Selo Psico BR pretende finalizar disco inacabado da década de 70

 Selo Psico BR pretende finalizar disco inacabado da década de 70

A paixão pela música é definitivamente algo inexplicável. Você pode tentar descrever detalhes dos teus discos favoritos, lembrar todas as histórias mágicas e até fazer paralelos com o que estava passando na época que provavelmente: poucos vão realmente entender tudo aquilo que você está dizendo.

Mas paixão é assim mesmo: difícil de explicar e fácil de sentir à flor da pele. A do Fabricio Bizu definitivamente é a psicodelia brasileira. Ele é o grande responsável pelo site Psico BR, que também conta com um grupo no Facebook. Além disso ele pesquisa sobre a história da música psicodélica com enfoque nos anos 60, 70 e 80.

Mas se engana quem pensa que ele não está antenado com o cenário atual do estilo. Entre outros projetos ele organiza festivais (Banana Progressyva, Totem Prog) e promove eventos com bandas que estão se destacando e surgindo no cenário.

Também organiza coletâneas como foi o caso do Tributo à Psicodelia Brasileira (2017) este que contou com várias bandas relevantes do atual cenário como Joe Silhueta, Bike, Catavento, Juvenil Silva e Molodoys.

Mas hoje vamos falar de outra iniciativa que Fabricio tem dentro dos projetos do Psico BR. Ele busca lançar através do selo do site raridades “perdidas” e históricas em formato físico. Fazer jus a história e reconhecer o valor destes é uma das premissas da iniciativa.

Após lançar os dois primeiros lançamentos de forma totalmente independente neste terceiro ele chega através de um financiamento coletivo. O disco em questão é o Psilocibina do Edu Viola, artista que hoje em dia está com 72 anos de idade. A raridade em questão está no fato de que o disco que começou a ser gravado a 40 anos: nunca foi lançado. Inclusive é tratado como raridade até para os colecionadores.


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Capa do disco de Edu Viola que teve seu processo interrompido durante a década de 70. – Foto: Divulgação

Em um artigo no medium para explicar o porquê do projeto Fabricio expõe o caso e sua persistência:

“Para quem achar que 6 meses é um tempo de produção muito grande para prensar um LP, talvez não saiba quanto tempo pode se levar para gravar, mixar, masterizar e conseguir autorizações de mais de 30 pessoas em um projeto complexo e importante como este.

Foram 5 anos de idas e vindas, às vezes procurando pessoas sem nenhuma pista de onde encontrar. Quando encontramos, resgatamos recordações de mais de 40 anos para muitos que gravaram essas músicas, jamais esquecidas. Tudo feito com muito prazer por estarmos sempre sendo guiados por este trabalho.

O disco Psilocibina do músico e compositor Edu Viola abrange toda a carreira desta intrigante figura, junto de seus parceiros artísticos mais íntimos, e juntos de pessoas comuns que poderão participar desta iniciativa para torná-la real.”

Mas quem é Edu Viola?

Edu Viola é um cantor, compositor, luthier e arquiteto urbanista pela FAU-USP. Transitando entre a música e o teatro, Edu trabalhou em diversos projetos com parceiros importantíssimos: Milton Nascimento, Hermeto Pascoal, Belquior, Paulo Herculano, Jamil Maluf, Ademar Guerra, Silney Siqueira e Bibi Ferreira. Atualmente o paulistano está com 72 anos.


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Edu Viola em ação na década de 70. – Foto: Divulgação

Em 2008 foi tema do documentário “Procura-se”, de Rica Saito, que tinha como intenção resgatar a história de Mário Rocha, músico popular no Brasil setentista. Mário é na verdade Edu Viola, e os 43 minutos do documentário contam com cenas ricas e depoimentos de Carlos Callado e Wanderléa.


[vimeo 59008545 w=640 h=480]


A Campanha

O objetivo da campanha de financiamento coletivo é ajudar a finalizar o LP, Psilocibina, que foi interrompido em 1970. Após uma vasta pesquisa que durou 5 anos resgatando memórias, coletando informações e autorizações, a campanha foi iniciada no dia 02/12.

Ela tem previsão para terminar no dia 28 de fevereiro e o projeto se iniciou para arrecadar fundos com a pré-venda de 300 unidades do LP e CD do registro, que já está gravado e pronto para a prensagem na fábrica.

Caso o projeto alcance o sucesso, a estimativa de entrega dos discos é para setembro deste ano. Da meta de 300 unidades, o selo já conseguiu atingir um pouco mais metade do número (156). Caso não seja atingido esse total, os valores serão devolvidos integralmente aos apoiadores, com reajuste.

