[Exclusivo] banda-fôrra abre o coração em Diário de Bordo

 [Exclusivo] banda-fôrra abre o coração em Diário de Bordo

Cruzar o Brasil em busca de se aproximar de antigos e novos fãs é algo recorrente na rotina de bandas independentes. Desafio que envolve planejamento, estratégia de divulgação, força de vontade e investimento. É colocar muitas coisas a prova e estar preparado para se deparar com os mais diversos tipos de situações – e vivências.

Agora imagine a dificuldade redobrada que é para uma banda vir da Paraíba para o sudeste e centro oeste brasileiro. Após a banda-fôrra lançar em janeiro o álbum Trilha, eles vem nos contar como foi toda esta “trilha” que percorreu bem mais de 3000 KM. Para terem uma ideia, esta é a apenas a distância de João Pessoa a São Paulo, mas eles não pararam por ai.

O grupo tocou em SESCs, casas de shows, bares e também integrou o line up do cultuado Festival Bananada. Passando por cidades dos estados de São Paulo, Minas Gerais e Goiás.


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banda-fôrra durante show em João Pessoa (PB). – Foto: Divulgação.

Não sei se vocês chegaram a ver mas no ano passado a banda Musa Híbrida (RS) preparou um Diário de Bordo contando mais sobre a turnê da banda pelo país. Desta vez a banda-fôrra foi além e preparou um Vídeo de Bordo registrando um pouco do que eles puderam vivenciar durante a passagem.

O vocalista Guga Limeira escreveu um pouco mais sobre a turnê que apelidou carinhosamente como Trilha Viva. Ele define as imagens contidas no vídeo como de registro afetivo e bastante pessoal realizado pelos cinco membros do grupo. Já a montagem foi feita por Lucas Benjamin.

Além do vocalista, a banda conta em sua formação com Ernani Sá (Guitarra, Sintetizadores e Piano), Hugo Limeira (Guitarra), Matteo Ciacchi (Baixo) e  Lucas Benjamin (Bateria e Percussão).

Foram 10 dias de turnê, uma maratona de 8 shows que passou por 3 estados. Além da experiência transformadora por tocar no palco do Festival Bananada, eles se sentiram energizados após a passagem. A viagem foi realizada em maio de 2018 e teve a produção da Toroh Music (Rayan e Luiza)

Segundo o vocalista: “Levamos um show especialmente voltado para o disco Trilha, lançado em Janeiro de 2018, e pinceladas do EP que lançamos em 2015. Entre voos e BRs não duplicadas, idas e vindas, montanhas e cidades, foram mais de oito mil quilômetros percorridos – ao som de Vieira, Cidadão Instigado, O Terno, LG Lopes, Bicho-Grilo, Blundetto, Cátia de França, Titá Moura, Rincon Sapiencia, Vintena Brasileira, Arctic Monkeys, Budos Band, Rappin’ Hood, Baiana System, Caetano Veloso, Glue Trip, Banda Marsa, Lô Borges, Red Hot Chilli Peppers, Gilberto Gil, Tulipa Ruiz, Gal Costa, Guinga, Tim Maia, Lupicínio Rodrigues, Paulinho da Viola, Dalva de Oliveira, sons e combustível que nos levaram e levam.”

Confira o Mini Documentário



Conforme puderam ver o vídeo conta com trechos descontraídos deles durante esta “trilha” e com direito a imagens registradas durante as apresentações da banda-fôrra. Mas eles foram além e contaram para gente com exclusividade como foi cada uma das cidades que passaram <3. A partir daqui quem assume o comando é Guga Limeira.

Trilha Viva

São Paulo

São Bernardo do Campo

São Bernardo do Campo é um mistério ainda não resolvido. Pouco tempo atrás essa cidade esteve no centro das atenções do país inteiro por motivos políticos e simbólicos bem fortes, e tocar lá justamente na nossa primeira noite na tour era motivo de grande expectativa. Se há algo para lamentar, talvez seja o fato de não termos tido a chance de chegar mais cedo e pousar nossos olhos sobre aqueles cenários.

