Minor Alps

Tripa Seca incorpora o espírito do boteco em novo clipe

Velhos amigos, grandes histórias. Seria uma ótima maneira de introduzir o supergrupo formado por Marcelo Callado, Renato Martins, André Paixão (Nervoso) e Melvin Ribeiro, músicos veteranos da cena musical carioca. Tripa Seca também sintetiza a magia dos encontros até por isso definir seu som acaba se tornando um desafio a parte.

O que sustenta a Tripa Seca é sua combinação anárquica e envolvente que mistura psicodelia, Jovem Guarda, latinidades e até mesmo referências de Nick Cave. Com dezenas de projetos vale destacar Acabou La Tequila, Lafayette & Os Tremendões, Carbona, Caetano Veloso e Nina Becker, visto que eles nunca pararam. Destes encontros, e trocas musicais, a Tripa Seca finalmente após três anos de gravações entrega seu disco.

“A música é um grande lugar de encontros. Ao longo da vida, meus projetos musicais sempre foram isso. Meus melhores amigos se tornavam uma banda, ou então, ao escolher alguém para fazer música, essa escolha acabava criando laços afetivos.

Vejo a música como algo ritualístico nessas relações. É a cerveja antes ou depois do ensaio, do show, é a experiência de uma viagem juntos. É essa construção coletiva que dá sentido à arte, ao mesmo tempo em que faz dela algo tão poderoso”, conta Martins.


Tripa SecaFoto Por: Jenner

Tripa Seca!

O álbum teve produção de Paixão, o Nervoso, com co-produção de Martins e Callado. O registro conta com participações especiais de Fernando Bastos, Fernando Oliveira e André Dessandes. Ouça no Spotify!



Premiere: “Vai Que Eu Vou”

Com direção geral da atriz Guta Stresser (eterna Bebel de A Grande Família) e Mariana Cardin, direção de fotografia de Bruno Baketa e Giuliano Robert, fotografia still de Christiano Akio e diversas participações especiais é lançado hoje o videoclipe para “Vai Que Eu Vou”.

O brega e a lambada dão o ritmo da canção que teve como cenário um boteco raíz. Com direito até a karaokê, luz piscante e atuações para lá de cômicas. Entre um rastapé e um copo que se esvazia, o ritmo caliente comanda a pista de dança improvisada.


 


Entrevista

Conversamos com o Tripa Seca para saber mais sobre o poder destes encontros.
As histórias são ótimas, confira!

Como se conheceram e quais histórias mais engraçadas de shows?

Melvin Ribeiro: “Eu conheci o Nervoso no começo do Carbona e o Renato e o Marcelinho quando montamos os Tremendões, depois Lafayette & os Tremendões. São milhares de histórias engraçadas (teve o dia que o Renato jogou água nas velhinhas na primeira fila num show num cinema de madrugada!), mas definitivamente nenhum dia ou show ruim. Talvez nos primórdios do Acabou La Tequila?



Sobre a naturalidade deste grande encontro, visto que ambos colaboram sempre…

Totalmente natural. Lembro dos três confabulando sobre a banda num show do Tremendões em Porto Alegre, e eu doido pra ser chamado. Acabei sendo convidado pra gravar os baixos e nunca mais saí.”

Como é para vocês misturar com tanta facilidade tantos estilos?

Melvin Ribeiro: “Sobre a mistureba ritmica de velhos amigos que quando se juntam tocam de tudo…
Sobre como é misturar no mesmo disco música latina (e sua invisibilidade no Brasil) e Nick Cave como influências ao mesmo tempo

Acho que quando a gente se junta pra tocar, nenhum som está fora de cogitação. É normal alguém mostrar uma música calcada no brega e na mesma sessão encaixar um hardcore. Tem um vocabulário razoavelmente grande que a gente transita, sem que nada disso soe pra gente como forçação de barra. Música latina e Nick Cave, esses exemplos, são duas coisas que eu costumo escutar. Acho boa a mistura.”

Sobre a produtividade e dezenas de projetos…

Melvin Ribeiro: “Eu hoje em dia tenho meu lance solo, o Melvin & os Inoxidáveis (saiba mais), o Carbona ainda lança discos e faz shows, ainda que numa regularidade meio louca, e eu tô sempre envolvido em mais coisas. Mas acho que o recorde é do Marcelo.”

