Ainda me lembro a primeira vez que ouvi o som da Emerald Hill. Foi uma sensação de conforto em se sentir abraçado mesclada a uma nostalgia de um tempo que definitivamente eu não vivi.
Tinha um pouco de post-punk ali, batidas eletrônicas e letras que poderiam ter vindo do “emo” brasileiro dos anos 90. Tudo leve e denso ao mesmo tempo. Pop, cativante mas com aquela raiva – e drama – de guitarras que carregam uma certa agonia – e pulsação.
Eu diria que “Nos Seus Braços” é tão punk rock como hits perdidos de bandas como Latterman, Verse e Hey Mercedes. Tem versos ali que poderiam ter sido escritos por Nenê Altro do Dance Of Days (e zilhões de projetos).
O mais louco é que a canção tem aquela levada do post-punk mais fúnebre do Bahuaus, somada ao shoegaze do My Bloody Valentine e a cortação de pulso do The Cure. Influências confessas da banda. Eu ainda adicionaria que o som deles bebe bastante do Depeche Mode.
Após esse lançamento de single em Agosto de 2016 confesso que fiquei em abstinência para saber quais seriam os próximos passos do grupo paraibano. Eles que também em paralelo comandam o selo independente Fiasco Records que já falamos por aqui em algumas oportunidades.
Inclusive o baixista Gabriel Novais lançou com PREMIERE no Hits Perdidos no ano passado seu projeto solo no ano passado. Ele que é natural de Fortaleza (CE) e em seu EP experimental/eletrônico narra um pouco da saudade de sua terra natal.
Além de Gabriel a Emerald Hill é um power trio que conta com Vítor Figueiredo (vocais, guitarra) e Luiz Lopes (bateria).
Para curar essa abstinência por boa música (já era hora!) eles estão lançando nesta segunda-feira (08/01) seu mais novo single, Recomeço. Este que conta com lado A (“Recomeço”) e lado B (“Todo 11 de Abril é um Dia Chuvoso”).
“Recomeço” já começa com a guarda baixa, o olhar caído e a sensação de ver os erros do passado e não poder fazer nada. Angústia, auto-flagelo e tons cinzas dão o norte da canção que corrói feito o cortar de uma navalha.
Os beats eletrônicos do teclado dão a noção de amplitude da vala que o interlocutor se encontra. Da mesma forma rápida que a canção se introduz, ela vai esvai feito um tiro curto.
É incrível como o som deles me leva para a industrial Manchester e sua obscura cena eletrônica local. 24 Hour Party People! Ao mesmo tempo que seus versos mais autodestrutivos tem aquela áurea moribunda das letras do Jair Naves.
Daí que temos o lado B ainda mais imersivo na música eletrônica. É ai que vejo o Depeche Mode e até o Kraftwerk dentro do som da Emerald. Com linhas simples, minimalistas e delicadas que fazem com que “Todo 11 de Abril é um Dia Chuvoso” pareça o rebobinar de uma fita – ou de um sonho sem fim. Se estivesse em um disco provavelmente seria uma bônus track obscura.
Agora é esperar o álbum que deve sair agora no primeiro semestre mas que já dá indícios de que fará uma grande viagem no tempo – e no campo das emoções mais profundas.
[Hits Perdidos] É o primeiro lançamento de vocês em um bom tempo após o single “Presciência” em 2016. O que agregaram de influências ao som?
Pessoalmente, eu acho que discos como 808s & Heartbreak do Kanye West, The Downward Spiral do Nine Inch Nails e Low do David Bowie exemplificam bem o tipo de coisa que eu procurei em alguns momentos, mesmo que eu pense que não seja uma influência tão na cara assim. Fora isso, eu acho que eu puxei um pouco mais de bandas emo como Mineral e Fresno, mas penso que isso fica mais aparente em outras músicas que já gravamos pro álbum novo.”
[Hits Perdidos] Vocês pretendem este ano lançar material inédito, será um EP ou o primeiro disco cheio de vocês? Aproveitando a deixa do EP ou disco, plataformas como o Spotify e o Deezer tem mostrado que a “fórmula” para uma banda nestas plataformas “bombar” é ter um single em várias playlists. Como enxergam este novo tipo de tendência?
Vitor: “2018 (finalmente!) é o ano que a gente lança nosso primeiro álbum, com certeza, e ele vai se chamar Para Sempre Conectados Mas Eternamente Distantes. Todas as músicas já estão compostas e mais da metade do disco já estaria pronta pra sair hoje se a gente quisesse. Rolaram alguns contratempos previsíveis nos últimos tempos, pra uma banda de pessoas que não vivem de música, mas agora tudo tá bem tranquilo.
Quanto ao streaming, acho que essa era digital da música abriu espaço pra muitos artistas que antes não teriam uma oportunidade tão democrática de chegar no ouvido das pessoas, mas também mantém alguns dos defeitos antigos (algumas participações em playlists do Spotify me cheiram a jabá 2.0, honestamente).
Pessoalmente, eu não acho que a Emerald tem o perfil de banda que “bomba”, a gente tá lançando um single que nem refrão tem, hehe, acho que os shows que a gente faz funcionam melhor pra divulgar a banda; mas também, a gente não teria nem um décimo do que a gente tem hoje se não fosse o interesse de pessoas de fora de João Pessoa, então acho que a questão de gerar um mínimo de “cult following” através da internet também é uma realidade.”