A Casamarela é um lugar hipnotizante: uma baleia arco-lírica dança num dos muros, o palco é em baixo-relevo de maneira que o público vê de cima os músicos, as janelas revelam a natureza residencial do bairro em que se nos encontrávamos, e uma das salas no primeiro andar (com uma caixa de espelhos e intenso jogo de luzes) ressignificava a qualidade de oásis daquele espaço. Fomos mui bem recebidos pelos responsáveis da casa e pela turma que assistiu. Rolaram dancinhas, muitos aplausos e até bis! Logo após o show, recebemos de uma figuraça o maravilhoso rótulo de MBD (Música Brasileira Doida). Não dava pra ser MDB por motivos de golpe, né, mores?

São José dos Campos

Não fosse a unidade do SESC em São José dos Campos, grandes chances de que nós não tivéssemos conseguido alçar voo desde a Parahyba (ou até tivéssemos, mas não com a mesma dignidade).

Denise, a responsável por nós recepcionar, foi uma fofa – fofura que contaminou sua equipe como um todo. Em quantos lugares um músico é recebido por técnicos de som que sabem o seu nome?

Eram dois, e que em pouco tempo já se referiam a nós como Luquinhas, Guguinha… amor de muito! Cantamos numa área anexa a um café, com muita movimentação para um público mui diverso, bem família.

Do lado direito, havia uma belíssima exposição fotográfica sobre tribos indígenas do norte do país. Desde a passagem de som, uma turma já estava acompanhando. Cheguei até a fazer um vídeo de um senhor que, latinhas de Skol a tiracolo, dançava a todo instante e não arredou pé até acabar o show. Ainda trombamos com um casal de paraibanos mui amáveis, saudosos do sotaque e super felizes por estarmos lá. Já quero voltar!


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banda-fôrra fez uma longa e recompensadora turnê que passou por três estados brasileiros. – Foto Por: DaniL.

São Carlos

A casa Gig, em São Carlos, é referência que eu já trazia de ouvir falar e acompanhar nas redes. Uma vez lá, vi nas paredes as marcas da passagem de diversas bandas de Parahyba que lá estiveram (Cabruêra, RIEG…) e tantas outras desse Brasilzão. Orgulho danado somar nessa história. Gustavo, um meu xará que nos recebeu e cuidou do palco por lá, foi extremamente cuidadoso e cirúrgico com nosso som. Deu pra subir no palco e se divertir imenso.

A noite era fria e dominical, esquentada por um set de música brazuca antes e depois do nosso show. Pudemos encontrar Marina, amiga de infância dos tempos de escola e que hoje mora por lá, vibrando e reverberando ‘trilha’ e nossas zoadas todas. Ainda encontramos um casal que nos havia assistido quando da nossa passagem por Sorocaba em 2015 (!).

Houve ainda a moça que assistia ao show sozinha, e eu a via lá de cima cantando as letras todas. Desci do palco e fui direto perguntar quem ela era – havia visto um link nas redes por motivos de evento no Facebook e não largava mais nossa trilha, o que só multiplicou a sensação de missão cumprida. A foto pós-show, uma taça em minhas mãos e os sorrisos a postos, é do projeto @luzvermelha e ainda não dá conta da satisfação que sentíamos por ali estar.

São Paulo

Nesta primeira etapa da tour em solo paulista, ficamos com base em São Paulo (a capital). E há sempre esse misto de horror e atração quando piso aqui. A dura poesia concreta das esquinas, o frio cortante servindo de agasalho para aqueles em situação de rua, o bem-querer & o turbilhão de encontrar tanta gente talentosa da música e ser recebidos com tanto carinho e dignidade em função de nosso som.

Foi numa noite com cara de quem quisesse chover que fomos cantar no Baderna Bar. Na parede, uma espécie de cardápio denunciava: Terça-feira banda-fôrra e Litrão a 10 reais. Não pude não rir da minha vontade em montar uma banda com esse nome tão eficaz!