Para entender melhor toda essa história e os outros projetos da Psico BR conversei com o Fabricio Bizu.


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O disco é tratado como uma lenda da música nacional. – Foto: Reprodução do Documentário Procura-se

[Hits Perdidos] Antes de mais nada gostaria de saber o porquê este registro ficou tanto tempo no limbo?

Fabricio Bizu: “É um mistério para todos, risos. Eu como produtor que propôs o resgate do disco, acredito na história contada pelo filme Procura-se, que conta dessas gravações terem sido encontradas esquecidas num velho baú.

O mistério se dá porque o filme é uma trama de ficção e realidade, e o que eu pude apurar de verdade, é que essas gravações são realmente da época, estão em fitas de rolo e ainda restam muitos outros à serem explorados, revelando esta intrigante história do músico Edu Viola.”

[Hits Perdidos] Como foi o processo de pesquisa? O que motivou a ir tão afundo nesta história?

Fabricio Bizu: “Essa é uma história incrível, fui pego de surpresa assistindo na televisão de canal fechado, a única exibição deste filme sobre a história deste esquecido músico que esteve junto dos tropicalistas, que gravou esse registro chamado Psilocibina, que apesar de ter sido esquecido pelo tempo, é relembrado por diversas pessoas da sua época, entre elas algumas notáveis, como pelo depoimento do crítico e escritor Carlos Callado e da cantora Wanderléa.

O impacto em mim foi tão grande pois minha pesquisa chamada Psicodelia Brasileira tem exatamente isso como foco, o resgate e revelação de músicos, bandas e eventos desde o final da década de 60 até meados de 80, em que se observa o fenômeno da
psicodelia e o rock geralmente juntos, o que chamei de Psicodelia Brasileira e venho pesquisando desde 2008, movimentando e promovendo toda uma cena de artistas da época e da atualidade por meio da página e grupo da Psicodelia Brasileira no facebook e pelo site da Psico BR.

A trilha sonora do filme são exatamente as músicas do disco, ao descobrir isso, na minha missão de pesquisador da história do rock psicodélico brasileiro, fiquei tão estonteado com a originalidade do Edu Viola que de imediato parti numa busca profunda que qualquer colecionador de discos raros faz, ir até os sebos, falar com colegas, revivar a internet atrás de informações.

Indo a fundo nessa busca, ouvi pouquíssimos colecionadores que disseram ter ouvido falar do disco Psilocibina, mas que nunca tinham o visto.

A lenda seria que de tão raro, seria considerado mais que “mosca branca de olhos azuis” para ser considerado como tão difícil como o “chifre do unicórnio”!!! (risos). Dá pra imaginar a sensação de um pesquisador ou colecionador de querer este disco tão raro?”

[Hits Perdidos] Com uma forte geração de bandas despontando no país e festivais focados no nicho da psicodelia, como vê a importância de imortalizar este disco?

Fabricio Bizu: “Existem discos que contém seiva, que servem de fonte para muitas coisas que vieram depois. O disco Psilocibina do Edu Viola contém essa peculiaridade, serve de referência para bandas encontrarem um exemplo de música que passou longe de qualquer tendência da época ou pressão de gravadora.

A forma com que esse disco flui e sua naturalidade lhe transporta para um lugar cheio de gente unida em torno de uma animada roda de música, assim como muitas dessas gravações realmente ocorreram.

Pode-se notar a qualidade dos músicos pela composição e técnica apurada, com um diferencial de ser artesanal, concebido em meio a uma oficina de arte cheio de violões, violas e instrumentos percussivos da natureza, fruto do trabalho de Edu Viola de construir instrumentos musicais. Seu som é marcado por toques rebuscados de viola em duelo com violões dedilhados e exaltações vocais progressivas que chegam num ponto a algo forte e intenso como uma catarse coletiva de uma tribo indígena. Por oras também, sua música é suave, profunda e gentil, temperada com uma molecagem bem-humorada do Edu.”


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Edu Viola e Fabricio Bizu. – Foto: Acervo Pessoal do Fabricio

[Hits Perdidos] O Edu ainda tem o diferencial de confeccionar os próprios instrumentos, “talhar a mão”. Como acha que isso contribuiu para que a sonoridade dele fosse ainda mais característica?

Fabricio Bizu: “Sendo arquiteto e liutáio-construtor, vejo ele fazer música de qualquer instrumento que cria, não necessariamente cria, também com qualquer coisa que ele toca, de forma espontânea passa a explorar a estrutura do corpo físico e consegue tirar a melhor sonoridade daquilo naquele momento, surpreendendo a gente por essa forma inusitada com que o Edu Viola se apresenta.”

