Estamos a poucos dias do primeiro turno das eleições onde serão eleitos representantes para assumir os cargos de Presidente, Senador, Governador, Deputado Federal e Deputado Estadual.

Em tempos de polarização política, ou ao menos tentam “criá-la”, é notório o crescimento candidatos trazendo discursos conservadores, outros até contendo racismo, homofobia, misoginia, preconceito religioso, xenofobia, discurso de ódio entre outras atitudes definitivamente reprováveis. Estas que além de irem contra os direitos humanos, ainda estimulam a violência, vão contra os valores morais e a ética.

Um movimento que foi ganhando força nos últimos anos, não só no Brasil mas como no mundo inteiro onde vemos sendo eleitos políticos com um perfil agressivo, xenofóbico, com pautas retrógradas e com atitudes dignas de tirania.

A classe artística por sua vez costuma se manifestar contra atitudes retrógradas e nos últimos dias não foi diferente após assinaram um manifesto coletivo online. Falar que fazer arte é política é chover no molhado porém é necessário lembrar de como a opinião dos artistas sempre teve peso ao longo da história do nosso país. Por isso decidi fazer uma série de entrevistas com artistas de norte a sul do país. Confira a segunda parte.

Confira também a Parte 1
Confira também a Parte 3

Distrito Federal (DF)

Joe Silhueta (Brasília)


Joe Silhueta. – Foto Por: Thais Mallon

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Joe Silhueta: “Esse é um reflexo medonho da história do nosso país sempre deturpada e replicada através do ponto de vista do opressor, da Casagrande, do empresário, do latifundiário. Uma história fragmentada que coloca o povo brasileiro em uma posição de alienação que somada ao complexo de inferioridade gera um terreno mais que fértil para o fascismo, que exalta o desrespeito, a violência, a misoginia, o racismo, o feminicídio e toda sorte de selvagerias sociais.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Joe Silhueta: “Considerando que o artista tem um público acompanhando seu trabalho, uns mais, outros menos, é importante que certas posturas sejam ressaltadas, principalmente o combate ao fascismo que vem ganhando muita força nos últimos anos na figura repulsiva do Bulbassauro, que representa o que há de pior neste sentido e é uma ameaça real à democracia e aos valores humanistas que a sociedade brasileira vem desenvolvendo desde o fim da ditadura. Ele não! Ele nunca! Ele é um fantoche-ponte terrível que se eleito vai nos levar a uma catástrofe política e social que não nos representa.”

Akio (Brasília / DF)


AkioFoto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Akio: “O Brasil nas últimas décadas teve um dos melhores crescimentos econômicos e sociais da história. Com isso veio: democratização do ensino, inclusão social, empoderamento da população excluída e de baixa renda, etc. Junto com isso, nos últimos anos, durante o governo da presidenta Dilma, houve uma derrocada da economia do país devido à esquemas de corrupção que tiraram a credibilidade do Brasil no cenário internacional e nacional, mau planejamento, maus investimentos, etc.

Dito isso, formou-se uma forte polarização durante a crise financeira entre a população pobre/excluída que agora tem voz, acesso à internet e à cidade; e a classe média que teve seus direitos reduzidos reivindicando uma qualidade de vida excelente como a de antes da crise.

Acredito que o fascismo vem tanto da direita como da esquerda. Atos fascistas que geram comportamentos extremos são causados por uma mera edição ou manipulação dos fatos por parte de uma mídia cujo interesse do seu público é atacar o outro extremo. Dessa forma, é instaurado um forte maniqueísmo na nossa sociedade alimentado por discursos de ódio e manipulação dos dois lados. Com esse maniqueísmo, o resultado são políticos cada vez mais extremistas, pois, para a população, pode parecer que somente medidas drásticas podem “limpar” o país dos maus.

Por mais que eu repudie completamente as atitudes do você-sabe-quem, se o mesmo for eleito, isso será fruto da democracia brasileira e temos que aceitar. Da mesma forma, o Haddad. Tenho medo do que pode acontecer se esses dois foram à segundo turno.

Enfim, acredito que o crescimento do fascismo deriva de uma forte intolerância causada pela falta de paciência, empatia e educação do povo brasileiro. Tudo muito triste.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Akio: “Acho muito importante o artista se posicionar. Seja poucos dias das eleições, seja depois até as próximas eleições. Acredito que a arte comunica, unifica e cura. Qualquer ódio que possa estar sendo acumulado em um coração, pode ser desfeito com a empatia contida na poesia. Independente do que diz o candidato, nós brasileiros somos maiores se estivermos unidos.”

Cabra Guaraná (Brasília / DF)


Tynkato do Cabra Guaraná. – Foto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Tynkato: “Acho que esse fascismo/racismo/intolerância sempre esteve lá. Escondido, guardado. Aí vem um maluco, candidato a republica, com um discurso público de ódio, justificando intolerância com nacionalismo e abre as portas pra externalizar quem sempre teve um pensamento intolerante. Quem vota nesse doidão, no fundo, com certeza compartilha com tudo o que ele dissemina, com o discurso dele.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Tynkato: “O papel do artista tá em mostrar o outro lado, mostrar a nossa cara pra dizer que a gente não concorda com essa intolerância. Querendo ou não a gente tem um certo poder quando estamos no palco. E isso com certeza deve ser usado à favor da democracia e da tolerância. A música sempre esteve engajada com política no mundo. Sinto falta disso. Mas vejo crescendo esse engajamento, ultimamente.

