Nos últimos dias a Mulamba lançou em parceria a DJ e produtora musical BadSista um remix de “Espia Escuta”, faixa do álbum de estreia da banda, Mulamba (2018) – (Leia Mais), ponto alto nos shows. O funk ganhou batidas eletrônicas e um ritmo todo dançante resgatando a alegria e catarse dos shows e levando direto para a pista de dança.
A movimentação claro é um movimento para alcançar ainda mais um público maior e deselitizar o consumo de cultura no país como leremos em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos.
“A gente quer que esse remix chegue nas pistas das festas, nas quebradas com a força que a música merece. Queríamos que ela fosse trabalhada por alguém que desse esse peso que precisava, então pensamos que ninguém melhor do que a BadSista que, para gente, é referência de produção musical eletrônica e principalmente ícone quando se trata de música para botar a raba pra dançar”, explica Amanda Pacífico.
“Aproveitamos que estamos em quarentena para incentivar a galera que tá em casa a arredar os móveis e fazer seu passinho na sala, com o cu e seu poder sensacional”, brinca, em referência à letra da música.
“Foi muito especial quando fui chamada pois, como artista emergente, receber esse convite e palavras de admiração de artistas importantes é muito especial, muito mesmo. E pra mim, é como se fosse um ponto de encontro onde tudo faz sentido dentro do meu trabalho. Não é fazer por fazer, é fazer porque acredita.
E acredito principalmente na força que temos quando criamos esse grande organismo com mulheres LGBTs, falando sem medo e com muito talento. A conexão e o apreço ganha mais peso. Espero estar nesse momento de troca e me ‘embucetar’ mais uma vez com elas”, relembra BadSista
“Assim que as meninas me falaram sobre o remix, achei importante que ele tivesse algum tipo de material audiovisual e que dialogasse com a música, mas não de uma maneira super literal. Por isso, escolhemos a dança freestyle, mostrando um pouco das diferenças das personagens e o ponto onde elas se encontram, que é na dança. A música e a dança andam uma do lado da outra, acho legal uma arte endossando a outra”, explica Futata.
Conversamos com a guitarrista Érica Silva que contou mais sobre a colaboração, a experiência, repercussão e mais sobre o atual momento vivido por todos.
Mulamba: “Não é à toa que “Espia Escuta” finaliza o show, essa música é uma celebração, é um convite pros corpos se soltarem e dançarem da forma que acharem melhor.
No entanto sentíamos falta de um elemento eletrônico, trazer mais a característica do funk, do “batidão” mesmo em contraponto com os elementos orgânicos já presentes e a BadSista foi o primeiro nome que veio a cabeça, há tempos já existia a vontade de trabalhar com ela e amamos o resultado final, trouxe peso, sustento, agregou de maneira equilibrada uma personalidade difícil de explicar, algo com um certo deboche, uma rispidez de quem avisa uma transformação que rechaça os padrões. E aproveitamos pra convidar as pessoas, que nesse momento pandêmico que estamos vivendo, se movimentem em casa, enviem pra gente suas danças na sala, na cozinha, a gente quer muito ver essa celebração acontecendo.
Mulamba: “Alcançar vários públicos, principalmente os que possuem menor acesso a essa movimentação cultural é o que mais desejamos e lutamos pra conseguir.
Estar nos grandes festivais, nos teatros é importante mas queremos ir além, descentralizar o acesso a música e poder chegar nas periferias, fazer essa efervescência cultural acontecer de maneira contínua fora dos centros e de uma maneira que se comunique com as pessoas, que fale da sua realidade e o mais importante, encontrar meios para que a arte periférica também seja vista.
Cacau uma vez disse, o melhor palco é a rua e esse movimento necessário pra dialogar com as pessoas, pra além de descentralizar pode “deselitizar” a arte.”
Mulamba: “Antes de tudo a gente não pode ficar parado esperando algo parecido acontecer. Queremos sempre nos espalhar e já o fazemos independente de chegarmos ou não aos holofotes da TV brasileira, temos a internet que é uma ferramenta muito poderosa e nela podemos decidir com mais autonomia quem somos, como nos difundimos e mantemos um contato bacana com o público.
Ao mesmo tempo, pensando que existe uma certa hegemonia no mainstream, é sempre muito extraordinário quando artistas e músicas que compõem um lado mais diversificado dentro do mosaico da música brasileira conseguem abalar essa estrutura e falar com todas as pessoas que compõem o também diversificado mosaico da sociedade brasileira.”
Mulamba: “Todas (risos). Nos últimos shows temos feito uma versão de “Mulamba” que começa com um beat desdobrado que traz um clima interessante, penso que ela seria bacana pra ganhar esse novo arranjo de uma beatmaker. Caro, Naíra e Érica fizeram um mashup nas últimas lives de “Mulamba” com “Don`t Start Now” da Dua Lipa, poderia ser uma terceira versão lúdica e com mais suingue (risos).””
Mulamba: “Isso é uma situação extremamente angustiante. As mulheres são muito sujeitas ao trabalho informal, sendo assim houve um aumento no número de mulheres dependentes financeiramente de seus companheiros, isto é, além da violência existe ainda uma falta de recursos para quem está presa nessa situação.
Precisamos urgentemente começar a falar e debater sobre isso, usando as ferramentas da comunicação, pensarmos em alternativas e encorajar a denúncia.
Aliás, se torna complicado e até irritante pensar que vivemos todas essas dificuldades e temos um governo do nível “E daí”.
Um governo que não busca medidas e soluções para encorajar e assistir as milhares de mulheres que diariamente passam por abusos e violações, em muitos estados as delegacias não estão disponíveis 24 horas, faltam canais diretos e inteligentes de denúncia, falta acompanhamento e assistência às vítimas, falta conscientização, falta a presença daqueles que não fazem seu trabalho.
This post was published on 30 de abril de 2020 10:10 am
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