Mulamba lança clipe para “Carne de Rã” no Dia de Luta pela descriminalização do Aborto

 Mulamba lança clipe para “Carne de Rã” no Dia de Luta pela descriminalização do Aborto

Frame do Videoclipe de “Carne de Rã”

Há um ano era lançado o EP colaborativo Ventre Laico Mente Livre no qual mergulhou no debate os direitos sexuais e reprodutivos das mulheres em cinco faixas interpretadas por artistas diferentes. Entre elas o encontro entre a banda paranaense Mulamba e a paulista Ekena. Hoje, dia 28 de setembro, Dia de Luta Pela Discriminalização do Aborto, elas lançam o videoclipe para a faixa presente no projeto, “Carne de Rã“. O registro foi dirigido por Helena Freitas.

“Eu nunca abortei, mas já ajudei em vários processos de aborto, isso dentro da minha arrogância, me trouxe a permissão de cantar sobre o aborto”, conta a vocalista Cacau Sá.

“Eu sabia o quanto o meu apoio era importante pra elas e sem questionar ajudava. Ajudarei sempre a acabar com algo que não queiram. Nunca, em nenhum momento, me senti culpada de alguma forma. O abraço do depois cheio de novas possibilidades me blindava de qualquer peso social”, completa a integrante do sexteto Mulamba que também conta em sua formação com Amanda Pacífico (voz), Caro Pisco (bateria), Érica Silva (baixo, guitarra e violão), Fer Koppe (violoncelo) e Naíra Debértolis (guitarra, baixo e violão) 


Mulamba Videoclipe Aborto
Frame do Videoclipe de “Carne de Rã”

Mulamba & Ekena “Carne de Rã”

A sensibilidade para tratar de um assunto tão delicado, inclusive, é marcante no vídeo que conta com as interpretações de Lourdes Miranda, Lia Petrelli e Terená Kanouté.

“A arte é uma forma de sensibilizar as pessoas pra temas que estão presentes no nosso cotidiano, mas que a hipocrisia coletiva faz a gente fingir não ver”, conta Terená. 

“A narrativa semiótica do clipe “Carne de Rã” é sobre isso: a culpa e a invisibilidade sofrida pela mulher, controlada pelas mãos sufocantes do patriarcado”, disserta a diretora do vídeo, Helena Freitas.

As luzes, as interpretações, a semiótica os movimentos e os gestos tratam de passar a mensagem de uma forma clara, sensível e intensa. A fotografia, e o contraste das imagens, reflete sobre todos sentimentos envolvidos. Questionador por natureza, o vídeo apoia a luta pelo direito de ter controle sobre o próprio corpo. A discussão é mais do que válida em um momento onde o país tem passado por conflitos em relação ao tema a nível nacional – e com grande mobilização.



Entrevista: Mulamba

Conversamos com as integrantes da Mulamba e com a diretora Helena Freitas para que elas contassem mais sobre a importância da luta e detalhes sob a concepção do videoclipe.

Como é para vocês lançar uma música sobre aborto em um momento onde a discussão na esfera política em relação ao assunto está a todo vapor e ainda no meio disso tudo tendo os conflitos religiosos e até mesmo existindo um posicionamento conservador de pessoas ligadas ao governo?

Fernanda Koppe (Mulamba): “Pra nós é importante como potencializador da disseminação do assunto e das discussões sobre aborto. Optamos por lançar no dia 28 de setembro que é o Dia de Luta pela Descriminalização do Aborto na América Latina e Caribe. Também é um lançamento delicado porque com certeza vamos receber muitos ataques mas entendemos que eles se diluem quando o espaço vira algo acolhedor pra muitas mulheres que não encontram espaços confortáveis pra conversar sobre isso, muitas vezes por que o seu redor está cheio de moralismos, culpas impostas, julgamentos.

