alguns sons nós reproduzimos com certa fidelidade, outros com uma releitura própria.”, conta a vocalista da Little B, and the Mojo Brothers
As Mudanças e Amadurecimento
“Mas aí, trocamos de baterista em 2019, quando conhecemos e tocamos com o Chor. Ele já tinha uma carreira legal dentro do blues, jazz e rock aqui em Maringá. Nessa época, a gente estava começando a conseguir mais shows e até participar de eventos um pouco maiores.
Entre 2017 até final de 2018, outros integrantes passaram pela banda, e no início de 2019, a Nat, que era esporadicamente nossa técnica de som e filmmaker, assumiu o baixo e se juntou ao time.
Com o tempo, e principalmente com as experiências dos novos integrantes e a identificação com outras atitudes e sons, a banda acabou trilhando um caminho um pouco diferente: fomos expandindo do blues raiz e entrando mais no rock and roll do fim da década de 60 e da década de 70, sem perder as origens. Tudo isso ainda como uma banda cover.”, continua Colgano
A Vontade de Fazer Mais
“E 2019 foi um ano bem marcante e glorioso pra gente, foi quando a banda realmente começou a ter um reconhecimento: muitos shows marcados em praticamente todos os fins de semana, às vezes dois por dia. E eram sempre shows bem produzidos visualmente e sonoramente: nós fazíamos uma direção de arte do palco, com decorações, começamos a trabalhar com uma figurinista, que está com a gente até hoje. O rider do palco também era bacana, e a gente criava uma atmosfera vintage-contemporânea bem interessante.
Mas sentíamos falta de algo, principalmente eu, que tinha muita vontade de compor, mas que não conseguia por bloqueio e até mesmo pela falta de tempo/espaço por conta da agenda. Não que fazer interpretações não fosse legal – o som acabava ficando com a nossa cara – mas estávamos em um momento muito criativo, buscando nossa identidade.
Eu já não sabia responder quem nós éramos ou que tipo de som tocávamos… era meio que uma mistura de tudo, então pensava que deveríamos ter algo só nosso. E temos um público bem bacana aqui na cidade e região, que nos acompanha em todos os lugares, e que sempre pedia pra ouvir um som autoral.”, relembra Little B. sobre o período da mudança para o autoral
Little B and the Mojo Brothers Live at Mojo House
Assim chegamos a hora do tão sonhado lançamento do primeiro EP autoral do grupo que traz para si referências do Blues, do Rock, do Jazz e também das experimentações com a música regional. Uma fase interessante de conhecer o trabalho de uma banda justamente porque sabemos que é só o começo da maturação e desenvolvimento das linhas e caminhos criativos.
O primeiro single autoral veio em abril do ano passado, logo após o período de ebulição criativa, e logo depois se envolveram com projetos em parcerias com o SEBRAE-PR e a busca por editais para o desenvolvimento do trabalho com a qualidade desejada. Uma força de propulsão que na pandemia com projetos como a Lei Aldir Blanc mostra como é um respiro para que a arte e a cultura ganhem mais terreno em um tempo onde toda luta é um pouco de respiro.
Além do material que conta com 4 faixas, e corridos 15 minutos de duração, o grupo paranaense tenta traduzir a sensação que tanto nos faz falta: estar à beira de um palco.
A live session tem um clima de estúdio caseiro que lembra a estética dos locais onde as referências do grupo se apresentavam em outras décadas. Tudo isso com frescor, vontade de improvisar e aquele frio da barriga de querer viver dos seus sonhos. Tudo isso com o gostinho de ser só o começo.