A gente tem q fazer pelo menos a nossa parte de se manifestar contra isso, de dizer não, enquanto a gente ainda pode.”

São Paulo (SP)

Der Baum (ABC Paulista / SP)


Der BaumFoto Por: Samuel Cruz

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Fernanda Gamarano: “Vejo isso como uma fera adormecida em muita gente a muito tempo, que só agora estão expondo seu ódio por conta de conservadorismo de certos políticos. Um exemplo foi quando Trump foi eleito, ou até mesmo quando o nazismo estava no poder, parece que se cria uma abertura de você expelir seu preconceito, seu ódio, (seja la qual for) de um jeito “normal” sabendo que não será punido pelo tal ato!

Acho que sempre existiu apenas tem épocas onde acontece tal abertura onde o ser humano mostra seu real comportamento na sociedade, se você parar pra pensar o nazismo é muito recente, ainda tem muitos com a ideologia instaladas dentro, apenas em alguns lugares isso esta adormecido esperando uma fera comandar pra acordar todos! E é isso que estamos vivendo no momento! Tempos de trevas para o convívio social!”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Fernanda Gamarano: “O artista em si já tem esse papel de se expressar sobre qualquer assunto! Acho muito importante o posicionamento mas também, não acho que todos os artistas tem a obrigação de se posicionar (afinal a liberdade de expressão ela serve para ambos)! Mas impor suas ideias sobre política, discutir saudavelmente sobre o assunto é sempre muito bem vindo!

Não podemos levar pro lado do ódio, temos que debater, mostrar os pontos bons e negativos que essa eleição pode nos trazer futuramente! Política é um assunto sério, não é pra ser usado pra se aparecer na mídia e afins! É pra realmente ser discutido, isso não ocorria há anos no Brasil! Vejo isso por um lado positivo! Mesmo sabendo que muitos estão mais querendo brigar com os olhos vendados do que realmente abrir um caminho pra uma discussão de ideias e pontos para uma eleição mais coerente!”

Caio Bars (São Paulo / SP)


Caio BarsFoto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Caio Bars: “Com muita apreensão. Mas gosto de ver esse fato com a seguinte ótica: acredito que estamos chegando em um ponto de virada para a humanidade como um todo. Em momentos assim, a tensão aumenta para que o status quo se quebre e dê vazão a um novo tempo. Isso nunca vem fácil, claro, por isso esse momento bizarro que estamos vivendo. Mas é como uma febre; tem que queimar para passar depois e a gente melhorar enquanto espécie.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Caio Bars: “Pensando que o artista tem a possibilidade de influenciar seus fãs de forma positiva, acho muito válido. Claro, desde que o artista se posicione de forma sensata e com suas razões bem explicadas. Sair postando #lulalivre, #elenão ou coisa-que-o-valha a esmo fica parecendo muito uma tentativa de “estar na turminha”, sabe? Também defendo o direito do artista não se manifestar politicamente se ele assim desejar. Ser artista não exige que você necessariamente tenha que fazer isso.”

Rio de Janeiro (RJ)

Facção Caipira (Niterói / RJ)


Facção CaipiraFoto Por: Camila Padilha

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Jan Santoro: “Se você olhar separadamente, cada um que apoia o Bulbassauro (acredito que um dos maiores representantes vivos, brasileiros, da intolerância) cria um pequeno ponto de identificação, seja por uma imagem louca de ordem, estabilidade ou segurança que algumas pessoas criaram para as forças armadas; vejo também em outros eleitores que pregam essas merdas em um desespero quase infantil com o crescimento da “esquerda” Brasileira, tudo gira em torno da repulsa, a identificação que algumas pessoas têm com esses discursos de ódio é assustadora, ainda bem que temos força e gente com muito amor pra dar, transformar e resistir.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Jan Santoro: “O posicionamento do artista é fundamental, arte transforma toca, não tem jeito melhor de fazer as pessoas sentirem, de sensibilizar e temos que pregar coisas boas, uma delas é definitivamente #elenão. Sinto que esse voto no Bulbassauro é um voto de rebeldia, quase um chilique, não acho que o ódio sustenta uma campanha de segundo turno, é o que já aponta as pesquisas, tenhamos fé, a direita não está tão unida quanto a gente pensa (grazadeus).”