[Hits Perdidos] No doc dá para notar que ele teve a oportunidade de conviver com grandes nomes da música nacional. Quais histórias mais te chamaram a atenção?

Fabricio Bizu: “Tem várias histórias com grandes nomes e para todos os gostos. Acho importante a relação que ele teve de levar o ainda menino Milton Nascimento para o teatro, e ter encaminhado, instruído ele certamente dando voz inicial ao trabalho de ator que trabalhava e de cantor, imagine só o quão importante para a música brasileira deste grande cantor ter passado pelo convívio do Edu.

Do lado do desenho, fico fascinado ouvindo o som do cartunista Paulo Caruso, aquele que faz as melhores charges políticas, tocando baixo e cantando. Tem o lado Woodstock, que acho a mais legal, do Edu ter participado dos principais festivais de música brasileiros na década de 70, ao lado de lendárias bandas como Alpha Centauri e o Sindicato, ele abriu show para os Mutantes e o Terço, entre outros grandes.

Para amantes do teatro, ele contribuiu muito ao lado de Paulo Autran, Bibi Ferreira, entre outros, até no cinema, com trilhas sonoras. Mas de todas, a que mais me impressiona até agora, é ter feito par romântico com Sonia Braga na primeira montagem da peça musical Hair, tem uma foto linda desse momento, imagina só que estouro!!!”


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Edu ainda continua em atividade. – Foto: Divulgação

[Hits Perdidos] O vinil voltou a um tempo com muita força no mercado mas acredito que também tem o apego emocional de descobrir os discos desta geração todos em casa de parentes e sebos. Quão importante foi para você iniciar esta campanha e quais as motivações? A prensagem de vinis no país ainda é algo bastante caro, qual a perspectiva que tem para o futuro desta indústria no país?

Fabricio Bizu: “Eu fui da época do vinil quando pequeno e na adolescência começou o cd. Não tive nenhum apego à mídia em si pois estava mais focado em descobrir música. Quando adulto já com uma considerável coleção de cd’s e principalmente um imenso acervo digital, decidi que iria me dedicar criar uma musicoteca e comecei buscar títulos importantes que valeriam a pena.

Descobri muitos discos pela internet percebendo que muitos nunca tinham sido lançados em cd. Para mim essa continua sendo a grande revolução para a música de rock psicodélico brasileiro, pois vemos milhares de jovens descobrindo esse material gratuitamente na internet, apresentado diretamente por quem conhece do
assunto.

Ficamos sabendo então que estes discos tiveram pouca tiragem, muitos não tiveram sucesso mas sempre foram reverenciados, ainda mais hoje com essa facilidade de acesso, porém ainda dependente do público fazer um esforço para chegar nesse território não explorado.

O resultado é o que estou fazendo agora, investindo por anos nessa campanha para lançar o disco Psilocibina do Edu Viola, vindo a se tornar o terceiro lançamento do selo PSICOBR, que a cada projeto movimenta anos de pesquisa, negociação e principalmente dinheiro, do qual aplico por meio de outra atividade profissional não relacionada, que permite alimentar essa minha missão de resgatar e revelar artistas brasileiros que
considero seres extraordinários.

Após ter financiado os dois primeiros lançamentos do próprio bolso, nesta terceira, junto do público que já conhece o meu trabalho e aos fãs do Edu, estou pedindo a colaboração coletiva para que se der certo, podermos continuar nesse ritmo podendo lançar a cada ano, o que seria bom demais.

A motivação pelo vinil se dá pela forma icônica com que a música sempre foi
representada com a imagem do vinil e sua capa. Mais a fundo, a sensação desta experiência, é a de propiciar um ritual prazeroso de ouvir música sem quantidade de interrupções que estamos sujeitos pelas outras mídias, algo que todos com menos de 40 anos que não viveram a época, incluindo a mim mesmo, devem ter a oportunidade de experimentar.

Quanto ao valor, aqui no Brasil é caro sim e no exterior também é da mesma forma, só que lá tem mais volume por isso barateia um pouco. Não faço questão de ser vinil para todo e qualquer lançamento, acho válido para este caso em especial pois os
músicos envolvidos tem tamanha identificação com essa mídia, que caso não o fizéssemos em LP, seria como se um padeiro deixasse de fazer o seu pão. A minha perspectiva os discos não serão populares e baratos como é o celular hoje em dia, e nem precisam ser, aprendi que há um conhecimento técnico e muito complexo para se produzir com essa qualidade, o que faz com que para se o disco realmente deva
valer a pena.

