“Trans Crux” joga a sujeira para o alto e condena os crimes cometidos pela igreja e todo o sangue jorrado através de séculos de alienação e preconceito. Profere versos a satã e condena o abuso de poder feito por membros das igrejas. Que deixam de olhar um ser humano como um ser igual a ele.
O preconceito com negros, trans e grávidas por parte de religiosos é colocado em pauta. É polêmico, coloca o dedo na ferida. Uma canção que daria boas discussões, com certeza algumas mais acaloradas. A faixa foi mixada no Estúdio Casa, também responsável pela mixagem de trabalho para artistas como: Amplexos e Raí Freitas.” conta a resenha feita pelo Hits Perdidos sobre Ashtar Sheran I: Terra do Sasha Grey As Wife lançado em fevereiro
Polêmico. Áspero. Herege. Indomável. Contestador. Rebelde. Voraz e com muito a dizer. São algumas das qualidades que podemos atribuir a Júlio Victor que tem lançado seus trabalhos sob o nome de Sasha Grey As Wife.
O conteúdo de suas letras a primeira instância pode gerar certo desconforto a um ouvinte despreparado e talvez seja esse mesmo o objetivo conceitual de seu trabalho. Após baixar a poeira e conversar com o cara você percebe que a coisa é bem diferente e que tem muitos porquês por trás de sua arte. Da concepção da capa a última estrofe de seu disco.
Todo esse perfeccionismo na verdade faz parte de um processo interno de exorcizar demônios internos como muitos discos que ouvimos e nos identificamos. O dedo na ferida de seu mais recente lançamento – que teve cada faixa produzida por um estúdio e profissional diferente – esconde várias histórias e passagens traumáticas.
Algo que o vídeo lançado hoje com exclusividade para o Hits Perdidos ajuda a esclarecer. O clipe foi filmado por seu irmão, Bruno de Oliveira, e foi registrado na Catedral de São Pedro de Alcântara em Petrópolis (RJ). A canção escolhida foi “Trans Crux” e a data não poderia ser menos polêmica: logo a Sexta-Feira Santa.
A escolha do dia tão especial para religião católica tem um significado simbólico dentro da obra de Júlio Victor que assina seus trabalhos como Sasha Grey As Wife. Júlio foi criado até os 18 anos em Igreja evangélica e chegou a pregar e até converter conhecidos para a igreja. Após contestar ele foi afastado e toda essa ânsia precisava ser descarregada de uma forma imaterial. A música foi a melhor forma que encontrou para se libertar destas chagas.
Inclusive todos os versos de “Trans Crux” são passagens reais que ele presenciou durante os tempos que frequentou os encontros religiosos. Preconceito, indiferença, agressão psicológica contra quem se desviava do padrão, homofobia e tantos outos motivos que são escancarados nos versos da ácida canção.
O vídeo não poderia desalinhar o conceito e através de detalhes cinematográficos Júlio e seu irmão tentam passar a ideia da escuridão e trevas dentro da igreja – e uma luz no fim do túnel representada pelo lado de fora da igreja. Assim representando todo processo traumático que passou e sua transformação.
Após esse choque – e vídeo com fotografia a se destacar – nada como bater um papo com Júlio Victor para entender mais sobre suas ideias, sua religiosidade e desmistificar qualquer tipo de dúvida que ao ver o vídeo possa nos causar. Ele fala sobre a produção do vídeo, conceito do álbum, juventude na igreja, passagens traumáticas, sua nova produtora de vídeos e futuro de seu canal de youtube (Tá Na Capa).
[Hits Perdidos] Antes de mais nada eu gostaria que você falasse um pouco sobre seu trabalho na Pandario. Você tem produzido diversos clipes com uma qualidade elogiável, conte mais e conte como os interessados podem contactar seus serviços.