Venus Café (Rio de Janeiro / RJ)


Venus CaféFoto Por: Tiago Petrik (RIOetc)

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Dan Menezes: “É um transbordamento: crise no mundo, nosso país não tem estrutura pra amortecer, a economia daqui vira um caos. A falta de grana configura a oportunidade ideal para uma crise política bisonha (o golpe), o qual está jogando a nossa sociedade para um buraco cujo fundo ainda não se conhece. Então temos um povo maltratado, sem educação, doente, largado às moscas, um sistema mais do que fértil para a proliferação dos ideais mais escrotos que a humanidade pode produzir: ódio, intolerância, violência, egoísmo, igreja evangélica. É tendência autofágica do ser humano.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Dan Menezes: “Nesse cenário de Walking Dead, ficar na sua e não fazer merda já não basta; todo cidadão consciente tem que marcar sua posição, se manifestar, debater e combater o ódio – nas redes sociais e no mundo real, em casa e nas ruas.

Para a classe artística, eu sempre me lembro de uma definição do Ezra Pound, a de que “os artistas são as antenas de sua geração”. Ou seja, é maior ainda essa obrigação de fazer a sua parte ativamente, inserir a sua arte, a sua linguagem num movimento de chamar a atenção da sociedade para o que está acontecendo.

Traduzindo para o meu caso: estou trabalhando numa canção sobre esse cenário, com todos os palavrões possíveis. A toque de caixa, pra ficar pronta pro segundo turno. Sei lá se alguém vai gostar ou vai ouvir, mas eu to me sentindo sufocado e preciso fazer esse desabafo – um contraste com o projeto da minha banda, que é falar de alegria, de euforia, de coisas positivas. Mas não dá pra ficar só nessa porque senão os idiotas tomam o poder – e agora eu estou parafraseando o Fat Mike =P”

Espinoza (Rio de Janeiro / RJ)


EspinozaFoto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?   

Vinícius Franco: “A sensação é de que vivemos uma crise de utopia; desde o colapso da união soviética como uma tentativa de construir uma alternativa ao capitalismo, tudo que nos sobrou foi a agenda neoliberal, que pressiona as desigualdades. A nossa falta de capacidade de oferecer uma resposta progressista e emancipatória para essa situação cria o cenário perfeito pra esse fascismo e essa onda reacionária na qual estamos atolados.

Mas também, pra tentar ser mais otimista, parece ser a última convulsão desse mundo apoiado no patriarcado em que vivemos. As pautas identitárias estão conseguindo tomar o imaginário das novas gerações, não a toa que esse conflito também é muito de idade (tipo o brexit ou mesmo os tios e velhos da família apoiando bulbassauro). Pode até ser uma ruptura dolorosa para um momento melhor, mas a dificuldade de enxergar um projeto positivo pro futuro é muito angustiante. “O velho resiste em morrer e o novo não consegue nascer” algum fera mandou essa frase aí que resume tudo (risos).”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Vinícius Franco: “A gente tá vivendo essa polarização louca e acho compreensível quem tenta se poupar, já que qualquer posicionamento traz consigo o ódio do contraditório. Mas, ao mesmo tempo a gente tá num caso muito atípico de uma eleição quase plebiscitária entre manter a democracia, mesmo que em frangalhos, ou rasgar tudo fora e abrir a porteira pro autoritarismo.

A história da música popular é construída muito por pessoas que forçaram os limites do seu tempo pra frente, me parece incoerente não lutar hoje contra esses limites voltarem pra trás. A isenção pode até te proteger no curto prazo, mas em longo prazo a sinceridade sempre vence.”

Unicórnio Maravilha (Baixada-Zona Norte do Rio de Janeiro)


Unicórnio Maravilha Foto: Divulgação

“A Unicórnio Maravilha é uma banda do eixo Baixada-Zona Norte, uma área desprivilegiada do Rio de Janeiro, então é muito importante termos esse debate porque isso afeta diretamente o modo que vivemos por estarmos no espectro de minorias (mulheres, pessoas negras/mestiças e moradores de áreas periféricas) e nos relacionamos com a arte e a vida social, que é um ato político.”, conta o trio formado por Isis Cardoso, Higor Machado e Thais Barbosa

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Unicórnio Maravilha: “Quando as minorias começaram a querer ter voz, houve em contrapartida o fortalecimento de discursos de intolerância, que foi facilitado porque na internet é muito mais fácil você encontrar e se cercar de pessoas que compartilham dos mesmos valores ruins.

As pessoas infelizmente se sentem confortáveis por se sentirem parte de um grupo e pararam de sentir vergonha de demonstrar publicamente seus preconceitos porque tem alguém que diga essas atrocidades em alto e bom som e não tem punição por conta da “liberdade de expressão”.

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Unicórnio Maravilha: “Nós sempre gostamos de ver a figura do artista como alguém que através da sua arte te faz sentir, pensar, refletir e/ou promover debates (mesmo quando essa não é a intenção principal dele).

O posicionamento do artista é refletir, não necessariamente na sua arte mas no seu engajamento político e social, a respeito do mundo que nós queremos pra nós e pras gerações que estão por vir.

Em tempo tenebrosos que vivemos hoje no Brasil com candidatos enaltecendo a ditadura militar e coisas piores, se posicionar faz as pessoas ao menos pesquisarem, pensarem, e conversarem a respeito dessas propostas, o que é importantíssimo.

Nós, enquanto artistas, podemos mostrar nossos valores e influenciar as pessoas pro melhor ou pior, por menor que seja a nossa projeção; então que nós façamos algo útil disso.”

