Muitas vezes uma banda precisa e encontra o próprio refúgio em si mesma. Não adianta dizer que é fácil tentar se moldar a um modelo vigente para conseguir a atenção e fingir que está tudo bem. Sabe aquela expressão “sorrindo mas morrendo por dentro”? Certas horas ela faz sentido. Mais do que isso, ela começa a gritar.
Ainda mais quase 3 anos na estrada para promover seu bom disco anterior que sempre friso quando comento sobre: atual demais para 2015. Conversava direito com aquele tempo. Com aquele momento da cena independente nacional.
Onda realmente foi importantíssimo na trajetória da banda Alaska e abriu diversas portas. Até disse na época que era um disco maduro, pois sabemos o desafio que é dar a cara a tapa em seu primeiro full-length. A pressão interna por captar a atenção dos outros… somada a de satisfazer suas próprias expectativas pessoais.
É um ponto de desequilíbrio. Porque nem sempre estamos em sintonia nem conosco, imagina com o universo externo. Vai ter gente que vai te estender a mão mas outros irão “te dar a mão só para te empurrar”, já diria o Cólera em 1986.
Até que em certo momento eles disseram: Chega. E começaram a procurar o seu caminho próprio, o mundo em 3 anos mudou demais se formos pensar. Estreitaram laços com quem acreditava e quebraram vínculos com quem não estava muito afim de correr do seu lado.
Sabe aquela Alaska que flertava com o emo e post-rock? Esquece. Não eles não abominam o passado ou deixaram de gostar de todas essas referências, apenas abraçaram outras coisas e se sentiram mais a vontade de experimentar. E não, isso não foi pensado ou mercadologicamente estratégico.
Costumo falar que as playlists de Spotify de qualquer ser humano que gosta de música acima da média estão ficando a cada dia mais diversificadas. Se antes as pessoas tendiam a gostar só de um estilo ou estética, agora com tantos lançamentos: acaba acompanhando e agregando muitos outros.
Eu mesmo já cheguei a olhar para algumas playlists por lá e falei: “O que estou fazendo com a minha vida?” e logo em seguida pensar: “Cara tá tudo bem, que bom que isso aconteceu.” Afinal de contas, que chato é gostar das mesmas coisas para sempre.
Daí que a Alaska me aparece no final de abril com “NVMO”. Uma canção que já traz consigo samples e beats de hip hop e por horas parece que está “com defeito”. É um pontapé inicial para dizer: estamos vivos, tudo mudou, sigamos em frente.
A estética das cores mais quentes e geladas do clipe já dão a ideia de que o tom da conversa vai ser mais introspectivo e profundo. E de fato é. Uma abertura para falar sobre temas em que todos querem falar mas tem medo de serem mal interpretados. Auto-sabotagem, vazio, depressão, ansiedade, confusão mental, estar e não estar, síndrome do pânico, solidão na era das redes sociais, pressão, refúgio e estranhamento.
E como se conectar em uma era onde todo mundo quer se esconder do julgamento alheio? Uma das soluções foi utilizar da própria ferramenta da poderosa – e corrosiva – internet para fazer um experimento social. De certa forma para criar uma narrativa coletiva, ou se preferir o termo em inglês, crowdsourcing, eles foram provar do próprio veneno.
Para este novo disco, os músicos também se inspiraram em relatos dos próprios fãs, que compartilharam histórias pessoais de forma anônima por meio da plataforma Curious Cat.
Ação e reação. Tentativa e erro. Idiotização das redes. Colaboração. Colapso. Sangria. Distanciamento. Reflexão e isolamento. É difícil mas em algum momento da vida você com certeza já se sentiu ou sentirá sozinho enquanto está cercado de pessoas.
Sabe quando alguém te pergunta se tá tudo bem e você não imagina nem como responder? Por mais que a resposta seja um “não tá tudo bem mas não quero conversar” as vezes bate como “não sei e não sei nem por onde começar”.