[Hits Perdidos] O que acho “louco” do som de vocês é quando definem como post-punk e shoegaze mas ao mesmo tempo citar o Weezer como influência. Com certeza tem muito anos 90 e até brincam isso no primeiro lançamento com a temática dos videogames (e até o nome da banda vir do Sonic: contem essa história também!). Queria que contassem mais disso dessa perspectiva dos 90, sons, games e nostalgia eterna que influencia bastante na estética de vocês tanto quanto os 80.
Vitor: “Weezer é uma influência muito forte desde sempre pra mim, na verdade, mas sempre foi um tanto mais pelas letras, eu puxei muito do Pinkerton na hora de escrever as músicas do Dreams to Come, e tem uma música do disco novo que tá entre Only in Dreams e um Post-Rock.
Todo mundo da banda adora videogames, acho que o nome da banda foi uma escolha bem feliz por isso; quanto à história, honestamente, é bem boba: a gente não conseguia por nada decidir um nome, todos os nomes que eu queria dar já tinham sido pegos, a gente chegou numa fase de só ficar olhando lista de coisas na Wikipédia pra ver se saia algo bom, mas não deu em nada.
Na mesma época, eu tava jogando uns jogos no emulador de Mega Drive e logo a primeira fase do Sonic 2 se chamava Emerald Hill Zone, eu achei que dava um nome legal sem o Zone e a gente meio que ficou nesse mesmo. Na real, não sei se foi uma boa ideia porque ninguém nunca entende quando eu falo pessoalmente, haha.”
[Hits Perdidos] Queria que contassem mais do lado A e do Lado B do single.
Vitor: “Recomeço” é uma música bem antiga minha, eu escrevi ela quase que exatamente 3 anos atrás no Rio de Janeiro, mas aí com uma letra em inglês e com a intenção de ser maior. Eu considerei colocar ela no Dreams to Come mas eu senti que não tava boa o suficiente, e alguns meses depois quando decidimos escrever músicas em português ela se encaixou até melhor do que em inglês, por isso que eu resolvi reviver ela.
Vai ser a primeira faixa do álbum novo, e a letra dela tem um tema de distância que eu acho que paira sobre todas as músicas que eu escrevi para o próximo lançamento. O final da música foi a última coisa que eu escrevi pro disco na verdade, mas acho que não é algo muito perceptível, eu escrevi sobre um evento que na época era atual mas que também era muito parecido com o que gerou a primeira parte da letra.
“Todo 11 de Abril é um Dia Chuvoso” é a música mais longe de qualquer outra coisa que a gente já lançou, quase toda levada por sintetizadores e com um break de spoken word no meio. Essa não deve entrar no disco, mas ela não é tão diferente de algumas músicas que eu já tenho certeza que vão estar lá. Eu gosto da tradição do lado B como um espaço pra experimentar com sons novos, e eu aproveitei essa oportunidade pra ir de cabeça em algo que minhas outras composições só flertam.”
[Hits Perdidos] Apesar da banda ser de João Pessoa vocês tem uma forte ligação com Fortaleza. Queria que contassem mais sobre isso e como tem sido o planejamento para 2018.
Vitor: “Gabriel, o nosso baixista, nasceu em Fortaleza e conhece muito gente que trabalha na produção independente artística na cidade, isso nos abre muitas portas por lá tanto em relação a Emerald, como em relação a Fiasco.
Um dos primeiros shows da Emerald Hill foi em Fortaleza, tocamos lá antes de sequer tocarmos em João Pessoa. Desde o começo da nossa jornada com Fiasco a Nanda Loureiro e a de forma geral a Banana Records (selo cearense) foram grandes parceiras nossas.
Atualmente estamos produzindo um evento da Fiasco em Fortaleza que vai servir como uma espécie de lançamento desse single novo, o rolê vai acontecer dia 19 no Berlinda Club e vai contar com a gente, Vitor Colares, Indigo Mood e Old Books Room.
Gabriel: “O selo começou meados de 2016 e no início era apenas eu, Vitor e Giuliano. A Fiasco nasceu como uma espécie de revolta ao contexto paraibano de produção musical.
Quando começamos a Emerald Hill sentíamos que não existia espaço pra gente ali, tanto que nossos dois primeiros shows foram em Campina Grande e Fortaleza respectivamente.
A cena musical de João Pessoa parecia um círculo fechado da qual não fazíamos parte, sendo assim, começamos a produzir nosso próprios shows e eventos como meio de nos mantermos vivos dentro desse espaço. Toda essa revolta acabou se resumindo na Fiasco Records, que hoje conta com a preciosa ajuda de artistas como Béatrix Cardoso e Kaio Gonçalves pra tocar os projetos, virando uma espécie de coletivo artístico onde tentamos criar espaços para a arte independente e servir como um exemplo vivo da contra-cultura paraibana.
Em relação a novos lançamentos, estamos começando a trabalhar no contexto do rap paraibano e em 2018 devem começar a vir esses trabalhos de produção e gravação, além disso temos alguns lançamentos planejados como o álbum da Emerald Hill, o lançamento do EP da Indigo Mood, o novo álbum do NVS e um novo projeto chamado Bessa Beach Army, projeto idealizada por Rafael Jordão e Kaio Gonçalves que vai servir como uma espécie de “superbanda” aqui de João Pessoa na qual eu e Vitor estamos produzindo e gravando.
Para fechar pedi para que eles montassem uma playlist no Spotify com apenas canções ideais para jogar videogame. O resultado foi bastante divertido, Vitor até comenta:
“Eu tentei colocar umas músicas animadonas, algumas que eu já ouvi jogando umas coisas (geralmente eu jogo ouvindo música do jogo, mas não é muito regra isso) e geralmente ficando mais frenético com o passar do tempo (tipo fases num videogame).”
This post was published on 8 de janeiro de 2018 11:04 am
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