[Premiere] O equilíbrio do “Yin Yang” se sobressai no split conjunto do Bayside Kings & Mais Que Palavras
Estando próximo do segundo ato do Hardcore Contra o Fascismo, que acontece neste domingo (21), as bandas Bayside Kings e Mais Que Palavras se unem para lançar um EP em conjunto. Ou melhor dizendo, um split.
O título de cara escancara. Tem o peso do ódio e a leveza da paz de espírito mesclados. Não é por menos que logo em seu título temos Ying Yang.
“A ideia é mostrar as duas bandas falando sobre a mesma coisa – o questionamento interno, só que com intensidades em lados opostos.
O Mais Que Palavras vai apresentar um som melódico com ideias positivas, enquanto o Bayside Kings mostrará um lado mais selvagem, totalmente agressivo, com letras beirando ao pessimismo com ponto de retorno de esperança e auto evolução”, conta Milton Aguiar, vocalista do Bayside Kings de Santos (SP)
Se o ódio era velado e o fantasma do fascismo apenas aparecia de tempos em tempos nas páginas dos jornais – e em programas “humorísticos” – nos últimos meses ele tem conquistado um espaço perigoso dentro das manifestações políticas. Onde políticos e seus seguidores esbravejam palavras de ódio, racismo, homofobia e descriminação a céu aberto. Mais que palavras, o que tem acontecido é uma série de ataques a quem se mostra contra a onda de ódio. E o pior de tudo isso: passam impunes!
O Bayside Kings marcou presença durante o primeiro ato e as bandas do segundo ato estão sendo anunciadas aos poucos no evento oficial. Confira abaixo o manifesto assinado pelas bandas.
“Nesse momento obscuro que passamos no Brasil, é necessário que a gente da cena hardcore-punk se manifeste contrário a essa onda fascista que vem nos assombrando, impulsionada por tudo o que diz em redes sociais e mídia o tal “mito” Bolsonaro.
O deputado de extrema-direita se diz abertamente contra os Direitos Humanos e já disparou diversas declarações de cunho antidemocrático, algumas delas transformadas em promessas de campanha inconstitucionais; Cresceu politicamente com um discurso populista autoritário que alimenta o ódio, abusando da disseminação de informações falsas de viés sensacionalista; Se utiliza frequentemente da sua garantia de imunidade parlamentar para fazer menções elogiosas, ou no mínimo questionáveis à crimes como o estupro, lesão corporal, homicídio, sonegação de impostos, tortura, além das rotineiras ofensas e ataques a mulheres, pessoas negras, LGBTIs, quilombolas, indígenas e imigrantes; E defende a existência de duas categorias de pessoas, os “cidadãos de bem” e os “bandidos” (às vezes chamados de comunistas, PTistas, esquerdistas, maconheiros, vagabundos…) prometendo aos primeiros proteção e privilégios e, aos segundos, a prisão e a morte – de modo que o candidato não é nem tão patriota, honesto ou cristão como gosta de se afirmar, não sendo exagero chamá-lo de fascista.
Se já temos que lidar no dia-a-dia com a desconstrução sobre nossas ações, imagina para um grupo de pessoas que agora tem aval para falar o que quiserem e exporem suas idéias de ódio.
Será um show diferente, com bandas tocando 3 músicas cada e trazendo no seu discurso todo repudio a essa onda fascista, é hora de união contra esse levante fascista e nos preparar para uma batalha contra o fascismo que só está iniciando.”
O Split
Para divulgar o Split que sai nesta sexta-feira (19) via Hearts Bleed Blue, em parceria com a AWAM Records, as bandas disponibilizaram no mês passado dois videoclipes. “Tired of this earth” e “Supostamente separados”, respectivamente do Bayside Kings e do Mais Que Palavras.
O videoclipe de “Tired Of This Earth” tem direção de João Bonafé e Murilo Amâncio, enquanto “Supostamente Separados” é dirigido, filmado e editado por Mamoru Yamamoto.
“É uma alusão a HQ Watchman, onde um personagem chamado Dr. Manhathan fica cansado da cobrança da humanidade e do egoísmo do ser humano e procrastina os problemas para ele resolver, decidindo se mudar para Marte.