Como observam as mudanças no mercado fonográfico nos últimos 30 anos?

Melvin Ribeiro: “Muita coisa mudou, mas a gente fez questão de prensar o álbum em CD. Muita coisa, mas nem TUDO mudou, né? O disco acaba chamando atenção, e também curto mais o físico que o digital. No fim das coisas, mudou tanto que ter um CD é um diferencial!”

O projeto demorou um tempinho para sair, rolou de forma orgânica?

Melvin Ribeiro: “Ele é orgânico a partir do momento que a gente se encontra, e aí flui maravilhosamente, mas até chegar ao encontro pode demorar pra caramba. A gente mora meio distante dentro da mesma cidade, e acaba ficando mais próximo através da comunicação virtual. As músicas são trabalhadas à distância, antes ou depois do encontro em si, e vamos trocando ideias ao longo do processo.”

Os Encontros & a Amizade

André Paixão (Nervoso): “Somos amigos há décadas e, juntos, transitamos por diferentes bandas e projetos. Alguns me fogem da memória e retornam através de fotos nas mídias sociais. Vivo pensando “caramba… tinha apagado essa noite completamente da minha memória”.

Foi o caso de um projeto que tinha o Melvin na banda, em que tocamos um tributo ao Nirvana no Cine Iris, na festa Loud. O Cine Iris é um cinema antigo localizado no centro do Rio onde, durante o dia, rola filme de putaria e strip teases. Lembro que ninguém gostava muito de sentar nas poltronas e então o publico ficava meio que em volta dos assentos.

A primeira vez que toquei com o Renato foi no Acabou La Tequila em 1995 num palco que montaram em frente ao cinema. Lembro de me deparar com pessoas saindo no meio da sessão, putas da vida por conta do barulho (imagine uma banda com duas baterias) tocando num ambiente sem isolamento acústico.

Acho que foi a primeira vez que o Marcelo Callado nos encontrou. Não nos conhecia. Lembro que ele comenta sobre esse show até hoje. O Renato morou no mesmo prédio que eu, em Botafogo, durante uma época louca de nossas vidas. Tínhamos praticamente virado pais juntos, estávamos meio perdidos, porque o segundo disco do Tequila foi “censurado” pela gravadora (na época, Abril Music).

Tremendões

André Paixão (Nervoso): “Numa tarde, desci no apartamento dele para sugerir que montássemos uma banda que homenageasse as músicas de Roberto e Erasmo. Foi bem o início dos Tremendões em 2002.

Uma história bizarra que pouca gente sabe é que eu achava que esse nome era super original, como uma homenagem ao Tremendão Erasmo Carlos. Mas eu não sabia ou lembrava que ele tinha uma banda com esse nome.

Tivemos alguns problemas por conta disso, com o próprio Erasmo, inclusive, que não curtia a ideia. Mas conseguimos convencê-lo de que a coisa era por amor, uma homenagem de fãs, ainda que homônima. Teve uma banda de Minas Gerais também homônima que entrou com um processo contra gente, mas se deram mal, inclusive.

O Marcelinho Callado foi meu braço e alma na produção do meu primeiro EP como artista solo independente. Chamava-se Personalidade. Com ele, produzi a primeira versão de “O Bom Veneno”, parceria minha com o Renato (a música é mais dele inclusive, que escreveu toda a letra).



Como a gente queria uma pegada meio Tom Waits, experimentamos montar um ambiente percussivo com sucatas que catamos na oficina do pai do Arnaldo Brandão ali do lado do estúdio Hanoi, em Botafogo. Grande momento. Daria pra estender em dezenas de parágrafos, tamanha quantidade de histórias que temos em comum.

Lembro que o Marcelo quebrou um galho como batera dos Calmantes em 2005, quando tocamos com os Los Hermanos no Canecão. O Caetano estava de olho nele pra montar a Banda Cê e foi lá nos assistir. Deu certo. Marcelo tocou endiabradamente nesse show.

Tem um registro em vídeo nesse link:

This post was published on 28 de outubro de 2019 12:38 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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