Pilfer (Rio de Janeiro / RJ)


PilferFoto Por: Bianca Lopes

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Pilfer: “O Lulismo teve um claro viés progressista na inclusão de minorias étnicas e econômicas como centro da atuação do Estado Brasileiro. Foi a aplicação mais forte do que se entende por Princípio da Isonomia, até hoje, no que diz respeito a políticas públicas: tratar de forma igual os iguais e de maneira desigual aqueles que estão em situação de desigualdade.

Sem entrar no mérito de erros e acertos do período político, acho que esse simples fato gerou uma reação de ataque a essas minorias, e é isso que continuamos a ver crescer. Cabe a nós, como progressistas, continuar a combater e informar as diferenças de tratamento que ainda existem quanto às distinções de sexo, gênero, cor da pele ou qualquer outra forma de discriminação.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Pilfer: “Achamos essencial que os artistas, enquanto pessoas de fundamental importância na construção cultural da sociedade, se posicionem contra candidatos e políticas que queiram mitigar ou instigar o preconceito.

Sem achar necessário se posicionar a favor de candidato ou partido A ou B, não podemos nos calar também contra aqueles que fomentam o ódio e a intolerância.”

Sound Bullet (Rio de Janeiro / RJ)


Sound BulletFoto Por: Pedro Guarilha

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Sound Bullet: “Boa tarde, pessoal, é o início do século XX novamente: crises, migração e o poder hegemônico achando que passar pano pra movimento fascista ajuda a combater a possibilidade de uma esquerda unida e forte possa tomar o poder de forma revolucionária ou não.

A sociedade de forma geral deixou esses movimentos radicais aflorarem, botou lenha na fogueira, ajudou a eleger inimigos comuns e, agora, o cão se soltou da coleira e não tem uma mão pra botar ele de volta lá. E isso afeta a todos nós de uma forma ou outra. Você pode estar caminhando com seu pai e ser apedrejado na rua porque vocês “parecem” um casal gay. Todos nós estamos sujeitos a sofrer.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Sound Bullet: “A classe artística não é unida e se divide em diversas formas de espectro político. Então, entendo que não vai existir um posicionamento muito coletivo contra aquele senhor. Agora, algumas coisas precisam ser faladas: Se um artista tem um público, digamos, LGBT, ele não se posicionar contra a direita conservadora e a extrema-direita que se apresenta nessas eleições, ele é um hipócrita, para não falar coisa pior. Ele tá atrás de “pink money”. Se o seu público de maneira geral é de oprimidos, você TEM que se posicionar.

Para outros artistas (que não necessariamente estão lá para aproveitar desses nichos), enquanto agentes produtores de cultura, que dialogam com muitas pessoas que podem ser (ainda mais) oprimidas e castigadas pelo extremismo da direita, é importante se posicionar, não necessariamente apoiar um candidato, mas, sobre condutas que acreditamos ser o melhor pra sociedade e que batam de frente com os posicionamentos defendidos pelo fascismo.

Para a Sound Bullet, você é bem vindo ao nosso convívio sendo de esquerda ou direita. Você não é bem vindo se você é contra gays, negros, nordestinos, judeus, mulheres. Esperamos sempre deixar isso claro. A nossa mensagem musical e política é sempre sobre descobrimento pessoal e convivência em sociedade, em paz. Se você acha que uma parcela da sociedade não merece isso, como você pode nos ouvir?”

Banda Gente (Mesquita / RJ)


Banda Gente Foto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Banda Gente: “Movimentos extremistas estão crescendo no mundo todo, sempre que o cenário político entra em crise grupos violentos ganham proporção, a internet acaba favorecendo todo tipo de grupo, os algoritmos tendem a direcionar a extremos. Me surpreende que com 2 Guerras Mundiais, diversas ditaduras sanguinárias de ambos os lados e vários genocídios a humanidade não aprendeu a lição, parece que estamos em crise de histeria coletiva.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Banda Gente: “A arte tem o poder de transcender o senso comum a partir do simbólico. Em todos os movimentos da humanidade a arte e a cultura foram peças chave de difusão de idéias. Não consigo entender como quem diz amar a arte pode tentar se manter neutro num momento como esse no Brasil.

O movimento #EleNão hoje me lembra o clima das Diretas Já, onde independente da ideia politica que carregamos, nos juntamos pra dizer que a democracia é o nosso maior bem comum e não podemos abrir mão disso.

Na Banda Gente temos opiniões distintas sobre qual seria o melhor rumo pro país, mas todos repudiamos o discurso de viés Fascista que tem hipnotizado brasileiros hoje.”

Almir Chiaratti (Rio de Janeiro / RJ)


Almir Chiaratti Foto Por: Ana Rovati

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Almir Chiaratti: “Um cenário de crise econômica, polarização e estafa mental pública sobre política são terreno mais que fértil para que mentalidades que clamam por mudanças imediatas. O cenário mundial está repleto de grupos políticos com características ultraconservadoras, religiosas e nacionalistas.

