[Lançamento] Araras Negras surfam contra a correnteza em “Extinção”
Começar uma banda não é nada fácil. Primeiro por muitas vezes não ter noção na “treta” que está se enfiando. Depois vem a fase de se entender internamente, ver o alinhamento e os ensaios. Entender qual será a do som e se todos estão na mesma sinergia. Sem isso a “liga” não está feita.
Mas antes fosse estas apenas as dificuldades. Se fosse, tranquilo bastava o tempo. Como provavelmente ninguém nunca ouviu falar de sua banda vem o desafio de provar que: 1 – Existe. 2 – Merece ser ouvido.
A divulgação do primeiro registro então, é um desafio a parte. A verdade é que o frescor do novo também é uma arma mas sabemos que como tudo que é novo precisa daquele primeiro empurrão.
Esta é uma das razões porque criei o Hits Perdidos lá em 2014. Ajudar as bandas independentes independente de seu estágio e junto aos programas que fazemos a curadoria na Mutante Radio temos dado espaço a maioria das bandas que mostram ter potencial e qualidade.
Pude conhecer nos últimos dias o trabalho dos Araras Negras. Banda da capital paulista que no último dia 30 lançou seu primeiro EP, Extinção. Assim como o The Raulis e Os Aquamans – que está presente na lista de 104 Clipes Independentes Lançados em Outubro – o trio surfa pelas ondas da música instrumental.
Eles que descrevem suas influências e estilo de maneira bastante caricata:
“Dick Dale e Tarantino, adaptam-se muito bem em solo brasileiro, misturando-se com psitacídeos de garras afiadas como Gonzagão, Nelson Cavaquinho e Gláuber Rocha. Ameaçadas de extinção, essas aves engraçadas, porém perigosas, ainda podem ser encontradas em ambientes de alta temperatura, elevado teor alcóolico e forte incidência de tempestades elétricas.”
Assim como o The Raulis o visual também conversa com o DNA da banda. Os pernambucanos usam máscaras de “luchador”, já os paulistas como podemos ver na foto optam pela pintura e máscaras. Tudo isso para encarnar o espírito selvagem das Araras.
Claro que essa mistura também se reflete na atmosfera “caliente” e rebelde no som dos surfistas de concreto, ou melhor dizendo de mata atlântica. Não podemos esquecer que os temas se conectam já que vivemos no país da Pororoca.
Araras Negras – Extinção (30/10/2017)
Em sua formação os Araras Negras tem Marcos Mossi (Guitarra), Lucas Penna (Baixo) e Digo Castello (Bateria).
O EP que conta com duas canções “Ararapira” e “Pororoca”, ambas que foram produzidas pela própria banda e gravadas no Estúdio Freak. A captação e mixagem foram realizadas por Nico Paoliello, já Pedro Lobo assina a masterização.
Para alinhar o tema da Extinção o trio optou por explicar um pouco mais sobre a escolha dos nomes para as canções. Então senta que lá vem história.
“Ararapira é um vilarejo histórico no litoral norte do Paraná. Muito afetado pela erosão decorrente de um canal aberto nos anos 40, o povoado foi gradualmente abandonado por seus moradores e hoje é até chamado por alguns de Vila Fantasma.”
“Todos conhecem a Pororoca, famosa onda gigante que surge do encontro entre rio e mar no norte do país. O que pouca gente sabe é que em 2015 o principal ponto do fenômeno natural, no Rio Araguari, foi declarado extinto devido à ação humana.”
Logo o lado nefasto, destrutivo e que caminha para o desequilíbrio de nossa fauna e flora são assuntos denunciados pela banda neste primeiro registro.
Já que o apelo visual é tão claro – e faz parte do som – eles resolveram disponibilizar seu material primeiro no Youtube através de um vídeo que conta com uma arte especialmente feita pela artista Tre Lara Campos – que também assina a capa EP.
A destruição humana já se faz presente desde o começo de “Ararapira” que se inicia com grunhidos de uma Arara. Trocadilho a parte com o vilarejo do norte do Paraná, já citado no texto, e sua triste história de descaso humano. Até por isso a canção parece surfar por um rio abandonado no melhor estilo “barqueiro dos mortos”. A faixa é melancólica e tenta “ressuscitar” das profundezas a memória de um lugar onde algum dia existiu vida.
O ar de Dick Dale, The Ventures e Beach Boys é inflamado em “Pororoca”. Fico até imaginando uma versão de “Surfing In USA” amazônica. Provavelmente envolveria a Pororoca e o folclore regional de uma maneira bastante interessante. Mas voltando, a progressão de baixo e guitarras parece mesmo estar á bordo de sua prancha de surf rumo a crista das ondas.
Os pedais também trazem um pouco da psicodelia e a bateria ajuda a criar o “pico” para seu ponto alto. Com um grito inflamado o EP termina com Pororoca sendo ecoado após mais uma “vaca”.
A banda paulistana Araras Negras procura além do campo da música passar a mensagem de consciência ecológica e fazer com que coloquemos as mãos no rosto para ver como nossas ações humanas tem sim desequilibrado o planeta e por consequência destruído a natureza. Através de seu surf instrumental o primeiro registro oficial da banda Extinção consegue passar tristeza e alegria ao mesmo tempo. Te convida para dançar e traz um pouco da nostalgia do som eternizado nos anos 60.