Júlio: A Pandario não surgiu como uma produtora, isso é uma iniciativa recente, com menos de um ano, como forma formalizar os serviços, profissionalizar e agregar mais pessoas à equipe. No início era apenas uma forma de assinar meus trabalhos, hoje é um negócio em fase inicial, isso é visível pelos curtas, os clipes do Sasha ou da Decreto Federal.
Tenho desenvolvido junto do Arthur Lopes (videomaker e braço direito nessa empreitada) diversos projetos com artistas da região que em breve serão divulgados, a ideia é trazer conceitos novos do audiovisual para os artistas brasileiros. Fora os clipes, a Pandario desenvolve Lyric Videos, uma alternativa moderna em termos de audiovisual entrelaçado com o mercado fonográfico.
Fora isso prestamos serviços de design, ilustração, branding, produção, mixagem, masterização e afins. Um único lugar para criar tudo que um artista necessita para se posicionar no mercado fonográfico. Para entrar em contato e ver o portfólio basta entrar www.pandario.com.br, solicitar o orçamento e trabalharemos juntos!
[Hits Perdidos] Após 2 meses já dá para fazer um balanço. Como tem sido a repercussão da primeira parte da trilogia do álbum? E como está o andamento da parte II?
Júlio: O balanço desse disco é bem pessoal, de contato, de subir uma conversa inbox de um amigo distante, um desconhecido, um inscrito, fã do projeto e falar dos dramas pessoais e como isso foi identificado no disco. E é bem isso mesmo, né?
O disco é coletivo, 10 produtores, vários instrumentistas, gêneros, vozes e realidades. As pessoas se enxergam nisso com facilidade, pois busquei representatividade, mais de 30 pessoas colocando a verdade para resumir aquilo que vivemos no planeta Terra.
O Facebook boicotou o impulsionamento do disco por conta da presença de mamilos da capa “polêmica” e muitos usuários da rede denunciaram também por ter conteúdo “agressivo/desrespeitoso”, quando na real é só uma visão ecumênica de Deus, o mais próxima do real possível, caso ele realmente exista.
O Victor Antonio, da A.Vector fez um trabalho incrível de pesquisa e desenvolvimento desta arte, graças a ele esse impacto visual foi possível e eficaz. É uma imagem agridoce, o belo o chocante junto. Apesar dos pesares, o feedback tem sido impressionante, foi possível tocar e chocar as pessoas, mas é apenas o início.
Comecei a escrever a parte 2, a ideia da capa tá mentalizada, já sei o nome das faixas, os números, mas nada de música ainda surgiu. Eu faço as coisas meio fora de ordem mesmo. Mas tudo indica que será mais pesada, densa e suja, tanto é que o nome é “Umbral”, ou seja, isso por si só já mostra um pouco do que vai ser.
[Hits Perdidos] Na resenha não chegamos a conversar direito sobre as faixas. Com o lançamento do clipe eu gostaria que falasse um pouco sobre a letra e seu teor autobiográfico.
Júlio: “Trans Crux” é uma faixa muito forte e eu me lembro bem do dia em que escrevi ela. Eu estava atendendo uma paciente em meu estágio e ela falou sobre um amigo dela que havia falecido recentemente. Pela descrição percebi que eu o conhecia. Ele era homossexual, portador do vírus HIV e a sua situação de saúde estava complicada. A família não dava a mínima para ele, pois eles eram evangélico fervorosos, extremistas, não aceitavam um filho gay. Ele viveu como um renegado, foi abandonado e padeceu de desamor.
O mais incrível dessa história é que eu o conhecia justamente da igreja, pois éramos da mesma denominação. Logo entendo o preconceito que ele sofreu, pois que é diferente e sai da instituição sofre uma pressão “fudida” (ele sentiu isso muito mais que eu, de fato).
Mas estive dos dois lados, sei como é ser renegado, mas também sei muito bem como é ser preconceituoso, inquisitor, falso dono da verdade, manipulador espiritual, barganhista e por aí vai. Eu fui tudo isso, fiquei até meus 18 anos na Igreja, era músico, pregava, tinha responsabilidades, já converti gente para essa maldição que é a instituição religiosa e me arrependo disso tudo.