Aí que nesta sexta-feira (08/06) chega aos serviços de streaming, “____________VAZIO”.
Que grande interrogação esta faixa te deixa. Ela te agride, te deixa pensando em cada situação que talvez por isso ela tenha esse poder de te arrebentar mesmo sem ser uma canção extrema.
“Acho que ‘vazio’ representa muito bem o estado em que me encontro quando alguém me pergunta se está tudo bem e eu não sei muito bem como responder, e muitas vezes prefiro não engajar”, conta o vocalista André Ribeiro.
Numa era de tanto textão e necessidade de tweetar sobre como sua fossa deve ser compartilhada,”____________VAZIO”, vai na contramão e mostra o outro lado do precipício. Um abismo de emoções e um sentimento de impotência perante um mundo que não dialoga com seu estilo de vida.
Como qualquer exercício de empatia “____________VAZIO” não quer te dar respostas, quer apenas estabelecer este diálogo de confiança e apoio. O vocalista André contará o quão pessoal essa canção é em entrevista exclusiva para o Hits Perdidos.
“Esse novo single é quase uma colagem de reflexões sobre minhas inseguranças e minha dificuldade de expressá-las de maneira simples. Talvez por isso ela seja a faixa mais autobiográfica do álbum, mas também acho que seja uma das músicas mais identificáveis que já escrevi”, frisa Ribeiro.
A faixa, assim como o disco, tem produção de Gabriel Olivieri (O Grande Babaca) e mixagem de João Milliet. Enquanto o disco não sai estas duas canções adiantam o clima do disco que já vai se desenhando como um novo ciclo na carreira dos paulistanos.
[Hits Perdidos] Antes de mais nada gostaria de falar que é muito interessante a trajetória de vocês desde os primeiros registros, passando pelo Onda e agora chegando no novo disco com uma outra proposta. Acho interessante demais isso de experimentar e tentar, dou meu braço a torcer. Parabenizo pela ousadia em não querer ser mais uma versão de si mesmo. Para quebrar qualquer clichê de pergunta chata sobre sonoridade, gostaria que falassem mais em como acreditam que esta nova fase conversa com nosso mundo atual, tanto na parte de texturas, passando pela estética que sei que vocês adoram, a até mesmo as composições com temas cada vez mais profundos.
André Ribeiro: “Bom, então antes de mais nada, muito obrigado pelas palavras e pelo espaço. E quem merece os parabéns é você, pelo trabalho excelente do Hits Perdidos. Sou seu fã, Rafael. Me beije como se eu fosse seu último amor. Estamos numa fase bem maluca, amigo. Hiper exposição pessoal através de vícios digitais, polarizações e posições radicais em qualquer plano de discussão e uma epidemia assustadora de transtornos mentais, como ansiedade e depressão. Toda a composição e produção do disco levou em conta nossas experiencias e opiniões sobre essa realidade caricata muito interessante na qual nós vivemos hoje.”
[Hits Perdidos] A videografia de vocês sempre foi um ponto fora da curva, sempre trabalhando com amigos e tentando captar os mais distintos significados semânticos para expandir as ideias e reflexões. Algo que continua e de certa forma vejo uma conversa entre os clipes já lançados. Em entrevista que fiz com o Basement eles falaram que é a parte que mais piram e que tudo tem que se alinhar mesmo, que é um tesão pensar nos clipes as vezes até antes das músicas. Algo bastante peculiar, e para vocês como é elaborar os roteiros?
André Ribeiro: “É um lance muito doido esse universo dos clipes. Temos muita sorte de ter na banda um geniozinho que nem o Gui. Fizemos os roteiros e idealizamos esses clipes juntos, tentando expor nossas verdades, inseguranças e posições. Por enquanto, não estamos mais interessados em fazer esses clipes em que a gente fica “dublando” a música e pagando de roqueirão nuns lugares nada a ver, saca? Não faz mais sentido pra nós e a gente quer que isso pare de fazer sentido pro nosso público também.”
