12 anos de estrada e em constante mutação. Esse é o DNA do Holger que neste fim de ano turbulento nos estende a mão com o simples, reto e direto Relações Premiadas. Mesmo flertando com diversos estilos, eles sempre conseguem agradar aos ouvintes que (ainda) se emocionam a cada lançamento do Superchunk, Pixies e Guided By Voices.

Relações Premiadas recai como aquele abraço que todos estávamos precisando após esse desgaste político e suas melancólicas consequências. Sim, toda derrota deixa um nó na garganta, um gosto amargo e causa uma revolução interna. Após enxugar as lágrimas é necessário recolher os cacos, levantar a poeira e defender o que acreditamos.

O disco é sobre isso. Se levantar, gritar, bradar e mostrar que não estamos sozinhos. O quarteto formado por Bernardo Rolla (vocal, percussão, guitarra, baixo), Marcelo Altenfelder “Pata” (guitarra, vocal), Pedro Bruno “Pepe (baixo, vocal, percussão, teclado e guitarra) e Marcelo Vogelaar “Tché” (vocal, guitarra) lança seu quarto álbum através do selo independente Balaclava Records.


Holger. – Foto Por: Henrique Tarricone

Holger – Relações Premiadas (09/11/2018)

Após lançarem The Green Valley (2008 – EP), Sunga (2010), Ilhabela (2012), Holger (2014) eles em julho de 2017 se reuniram em um sítio para gravar ao vivo o que seria seu quarto álbum de estúdio. O registo foi gravado pela banda em parceria Gui Jesus, do estúdio Canoa, onde foi finalizado.

Mas nem tudo em Relações Premiadas é sobre política. Ao longo de seus 25 minutos assuntos do cotidiano como família, trânsito, filhos, falta de tempo, trabalho, falta de grana são lembrados. Frustrações, alegrias e consequências de se viver em uma (insana) grande metrópole. Onde a arte tem o poder de inspirar e nos faz continuar a persistir em nossos sonhos.

Mensagem positiva essa que mora no coração de “Coragem”, a mais “pop” do registro. As pressões sociais, consequências, dilúvios, relações incompreendidas, saudosismo e celebração também são ingredientes do disco que se não cansa de brincar com as guitarras.



“Não Posso Aceitar” chega leve com guitarras lo-fi, ambiências e mostra o poder das trocas humanas. Estende as mãos aos amigos quando o barco está prestes a afundar. Poderia até se chamar “Ninguém solta a mão de ninguém”. Seu instrumental me lembra Peter Björn and John e Pixies.

A rotina ganha melodias em “Preciso Dormir” e parece viajar pela espiral dos sonhos – e sua necessidade de existência. Em tempos onde somos escravos de uma rotina, sonhar muitas vezes parece ficar em segundo plano. Vivemos nossos sonhos ou o dos outros?

As guitarras mais barulhentas – e noventistas – ganham luz em “Não Vou Me Distrair”. Thurston Moore, Lou Barlow‎ e Stephen Malkmus com certeza dançariam felizes essa canção. Até as caricatas frases de banheiro ganham versos em uma canção que busca pela a cura de nossa (in)sanidade.

Em tempos onde tememos pelo futuro e o retrocesso, “Coragem” nos pega pelos braços e nos diz tudo aquilo que precisamos ouvir. Confusão, fragilidade, insegurança e apoio ganham reforços de guitarras e backin vocals certeiros. Uma faixa que celebra a amizade, valoriza as conexões e estende a mão em meio ao caos.

Já “Labirinto” me lembra algo que o The Clash faria sem pensar duas vezes. Nos leva para a disco music mas trazendo elementos de mistura. Ela é envolvente e definitivamente não deixa ninguém parado. É a hora de “balançar as cadeiras” enquanto “refresca a alma”. Celebra os novos tempos e sorri para o que estar por vir.

A sexta, “Se Não Der Mais”, retrata sobre a dificuldade em se adequar aos papéis esperados por você. Pressão social, desconforto, ansiedade e depressão. O peso das coisas e as cargas negativas que tudo isso pode causar. Feridas estas profundas que muitas vezes acabam entaladas na garganta. Este por sua vez: o maior crime.

A cena em constante mutação – e a nostalgia – é o grande tema de Perdizes. Que tem até um verso dedicada a finada NEU, reduto indie do começo da década. A balada é um reflexo de nossos tempos, repleto de pequenas mudanças, reciclagens e saudosismo.

Uma das mais profundas é “Tudo Vai Mudar” que nos convoca direto para o front. Cheia de esperança, o mundo dos sonhos é mais uma vez evocado, e o desejo de transformar lágrimas em resistência se faz presente.

É sobre recarregar energias, traçar planos e seguir em frente. Tendo a convicção que nada vai ser igual e que cada batalha será penosa. Onde para todo recomeço é necessário ter força, equilíbrio e positividade.

Quem tem a missão de encerrar o álbum é justamente “Difícil Pra Você” que resume a vida de milhares de jovens que quebram a cara todos os dias tendo empregos ruins e vivendo pelos fins de semana. Entre ressacas e noites mal dormidas, a pergunta que fica é: vale a pena?

Um desabafo sobre as pequenas irritações – e frustrações – do dia-a-dia de uma insalubre metrópole. Onde muitas vezes nos perdemos em monólogos – e na falta de empatia. Com essa “patada”, riffs de guitarra e barulhos…o disco se encerra com berros de “Você Não Tava Lá”.



O quarto disco do Holger, “Relações Premiadas”, é cirúrgico e dialoga com facilidade com o cidadão comum de uma grande metrópole. Que sofre com a pressão de se enquadrar no que é esperado dele mas que tenta viver intensamente todas relações.

Entre nostalgia, compaixão, insegurança e dilemas, o álbum tenta olhar para frente em tempos individualistas e de tensão. Onde o retrocesso veste verde e amarelo e as liberdades estão ameaçadas.

This post was published on 22 de novembro de 2018 9:50 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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