Num país que pratica o genocídio do povo preto, celebrar o amor através do olhar de mulheres pretas é devolver simbolicamente o direito de amar e ser amada. Acenda a luz é composição de Doralyce que celebra o amor, invocando ferramentas de auto-estima que acende a luz do auto-cuidado pondo em prática o amor como ritual de devoção, a si ou ao outro.
Trazendo o afeto dentro do universo das relações pretas como algo a ser cuidado, celebrado, praticado e representado na canção, a compositora traz a tona todo um sentido que lhes foi negado historicamente e oferece ao público um clipe visualmente acolhedor indo de acordo com o ritmo e sonoridade criado em colaboração com DJ Thai.
O clipe aborda o amor, o toque e o empoderamento do corpo feminino vencendo qualquer opressão pela valorização e respeito dos corpos em suas formas singulares, que se conectam através do culto aos rituais diários simples e íntimos de zelo e de olhar transbordando na relação com o outro, construindo um universo pessoal doce, sensível e necessário nos dias de hoje.
Com a canção intuitiva e sensorial o espectador mergulha nas cores e na fotografia do clipe. É retratado a simplicidade e a riqueza dos detalhes da convivência que traz o dormir, acordar e construir a rotina familiar ao lado de alguém.
Esse detalhismo cuidadoso fica bem tratado na visualidade do primeiro clipe da faixa interpretada por Doralyce junto a sua companheira Bia Ferreira e, produzida musicalmente por dj Thai, faixa esta que que ganhou duas versões de clipe.
A versão interativa está sendo criada com construção colaborativa pelos canais de redes do Coletivo Colmeia22, através das imagens de afetos entre o público e celebridades da cultura nacional. E, a versão oficial do clipe feita de forma independente através da realização do Colmeia 22 e teve co-produção do coletivo Fuligem retratando a vivência amorosa entre essas grandes artistas e mulheres pretas.
Conversamos com a Doralyce para saber mais nuances sobre o lançamento.
Doralyce: “Pensei em falar sobre um amor leve, amor Afrocentrando, entre duas orixás.
O ato de acender a sua luz própria , de se amar, se aceitar. E acender a luz da outra, valorizar suas particularidades, traços, sonhos. O amor cura, o amor preto cura. Amar uma mulher preta é um ato revolucionário.”
Doralyce: “Sobrevivendo ao caos. Se já era difícil trabalhar num mercado excludente para mulher, preta, nordestina, bissexual, gorda, imaginaaaaaaaa na “Pandewhitecrazy”. Vulgo pandemia.
As dificuldades aumentaram, e a minha tecnologia de sobrevivência “Dassalu” tem salvado nossa família. Eu sou compositora de ofício, tenho mais de 400 músicas. Escrevi Miss Beleza Universal, a versão feminista da música Mulheres , me perguntaram por que, a democracia.
Sou trilha sonora das manifestações, do Dia da mulher, Dia da Mulher Negra e Latino Caribenha, Dia da Consciência Negra, todo dia 14 a gente se pergunta quem mandou matar Marielle Franco, e mais uma vez as minhas palavras são a denúncia.
Eu não posso parar de escrever porque não falo só por mim, sou a voz de muitas vozes.
Tenho muito mais a dizer. Ser obrigada a ficar em casa potencializou as minhas antenas com o astral pra ser canal das mensagens. A pandemia colocou uma lente de aumento sobre tudo que vivemos. Ferramenta pra minha escrita. Vamos derrubar o governo! Vamos destronar o patriarcado. O homem branco não é inimigo, mas o que ele representa no sistema é o símbolo máximo da opressão. Vamos tirar o poder dos homens brancos. Acabar essa white-depressão-geral.
O afrofuturo é possível. Quero vida nova. Chega de sobreviver, quero viver!”
Doralyce: “Eu sou idealizadora da Colmeia22, trabalho com um time de mulheres incríveis, multidisciplinares, que somam forças para multiplicar nosso alcance na arte. Nossa relação com o mercado está na inovação de um novo modelo de negócio com base em Dassalu.
As pessoas que trabalham com a Colmeia22 estão na luta para acabar com a opressão racial, de gênero e classe. Cada vez que entramos em um projeto a gente aproxima o Afrofuturo do agora.
A Colmeia22 é o escritório da música criado por artista para artistas do Afrofuturismo e Etnopop. A gente tá construindo um futuro mais isonômico e longe do ambiente de exploração que é o clima geral do mercado da música.”
Doralyce: “Não pensei sobre o mal olhar ou pensar do outro. Nós crescemos sobre o olhar furioso dos racistas, sexistas, num universo de misoginia que mais nos encolheu que expandiu.
Descolonizei o pensamento, não me norteei. Tive um pensamento sular, resolvi sulear o meu olhar na conexão com o Afrofuturismo, a realidade construída sendo exposta passa a ser verdade. Então duas orixás se encontram, se enamoram, e unem forças para criar um espaço seguro de amor numa atmosfera sem máculas do patriarcado.
Isso é o Afrofuturo, assim como meu nome que significa Dádiva, Presente, o presente é agora.”
Doralyce: “Acho que todo mundo que consome música tem tido oportunidade de se conectar mais ( quem tem acessibilidade digital).
Com a pandemia muita gente está sem trabalho e não tem qualquer meio de acessar .
As respostas sobre pandemia sempre são sobre dois olhares: de quem sobreviveu e quem tá tentando sobreviver. Tenho uma sensação que o público está com um acesso maior e tem gozado este espaço. Nunca troquei tanta ideia com as fãs, tem sido muito bom pra mim ter esse espaço com elas. Mas muitas das trocas são sobre acalmar pessoas desesperadas com suas condições de vulnerabilidade. Muita gente me escreve falando que a minha música salvou a sua vida. Eu só faço arte por isto. Para me salvar e salvar vidas.”
Doralyce: “Dassalu é a resposta.
Nossas negociações e posicionamento com o mercado mudou abruptamente após a implementação da tecnologia. É melhor realizar menos trabalhos satisfeita, que vários frustrada. O mercado não vê gente, vê números.
A Colmeia22 faz o trabalho de humanizar a relação antes de qualquer troca, isso é um requisito de inovação que me dá tranquilidade de entregar os projetos nas mãos de mulheres tão comprometidas e engajadas. Estou muito feliz com o resultado de Acenda a luz , vitória para nosso povo. Um respiro de paz.
O banco do meu repertório com umas 400 canções está na Colmeia22 e, eu me sinto tomando um espaço novo porque sei que sempre será pensada a melhor maneira de me valorizar como artista. Uma sensação especial de cuidado.
Estou esperançosa nessa mudança de status quo, e que daqui pra frente estejamos cada vez mais próximas da queda do patriarcado e do Afrofuturo.”
Composição: Doralyce
Intérpretes: Doralyce e Bia Ferreira
Produção Musical: Dj Thai
Direção de Produção: Luna Coral
Produção Executiva: Ana Acioli
Identidade visual: Niyate Queiroz
Realização: Colmeia 22
This post was published on 28 de agosto de 2020 2:06 am
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