O Teatro da Rotina foi fundado em 2012 por Leonardo Medeiros – ator, diretor e dramaturgo – com a intenção de estimular e dar espaço a espetáculos teatrais e shows de música independente. De maneira orgânica e voluntária o teatro é um coletivo de artistas trabalhando em autogestão. A produção nacional e as artes tem uma casa aconchegante no coração do baixo augusta.
O trabalho é de resistência. Sem patrocínios ou fins lucrativos o teatro é mantido estritamente com o dinheiro das bilheterias das apresentações e, ainda, com a ajuda do trabalho voluntário de sua aguerrida companhia formada por Clara Moraes, Bruna Brito, Diego Monteiro, Elly Dantas, Juliana Simon, Neto Medeiros, Paula Vilhena, Rodrigo Lavorato, Victor Deamo e Vinícius Ferreira.
Não é difícil se apaixonar pelo local. Com clima intimista, luzes bem trabalhadas e programação onde a interação com o público é o ponto forte o trabalho é feito no dia-a-dia com muita perseverança.
O cuidado é tanto que sempre antes dos espetáculos somos apresentados para a casa com uma pequena cerimônia antes do início do show. Se fazer arte nos dias de hoje é resistir, o Teatro da Rotina faz isso com muita força de vontade e competência.
Neste mês de novembro a casa completa 5 anos de sua existência e para celebrar – e brindar com uma taça de vinho – a curadora musical Bijou Monteiro preparou não só apenas uma semana mas como um mês de programação com antigos sonhos e nomes que marcam o DNA de sua curadoria.
Programação Especial
As comemorações se iniciam logo no dia 1° de novembro (quarta-feira) com a apresentação do músico Wander B e se encerram no dia 30 (quinta-feira) com show do Flavio Tris. A pluralidade de estilos também é um destaque da programação que passa por estilos como folk, rock, mpb, psicodelia, prog e contará com 21 artistas divididos em 18 noites. Toda ela assinada pela jornalista e produtora cultural Bijou Monteiro.
Para celebrar essa data tão especial para o Teatro da Rotina as noites também terão o endosse dos padrinhos sonoros: Daniel Ribeiro (Guaiamum), Flavio Tris, Rodrigo Saffuan (jornalista / guitarrista do Sol a Pino) e Jairo Pereira (Aláfia e Mutum).
Confira a programação completa:
Wander B (1/11)
Mutum (2/11)
Grená (3/11)
Versos Que Compomos Na Estrada (4/11)
Paulo Monarco (8/11)
Anna Tréa (9/11)
Passo Torto e Ná Ozzetti (10/11)
Jair Naves (11/11)
Zéu Britto (15/11)
Consuelo de Paula (16/11)
Lineker (17/11)
Sol a Pino (18/11)
Felipe Camara (22/11)
Bratislava + Oto Gris (23/11)
Guaiamum + Naked Girls And Aeroplanes (24/11)
Bernardo do Espinhaço (25/11)
Socorro Lira (29/11)
Flavio Tris (30/11)
Os ingressos antecipados tem preço promocional de R$ 20,00 e podem ser comprados através do site oficial. Já na porta o valor da entrada sobe para R$ 40,00. Todos os eventos se iniciam sempre às 21h e a censura é livre.
Os shows acontecerão às quartas, quintas, sextas e sábados. Para quem ainda não teve a oportunidade de conhecer a casa a lotação máxima é de 50 assentos, por conta disso programe-se e chegue cedo. A casa está localizada na Rua Augusta, nº 912 e o acesso de transporte público mais perto é a estação consolação (Linha verde do metrô).
Para saber mais sobre a programação o Hits Perdidos conversou com a jornalista, produtora e curadora do Teatro da Rotina, Bijou Monteiro. Confira o papo que além de franco é muito informativo.
[Hits Perdidos] Como tem sido a experiência de realizar a curadoria da casa?
Bijou Monteiro: “A curadoria do Teatro da Rotina muda diariamente minha forma de encarar pessoas, situações, discos, eventos e posturas, sabe? Vini Ferreira – um dos atores de nossa companhia e, ainda, um dos produtores da casa – sempre diz que o TR proporciona ‘o encontro do humano com o humano’ essa é melhor parte do que absorvo na curadoria. Ali eu aprendo que é normal ser falível, entende? Isso é mágico.
