O que leva uma banda a permanecer tanto tempo junta é um dos grandes mistérios da humanidade. Não é fácil conviver com pessoas em geral, nós mesmos em um curto período vemos pessoas diferentes entrando e saindo de nossas vidas. Algumas entram sem perguntar e outras se despedem sem ao menos bater a porta.
Faz parte. Tem vezes que estamos preparados e outras que nem tanto. Agora imagine três caras conseguirem chegar a marca de 10 anos tocando ao lado do outro. É um marco por si só e isso não se deve deixar passar batido.
O power trio Lo-Fi iniciou sua carreira em 2008 na cidade de São José dos Campos, interior de São Paulo. Formado por Thiago (Guitarrista e Vocalista), Rogério (baixo) e Marcelo (bateria), eles sempre fizeram uma mistura “casca grossa” em seu som. E transitam entre o punk rock, garage rock, psicodelia, rock progressivo, surf music e blues.
Em 10 anos não foram poucos lançamentos. Entre discos, EPs e Splits foram 11. Com direito a três turnês pelos Estados Unidos, shows marcantes e outros nem tanto. Como em todas as bandas nem tudo foi alegria mas o saldo é sempre positivo. Em entrevista para o Hits Perdidos eles revelam como a música é mais do que uma paixão e sim uma necessidade dentro de sua existência.
“Nosso foco é e sempre foi a música, tocar; fazíamos música, juntava uma quantidade, gravava, lançava. Mas agora estamos com 10 anos de banda, quase 40 anos de idade. A gente precisa priorizar algumas coisas hoje em dia que antes não precisava tanto”, conta Thiago.
Apesar do discurso do Thiago e da diminuição no número de shows eles estão próximos de gravar seu décimo segundo registro. Este que será realizado em um home studio. O que vai dar tempo de amadurecer as composições mas que ao mesmo tempo pode se tornar um complicador, como revelado na entrevista.
Fato é que em julho o start será dado e as gravações começarão à todo vapor. Sem pensar em desistir da música nem sequer por 1 segundo, eles tem uma série de shows marcantes para se orgulhar. Como as participações no Abraxas Skate Jam em São Paulo, em 2016 como banda convidada do The Shrine, no do Festival DoSol (2016) e Laja Festival (2017).
Em março do ano passado eles lançaram o álbum Meddling In Regressive Rock (2017). Que com seu rock ácido, ardiloso, sujo e cheio de arranjos barulhentos chamou a atenção dos leitores por aqui.
O que esperar do próximo lançamento? Nem eles sabem dizer ao certo mas a prosa foi boa e eles tentaram passar a limpo os últimos 10 anos da carreira. Uma coisa eles cravam: “Que venham mais 20 anos!”
[Hits Perdidos] São 10 anos, diversos lançamentos, várias histórias, viagens pelo país e exterior e até mesmo mudanças de sonoridade e cidade. Como é para vocês fazer a balança e ver tudo que aconteceu? Como avaliam tudo e quais momentos gostariam de destacar?
Rogério: “Balança positiva. Crescimento pessoal e artístico máximo. Destaco os 11 títulos lançados e as 3 tours internacionais.”
Thiago: “A vida muda e vai continuar mudando e dificultando nossa vida, mas vale a pena tocar e conhecer novas pessoas culturas e formas de pensamentos. Destaco o lançamento do primeiro disco, que é bom e ruim ao mesmo tempo, mas se não fosse ele, os outros que vieram depois não existiriam.”
Marcelo: “Tudo isso foi um processo natural de uma banda que trabalha e se esforça no seu limite para que as coisas aconteçam, principalmente vindo de uma cidade do interior.
Apesar de diversas dificuldades que toda banda que rala enfrenta, a gente conseguiu manter o nosso ritmo Lo-Fi de fazer as coisas na medida do possível. Fazer tudo isso se mantendo no interior para mim é um grande destaque hoje num meio onde a política da boa vizinhança nas grandes cidades impera sobre o trabalhar, produzir e o resistir com autenticidade.”
[Hits Perdidos] Já que estamos falando em memórias. Queria que contassem tanto das melhores noites como das piores. Quais shows ou momentos mais marcaram e quais roubadas gostariam de esquecer?
Rogério: “O momento mais marcante pra mim foi a primeira vez que fui para os EUA tocar… que também foi minha primeira ida para lá. E quero esquecer muita coisa, principalmente minha vida fora da banda.”
Thiago: “Uma noite: Lo-Fi, Merda e O.D.P. no Hocus Pocus em São José dos Campos, 5 garrafas de Jack Daniels. Os piores momentos pra mim são os de saudades da minha filha quando a gente viaja.”
Marcelo: “Já passamos por noites maravilhosas como o primeiro dia do Festival DoSol em 2016, ou no Festival True Rock da Jaggermeister, tocando em casa no Hocus Pocus (SJC), uns shows malucos numa cidade minúscula do Kentucky e outra no interior de Ohio (EUA) – eu tenho a ideia de que tocar no interior, tanto dentro quanto fora do país sempre foi muito mais divertido. Em cidade grande muitas vezes caímos em roubadas, as pessoas pensam que “sabem demais”.”