É como eu me sinto com a procrastinação do próximo, e isto me desamina, me coloca em xeque, me deixa cansado das regras que fomos condicionados”, diz Milto sobre o single “Tired of this earth”
“Estamos extremamente animados e cheio de energia para colocar nesse projeto com nossos amigos de longa data. Temos uma coisa muito forte que nos mantém ligados, a certeza de que precisamos melhorar como pessoas para poder mudar o mundo. Nossa intenção sempre foi concretizar e aplicar tudo o que o hardcore punk nos ensinou, e fazer disso mais que palavras”, revela Fil Braga, guitarrista do Mais Que Palavras
“Lembra que somos parte de um ecossistema muito sensível, uma cadeia de interdependências de um organismo formado por cada um. Somos ao mesmo tempo individuais e coletivos.
Lembrar disso reforça que cada ação direcionada ao externo é igualmente direcionada ao interno, já que não temos como nos desconectar do todo”, afirma Fill Braga do Mais Que Palavras sobre “Supostamente separados”
Bayside Kings & Mais Que Palavras – Ying Yang (19/10/2018)
Sobre o EP Teteu, guitarrista do Bayside Kings, comenta que a banda “está com guitarras mais agressivas e ao mesmo tempo com melodia. A bateria também ficou mais rápida. Acho que o pessoa que escutar vai curtir o som, tá bem sincero.”
Já Milton é mais enfático e logo diz: “É o hardcore como deve ser: rápido, energético, questionador e selvagem. “O Yin Yang” é a consolidação de duas bandas com um ótimo som e com substância nas mensagens, prato cheio para qualquer amante de hardcore punk.”
Com raiva, entre berros e intensidade nos vocais, quem chega atropelando – e abrindo o split – é o Bayside Kings com a arrematadora, reta e direta “Sad But True, Your Fuckin Scum”. Exalando ódio e mostrando o lado mais bruto e visceral do ser humano.
Segundo Milton “Esse som é um dedo no olho das pessoas que sempre usam o discurso negativo para te colocar no canto e te encurralar para ver o seu pior lado aflorar. É um som direto na cara das pessoas negativas”
Em seguida temos “Tired of this earth” que tem o peso do hardcore nova iorquino e atitude de contestação em frente a apatia. O que resulta na vontade de fugir para bem longe. Fãs de Cro-Mags irão aprovar.
“Against the tide” chega com muita energia, potência e sangue nos olhos para em seus pouco mais de 90 segundos dar conta do recado. O sentimento de ir contra a maré e do senso comum como forma de resistência e existência. Mensagem tão positiva que deveria ser definitivamente ecoada na próxima semana com a proximidade das eleições.
Após a pedrada do Bayside Kings quem chega com acordes mais melódicos são os caras do Mais Que Palavras de Brasília (DF). Nem por isso o peso e a dor da opressão são deixados de lado. Muito pelo contrário, eles são lembrados em “Deixe ser livre”, que combate a violência – e estupidez – dos “justiceiros” tão comuns em nossos dias.
O espírito do 7 Seconds ecoa em “Nenhum Suspiro” que fala sobre autoconfiança e PMA. Em pregar o amor e ser um ser humano digno com todas as pessoas ao nosso redor. Oferecer aos outros o mundo que gostaríamos de também poder usufruir, feito a lei do retorno.
“Supostamente Separados” já traz aquele espírito reto e direto do hardcore punk noventista. Não é a toa que a temática é justamente o equilíbrio entre nosso sentimento de coletividade e o individualismo. O controle da mente é questionado e a letra discorre:
“Revolucionário é todo aquele que quer mudar o mundo / E tem coragem de começar por si mesmo / não é possível fazer mal ao outro / sem fazer mal a si mesmo / a separação é uma ilusão / supostamente separados”
Em tempos obscuros de ódio e intolerância sendo equalizados por todos os cantos do país o split, Yin Yang, do Bayside Kings (SP) em parceria com a Mais Que Palavras (DF), lançado nesta sexta-feira (19) via Hearts Bleed Blue, em parceria com a AWAM Records, mostra as duas faces do ser humano e como o equilíbrio o mantém de pé.
Se o hardcore é resistência e atitude, o que não falta no registro é o comprometimento em passar ao longo das seis canções um pouco do espírito de transformação. Seja ela através do expurgo, da contestação ou da positividade. Agora é esperar, mobilizar e torcer, para que o equilíbrio vença o o ódio – e o fascismo – nas urnas no próximo domingo.