Não é apenas o caso do nosso #EleNão mas também foi de Donald Trump e de Viktor Orbán na Hungria que defendem políticas contra imigrantes e possuem uma atitude conservadora. Na França, apesar da derrota, Marine Le Pen alcançou o resultado mais expressivo de sua campanha o que aponta para tendencias não muito animadoras nas próximas eleições francesas.

Na Alemanha, um partido novo de extrema direita ocupa a 3ª maior bancada no parlamento alemão com um discurso antiimigracao defendendo a “Alemanha para os Alemães”. Há na Polônia um governo autodeclarado nacionalista de ultradireita, entre muitos outros exemplos.

O ponto relevante aqui é observar uma escalada vertiginosa de uma mentalidade “NÓS x ELES”, “CERTO x ERRADO”, “OS NOSSOS x OS OUTROS” que parece ser resultado de uma insatisfação política e social alinhado à escassez de alternativas individuais para problemas coletivos.

O risco que se corre, e todos estão sujeitos a isso, é que o ódio, a raiva e a indignação acorde o fascistx que há em nós, pois historicamente nunca estivemos num cenário tão próximo da Alemanha de 1933 onde as pessoas só querem alguém que resolva o problema independente das consequências.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Almir Chiaratti: “O papel do artista é a poesia. Cada ser se afeta com o mundo de uma maneira singular. Não creio haver obrigatoriedade moral alguma na arte mesmo porque a Mesma não deve ser moralizante, pelo contrário, ela deve estar na linha tênue entre a transgressão, a loucura e a ousadia e isso por si só vai afetar a construção moral de cada época.

Desejo que onde houver ódio e desespero haja alguém com a grandeza de Monet que presenteou a França do pós guerra com as Ninféias Azuis. Isso me chama atenção porque esse artista não estava diretamente engajado na luta política da época dele, talvez até estivesse sendo julgado alienado pelos seus contemporâneos mas gosto de crer que ele estava à frente, criando aquilo que se tornou um bálsamo pra as feridas psicossociais de seu país depois de uma tormenta de proporções inigualáveis.

Eu acredito que nada bom pode vir de uma ascensão política que se alimenta do ódio, da insatisfação e da escassez mas seria inocente acreditar que Bolsonaros, Daciolos, Malafaias, Crivellas e Macedos não representam uma parcela cada vez maior da população. Eis o paradoxo da democracia: se formos tolerantes com a intolerância a liberdade ficará em risco. O desafio é não tolerar a intolerância de forma intolerante.”

BEL (Rio de Janeiro / RJ)


BELFoto Por: Francisco Costa

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

BEL: “A gente vive um momento onde o macro está potencializado através de polarizações políticas que nos afastam de um debate produtivo e nos levam a uma relação extremamente doentia com o processo de eleições, com a vida social, com a comunidade.

Quando se assume uma postura de idolatria cega por figuras políticas, não existe a possibilidade de se compreender o sistema, muito menos de provocar rachaduras nele.

Ficamos presos a heróis e esquecemos do nosso poder enquanto sociedade. sobra discurso de ódio e intolerância, falta comunicação, vínculo. Isso permite a ascensão de discursos fascistas – de todos os lados. Há fascismo também na esquerda branca intelectual que esculacha evangélico, que não faz autocrítica.

Mas aí nos vemos diante desse candidato assustador, racista, homofóbico, machista, violento. Me parece o sintoma máximo do que estamos construindo na nossa prática social, porque esses figuras não aparecem do nada. Eles são potencializados pelo contexto sócio-histórico. Pelas mediações culturais, pela produção de sentido na comunidade.

Nós tem que ficar muito atentos nas práticas de micropolíticas, nas relações interpessoais, na nossa comunicação, nas trocas que praticamos no dia-a-dia. essa é a única coisa que vale a pena e é de onde nascem as quebras, as rupturas, as decodificações.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

BEL: “Extremamente importante que artistas, todes, se posicionem. principalmente os que estão no mainstream, porque têm visibilidade, são seguidos, alcançam diferentes territórios e classes. mas a arte em geral, pra mim, não faz sentido se não for pra desconstruir, pra romper, pra cutucar as normas estabelecidas, os critérios pré-definidos, as instituições formalizadas. a arte tem um papel de transformação social, assim como a educação. deve ser instrumento de provocação.”

El Efecto (Rio de Janeiro / RJ)


El EfectoFoto Por: Iuri Gouvêa

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

El Efecto: “Acompanhamos esse fenômeno com preocupação, obviamente, por entendermos que ele representa a sistematização de vários discursos de ódio contra as bandeiras que acreditamos e levantamos, enquanto indivíduos de esquerda, comprometidos com a luta contra as formas de opressão de classe, raça e gênero.

Esse caldeirão, onde o projeto de poder das elites se mistura com o conservadorismo moral e cultural, a desinformação e a despolitização, já está consolidado em diversos setores da sociedade e seguirá sendo significativo, mesmo no caso da derrota do candidato #elenão.

