Com oito anos de estrada o Huey é um dos principais grupos do cenário de metal experimental de São Paulo. É até difícil rotular o som deles.
Como dito durante entrevista realizada com o guitarrista Vina, tentei aproximar ao conceito de Metal Alternativo exposto no livro, Nós somos a tempestade: conversas sobre o metal alternativo do jornalista Luiz Mazetto, para tentar explicar a sonoridade.
Porém definir o som de uma banda muitas vezes limita o que ela é, e as vezes não ter um conceito muito fechado: é algo bom. Dá chance para a surpresa.
Tem um pouco de Stoner Rock, tem o mix do alternativo do Deftones mas tem também espaço para o pós-rock e experimentações. Talvez este “choque” que faça com que a panela de referências faça do resultado final algo tão atrativo.
Vina inclusive cita a frase de Billy Gibbons, do ZZ Top que uma vez disse: “O mais importante é você fazer a música que você gostaria de ouvir“. É desta forma que ele define o casamento sonoro e entrosamento atual do grupo.
Em sua formação eles além de Vina contam com Dane e Minoru nas guitarras, Vellozo no baixo e Rato na bateria. Até então o Huey lançou o disco de estreia, Ace (2014), o EP ¡Qué no me chingues wey! (2010), e os singles “Por Detrás de Los Ojos“ (2012), “Valsa de Dois Toques” (2014), “Adeus Flor Morta” (2016) e “Pei” (2017). Este último já servindo de aquecendo para o próximo disco.
O show deles é bastante explosivo. No ano passado tive a oportunidade de assistir durante o Sinewave Festival que aconteceu no Palco Z (Z Carniceria). Catártico e explosivo ele foi logo para a lista de melhores shows do ano.
2018 será um ano grande para os paulistas. Eles após o carnaval pretendem lançar seu segundo disco de estúdio, Ma. Para aquecer em dezembro eles soltaram através de um videoclipe o primeiro single, “Pei”.
A produção dirigida por BendLeve Filmes, conta com cenas da banda tocando e takes externos numa floresta com performance da atriz Beatriz Martinhão. A montagem ficou por conta de Bruno Henrique e a direção de fotografia e câmera são assinados por Luiz Maximiano.
Por aqui o videoclipe chamou bastante a atenção e acabou sendo eleito como um dos melhores do ano passado. Mais precisamente como o melhor de Dezembro na lista de Melhores Clipes de 2017 do Hits Perdidos.
O novo disco, Ma, foi mixado por Steve Evetts e masterizado por Alan Douches. O registro foi gravado por Family Mob Studios por Steve Evetts tendo Hugo Silva como assistente. Já a arte do disco é assinada por Fábio Cristo.
Para saber mais sobre o álbum – e os planos para 2018 – conversei com o Vina, ele que também tem um blog incrível em parceria com a Amanda Mont’Alvão, o Sounds Like Us. Que caso você ainda não conheça: deveria ir direto para sua barra de favoritos.
[Hits Perdidos] Quatro anos do lançamento do Ace, no meio do caminho tendo lançado o single “Adeus Flor Morta” (2016), e agora vem “Pei” com dois pés na porta para mostrar que estão mais vivos do que nunca. O disco Ma também celebrará os 8 anos de banda, como notam que o entrosamento e a constância de shows tem feito a
diferença no atual momento da banda?
Vina: “Acho que em nenhum momento a gente esteve menos vivo, sabe. O Ma é um
disco feito com muito cuidado e dedicação. Ele é decorrente de estarmos mais
juntos que nunca. Na real esse é o motivo maior pra esse entrosamento que você
citou. Uma banda pode ter uma puta constância de shows e não ser entrosada.
Nosso entrosamento vem da gente fazer junto o que a gente gosta e dentro disso, o
tempo é nosso. Por isso, esse novo disco vai chegar no nosso melhor momento.”
[Hits Perdidos] Algo que me chama bastante a atenção no som de vocês é saber dosar bem uma série de influências que no livro, Nós somos a tempestade: conversas sobre o
metal alternativo, foi chamado de metal alternativo. Mas mais do que isso o som é
atual e conversa com o math rock, post-metal, post-rock, experimental, Stoner
entre outros gêneros. Como é o processo de composição e como é feita pesquisa
por referências?
Vina: “Pô, obrigado. Legal essa percepção. A gente é uma banda aberta a diálogos.
Gostamos disso. É um emaranhado de referências diferentes trazidas por pessoas
diferentes e eu acho muito rico aprender e criar a partir disso.
Não há uma pesquisa por referências como você disse. A gente não senta e diz “ok, vamos fazer um riff pesadão e depois entrar numa viagem tipo Red Sparowes”. Acho que a gente vem conseguindo criar nosso estilo exatamente porque admiramos, mas não queremos ser como o Black Sabbath ou o Deftones.
A gente sabe do valor dessas bandas e tentamos criar algo nosso a partir disso. Por isso não sei se a gente é post-alguma coisa ou somente metal alternativo, mas acho que somos uma alternativa na forma como a gente vê o metal.
O Ma é resultado disso e as composições surgiram de esqueletos que cada um da banda trouxe. Como uma espinha dorsal mesmo. Em cima disso a gente foi tocando junto, adicionando e tirando partes, elementos, riffs, até que a música ficasse de acordo com o que queremos transmitir.
De certa forma, Ma é um disco bem exigente. Talvez pela nossa maturidade, resistência, insistência e certeza do que a gente quer. O resultado final tem a ver com isso e se esse pensamento é pertinente, só o tempo vai confirmar. O Billy Gibbons, do ZZ Top, uma vez disse que o mais importante é você fazer a música que você gostaria de ouvir. O Huey é isso.”