A cerveja gelada destoava dos corações quentes: o palco nós montamos numa espécie de saleta bem na entrada do bar, e logo a casa estava cheia de paraíbas. Foi surreal como conseguimos juntar ali o que se configurava numa espécie de colônia de gente do bem advinda da terrinha, todas ali pra celebrar os encontros em torno dos nossos refrões.

Chegamos até a fazer uma foto na calçada (a turma do Baderna já fechando as portas por trás de nós), numa vibe seleção-brasileña, e fechamos nossa passagem pela terra do alguma-coisa-acontece-no-meu-coração com um lanche no Estadão. São Paulo sempre vale a pena.

Minas Gerais

Uberlândia

Há na vida momentos de grande surpresa. E há Uberlândia. E por isso talvez seja o mais longo dos parágrafos. Explico: voamos de São Paulo para Goiânia, o pequeno aeroporto com nome de senhorinha já tomado por cabeludos e outros tipos desses que orbitam festivais, e de lá pegamos um carro rumo ao interior mineiro. A cara, a coragem, o tétris que é fazer caber cinco cabras mais seus equipamentos num Sedan e um GPS de voz rouca.

As lindas paisagens desse Brasil profundo, serras e vales e vastos verdes, quase sempre nos capturava do triste fato de que estávamos atrasados -muito atrasados! – para a passagem de som. Tínhamos que chegar no Ovelha Negra Pub às 19h daquela quarta-feira pra montar e ter alguma folga. E deu 19h30, 20h, 20h20, 20h40… àquela altura, pensei, chegaríamos apenas pra pedir desculpas e dar meia-volta.

Quando estacionamos na calçada do bar, pouco depois das 21h, o que eu via era um quadro surrealista: uma juventude super instigada e caliente a tomar cachaça e espantar as sombras do que se convencionava chamar ‘dia de semana’ e renovando os conceitos de ‘dia útil’.

Cantamos, dançamos, vendemos discos e fomos felizes no interior das Gerais. E ainda teve uma sessão ‘moments of love’, desses que só nas rádios AM: eu havia recebido dias antes de viajar um pedido via WhatsApp. Era uma pessoa com quem já havíamos contribuído antes aqui em Parahyba, e que vivia na distância uma história de amor com um certo alguém naquela cidade – e nossa trilha era a trilha deles. O pedido singelo para que dedicássemos “Abril” ao casal comoveu a todos, e conferiu àquela noite fora da curva uma aura mui especial. Em Uberlândia deixamos um pedacinho de nossos corações.


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A passagem por Uberlândia foi caliente. – Foto Por: DaniL

Goiás

Goiânia

Goiânia é uma viagem. Ainda me espanto com o fato de essa cidade, no olho do furacão de erguer belezas que é a música sertaneja, venha dando à luz sons como o do Boogarins e Carne Doce.

Tivemos a alegria de dividir a noite com essas duas bandas quando de suas passagens por Parahyba, então estar lá para respirar daquele ar e beber daquela água (mesmo que relâmpago), e justamente no Festival Bananada, era-é-segue sendo uma máxima honra.

No Evoé Café com Livros nós dividimos a noite com a banda Mundhumano, que tem letras super políticas e muita energia no palco. Brinquei muito cantando com um leque cor-de-rosa que havíamos ganhado dos organizadores, e que tinha estampado em letras brancas o nome do festival. E aqui é importante dizer: um evento daquela magnitude, convergindo nomes tantos e tão diversos, e ocorrendo ali no umbigo do país é um acontecimento cuja importância nós talvez ainda não tenhamos compreendido de todo. Mas tudo bem, porque ainda quero voltar lá muitas vezes (e seguir não entendendo pra poder voltar).

