De tempos em tempos surgem espaços democráticos onde o circuito underground pode circular nas mídias, tanto tradicionais como nas consideradas “novas mídias” como a internet e seus portais de conteúdo.
De certa forma essas plataformas sempre dão um gás para que mesmo na dificuldade com várias redações e rádios sendo fechadas seja possível divulgar o trabalho dos artistas com dignidade e sem cair em panelas ou depender de outros métodos para chegar neles.
Espaços e tentativas surgem e infelizmente costumam ir embora mais rápido do que gostaríamos como a Oi FM, programas históricos como o Musikaos (TV Cultura), a própria antiga MTV Brasil que foi fundamental para disseminar a música independente Brasil a fora, a Brasil 2000 que neste ano nos despediu com uma tremenda dor no coração.
Cada vez é mais difícil arranjar um espaço e para os produtores de conteúdo, inovar acaba se tornando uma parte importante do processo. Iniciativas como as rádios universitárias, as web radios, o Reb Bull Station, o Converse Rubber Tracks, a Red Bull Music Academy (Nova Iorque), Azoofa Apresenta, canal da Vice (Youtube), nosso querido Showlivre, blogs, portais entre outras inúmeras acabam dando um respiro a essa classe tão carente de iniciativas e respeito.
Não é difícil olhar para Brasília e não ver como o direito a Lei Rouanet está na mão de poucos e nem sempre os músicos que mais precisam conseguem a ajuda necessária para poder gravar seus discos, incrementar seus estúdios ou até mesmo se profissionalizar.
Algo que convenhamos tem chão. Como no post sobre o Selo InstrumenTown relatei a conversa com o Mauricio (Editor do Nada Pop), é uma longa jornada para que este tal de profissionalismo seja alcançado.

Observando esse cenário com a devida atenção que ele merece, o pessoal do canal Minuto Indie, em parceria com o Estúdio Casa da Vó, decidiu iniciar um novo e ambicioso projeto. E para isso foi necessário praticamente um ano entre a ideia e finalmente sair do papel.
Afinal de contas é toda uma equipe para coordenar, entre câmeras, iluminadores, moldes, parceiros, “como fazer”, estratégia, execução e divulgação. Pois é, e tem gente que ainda não leva a sério esse tipo de trabalho. Mas é disso que precisamos, gente que coloque a mão na massa, a cara para bater e tente viabilizar os seus sonhos.
Assim surgia a Orange Sessions, um projeto sem fins lucrativos  e com o intuíto de ajudar a propagar o som das bandas independentes. Na primeira temporada foram escalados os grupos: Molodoys, Quarto NegroSereialarm, Instelara e Codinome Winchester.

As sessions vão ao ar semanalmente e terão o formato de mini-documentários. Ou seja, 10 minutos mesclando entrevista com as bandas sobre seu caminhar, suas ambições, passagens e set ao vivo.
Assim que soubemos do projeto e tivemos a oportunidade de entrar como parceiros na divulgação, nós do Hits Perdidos não pensamos duas vezes. Pois o princípio dele se alinha com os ideais do blog e nada como poder dar esse respaldo para uma ideia tão urgente.
No primeiro vídeo disponibilizado nesta quarta-feira (29), temos os Molodoys e seu rock psicodélico sideral.

Molodoys (da direita para a esquerda): Jairo Camargo, Leonardo Fazio, Camila Araújo e Vítor Marsula – Foto: André Muzetti

Formada em 2012, a banda tem a proposta de misturar o som alucinógeno dos anos sessenta com a música brasileira, o manguebeat pernambucano, a tropicália e até segundo eles o polêmico vaporwave.
Ao ouvir o som deles, não é difícil notar o vozeirão rouco de Leo que dita o ritmo das levadas de guitarra que são equilibradas com os beats de bateria. A história de como eles se conheceram e foram formando a banda vocês podem conferir nos relatos captados pela lente das câmeras da equipe do Minuto Indie.
De 2014 para cá começaram a sair os lançamentos do conjunto paulistano. O primeiro EP, Metamorphic Fragments foi lançado em julho daquele ano, tendo sido gravado e mixado por Gustavo Coutinho na cidade de Amparo/SP. Já chega mostrando como o lo-fi experimental da vaporwave se mistura com elementos do brit pop e vai de encontro com a psicodelia dos Mutantes e Baobás.
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Em canções como “She’s Devil” conseguimos ver influências de jazz com sing-a-longs no melhor estilo powerpop flertando com a psicodelia derretida do Flaming Lips e a Bella Epoque francesa. Não é difícil outras faixas te remeterem a trabalhos como de Bob Dylan e outros mestres do Blues/Country.
A veia oldies mesclado com elementos folclóricos marcam a essência do som da Molodoys. “The Sigh Of A Devil And The Flesh Of An Angel” tem uma rica construção com gaitas, harmônicas e te faz flutuar no espaço intergaláctico.
No mesmo ano, já em sua parte final, eles figuraram entre as bandas escolhidas para integrar o tributo ao Oasis em homenagem aos 20 anos do disco Definetely Maybe lançado pelo portal Oasis News.
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A canção escolhida foi “D’Yer Wanna Be a Spacemen?”, e sinceramente na época eu disse que eles terem entrado foi um tremendo acerto, pois realmente eles conseguiram criar toda uma atmosfera densa e poética em sua releitura.
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Em junho de 2015 eles lançaram uma nova canção com uma atmosfera em que ainda não tinham explorado até então, o alt. country. O “Blues do Cangaço” como o próprio nome diz é um blues no estilo viola de cowboy.
A voz de Leo combinou perfeitamente com essa experimentação pois assim como Hawk Williams, é de tremenda necessidade um vozeirão para ganhar potência e conseguir transgredir a um som tão tradicional e cheio de elementos. Aliás gostaria de comparar a voz dele com a de William Elliott Whitmore se ele me permitir, claro.

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O mais recente lançamento do quarteto é Ácido um single lançado no fim do ano passado. Inclusive no vídeo podemos conferir ela sendo executada session. O nome do lado A, homônimo ao nome do “7, é bastante sugestivo e nos remete a fase mais transgressora e alimentada entre ácidos e ópios. Os efeitos de distorção mostram o efeito da droga no organismo, criando uma ilusão de sua visão estar realmente turva e desconexa.
Já o lado B, “Quebra-Arcos”, tem uma levada mais transcendental mesmo. Ela viaja através dos teclados hipnóticos e te conduz até a queda livre. É como se fosse o efeito do ácido após 40 minutos de sua absorção pelo corpo. Mais literal impossível em seus jams e viajantes guitarradas derretidas.
Após essa análise acredito que agora estão preparados para assistir ao primeiro vídeo da Orange Sessions. Vida longa ao projeto e que ele ganhe novos capítulos a cada nova temporada. Com vocês, Molodoys!


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Orange Sessions (Facebook)

This post was published on 29 de junho de 2016 6:06 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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