[Hits Perdidos] Algo a se destacar no som de vocês é o bom uso dos pedais. Quais usam? Já chegaram a construir alguns para alcançar determinada sonoridade?
Vina: “Valeu mais uma vez. Efeito é uma coisa perigosa, né. Cara, o Minoru é um cara mais ligado nisso. O Vellozo sempre testa e usa bem algumas coisas no baixo também. Eu e o Dane somos mais, digamos, diretos.
Eu só uso um Turbo RAT, um Delay Carbon Copy, da MXR, e um afinador e Equalizer da Boss. Nas gravações eu usei um Electro Harmonix Cathedral gentilmente cedido pelo Erick, do Labirinto.”
[Hits Perdidos] O que achei mais interessante de “Pei” foi que o peso ainda está lá mas acredito que a aproximação com a sonoridade do Deftones, Metallica e o próprio QOTSA podem trazer para perto um novo público.
O que pensam sobre isso e também queria saber como estão os ânimos para assistir a dobradinha Deftones (Show foi cancelado) + Quicksand no Brasil? Na minha opinião deveriam chamar vocês para abrir. Já que estamos falando de som gringo, o que acharam do novíssimo disco do Quicksand após 22 anos?
Vina: “Pô, que os deuses do rock e produtores do show te ouçam… (risos). Faria muito
sentido pra gente abrir um show do Quicksand, sem dúvida.
Acho que “Pei” tem esse peso que você disse, mas é um peso que tá no groove, no clima misturados a uma levada mais direta e intensa. Ela é uma música que vai pra cima!
Sobre isso de trazer um novo público, eu acho que hoje em dia quem ouve essas três
bandas é quase o mesmo público. As coisas se misturaram bastante de uns 20 anos
pra cá, né. Mesmo com essa miscigenação de gosto por diferentes bandas, ainda
assim não consigo te dizer qual é o nosso público porque isso seria limitador demais.
Acho que ele é composto por todo mundo que se sinta tocado pela nossa música. E
essa pessoa pode gostar de João Gilberto, Exodus, Wolves in the Throne Room ou
Devo, sei lá.
E cara, o Deftones é uma grande referência pra mim e pra a banda. O Aaron Harris
(que gravou nosso Ace) estava em tour com eles e disse que o Chino ouvia nosso
disco no ônibus e foi uma alegria saber disso.
Sobre o Quicksand, o disco novo deles foi algo muito aguardado mesmo. Eu adoro a banda, o Walter Schreifels é um grande compositor e uma referência de visão de mundo dentro e fora da música. O disco novo deles é algo que eu ainda acho que vai evoluir mais com o tempo. Por enquanto ele é um bom disco.
Sobre o que você perguntou em relação às influências dessas bandas, eu consigo ver
algumas conexões, mas não é algo tão na cara. Acho que Ma é um disco influenciado
pelo Huey mesmo, sabe? É um disco que tem a história e o aprendizado do Ace. Tem
também a nossa maturidade como banda e o impacto de outros acontecimentos.”
[Hits Perdidos] “Pei” veio acompanhado de um clipe gravado em uma floresta. De onde veio a ideia e como acreditam que isso dialoga com o conceito do disco novo?
Vina: “Eu acho que “Pei” é um bom couvert para o novo disco. Tem todos os
elementos que representam a gente como banda e o clipe traz um pouco isso.
O lance da floresta foi ideia do editor do clipe, o Bruno BHS e o trabalho dele ficou
lindo. A captação foi feita pelo Luiz Maximiano, que é um puta fotografo conhecido
nosso e desde o início a gente achou isso bem interessante. A visão de fotógrafo
dele é algo diferente de quem já filma clipe e tem um olhar pra vídeo.”
[Hits Perdidos] Quais experiências e sensações vividas na metrópole tem instigado as novas composições?
Vina: “Acho que o meio em que a gente vive acaba influenciado nossa música, mas a
forma como cada um digere isso e transforma em sensações é algo bem pessoal.”
[Hits Perdidos] Fim de ano e queria saber quais discos vocês mais gostaram. (A entrevista foi realizada no fim de 2017)
Vina: “Olha, 2017 pra mim foi da trinca GlassJaw (Material Control), Annie Hardy
(Rules) e Amenra (Mass VI).”
[Hits Perdidos] O que podemos esperar de Ma? Quando pretendem lançar o álbum? E como observam o atual cenário brasileiro de “rock torto”?
Vina: “O disco sai depois do carnaval. Lá pelo meio de fevereiro.
Olha, tem bandas bem legais fazendo coisas excelentes. Eu gosto muito do The Pessismists. É uma galera do Garage Fuzz e Futuro que faz um garage punk com referências de pós punk.
O Ralo é uma banda que lançou um belo disco, o Hell is Real. Gostei bastante do último EP do Dash e tem o Desalmado que também tá pra lançar disco novo e acho que vai ser um dos grandes lançamentos de 2018.”
Para fechar pedi para que montassem uma playlist com barulhos dão o norte que o álbum terá. Inclusive não deixe de seguir o Hits no Spotify para playlists exclusivas.
Vina: “Pra ficar democrático, a gente escolheu 3 músicas cada um.. (rs). Lá vai.”
Nota do Editor: Fica o desafio para vocês descobrir quem escolheu cada “trinca” de sons.
This post was published on 22 de janeiro de 2018 10:24 am
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