A obsolescência programada de nossos tempos nos afeta diariamente. Nossa maneira de consumir, compartilhar, navegar e interagir com o mundo tem mudado constantemente. Muitas vezes nos vemos presos em interfaces, redes sociais, telas e mais telas. Aqueles prazeres em compartilhar olhares, ideias, conversas e conexões parecem a cada dia ficarem em segundo plano.
Basta você ir a um bar com alguns amigos e notar quantos se distraem com o que se passa na TV ou tem que responder aquela mensagem ou meme urgente (sabe-se lá o porquê). Fato é que deixamos de compartilhar o momento, de pensar e de tentar construir nossos próprios “stories”. Ironias à parte a manipulação da mídia seja ela através da televisão como da internet é questionada no clipe de “Desprogramação”.
O videoclipe da banda Sã de Goiânia (GO) sugere a quebra de controle e padrões de consumo, como eles próprios salientam em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos. O primeiro EP do trio formado por Danilo Xidan (Guitarra / Voz), Alexandre Sardelari (Baixo) e Bruno Sardelari (Bateria) foi lançado em maio Una-Maçã através do selo independente carioca Abraxas.
“Una-Maçã se relaciona com toda a história da humanidade. A eterna repetição que vem desde as mitologias e atravessa a vida em sociedade. As composições buscam a atemporalidade, por isso acredito que o disco se relacionará e cantará sempre o “momento atual”, independente quando seja.
A maçã negra simboliza isso tudo. O início sem fim de todos os pecados. A perene punição pela desobediência. A tentação da bruxa…todas essas referências estão no cotidiano das pessoas, principalmente nas fábulas contadas pela mídia, ainda mais no maior circo de todos: a eleição. Sobre a questão da visibilidade do rock, a banda aparece como uma sombra…um dark side of the mídia, criticando a falácia sobre a questão dele não ser mais mainstream e a necessidade das pessoas, principalmente artistas, em querer aparecer.”, comenta o guitarrista Danilo Xidan
Nesta sexta-feira (06/07) a Sã lança em primeira mão no Hits Perdidos o clipe para esta canção que questiona nossa maneira de viver a vida em tempos de tecnocracia,
insalubridade, manipulação, confusão mental e caos político.
Ela carrega uma raiva contra a hierarquia e a robotização do sistema. Onde o ser humano por sua vez é apenas mais um peão no tabuleiro. Tudo isso resgatando o tom de contestação que apesar de inerente ao rock foi se perdendo dentro da indústria de consumo. Ou até mesmo mercantilizado até se esgotar.
O clipe foi dirigido por Victor Hugo Ardi, editado por Ardi e Sã e conta com participações de Angelita Oliveira, Pollyana Schervenski e da cadelinha Mel.
Para explicar seu conceito a banda utiliza de um trecho do livro O Despertar de uma nova consciência (2005).
“Ver televisão induz um estado passivo semelhante ao transe, que aumenta a suscetibilidade, e não é diferente da hipnose. É por isso que a televisão se presta à manipulação da “opinião pública”, como é do conhecimento de políticos, de grupos que defendem interesses específicos e de anunciantes – eles gastam fortunas para nos prender no estado de inconsciência receptiva. Querem que seus pensamentos se tornem nossos pensamentos e, em geral, conseguem.
O hábito de ver televisão com frequência e por longos períodos não só nos deixa inconscientes como induz a passividade e drena toda a nossa energia. Procuramos o controle remoto para mudar de canal e, em vez disso, nos vemos percorrendo todas as emissoras. Meia hora ou uma hora mais tarde, ainda estamos ali, passeando pelos canais. O botão de desligar é o único que nosso dedo parece incapaz de apertar. Continuamos olhando para a tela…”, O Despertar de uma nova consciência, Eckhart Tolle.
[Hits Perdidos] Queria que contasse sobre como surgiu a Sã e seu significado que beira a sanidade e flerta com a insanidade.
Danilo Xidan: “Um peregrino caminhou 9 dias e 9 noites, sem dinheiro nem comida, até ser acolhido por uma família de coelhos. Reza a lenda, que eles fizeram música em sua toca e não pararam mais…
Sã representa a união da nossa natureza contraditória, o dualismo como uma só coisa. Sã é a quebra dos esteriótipos do rock. Sã é o centro, o equilíbrio das forças que agem sobre nós.”
[Hits Perdidos] A banda também faz shows tributo de Nirvana, ela começou assim? Sob quais circunstâncias foram de certa forma compondo os primeiros riffs?
Danilo Xidan: “Toda banda começa com a vontade de cada um de tocar as músicas que gosta. No nosso primeiro encontro musical rolou apenas músicas de artistas que se foram aos 27 (entre eles Kurt Cobain).
Não é a toa que a primeira composição da Sã é a música “27”, faixa que encerra (e inicia) o ciclo do primeiro disco, Una-Maçã. Uma ode aos nossos ídolos que permanecem eternamente vivos em nossas mentes, corações e acordes.