[Hits Perdidos] Vocês estão gravando um novo disco e no último vocês seguiram o caminho do ali apelidado Regressive Rock’n’Roll. Agora o que sentem que vão incorporar e como está sendo este processo de gravação caseira?
Rogério: “Surpresa máxima. Mas ainda Regressive rock.”
Thiago: “Surpresa máxima até pra nós.”
Marcelo: “Isso eu penso que será uma surpresa para todos (risos). A gente vai fazer mais ainda o que der vontade no momento e com muito mais liberdade.”
[Hits Perdidos] Muitas bandas estão partindo para este tipo de gravação D.I.Y. quando questiono sobre geralmente as bandas falam que além dos custos querem ter para si todo o controle da produção. Para vocês como tem sido e quais os maiores desafios desta escolha?
Rogério: “O maior desafio é o custo. Porque bem que eu gostaria muito de ter mais tempo em um estúdio com estrutura. Nosso desenvolvimento iria ser altíssimo.”
Thiago: “Acho que o maior desafio é a disciplina, tempo é bom, mas ficar muito a vontade pode nos tornar improdutivos. Quando marcamos uma sessão de gravação num estúdio, não tem conversa. Naquela data as musicas vão estar prontas e ensaiadas. Com tempo a vontade já não sei. Mas ao mesmo tempo é o que precisamos hoje em dia, pois nossa dinâmica mudou muito nos últimos anos.”
Marcelo: “A falta de recursos hoje tem sido o maior desafio para qualquer banda independente no Brasil. A questão do controle da produção talvez faça mais sentido pelo tempo e o cuidado que vamos ter para gravar que poderá ser muito maior. Não vamos ter aquela pressa de gravar um disco inteiro em praticamente um dia. Já a parte final sempre tivemos boas parcerias e ótimos trabalhos com o Estúdio Costella ou o Estúdio El Rocha, entre outros.”
[Hits Perdidos] Falar sobre influências musicais é algo já batido, sei que misturam muitas coisas e que estão super abertos a experimentar sem medo de errar a mão. Mas além da música, quais outros universos acabam inspirando as composições?
Rogério: “Livros. Literatura clássica e bem feita.”
Thiago: “Pessoas, filmes, surf e vida cotidiana.”
Marcelo: “Eu ando cada vez mais em contato com as pessoas do campo e a simplicidade e autenticidade de fazer as coisas, pra mim isso é mais punk do que qualquer outra coisa.”
[Hits Perdidos] Fórmula para longevidade de uma banda eu acho que é algo que não exista mas se pudessem dar algumas dicas para isso, quais seriam? O que mais motiva vocês a não querer parar tão cedo?
Rogerio: “Morem longe um do o outro. Se eu pudesse parar eu parava mas seria em vão, tem algum instinto que não deixa parar, diferente de motivação, então vou fazer isso até morrer.”
Thiago: “A ideia de se ver pouco mesmo gostando um do outro é boa, porque numa viagem, mesmo que seja de 2, 3 dias, a convivência pega as vezes. Parar é muito difícil porque a cabeça continua funcionando e tendo ideias, e de uma forma ou de outra, nós vamos tocar em casa e isso leva a querer gravar e o ciclo começa de novo.”
Marcelo: “Uma vez eu vi uma entrevista do Greg Graffin (Bad Religion) no Guitar Center Sessions e ele falou que dividir o seu tempo entre a vida acadêmica e a banda foi o maior segredo de ter todos esses anos no Bad Religion.
Eu penso que se você dedica todo seu esforço em só uma coisa ou em uma relação isso vai acabar te estressando e gerando conflitos idiotas. A convivência gera o conflito. Você tem que ter um lugar para escapar ou até mesmo para se estressar para poder escapar deste para outro lugar, se é que me entende…”
[Hits Perdidos] Agora uma mais polêmica. O rock como música pop está em baixa mas nunca morto. O que acham que falta para ele voltar a cair no gosto das massas? Ou até mesmo se reaproximar dos mais jovens já que o público em geral tem envelhecido.
Rogério: “São dois únicos caminhos. Primeiro educação básica, incentivo à leitura, reflexão e personalidade; outra, investimento de veículos de massa.”
Marcelo: “Eu vejo que os jovens hoje cada vez querem fazer parte do meio, mesmo tendo suas ideologias de contracultura, eles não querem deixar de frequentar as festinhas da universidade ou a baladas onde a música e a boa cultura não tem muita vez.
Falta mesmo as pessoas que tem noção disso terem autenticidade de fazer as coisas acontecerem de qualquer forma, atrair aqueles que se sentem isolados também e mudar a cabeça de alguns, o importante é fazer acontecer – não se conformar e se tornar mais um.”
Thiago: “Acho que o que o Rogério e o Marcelo falaram faz todo sentido.”
Enquanto o álbum não sai: Confira uma playlist nervosa preparada pelo Lo-Fi especialmente para o lançamento do último disco.
This post was published on 18 de junho de 2018 11:06 am
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