Que Pernambuco pode ser considerada a Nova Orleans brasileira, em termos de riquezas de estilos e sonoridades peculiares, não é novidade. Do frevo ao mangue beat passando pela psicodelia ao rock. A cena é prolífera e rica dos mais diversos elementos que só agregam a nossa MPB.

Hoje vamos contar um pouco da história de Júlio Ferraz, mais conhecido como vocalista do grupo Novanguarda. Nascido em Floresta/PE, Júlio vem de família repleta de violinistas, e desde cedo pode observar de perto a música que era feita por Gonzagão, Dominguinhos, Luiz Vieira, Alceu Valença, Lula Côrtes, Reginaldo Rossi, a banda Ave Sangria entre outros.

Foto Por: Marina de Azevedo

O que fez com que logo aos 12-13 anos começasse a tocar guitarra, naturalmente com o passar do tempo: aos 15 já iniciava suas primeiras composições.

“Eu sou um observador dos movimentos do tempo, e tudo que reflete o meu coração musical está nas ondulações, nos riscos e ruídos que tenho na vida. Sou compositor do dia a dia, e minha obra é bem mais extensa que a quantidade que publico, pois quase se iguala a quantidade de dias que vivo, de dias que sinto, de dias resolvo sangrar, ou mesmo deixo escorrer nos ombros a passagem de tudo que a de melhor ou pior em mim. E a música o fascina como um todo: “Tenho um certo repúdio a tags, escuto de tudo, absorvendo o máximo de tudo que me interessa.” diz Júlio Ferraz

Ter nascido na pequena cidade de Floresta, foi fundamental na formação de caráter do músico como ele mesmo relata:

“Passei minha infância entre a fazenda e a cidade; minha família por parte de mãe nasceu toda em fazenda, meu avô era fazendeiro, passei muito tempo correndo pelos arredores do riacho do navio que atravessava a fazenda da minha família e acredito que ali despertou muito da minha sensibilidade. Apesar da seca que domina quase todo momento, eu assisti belos quadros que me fizeram anos depois rabiscar meus primeiros poemas, que dali vieram minhas primeiras canções. E hoje estas canções já soam mais de 400, todas registradas na Biblioteca Nacional.”

Em 2006, sua carreira realmente teve o pontapé inicial, liderando a banda Novanguarda. Projeto este que mescla Rock Alternativo / Psicodélico / Fuzz / Noise. Ou seja, rock garageiro com ar dos anos 60/70 e muito fuzz.

E desde então gravou acompanhado da banda vários discos, dentre eles A Máquina de Retratos (2008), este que foi bastante elogiado pela crítica e público. Sempre utilizando de personagens para contar histórias. Neste disco, Valéria por exemplo, é uma menina de 16 anos que se apaixona pelo engano.

Já “Maria” é uma suicida viciada em psicotrópicos e depois dela as faixas que encerram o disco-história trazem toda gama de sentimentos e agonias vividas por ela. Guardem essa informação para entender um pouco mais do projeto solo do artista.

Através de suas faixas, compostas por Júlio Ferraz, com um único tema foi transformado em canção e os capítulos, ou canções seguem uma ordem de histórias do cotidiano.

 

Nos últimos tempos, ele decidiu transgredir musicalmente e buscar novos horizontes para explorar dentro do universo vasto de sua musicalidade. Assim, decidiu se atirar feito uma lança em carreira solo.

“Minha estreia solo será com uma trilogia, os três álbuns não vão sair de uma vez, mas terão um prazo de lançamento mais curto entre um e outro. O primeiro dos três álbuns, tem a produção assinada por mim, assim como as composições. Feito de forma completamente analógica, sem loops ou elementos eletrônicos, a gravação contou com a participação de parceiros musicais.

Nessa aventura solo vou do jazz ao fuzz-rock, do trip-hop ao folk. O que o público irá ouvir nesse primeiro disco de minha trilogia não é necessariamente a formula da minha carreira, gosto de me reinventar e é isso que ando fazendo durante esses meses quieto no meu laboratório de sons. Tento criar a todo instante, escuto muitos sons sem uma direção exata, desde ruídos a coisas mais concretas.” diz em entrevista para Ayrton Mugnaini Jr. – jornalista, pesquisador musical e entre outras coisas integrante do grupo Língua de Trapo

Foto Por: Marina de Azevedo

Assim no último dia 15, ele lançou o primeiro single,“Débora”.  Num álbum em que cada faixa terá uma personagem. Segundo Ayrton, o primeiro álbum tem outras suas odes ao verdadeiro sexo. Com canções como: “Roberta”, “Lilly”, “Marcelle”, “Beatriz”, “Cecília”, “Giselle”, “Marina”, além da própria “Débora” que você pode conferir logo abaixo.

Ouça o single “Débora” no Deezer

“Débora” tem uma atmosfera que mistura ritmos caribenhos com Jazz e carrega a sensualidade do trip-hop. Parece narrar a história de um melancólico fim de romance, onde restam apenas fragmentos de corações partidos. Os metais, a percussão e a voz densa se destacam no single. Deixando espaço para o coração sangrar lentamente. Conforme a canção cresce ela ganha elementos de rock e os batuques ficam ainda mais intensos, como se o sofrimento fosse aumentando gradualmente ao som do trompete.

O lado B do single contém a faixa,“Por Trás de Linhas” tem uma veia mais folk/psicodélica. Ela é densa e feita para ser absorvida aos poucos, o jazz vive na precisão da bateria milimetricamente calculada. O fuzz também tem espaço com pedais cheios de distorção, já melodia faz você fechar os olhos para tentar sentir o lugar em que a música quer te levar.

Seu primeiro LP solo, A Ilha Da Inconsciência No Espelho Polifônico Das Bifurcações Do Tempo, conta com a parceria da gravadora Discobertas (do produtor Marcelo Fróes) e tem previsão de lançamento para o mês de março. Este que nos deixa com certo ar de curiosidade sobre o que esperar.

Júlio Ferraz – Foto Por: Alex Nascimento

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This post was published on 17 de fevereiro de 2016 11:03 pm

Rafael Chioccarello

Editor-Chefe e Fundador do Hits Perdidos.

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