Nosso trabalho é inteiramente voluntário – não temos patrocinadores -, mas nossa demanda de atividades é muito grande. Assim, aprender a lidar melhor com meu tempo tem sido muito precioso. Recebo, em média, 50 discos por semana e é partir dessas avaliações – planilhadas em ordem de chegada – que começo a maturar ideias. Como responder a um músico quando não me identifico com o conteúdo? Como posso melhorar minhas abordagens e desacelerar algumas percepções? Como decantar um show que não tem o formato do TR para que ele ganhe uma versão que caiba na casa? Como eu lido com improvisos quando, por exemplo, temos cancelamentos em cima da hora? Como eu driblo um ouvinte raivoso que tenta dar uma carteirada na bilheteria para entrar de graça no show? Como eu lido com todas as minhas ansiedades? Balizar tudo isso ao final do dia é entender que a curadoria me rende a sorte existencial da desconstrução e isso tem sido peça-chave em outras esferas da minha vida.”
[Hits Perdidos] O que mais gosta no Teatro da Rotina e desde quando frequenta?
Bijou Monteiro: “Fui a primeira vez para um show da Alessandra Leão, atualmente minha cantora nacional favorita, e me apaixonei pelo clima da casa. Não havia palco – ainda não há, na realidade – e o diálogo do músico com o público é de igual pra igual. O show é feito olho no olho. Meses depois, o show de lançamento de Guaiamum – músico com quem trabalho – aconteceu no TR sem que eu conseguisse imaginar esse debut em qualquer outro lugar que não fosse lá. A casa estava abarrotada de gente e o espaço tinha uma aura muito emocionante. Era a estreia de um disco que levou 10 anos pra ficar pronto, sabe? Nosso esforço para estar ali era gigantesco. Ao fim do evento, alguma coisa clicou no Leo – dono/fundador do TR – e ele me perguntou na lata se eu queria ser a curadora do espaço. Isso foi em julho de 2016 e respondi imediatamente que sim.”
Até então, o espaço tinha uma curadoria severamente irregular. Meses depois, em novembro, debutei com o show de Flavio Tris – meu cantautor favorito – e, desde então, tenho no Teatro da Rotina o meu lar. Aplico na casa boa parte da linha editoral do site Embrulhador, site fundado por Ed Félix e no qual sou revisora do projeto ‘Os Melhores da Música Brasileira’ (Confira a lista de 2016), e esse é um norte importantíssimo para mim.
[Hits Perdidos] Até hoje quais shows mais te marcaram e quais se orgulha de ter trazido para a casa?
Bijou Monteiro: “Ter a Alzira E como uma das musas da casa é muito amor, sabe? Chamo Alzi de ‘madre’ porque é assim que a considero. Comecei a programação de 2017 com ela e foi glorioso porque sem a vanguarda de Alzira – com Itamar, Paulo Lemiski e mais todos aqueles perpétuos no pacote – não haveria cenário independente e, tampouco, haveria a música que hoje preenche a minha vida.
Assim, me orgulho demais de Alzi e, ainda, de outras musas – Ceumar, Ná Ozzetti, Patrícia Bastos, Consuelo de Paula, Socorro Lira, Veronica Ferriani, Mariana Degani, Luz Marina, Anna Tréa, Isabela Moraes e No Stopa – que fazem parte da nossa programação/história.
Os homens que integram nossa agenda seguem essa mesma busca/ressignificação do feminino que mantenho em minha linha-editorial e isso se manifesta quando, por exemplo, Jairo Pereira, Paulo Monarco, Jair Naves, André Abujamra, Guaiamum, Túlio Borges, Flavio Tris, Lineker, Rodrigo Ogi, Douglas Germano, Beto Mejía, Angelo Mundy, Zéu Britto e Lemoskine preparam apresentações especiais e repletas de empatia para que, antes de tudo, essa magia/aura feminina da casa seja abarcada/contemplada.
Existe uma tríade de shows, no entanto, que mexe muito comigo e ela é composta por Godasadog, Oto Gris e Marinho. Godasadog não faz shows porque Adam – integrante do duo – mora em Londres. É um daqueles discos pelos quais me apaixonei, mas nunca sonhei em ver ao vivo pra não sofrer. E eis que Adam e Victor Meira – brother com quem aprendo demais – fizeram um dos dez melhores shows do ano e sob a luz especial que o Vini Ferreira, também iluminador de cinema, preparou pra noite. Foi arrebatador.