Vencê-lo eleitoralmente é importante, mas não fará com que tudo isso desapareça como um passe de mágica. Precisaremos seguir construindo cotidianamente o combate às ideias que ele encarna, e todos os demais desafios que venham a se apresentar.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

El Efecto: “Parodiando o poeta, poderíamos dizer que:

Há aqueles que se posicionam contra o fascismo a poucos dias das eleições; isso é bom;

Há aqueles que se posicionam contra o fascismo meses antes das eleições; isso é melhor ainda;
Porém há aqueles que se posicionam contra o fascismo a vida toda; isso sim é imprescindível.”

Santos (Rio de Janeiro / RJ)


SantosFoto Por: Pedro

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Santos: “Eu acho que o que cresce não é fascismo. É uma ética reacionária fruto da maior concentração de renda e aumento do desemprego. Dá pra traçar uma história desse reacionarismo que vai casar com a crescente história do desemprego desde os últimos anos de Dilma até hoje. Bulbassauro é a escolha, em maioria, não de fascistas, mas de meu tio, minha prima, a maior parte da minha rua, um lugar onde a maior parte das pessoas vive na informalidade por não ter conseguido um emprego estável há muito tempo.

Eu também questiono essa intolerância. Muitas vezes o termo eufemiza as especificidades. Acho que muitas vezes o que tá em jogo é o racismo, a história colonial desse país e seus reflexos em toda organização social. A questão é que a ética familiar brasileira é filha de um modelo de família branca totalmente racista e eugenista, a gente vive reflexos dessa história o tempo todo, desde sempre. Tu pergunta pra uma parcela considerável da sociedade que sempre foi excluída diariamente e ela não vai te falar que aumentou a intolerância.

Acho que aumentou e foi mais sentido pelos jovens universitários de esquerda, pela disputa cultural, etc, mas disso ir pro Brasil, acho que o que cresceu mais aqui foram os conflitos ligados diretamente contra lideranças populares. Marielle aqui no Rio, mas tu vai à região norte do país, é muita liderança indígena e camponesa morrendo. Aí a questão não é ética, é puramente econômica. Lá estão os maiores monopólios da economia de base que aqui é o agronegócio. Então ser contra a intolerância, por exemplo, elegendo Kátia Abreu, também é um contrassenso. Tá bem dramático o cenário.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Santos: “O artista não pode se entregar ao business. Fazer vista grossa, ficar em cima do muro. A gente nem é artista, a gente é povo. E povo pensa o povo. A história desse país é a história popular, não a história das elites. Temos que nos posicionar diariamente e aceitar o preço disso. Se não for pra ser assim, melhor nem levantar da cama.”

Tamarindus (Rio de Janeiro / RJ)


TamarindusFoto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Tamarindus: “Vejo todo esse crescimento do fascismo como um reflexo de tempos onde pessoas tem passado muito tempo conectados em redes sociais, limitando suas visões de mundo a suas próprias bolhas.

O egoísmo, a falta de empatia e amor ao próximo são crescentes quando o indivíduo não tem contato com o diferente, creio que o próprio algoritmo do Facebook, Instagram e Youtube contribuem de certa forma para entregar apenas aquilo que o sujeito tem interesse, a falta de um contraponto faz com que não haja chance de se criar um diálogo saudável.

Aliado a isso, vivemos tempos de enxurradas de conteúdos, timelines inundadas, múltiplas telas e muita ansiedade. Tudo isso faz com que por conta do alto volume de informação, o indivíduo busque consumir muita quantidade, porém sem profundidade. Se torna comum ler o título da matéria, porém ignorar o conteúdo, desenvolvendo uma certa preguiça crônica de se aprofundar em algo e, pior, para mostrar que está “antenado”, compartilha aquilo com o mundo sem nem saber a fundo do que aquele conteúdo se trata.

Junto dessa bolha de informação, do volume de conteúdo e da preguiça de ler, surge o que há de mais nocivo nas redes sociais que são a disseminação de fake news, onde os mais mal intencionados se aproveitam desse comportamento para espalhar mentiras, disseminar o ódio e confrontar quem pense diferente.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Tamarindus: “Creio que a partir do momento em que uma pessoa quer se tornar um artista, ele deve saber que com um alcance do sucesso, o público terá curiosidade em saber quem ele é de fato, em um determinado momento ele deverá se posicionar.

Artistas de renome tem a atenção de um grande público, agradam tanto “X” quanto “Y” e com isso, tem maior probabilidade de terem seus discursos ouvidos e maior capacidade de transformar ideias.

Em tempos de polarização ideológica e pouco diálogo, a partir de um momento em que um artista se posiciona, aquilo irá gerar mais identificação com um público e decepção de uma outra parte, porém ele passa a se tornar mais autêntico e isso é fundamental. Não dá pra agradar gregos e troianos, e a partir do momento em que os gregos são tolerantes, empáticos e mente aberta e os troianos são intolerantes, preconceituosos e fascistas, que fiquemos do lado dos gregos.”

Orchestra Binária (Rio de Janeiro / RJ)


Orchestra BináriaFoto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Orchestra Binária: “Estamos vivendo momentos delicados, no que diz respeito as liberdades, ao debate político, construção das identidades e claro, no espectro da política sócio econômica a ser adotada.