Quando recebi a notícia do falecimento dele, eu “gorfei” em forma de letra todos os absurdos que vivi/pratiquei ali e que diversas pessoas vivem até hoje pensando que é verdade. Tudo da letra é real, poderia citar nomes. A igreja não tem nada de Deus, ali é o templo do dinheiro, de Satanás, do desamor, pois não existe acolhimento real.
Eu posso contar nos dedos as igrejas cristãs honestas que realmente recomendo, mas se for pra incentivar algo, digo o seguinte: procure Deus em qualquer lugar que não seja uma instituição, vai ser mais fácil de encontrar. Procure Deus nas pessoas. Não importa o que tu seja, o quão à margem você esteja, se Jesus estivesse hoje aqui, é com essa galera outside que ele andaria, esses líderes seriam tratados na base da chibata e lições de coerência, assim como Cristo fez quando veio.
[Hits Perdidos] Assim como o primeiro álbum, a faixa é polêmica. Tanto é que você está lançando sobre um tema estritamente religioso em um dos feriados mais sagrados da igreja católica, a sexta-feira santa. Comente sobre o apelo e sobre como foi a gravação a edição e a mensagem que queria passar.
Júlio: Não existe dia melhor para o lançamento deste clipe. Ele é muito importante pois foi filmado e dirigido pelo meu irmão, Bruno Chagas, o qual viveu na pele todo esse drama com religião/instituição. A Sexta-feira Santa relembra a morte de Jesus Cristo e é justamente sobre isso que a música fala. Deus está morto dentro das igreja, ali é um reino de interesses financeiros, todo um esquema armado para enaltecer o ego e status de líderes em cima de pessoas humildes e ignorantes. Jesus não tem nada com isso, os caras pegaram ele, penduraram na cruz, deixaram agonizando nos fundos e fazem o mesmo com os fiéis.
Filmamos em Petrópolis na Catedral de São Pedro de Alcântara. A igreja católica tem todas suas controvérsias históricas, mas eu respeito muito a instituição, sua tradição e a seriedade com que eles levam o conhecimento, coisa que não ocorre nas igrejas evangélicas.
O clipe é uma jornada ao fundo da Igreja, à escuridão que existe lá, a solidão de procurar Deus em um lugar que é comandado por quem está pouco “se fodendo” para espiritualidade, bem estar ou algo que realmente faça a diferença na vida das pessoas. São iniciadores ao ganância com essa teologia de prosperidade.
O final do clipe tem um significado muito importante, pois a luz está lá fora. Ela pode ser Deus, pode ser a pílula vermelha do Matrix, o cara que saiu da caverna de Platão ou o que quer que te coloque em um trilho de conhecimento coerente. Essa saída é muito importante. Eu morri dentro da Igreja, mas saindo dela, eu pude ressuscitar, pois lá não deixavam eu ser quem eu realmente sou.
A carreira de música, banda e afins era algo proibido, assim como ir no cinema, shows e convivência com pessoas de fora da instituição. Assim também espero que essa música ajude muita gente a volta à vida como eu sei que já ajudou, pois foi a primeira faixa a ser divulgada.
[Hits Perdidos] Vejo que a questão religiosa é um tema marcante em sua vida. Você fala duras palavras em relação a igreja, hoje em dia se considera ateu ou agnóstico? Quais leituras sobre o assunto de certa forma te inspiram.
Júlio: Apesar das palavras ásperas, não sou ateu como muitos imaginam, pelo contrário, acredito em todas as divindades ao mesmo tempo através da Ufologia Esotérica!
Eu acredito que Deus tenha se manifestado em culturas diferentes, o que conhecemos como divindades na realidade são interpretações culturais, sociais, de um mesmo fenômeno.