Oto Gris também foi um daqueles momentos épicos porque, além de inserirem um violino no show, eles prepararam aquele set e suas respectivas versões para as intervenções visuais/poéticas que a atriz Julia Feldens fez durante o evento. Por fim, Marinho – que veio lá de Maceió fazer o lançamento dele – lotou a casa no show mais alto que tivemos até hoje. No palco, um time afiadíssimo de instrumentistas e, entre eles, Daniel Ribeiro, o Guaiamum em si, e sua guitarra colérica. Ribs – sim, esse é o apelido de Daniel – não curte muito que eu diga isso, mas ele é o melhor guitarrista que conheço. Vê-lo em cena é sempre catártico. Então é essa trinca – Godasadog, Oto Gris e Marinho – que me enche demais de orgulho até agora. Tem o Passo Torto também, claro, mas aí já é hors concours, né?”
[Hits Perdidos] Em tempos de celebração pelo aniversário do TR, como foi o planejamento para este mês intenso de programação?
Bijou Monteiro: “Tive a ideia mais ou menos em abril de uma semana de programação especial – só com os medalhões da casa -, mas a ideia caiu rapidinho porque percebi que o que eu queria não cabia em apenas uma semana.
Assim, comecei a rascunhar quais nomes/shows eu mais gostaria de ter de volta na casa e terminei de montar o line-up pouco tempo depois. Como somos todos voluntários e, ainda, o TR tem um espaço físico pequeno, essa antecipação é essencial para que nossa programação funcione em coesão com agendas de todo mundo. Por exemplo, é mais fácil montar nossa escala de técnicos de som sabendo com antecipação o grau de dificuldade do show, sabe?
Outra coisa fundamental foi pinçar os sites parceiros com quem eu queria trabalhar na cobertura dos eventos. Acredito que resenhas só possam ser feitas por quem tem repertório e, mais ainda, algo essencial a dizer, mas tenho visto/lido conteúdos muito superficiais no meio indie. Assim, saber que Hits Perdidos, Pacóvios, Criado Mundo e VideoPick formariam o time de divulgação foi um alenco enorme. O viés deles é de imersão e com curadorias incríveis.”
[Hits Perdidos] Queria que desse seu destaque e o que esperar de cada noite.
Bijou Monteiro: “Eu só vou saber o que vai acontecer em cada show quando eles rolarem, sabe? Cada um dos músicos/bandas tem preparado um evento especial – idealizado exclusivamente para o novembro festivo do Teatro da Rotina – e as notícias sobre o que cada um quer fazer chega até mim de um jeito muito vago. É uma forma de eles próprios não estragarem as surpresas, acho. De todos os eventos, no entanto, minha ansiedade maior é por Lineker, escalado para se apresentar dia 17 de novembro. Ele vem com algo muito foda – nunca visto antes – e será um momento paradigmático tanto para ele quanto para nós do TR.”
[Hits Perdidos] Eu imagino que muitos artistas e bandas devam te abordar de tudo quanto é jeito. Qual seria sua dica para as bandas de como abordar um curador?
Bijou Monteiro: “Eu encaro a função curatorial como uma atividade silente e solitária. Busco – em cada disco/proposta que recebo – a sinergia entre a proposta do músico e o que me arrebata. Recusar um disco não é uma sentença de morte pra ninguém. Quer dizer apenas que – no meu recorte do real dentro do Teatro da Rotina – aquele show não vai rolar.
Acontece que a gente vive a era da automatização e isso será cada vez pior, né? Não há muito espaço sobrando pra apreciação/contemplação e, em contrapartida, existe a ideia de que agendamento e curadoria são a mesma coisa.
Também sou produtora, envio o conteúdo dos meus músicos para avaliações e respeitar posicionamentos curatoriais é muito importante pra mim, entende?
Então, do que já vivi até agora no TR em termos de desconfortos causados tanto por músicos quanto por produtores, está – acima de tudo – a questão do assédio moral. É um delito silencioso, sabe? Você nem sempre sabe/percebe que ele está em curso e, quando se dá conta, o constrangimento já aconteceu.