O debate sobre o fascismo, nos entendemos, que perpassa a representatividade política – pura e simplesmente. Levando em conta que o fascismo é sintoma e ele transcende lados (a famosa polarização), a Orchestra Binária tem como premissa: a defesa do diálogo, pois entendemos que só por meio dele se fortalece a democracia.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Orchestra Binária: “O papel do artista é, também, formar opinião. O artista independente hoje é uma coisa diferente do ‘ícone’ – dentro do contexto do novo cenário de compartilhamento de material (redes sociais e canais de streaming).

Entendemos que bandas e artistas tem o dever de: não só se posicionar, mas também de abrir o debate e estar aberto ao diálogo, justamente pela proximidade que hoje o público tem com toda a galera que produz arte.”

Warmest Winter (Niterói / RJ)


Warmest WinterFoto: Divulgação

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Tiago Duarte: “Em primeiro lugar, eu compreendo que historicamente o fascismo propõe oferecer soluções fáceis, violentas e autoritárias para situações complexas, resultando sempre em regimes ditatoriais e no recrudescimento da máquina de repressão estatal para tal meio, ou na tentativa do mesmo.

O fascismo, portanto, seria mais uma pulsão, um desejo, ou ainda, uma série de caminhos e atitudes que levem a resolução de conflitos dentro de uma sociedade através da força, da violência e do apagamento. De tal maneira, tais pulsões ou tais caminhos sempre se mantiveram presentes em nossa sociedade, e sempre se postaram como solução para conflitos que resultariam de uma história desigual e opressiva.

Assim, antes de falar do crescimento do fascismo, creio que seja importante notar que o fascismo sempre esteve presente no Brasil; quase sempre não na voz de alguém abertamente fascista, mas sim na de pessoas comuns com o seu desejo de apagamento de diferenças, quaisquer que elas sejam. Hoje em dia vivemos um momento de uma certa anomia social, após momentos nacionais de grande euforia.

As jornadas de junho em 2013, a Copa do Mundo de 2014 e a Olimpíada no Rio sinalizaram que o Brasil poderia ser uma nação forte, justa e melhor para a maioria de seus cidadãos. A realidade, entretanto, foi que tais promessas não se concretizaram. Pelo contrário, vemos o aumento da percepção da violência, da percepção da corrupção, da percepção, de maneira geral, de que pioramos a um ponto de qualquer perspectiva de melhora se tornar utópica ao continuarmos na mesma direção.

É esse sentimento de desilusão que leva aos já citados desejos de um líder forte e autoritário e que se propõe fora do jogo político usual. O fascismo, portanto, não se torna popular devido aos fascistas, mas sim as pessoas comuns que passam a ver no fascismo uma solução.

A perspectiva atual, considerando as últimas pesquisas, me deixa bastante pessimista. Um segundo turno entre Haddad e Bulbassauro é uma polarização ainda maior e ainda mais perigosa da política nacional. Pessoalmente, eu (Tiago, vocalista, guitarrista e fundador da banda) acho o Haddad uma pessoa melhor que o Ciro Gomes para ser presidente; entretanto, o fato do Haddad ser petista num momento no qual o Bulbassauro e podemos dizer o bolsonarismo se tornam o principal vetor antipetista, no lugar dos tucanos, me parece jogar mais lenha na fogueira.

Qualquer que seja o resultado dessas eleições, em um segundo lugar entre essas duas figuras, não teremos resolvido o problema. Nenhum dos dois lados irá se dar por vencido, e o clima atual tende, a meu ver, a piorar. Obviamente que a nossa preferência entre Bulbassauro e Haddad, é o Haddad, assim como seria caso o capitão disputasse o segundo turno contra Marina, Ciro ou Alckmin.

Entretanto, eu vejo que, por motivos que vão além do próprio Haddad, ele como a pior opção para o segundo turno contra o Bulbassauro; especialmente pela imensa dificuldade que ele teria em governar. Aliás, todos os candidatos (inclusive o Bulbassauro) me pareceram escolher como vices figuras mais extremas que os candidatos a presidente. Um impeachment, portanto, não seria uma solução que apaziguaria ânimos políticos qualquer que seja o eleito.

Ou seja, vivemos tempos de forte polarização, e tal polarização se cria em volta do nome de uma figura abertamente fascista. Isso me dá medo tanto pela possibilidade bastante real do mesmo ser eleito, quanto pela normalização de posições políticas que não deveriam ser normalizadas.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Tiago Duarte: “Nós somos quatro pessoas na banda. Todos temos nossas divergências políticas. Nenhum de nós, entretanto, apoia o Bulbassauro ou o que ele representa. Todos nós preferimos qualquer um a ele. Nós nos posicionamos no Twitter e no Instagram. Farei também um post no FB mostrando o nosso repúdio a figura dele.

Nós somos uma banda pequena, entretanto, nossos fãs são em sua imensa maioria, pessoas progressistas, parte considerável é uma das minorias que o Bulbassauro despreza. Eu sinto como se estivéssemos traindo as pessoas que tomaram o seu tempo para nos ouvir se nós não posicionássemos contra tudo o que ele representa.