Apesar de ser fã confesso que tocava todas as músicas pulando na cama, o tributo se estabeleceu muito mais pela sinceridade e visceralidade do trio de Seattle. É essa energia que queremos transmitir com a nossa música.”
[Hits Perdidos] A crítica perante a alienação da sociedade, a falta de interesse pelo rock da maior parte da população e a atmosfera nervosa de um ano de eleições certamente foram ingredientes que ajudaram na parte das letras. Conte mais sobre o EP e sobre como ele se relaciona com o momento atual.
Danilo Xidan: “Una-Maçã se relaciona com toda a história da humanidade. A eterna repetição que vem desde as mitologias e atravessa a vida em sociedade. As composições buscam a atemporalidade, por isso acredito que o disco se relacionará e cantará sempre o “momento atual”, independente quando seja.
A maçã negra simboliza isso tudo. O início sem fim de todos os pecados. A perene punição pela desobediência. A tentação da bruxa…todas essas referências estão no cotidiano das pessoas, principalmente nas fábulas contadas pela mídia, ainda mais no maior circo de todos: a eleição. Sobre a questão da visibilidade do rock, a banda aparece como uma sombra…um dark side of the mídia, criticando a falácia sobre a questão dele não ser mais mainstream e a necessidade das pessoas, principalmente artistas, em querer aparecer.”
[Hits Perdidos] Sobre o videoclipe, a temática da Televisão e dos meios de comunicação como “meios de alienação” é explícita mas acredita mesmo que seja uma opção deixar-se controlar? Não acha que existem outras maneiras de “controlar” até mesmo dentro de uma subcultura ou até mesmo através de uma contracultura?
Danilo Xidan: “A opção sugerida é quebrar o controle. E ele é simples, desligar a TV (ou o computador) e, essencialmente, desligar o barulho da mente. Os ruídos televisivos de Una-Maçã se referem muito mais ao turbilhão mental do que o meio de comunicação em si. A sugestão é ir ver e viver por si só. É parar de replicar o que a mídia vende. Afinal, tudo na TV é um comércio.
O mecanismo exploratório de se criar uma cultura popular é o mesmo, seja ele pro rock ou pro que está mais na moda hoje. Então, não tem a ver com estilo, e sim com o que entra na fórmula que está funcionando atualmente. É comércio, é produto, é pra ser descartado. A sede de controlar é humana, e por isso ilusória. O sábio capitão com a mão firme no manche, sabe que quem navega é o mar e os ventos. ”
[Hits Perdidos] O que pensam sobre as “bolhas” que as redes sociais criam? Não acreditam que o “choque” de realidade em lidar com outras realidades também não faz parte do pensar? Não acha que isto ajuda a gerar diálogos e até mesmo ajuda a fazer sua pequena parte dentro de um mundo cheio de interesses e repleto ignorância?
Danilo Xidan: “As redes sociais virtuais não são o problema. O problema é como você se relaciona com elas e o tanto que você se deixar sugar por elas. Usar um aplicativo de mapas é uma evolução tecnológica que facilita a vida? Não saber chegar sem ele ou ter medo de parar na rua e pedir informação é uma involução humana. E isso acontece, MUITO.
É o mesmo caso da TV. Desligue o celular. Não use as redes sociais. É uma solução tão simples. Não envolve revolta, anarquia, demonização. É desapegar e se apegar à presença, ao que se pode vivenciar na realidade. Sair e viver fora da sua zona de conforto é o maior choque na vida de qualquer pessoa. Em “Desprogramação” cantamos: “você sente medo? O medo só vive dentro de você.”
[Hits Perdidos] O clipe foi criado por um fã. Contem como foi isso? Vocês se envolveram no brainstorm, como foram as gravações? Como foi a escolha das locações?
Danilo Xidan: “Uma grupo de pessoas nos abordou após um show, eram estudantes de artes, vídeo…e compartilharam a vontade de criar algo para banda. Quando o disco estava pronto (com poucos recursos, pois o foco era a nossa turnê), entramos em contato e realizamos.
Trocamos ideias junto Victor Hugo Ardi e ele sugeriu algumas locações, dentre elas o Parque Mutirama em Goiânia. A outra locação foi escolhida no dia de gravar mesmo, e é a minha casa. O take usando a TV como contraluz, surgiu no dia anterior enquanto testava a câmera, e acabou se tornando a imagem mais marcante e presente no clipe.”
[Hits Perdidos] Já na onda do instrumental, como definiriam a sonoridade e de que fontes sente que bebem direta e indiretamente?
Danilo Xidan: “De tudo o que escutamos, seja considerado música ou não. Pra mim, toda a vida é uma música eternamente sendo tocada. A música já existe, sempre existiu. Somos meros filtros por onde ela passa e se manifesta. Sobre influências, posso citar o seleto grupo dos que foram aos 27, além do rock como um todo, principalmente as décadas de fim 60 e 70, 90 e as bandas que já fizemos parte: Xidan (Goldfish Memories, Muñoz, Agoristas) e Bruno e Alexandre (Veeementes, Sequelas do Rock).”
This post was published on 6 de julho de 2018 10:00 am
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