Em março tive um combo péssimo de virose com gripe que me deixou acamada por uns vinte dias e ganhei um esporro por e-mail de uma cantautora por eu não ter lhe respondido com a agilidade desejada sobre uma data para outubro. Esse é só um exemplo, mas também seria massa se filhos de músicos não tentassem dar carteirada por e-mail – ‘sou filha de fulano e gostaria de uma data na agenda para uma festa indie’ – e se produtoras (ou pessoas que assim se identificam) não levassem para o lado pessoal quando peço um release/rider/proposta sólida de ideias muito etéreas que elas rascunham sem deixar claro o que querem.
Também seria bom se músicos não cancelassem shows em cima da hora – não deveriam cancelar nunca, mas em cima da hora é sempre pior -, se chegassem na hora certinha pra passagem de som, se tratassem a nossa equipe toda com o respeito sem causar climão diante de nossas limitações (de novo: todo mundo é falível) e, tcharã, se produtores cumprissem as promessas de casa lotada que fazem por e-mail. Divulgar sua própria empreitada e trazer público é dever/trabalho e não uma caridade que nos é concedida.
Nem vou entrar no mérito do assédio sexual por parte de músicos que não distinguem admiração profissional de sinalização de interesse pessoal porque, né, que preguiça. Por fim (essa envolve blogueiros de música, jornalistas e afins), seria bom demais se cada um deles – que diz defender o cenário independente e lutar pelos mesmos sonhos presentes no Teatro da Rotina – não desse carteirada para entrar de graça e não se revoltasse – diante de nossa recusa. Não somos condescendentes com esse tipo de postura (a carteirada) porque essa cultura da gratuidade é o que tem fechado uma série de espaços autorais e, ainda, feito com que a maioria opere no vermelho há muito tempo.”
[Hits Perdidos] Falando em curadoria, quais festivais mais te agradam neste fator e qual achou que acertou a mão em 2017. Qual – por outro lado – deixou a desejar?
O Festival CoMA tem – de longe – a curadoria mais afiada que vi em 2017. Eles congregaram arautos (Lenine), artistas visionários (Emicida, Baleia, Rico Dalasam), expoentes em ascenção (Bratislava, Aloizio e Ventre) – e, por fim, bandas que raramente se apresentam ao vivo, feito o Godasadog. É uma diversidade de fato voltada ao que é a cena independente. Tudo isso alinhavado com uma série de oficinas de artes e o esforço de fazer o evento acontecer da forma mais sustentável possível. O melhor é que isso acontece em Brasília e o ar do festival é de que a resistência musical que está sendo fomentada ali trará de volta – de alguma forma – a resiliência dos anos 80.
Sobre o que deixa a desejar, me incomodam os valores delirantes do Lollapalooza, as justificativas para os preços cobrados, aquela “fritação hipster” e tudo aquilo acontecer em detrimento financeiro/ambiental de muita gente/esferas.
Impacto ambiental é um assunto que quase nunca vejo pautado nos festivais e sobre o qual tenho aprendido muito com a Lívia Humaire – do duo Versos Que Compomos Na Estrada – e o projeto incrível ‘Jornada Zero Waste’ que ela desenvolve.”
[Hits Perdidos] Com o ano se aproximando do fim, quais discos mais te chamaram atenção e porque?
Bijou Monteiro: “Cada novo single ou proposta do BaianaSystem – exceto aquela faixa com a Vanessa da Mata porque a voz dela é chata demais – me deixa eufórica aqui. Acho um trabalho irretocável e que representa a retomada de uma sonoridade quente muito presente nas bandas com quem convivo hoje.
Mas falando sobre os melhores discos de 2017, sem pestanejar, Corte, Bratislava, Marinho, Flavio Tris e Lurdez da Luz fizeram os melhores álbuns que escutei esse ano. Música de imersão poética, com expertise instrumental, direção/produção musical/artística bem sacada e que conduz a gente para manifestos musicais idealizados por seus respetivos criadores. Espero ver todos eles na lista do Embrulhador, mas certamente já os vi e ou verei no Teatro da Rotina em mui breve ocasião.”
Playlist comemorativa de 5 anos de Teatro da Rotina
Para fechar o post e relembrá-los da programação especial que toma conta do TR neste mês de Novembro que se aproxima montamos uma playlist com Hits Perdidos dos artistas e bandas que se apresentam na casa localizada na Rua Augusta, n° 912.
This post was published on 25 de outubro de 2017 5:44 pm
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