Agora, considerando artistas de massa, bem, o caso da Anitta é bem interessante. Uma artista que sempre teve uma forte representatividade entre o público LGBTQ+ tem sido cobrada abertamente por diversas pessoas por um posicionamento em relação a um candidato abertamente homofóbico. No momento, ela afirmou se reservar o direito de não se manifestar.

Em termos estritos, é um direito dela querer manter essa privacidade; em termos práticos, torna-se cada vez mais difícil para ela o fazer. O cálculo que ela parece fazer é que não é necessário que ela se manifeste. Até quando, entretanto, isso será possível de ser mantido? Diversos outros artistas se manifestaram contra o Bulbassauro (alguns também a favor).

A figura dele torna cada vez mais difícil que um artista se mantenha aquém do que está acontecendo politicamente no Brasil; algo semelhante ao que acontecera nos EUA com a eleição de Donald Trump. Assim, eu acho que vai se tornar cada vez mais difícil que artistas mantenham-se neutros politicamente.

O público dos mesmos passará a cobrar um posicionamento. A superexposição dos mesmos na internet cada vez mais vai impedir que os mesmos tenham opiniões políticas particulares. Afinal, se você tem tempo pra tirar 30-40 fotos ou vídeos por dia, twittar, postar no FB, você tem tempo para afirmar em quem vai votar, ou o que você pensa sobre A, B ou C.

De qualquer maneira, eu acho extremamente necessário que nós, artistas independentes, nos posicionemos contra o Bulbassauro, quanto mais posições contrárias a ele forem demarcadas, melhor.”

Paraná (PR)

Naked Girls & Aeroplanes (Banda se divide entre Curitiba /PR e São Paulo / SP)


Naked Girls & AeroplanesFoto Por: Marina Marchetti

Como você vê o crescimento do Fascismo e o reflexo da intolerância generalizada no momento em que estamos vivendo?

Rodrigo Lemos: “Acho que as coisas iniciam muito mais acima de onde a sociedade está habilitada a enxergar. É uma agenda para distrair a população e manter a roda girando. A maioria absoluta das pessoas mal sabe qual briga está comprando… Então isso vira um distúrbio coletivo. Nesse contexto, onde houver carência de cultura e reflexão, a intolerância sai ganhando… Quando todos descobrirem que podem mover a mesma energia na direção do entendimento e do bem comum, aí sairemos do lugar.”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Rodrigo Lemos: “O ofício da arte é muito mais amplo e anterior à simples manifestação em rede social. “Em quem eu vou votar” interessa, mas interessa menos do que indagar se as eleições 2018 vão r e a l m e n t e determinar o nosso amanhã. Não deveríamos estar engajados na polarização, mas sim em subvertê-la.”

Dead Sky Dawning (Curitiba / PR)


Dead Sky Dawning Foto: Divulgação

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Dead Sky Dawning: “O fascismo e a intolerância já vem entranhados no tal cidadão-de-bem à muito muito muito tempo. Mas esse povo tinha a noção de manter esse tipo de pensamento retrogrado e escroto pra si. Mas tendo alguém como ele pra dar palanque, esse pensamento foi sendo mais exposto e praticado por essa população de mente fraca.

O crescimento desse pensamento fica mais claro olhando para o brasil como um todo, porque infelizmente, em Curitiba, esse pensamento sempre existiu, “cidade do rock” onde nazi cola nos rolês fardando suásticas nos coletes, colando lambes fascistas, e se alguém faz algo pra impedir é taxado, ironicamente, de extremista.

Mas ignorando essa raça, aqui no sul sempre foi bem alto esse tipo de pensamento, sendo os atos xenófobos os mais comuns (infelizmente) de se ver. No fim das contas, Curitiba realmente é a Europa brasileira, proliferando seu ódio contra negros e imigrantes à muito tempo. “Ah mas grande parte do povo de Curitiba é descendente de polonês e italiano”, pois é, vai entender né?”

Como enxerga o papel do artista em se posicionar a poucos dias das eleições?

Dead Sky Dawning: “É dever de cidadão se posicionar, mas artista deve mais ainda, principalmente no nosso meio, e não só em ano de eleição, mas sempre! Porque infelizmente, só colocar nas letras seus pensamentos não tem sido o suficiente pra expor o que acredita, mesmo que seja da forma mais clara possível, é só lembrar da revolta de verem o Tom Morello no SWU usando um boné do MST. Brasileiro vai ao show, canta suas músicas favoritas com todas as forças, mas não entende o que canta, não se dá o trabalho de interpretar as letras nem de quem é fã, vai entender.

Então sim, o artista tem um papel importante e deve se posicionar, não estamos falando que o artista tem que fazer campanha pra politico x ou y, mas ele deve SIM se posicionar CONTRA quem prega ódio aos 4 ventos.

Nas palavras dos maninhos da Ponto Nulo No Céu:

“Se a gente apagasse as divisões de classe e só deixasse existir o interesse único de emancipar-se com a dignidade que se merece” – Ponto Nulo No Céu – O Sonho É Uma Ilha”

This post was published on 28 de setembro de 2018 11:24 am

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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