[PREMIERE] Em nova fase, Fones dá “tiro no grau” e introduz seu “punk suave”
5 anos é um senhor tempo para uma banda. Uma marca que deve sim ser comemorada afinal de contas são muitas passagens, shows, velhos e novos amigos que conhece pela estrada, conquistas, desgaste emocional…idas e vindas.
Se depois desse tempo todo ainda vê razão para continuar mesmo muitas vezes tocando para um pequeno público e longe de flertar com as massas então: é porque realmente ama e precisa sentir aquela nobre sensação de pisar num palco e exorcizar seus demônios.
Talvez seja essa marca que leve mesmo com que as bandas se mantenham na ativa na realidade atual. Principalmente do “rolê” do rock que para “sobreviver” ou mesmo existir tem que entender que é fazendo pequenos – e bem feitos shows – que se constrói algo.
E é dessa forma que gostaria de apresentar o FONES. Nascida em Sorocaba (SP) a banda começou justamente como a maioria de todas outras: amigos com afinidades musical e querendo se divertir. Com o tempo como Renan Pereyra (guitarra/voz) irá contar eles passaram por mudanças e com certeza não são mais a banda do EP de estréia, Revólver.
Mais do que isso, em 5 anos sempre há tempo de recomeçar. Mesmo que isso seja reformular a formação e o estilo de som. Ousado, áspero e suave. Talvez isso explique um pouco da sonoridade que eles ainda rabiscam e ironizam chamando de “Soft Punk”. A nova formação além de Renan e Paulo Augusto (baixo) agora conta com Maurício Barros (guitarra) e Gabriel Wiltemburg (bateria), ambos também integrantes da lendária banda Justine Never Knew The Rules.
Sem medo de olhar para traz e ver outra banda os remanescentes tem muito orgulho de tudo que foi feito até aqui e por acasos da vida tiveram as mudanças. Mas o que me faz acreditar que pode ser um promissor começo é que ambos novos membros são parceiros de estrada e amizade a muito tempo. O que imagino que faça com que as coisas vão acontecer naturalmente.
PREMIERE do Single “Tiros em Columbine”
Com muita alegria eles decidiram lançar o single “Tiros em Columbine” em primeira mão aqui no Hits Perdidos e já mostram que personalidade não irá faltar na nova proposta de som. Tentando ainda encontrar seu som, eles já correram para gravar o EP e ver como irá se desenvolver a partir daí. Algo que teremos conhecimento nas próximas semanas. Se depender deste single, será uma grata surpresa.
A faixa foi gravada no Back Studio, em Sorocaba-SP, e a gravação, mix/master são assinadas pelo próprio baterista Wiltemburg, com produção do Fones.
Neste domingo (16) eles apresentarão ao vivo pela primeira vez o single no Circadélica Warm Up ao lado de bandas como Carne Doce, In Venus e True Voices. E os sorocabanos terão a oportunidade de mostrar seu single ao vivo pela primeira vez.
“Tiros em Columbine” é uma faixa que ao mesmo tempo que é suave em sua melodia, é áspera em seus versos que nos cortam o coração feito uma navalha. Mostrando a desigualdade e o caminhar errático – e perigoso – que nossa sociedade tem marchado a passos largos.
O som passeia pelo shoegaze, pós-punk, punk e reverbera em sua letra a atitude poética que grupos como Ludovic, Gorduratrans e o próprio Justine Never Knew The Rules manifestam em suas obras. O tema é atual e duro, o crescimento do autoritarismo e a falta de empatia com o próximo. Seja ele alguém sofrendo preconceito ou sendo feito de escudo para interesses além do seu bem-estar. Num mundo de guerras e conflitos econômicos. Nada novo em townsville mas que nem por isso não merece ser visto com preocupação.
O foco no armamento se deve também muito ao “cidadão de bem” que acha que pode resolver tudo na bala. Lembrando que temos em câmeras por todo país – e mundo – “bancadas da bala”. Muitos destes financiado pelas indústria bélica e por ideologias extremistas. O nome do som vem do documentário de Michael Moore mas poderia vir de Donald Trump ou Bolsonaro’s da vida.
O manifesto poético é um basta por toda essa onda de comportamento neandertal que nossa sociedade vem passado. Tiros em Columbine, Tiros no Rio de Janeiro, Tiros em Teresina, Tiros em Sorocaba. Quanto vale a vida?
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[Hits Perdidos] Queria que fizesse um balanço dos 5 anos do Fones e tudo que conquistaram até aqui.
Renan: “O Fones é a nossa maior derrota e maior conquista. 2012, ano em que fundamos a banda, foi o mais louco da minha vida e tudo mudou de lá pra cá. Lançamos o EP “Revólver”, que teve ótima repercussão na imprensa independente, e saímos em turnê, tocando em diversas cidades e festivais do interior de SP. Conhecemos lugares e pessoas maravilhosas, mas logo em seguida veio o entrave: tínhamos que dar continuidade à nossa existência, mas tivemos vários problemas financeiros e psicológicos nesse meio tempo, o que acabou impossibilitando um salto maior. Fizemos shows para grandes públicos, mas aos poucos essa energia foi se esgotando e os fãs paulatinamente se afastando da banda.