[Hits Perdidos] Eu acredito que o Onda foi literalmente um divisor de águas, abrindo diversas portas para parcerias, turnês fora do estado e um conhecimento maior sobre como a indústria independente funciona. O que acha que deu bagagem e terreno para vocês neste momento apostarem no novo disco? No sentido de o que agora estão mais vacinados e o que ainda sentem que tem que trabalhar?
André Ribeiro: “O Onda foi essencial para entendermos o que a gente NÃO queria ser, fazer, representar e compactuar. A forma de vender e consumir arte, nessa bolha, tá completamente doente. Eu me sentia no automático. Fazíamos um show, postávamos foto do show falando que foi foda – mesmo se tivesse sido uma merda -, dai tentávamos estreitar laços com artistas que não nos respeitavam em nenhum nível, ou que nós não respeitávamos em nenhum nível. Tudo por causa de um modelo que simplesmente não funciona pra nós. Demoramos muito pra entender isso. Somos muito mais simples que isso. A gente só quer fazer coisas legais com pessoas que a gente gosta. Só isso.””
[Hits Perdidos] “_____________VAZIO” que tema, realmente a letra sabe dialogar com uma sociedade que as vezes se faz presente fisicamente mas está longe, em momentos em que ligamos o automático e só vamos mas sem assimilar nada, sem sentir tesão. O que motivou vocês a explorar a temática? Teve alguma experiência que serviu como ponto de partida?
André Ribeiro: “Essa música sou eu todinho, cara (risos). “_____________VAZIO” é quase uma foto da minha cabeça nos dias difíceis. Nunca me expus tanto quanto nessa música e clipe.”
[Hits Perdidos] Estamos em um momento delicado da história mundial, onde muitos estão apreensivos pelos mais diversos motivos sejam eles sociais, políticos e até de calma com a própria alma. Interpretação é algo bastante singular, e querer respostas mais ainda, mas o que almejam que o ouvinte capte ao ouvir o disco?
André Ribeiro: “A proposta desse disco pode parecer bem pretensiosa, partindo do ponto que a gente quer retratar e se comunicar com toda uma geração, né? Mas ao mesmo tempo eu penso que tudo que o disco carrega, são aspectos que todos nós temos em comum e estamos cada vez mais falando sobre isso e deixando de esconder essa realidade. Então, não é algo tão pretensioso, quando colocamos em perspectiva, na minha opinião.”
[Hits Perdidos] Eu sei que vocês ouvem muitas referências distintas, o que certamente ajuda na quebra de se acomodar mas a partir de qual momento quiseram deixar o som mais eletrônico, aliás quem “pira” mais em brincar com sintetizador e drivers? É algo recente e ainda estão tateando? Como foi a produção do Gabriel, que inclusive brincou muito no disco d’O Grande Babaca, e porque a escolha da mixagem com o João?
André Ribeiro: “Eu acho que nem foi consciente esse lance de usar os elementos eletrônicos. O disco tem vida própria, eu vim a perceber. As coisas só foram acontecendo da forma que as composições e temas pediam. Nesse meio tempo, claro que eu e o Vitor começamos a pilhar muito em sintetização e samples, justamente pelas coisas que estávamos escutando (Bon Iver, Frank Ocean, 65daysofstatic, Kanye West).
Estamos aprendendo ainda! Produzir o disco com o Gabriel foi uma loucura. Ele tem uma personalidade muito forte, pra bem e pra mal. Eu amo ele como pessoa e como artista, não imagino outra pessoa produzindo essas músicas. Ele entrou na nossa cabeça e virou muita coisa do avesso, eu não mudaria nada. O João é um profissional que eu já sou fã faz tempo. Adoro a sonoridade de tudo que ele faz e sempre quis trabalhar com ele. Quando ele ouviu as prés, gostou muito, abraçou o projeto e se apropriou do disco como se fosse dele. Sou muito grato pela confiança dele no nosso disco.”
This post was published on 8 de junho de 2018 1:20 pm
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