Minas Gerais

Uberlândia

Uberaba foi o último show que marcamos antes de viajar. Voamos de madrugada para BH e de lá pegamos um carro que nos levaria por mais uma extravagância de paisagens singulares. Foi nessa estrada, na altura da zona rural de Ibiá, num restaurantezinho de família que plantava todos os ingredientes que utilizava, que comemos o pão-de-queijo mais incrível de todos os tempos (Matteo chegou a anotar a quilometragem do lugar pra poder mostrar pro mundo no Google Earth depois).

Nós tocamos num lugar chamado Laboratório 96, gerido por mulheres incríveis, competentes e super acolhedoras. Abrimos a noite para a banda Insurgência Sertaneja, que mescla elementos da canção, da tradição oral, do teatro e do improviso para entregar um espetáculo redondinho (rolaram até umas rimas de repente com nosso nome!, e que se eu tivesse previsto teria filmado).

Nosso som encaixou direitinho naquela casa, estrutura muito profissional e com público cativo e mui carinhoso. Lá deixamos inúmeras encomendas de nossas camisas laranjas, ainda vendemos um punhado de discos e brindamos muito à vida e às veredas pelas quais o som nos leva.

Belo Horizonte

Concluir a tour em Belo Horizonte deve ter sido das melhores ideias que tivemos. Exceto pelo fato de que a vida é real e de viés, e logo no amanhecer do dia seguinte já começávamos a peregrinar de volta pra casa, não poderíamos ter terminado esta gira em melhor companhia.

A primeira descoberta foram os manos da Lamparina e a Primavera, ajuntamento de gente de coração enorme e de música maior ainda. Era com eles que originalmente dividiríamos a noite, coisa que por uma eventualidade das agendas não aconteceu.

Mas não foi essa eventualidade que os impediu de colar e somar: nos levaram pra cá e pra lá, subiram ao palco pra cantar conosco (Arthur em “Abril”, Hugo em “Momento/Movimento”, digaê! <3) descolaram equipamentos e guarida.

E por falar em guarida, tenho que falar de Alice. A voz e mente criminosa por trás da Banda Cayena foi quem abriu a casa de sua família pra esses cinco retirantes. Muito atenciosa e gentil, permitiu que eu voltasse pra casa com seu disco embaixo do braço e uma camiseta de sua banda no couro. E Marcelo Tofani? Ele apareceu na minha timeline pela primeira vez através de LG Lopes (que até deu as caras lá no evento no finzinho, pra garantir aquele brinde e aquele abraço), o que já depõe muito em favor dele.

O seu disco está na rede há pouco tempo, e vale muito dar o play. Seu show super potente foi muito inspirador, e pela segunda música já estávamos Ernani e eu vestindo a camiseta do seu trampo. Foi para ele que abrimos naquele sábado crocante, a casa cheia e os corações também.

A Growers é um lugar muito singular, lugar de cultura e de trocas, e cujo o palco está sempre aberto para novidades. Foi muito gratificante fechar esse ciclo por lá, e perceber a resposta sincera e animada de um público que (eu soube depois) era formado quase que integralmente por músicos. Este belíssimo horizonte é fonte inesgotável, a música mineira é água na qual continuamente nos afogamos a fim de sair encharcados de belezas, um pouco mais prontos para cometer canções. Nossa Trilha está viva, e muito por conta de momentos como os que vivemos ali.

O que falar depois de um depoimento tão sincero e cheio de amor? Difícil ter palavras para expressar mas que bacana que todo aquele esforço se justificou e que eles querem logo voltar a cruzar o país. E que a trilha continue a ganhar ramificações por este Brasilzão.

Novo Clipe

Após voltarem para casa no dia 08/06 foi lançado o clipe para “Apego”. A faixa que também compõe Trilha que foi lançado em janeiro teve vídeo produzido pela Intéra Filmes. Já a direção é assinada por Lairton Lunguinho.



O vídeo mostra os integrantes tendo seus corpos pintados e eles parecem se divertir com isso. Caretas, brincadeiras e Body painting dão a cara do bem humorado videoclipe lançado na semana passada.

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