Os deuses de um povo dizem mais sobre o povo do que sobre o que Deus em si de fato é. O livro ‘O Fator Melquisedeque’ fala bastante disso. Por isso iniciei essa jornada por conhecer como diversos povos enxergam o divino e os fenômenos espirituais. Nisso existe um trabalho de exegese para separar aquilo que é cultural daquilo que de fato é uma intersecção entre o que a maioria acredita. É nesse fio que vamos nos aproximar um pouquinho da ideia real de Deus. Mas muito pouco.
Nessa busca, talvez por eu ter de compreensões mais palpáveis, me deparei com a possibilidade: e se os fenômenos espirituais que não podemos explicar forem de origem extraterrestre? O extraordinário, o milagre é só um salto tecnológico. Algo de outra dimensão, outro campo vibracional. Isso quebra preconceitos, unifica, coloca uma direção. Daí pode entram muitas teorias científicas embora os acadêmicos achem isso bobagem, mas podemos ir desde multiversos, teoria das cordas até física quântica.
Percebi que existe um universo literário sobre isso, tanto no campo da ficção como de estudos sérios a respeito disso, doutrinas e tudo mais. Através do professor Laércio Fonseca, que tem um fabuloso canal no YouTube pude unir tudo na minha compreensão sobre ciência, religiões, fundamentos espiritualistas, o modo oriental de encarar a espiritualidade e etc…
O nome “Ashtar Sheran” é um bom símbolo disso tudo. A capa do disco resume meio que toda essa minha empreitada rumo à não sei onde. Mas ao menos hoje, pra mim, faz mais sentido acreditar em todas divindades ou divindade alguma. E a única forma palpável de encontrar tal conhecimento é pensando na vida extraterrestre e a sua influência sobre o nosso planeta, tanto fisicamente quanto espiritualmente.
[Hits Perdidos] Gostaria que falasse sobre os planos do Ta Na Capa. Teremos novidades? Como tem sido o dia-a-dia de articular trabalho, banda, produção audiovisual, divulgação e shows? Algum momento eu acredito que você tem que respirar, risos. Conta mais para gente, e diga também o que pensa sobre o cenário de Volta Redonda e sua profissionalização.
Júlio: O canal entrou em hiato, as coisas estão sendo repaginadas, tanto visualmente como na parte do conceito dos vídeos. Os assuntos abordados vão se expandir, mas o fluxo de vídeos vai ficar mais enxuto. Eu vinha em uma onda de MUITO conteúdo frenético, agora quero prezar a qualidade. Sentar, ver a pauta do vídeo, produzir ele durante a semana para então chegar para os inscritos.
É uma nova fase onde estou prezando coisas diferentes da fase anterior. Não sei como o público vai reagir. O plano é que as atividades voltem ainda em Abril. O meu trabalho de produção é prioridade, sempre estou editando, gravando, mixando, ilustrando, não tem jeito, faço muita coisa ao mesmo tempo. Workaholic total.
O Sasha não tem uma pretensão gigante de imediato, o foco é trabalhar bem os materiais de vídeo desse disco e então partir para o próximo. Quando completar a trilogia talvez eu pense com mais foco na questão de shows. Mas a partir de Maio vou começar a agendar umas datas, pois ficar sem tocar é foda.
O cenário musical de Volta Redonda já foi mais movimentado, mas aqui temos grandes nomes como o Deaf Kids, a Stone House On Fire que está em uma turnê europeia, DFront SA colheu bons frutos em seu primeiro disco que produzi, Amplexos que foi uma grande referência pra mim nesse disco, meu amigo Pedro Campos que hoje é vocalista do Hangar…
Temos bons profissionais e isso que garante a atividade dentro do mercado musical apesar da baixa dele (o rock em específico). Tem visto coisas novas saindo na cidade, talvez as coisas se agitem por aqui em termos de cena autoral como foi há uns 4 anos, posso citar bandas novas como a Judite e a Decreto Federal que produzi, vale a pena conferir essa safra nova.
This post was published on 14 de abril de 2017 1:41 pm
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