Entre indas e vindas, chegamos a anunciar um segundo disco, que acabou não saindo do papel. Em 2015 investimos em uma nova formação, com Ariel Machado na guitarra, para uma turnê no RJ e uma apresentação no já consagrado festival Febre. Em seguida a banda entrou em hiato. Em 2017 retornamos para alguns shows, mas nosso baterista (Jefferson Viteri) teve de deixar a banda por questões pessoais. Com uma apresentação marcada no Grito Rock Itu, chamamos nossos amigos Maurício Barros e Gabriel Wiltemburg, da JNKTR, pra fazer esse último show, ainda sem saber que ali seria um novo começo para o Fones.”
[Hits Perdidos] A banda passou por uma reformulação e agora conta com Maurício Barros (guitarra) e Gabriel Wiltemburg (bateria) do ótimo Justine Never Knew The Rules. Como foi esse processo?
Renan: “Antes do Fones e da JNKTR, eu e o Maurício montamos uma banda chamada Velude, que sequer saiu da fase de ensaios. De certa forma esse foi o embrião do Fones e do Justine, com cada um tomando um rumo diferente. Mas sabíamos que seria uma questão de tempo até voltarmos a tocar juntos. Somos grandes amigos e compreendemos o mundo de forma muito parecida. Por isso fiz questão de que ele tocasse comigo nesse que seria o último show do Fones. Mas logo nos primeiros ensaios sentimos que aquilo não podia acabar ali. Cogitamos mudar o nome, por diversos motivos, mas no fim decidimos que o melhor a fazer era dar continuidade àquilo que não terminamos.”
[Hits Perdidos] A sonoridade também por consequência está passando por um momento de transição que vocês ainda não sabem muito como definir chamando até de “Soft Punk”. Como explicariam o rótulo? Sairá um EP em breve?
Renan: “Na verdade esse rótulo surgiu quase que como uma ironia, mas achamos que soa tão bem que acabamos o adotando. Acho que todos nós temos um pé no punk, então é algo que faz bastante sentido. De certa forma é só um jeito de dizer que fazemos espiritualmente música punk. Estamos gravando outras músicas e pretendemos lançar um EP no segundo semestre, assim que possível.”
[Hits Perdidos] O single “Tiros em Columbine” faz clara referência ao “massacre de Columbine” e que também lembra também do ótimo filme sobre outro massacre que aconteceu em Portland (OR, EUA) e que ficou imortalizado nas mãos do grande diretor Gus Von Sant em “Elephant”.
Como esse tema afeta vocês? E vocês também dizem que pode ser encarada como um protesto com o atual político vivido no país. o que pensam sobre esses tiros cruzados e consequências para o país?
Renan: “A ideia da música surgiu após eu assistir ao documentário “Bowling For Columbine”, do Michael Moore. Distribua armas ao seu povo e assista do conforto do seu gabinete ele se autodestruir. Deve ser uma espécie de jogo para eles. É incrível como a indústria da arma segue lucrando e derramando sangue em prol de um discurso ineficaz de segurança pública.
No Brasil, temos visto alguns políticos e empresários defenderem também o cidadão armado, basicamente tentando tirar a responsabilidade do Estado e tranferí-la para a população. Em uma sociedade desigual, dividida por brutais condições financeiras, e com estrutura educacional extremamente precária, deixar o povo se armar seria praticamente dar aval à guerra civil.”
[Hits Perdidos] O autoritarismo também pauta a canção lembrando de muros em Berlin e a falta de empatia e amor. Acreditam que estamos vivendo uma nova leva deste?
Renan: “Sem dúvidas. O romance “Ele Está de Volta”, do escritor alemão Timur Vermes, mostra como o pensamento nazi-fascista nunca foi completamente extinto na Alemanha. E que basta uma pequena fagulha para que os monstros do passado voltem a nos atormentar. Tomando o Brasil como exemplo, estamos vivendo em um completo estado exceção, governados por gente da pior espécie. Canalhas desfilando com malas de propina pelos restaurantes caros do país, enquanto a população morre de fome. A polícia invade, prende e assassina nas quebradas, mas há políticos ligados à maior apreensão de cocaína da história do país tomando chá no parlamento e votando reformas pra cortar os poucos direitos já adquiridos pelos trabalhadores.
Em São Paulo estão colocando usuários de drogas pra correr em nome do higienismo, como se isso fosse resolver o grave problema de saúde pública. A guerra às drogas faliu completamente e este é só um dos sintomas que nos tem levado ao fundo do poço. Fica difícil enxergar um futuro próspero assim. Mas é importante ressaltar que sempre haverá saídas: seja através da arte, do terrorismo poético, da desobediência civil, da convivência urbana. Há pessoas incríveis fazendo coisas incríveis por todos os cantos. Basta treinarmos mais nossa visão periférica. Se estão destruindo nossas vidas, ainda nos resta dar o troco.”
[Hits Perdidos] Para fechar quais as expectativas para o evento de Esquenta do festival Circadélica?
Renan: “Estamos ansiosos para retornar ao Asteroid e mostrar o que temos produzido. O Circadélica vai ser um evento muito importante para a cidade, mostrando o que tem de melhor.”
Playlist FONES no Spotify do Hits Perdidos
Para fechar pedi para o FONES criar uma playlist para explicar o que seria o tal do “SOFT PUNK” e claro que ficou demais a tentativa de explicação de um rótulo tão irônico, debochado e puro. A lista conta com artistas como The Wytches, os brazucas do FingerFingerrr e Manic Street Preachers. E claro já está no perfil do Hits Perdidos no Spotify.