Há muito o que discutir sobre direito à liberdade de escolha de forma segura, sem ser um crime ou até mesmo um pecado. Crime e pecado é submeter as mulheres à tortura física e psicológica que existem em procedimentos clandestinos, em imposições religiosas, em atitudes conservadoras de um governo sem alma e que chegam à extremos que sabemos qual é o alvo principal, corpos negros e periféricos.

Temos muito à aprender, à ouvir, à abraçar, à se aproximar de universos que estão mais próximos do que imaginamos. Há urgência nisso. Tem muita culpa pra tirar e muito direito de escolha pra conquistar. É sobre entender que cada pessoa tem suas vivências e visões, é sobre não machucar mais ainda deixando o aborto no espaço de crime, que gera lucro pra alguéns. É sobre entender que Deus está com essas mulheres, muito além das interpretações impostas. Sobre se unir quando nos deparamos com governos como o atual e que a gente faça dessa união essencial um levante de pautas importantes pra seguir e descobrir juntes como podemos nos potencializar como pessoas e de fato transformar vidas.”

Recentemente tivemos o caso da menina menor de idade violentada por um familiar que houve comoção popular e no meio de uma pandemia proporcionou embates tanto nas redes como na porta de um hospital onde foi realizado o procedimento. Como foi no meio disso tudo compor e ouvir todas as vozes de mulheres que passaram pela situação?

Fernanda Koppe (Mulamba): “Essa música fora composta há muitos anos, os gritos seguem os mesmos.

De um lado vozes criminalizadas, do outro vozes acusadoras, nada mudou nesses anos a não ser o fato inegável de que precisamos falar sobre a legalização do aborto.

E sobre a hipocrisia do homem que criminaliza e julga o aborto mas que muitas vezes mata sua paternidade com abandono e descaso.

Não são eles que morrem, não são eles que recebem ataques pós estupro. E a vítima em vez de receber amparo, amor, cuidado, vira o alvo e é violentada duplamente, pelo abusador e pela sociedade.

Contem mais sobre a produção. Aliás o clipe é repleto de simbologias e personagens, gostaria que contassem sobre.

Helena Freitas (Diretora do Clipe): “Por que o Estado controla nosso útero? É revoltante o Brasil considerar como crime algo que deveria ser tratado como Saúde Pública.

A narrativa semiótica do clipe “Carne de Rã” é sobre isso: a culpa e a invisibilidade sofrida pela mulher, controlada pelas mãos sufocantes do patriarcado de um país falsamente laico.

Os símbolos para construir as imagens, do potente manifesto musical da Mulamba & Ekena, foram a Ave Maria, a mulher escolhida para ser mãe, se transformando contra sua vontade no símbolo da Justiça, denunciando que nosso país não é Laico; a menina embalada no plástico, representando o sentimento de sufoco e posse descartável que somos obrigadas a sentir.

A música diz “ ó Mãe de Anjo, olhai por mim”, mas em nenhum momento a imagem da Ave Maria olha para a dor da mulher em sua frente, nem quando ela é transformada em Justiça, já que está vendada. Somente quando colocamos fogo no processo criminal, a Justiça ganha forças para tirar as vendas e ENCARAR tudo o que estava acontecendo: quantas mulheres mortas ou encarceradas ela condenou por ser controlada por homens brancos?

Quando a Ave Maria/Justiça finalmente olha para quem a está chamando, ela se liberta e se transmuta em uma verdadeira Mãe, usando um vestido verde, que é a cor da luta da descriminalização do aborto na América Latina, data comemorada dia 28 de Setembro.

O intuito também era que as imagens transmitissem a mensagem de que as brasileiras não estão sozinhas nessa luta, há uma rede feminista de ONGs e projetos que podem e querem apoiá-las.

Afinal, a liberdade está na voz, no canto, na arte do grito unido de nós mulheres, para nos curar e acolher a si mesma e as outras, com dança, fogo, terra, amor e mudança política. Fogo nas condenações! Liberdade, saúde e poder de escolha sobre o próprio corpo para todes.”

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