Para isso, tem que organizar uma rede, tem que estudar, fazer curadoria, organizar
finanças, tudo o que envolve a mídia e seus processos antigos somados a nossa atual experiência virtual para reunir os apoiadores. Acredito que esse disco assim como os outros lançamentos da PSICOBR seja valorizado devido à toda essa temática.”


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Poster do Festival Banana Progressyva (2015).

[Hits Perdidos] Quais outros projetos a Psico BR realiza? E quais os planos par 2018?

Fabricio Bizu: “A PSICO BR também realiza o resgate da história dos festivais de música brasileiros nos anos 70, por meio do compartilhamento de conteúdo de imagens e vídeos raros da época e do que tá pegando na atualidade, são pôsteres e cartazes exuberantes, filmes inéditos, documentários, enfim, tudo que serve de conexão da galera setentona dos anos 70 junto com a galera jovem de vinte e poucos anos, que é a maioria absoluta na internet, que vem admirando e curtindo os anos 70 como se fosse hoje, ou quase
isso, risos.

Devido a essa conexão, a PSICOBR ou PSICODELIA BRASILEIRA, já realizou além de discos e posters, um tributo à Psicodelia Brasileira com bandas de todo o pais, com a participação da Bike, Catavento, Joe Silhueta, entre outros menos conhecidos. Também já realizamos exposições em São Paulo, Embu Das Artes e na Bienal Internacional de Cultura Psicodélica.

Realizamos festivais como o Banana Progressyva em 2015, com a apresentação do Terno, Selvagens à Procura de Lei, Vanguart, Ludovic, Cachorro Grande, entre outros. Fizemos o Totem Prog em 2017 com 2 dias de atrações do rock progressivo brasileiro, e faremos uma nova edição deste festival em 2018.

Outra curiosidade foi que passamos a produzir os shows com projeções psicodélicas, fazendo essa fritação visual para bandas clássicas em atividade como a Som Nosso de Cada Dia e Terreno Baldio e até bandas novas, algumas stoners que trombamos por aí, foi demais.

E não vamos parar por aí, em 2018 nosso foco total será lançar o Psilocibina do Edu Viola, e em paralelo estamos incubando e produzindo os próximos lançamentos de 2019, 2020… Esperamos seguir com o financiamento coletivo contando com a força da galera para ajudar nessa difícil missão de produzir cultura nesse país.”

[Hits Perdidos] Agora é sua hora de chamar o pessoal para participar da campanha.

Fabricio Bizu: “O disco Psilocibina do Edu Viola está sendo lançado em apenas 300 cópias numeradas e já passamos da metade dessa meta, com a campanha terminando dia 28 de fevereiro ou enquanto não acabarem as 300 cópias.

Enquanto existem discos gringos ou outros lançamentos de artistas consagrados e
largamente colecionados com preços muito maiores e menos material que você leva pra casa, no pacote de R$100 do PsilocibinaEdu Viola você leva: LP com encarte de luxo, CD digipack com as músicas do LP e bônus e mais um lindo pôster pra viajar no som, porque os lançamentos da PSICOBR tem todo esse cuidado de colecionador.

Agradeço a você Rafa do Hits Perdidos por apoiar essa causa, tive o prazer de
ouvir seu programa com playlist de psicodelia e achei chapante, meus parabéns. Agradeço especialmente à Josiane Gadonski que nos ajudou imensamente nessa campanha.

Convido então aos apreciadores em questão, para participarem do financiamento coletivo do disco Psilocibina do Edu Viola, é só fazer um depósito bancário no valor de R$100 para Fabricio Grisolia Torres, Banco Itaú, Agência 4100, Conta 27979-5 e confirmar pelo email [email protected] ou whats 19-991137032. Para cartão ou boleto use o Pagseguro Uol para o e-mail ou cartão para Paypal, no mesmo
endereço.

A campanha termina dia 28 de fevereiro e já entraremos em produção para
que possamos entregar no máximo até setembro de 2018. Para todos os detalhes acessem o site da PSICOBR: www.psicobr.com.br


ROLO
Fita de rolo encontrada com os registros inacabados. – Foto: Reprodução Documentário.

Para Mais Informações:
Site da Psico BR
O Financiamento Coletivo
Justificativa
Discografia do Edu Viola
Fanpage do Edu Viola
Ouça alguns trechos do disco

1 Comment

  • ola, é Genial ver tudo isso como foi importante esta época, curti algumas coisas, apesar das dificuldades de informação, a ditadura, anos de chumbo, mas quem não dormiu no sleeping bag nem se quer sonhou. Um Abraço.

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