Sara não tem nome, nascida em 1992 em Contagem (MG), transita entre a música, as artes visuais e a poesia. Complexa e simples é a bio do soundcloud da artista, Sara Braga.
Que através de seu alter-ego conseguiu mostrar através da pluralidade de seus talentos: a essência de seu disco de estreia, Ômega III.
O disco lançado no ano passado foi amplamente elogiado pelos principais sites especializados em música do país, chegando a entrar nas principais listas de fim de ano, como por exemplo a do Trabalho Sujo.
Mas o encantamento pelo trabalho da artista talvez seja pela dose de ousadia, dramatização, fotografia, poesia e da preocupação com a estética da obra. E para entender isto basta conhecer um pouco mais sobre a história da mineira.
Sara Braga, é estudante de artes visuais da UFMG e desde os 15 anos decidiu transformar sua paixão por música em arte, começando assim a escrever suas primeiras composições.
Assim a transição da adolescência para a idade adulta, foi combustível para que seu disco ganhasse forma. Afinal, esta fase é cheia altos e baixos, nos despertando uma série de sentimentos, situações de auto-conhecimento e sofrimento. Nos fazendo passar por um carrossel de emoções devido a solidão, conflitos familiares, desilusões amorosas, questões existencialistas e territoriais.
Quem pensa que vai se deparar com um disco ~torta de climão ~ erra a mão forte. Visto que sua linguagem é jovem, irônica, non sense e niilista. Ou seja, mostra mais uma face da artista que Sara é. Ficando cada vez mais difícil encaixá-la em apenas um rótulo, se é que precisamos deles em 2016, não é mesmo?
Mas foi durante o convite para integrar o programa de residência no Red Bull Station – iniciado em fevereiro/2015 – que o sonho de gravar seu primeiro disco, começou a ganhar asas. Com a proximidade de uma equipe técnica e artística de primeira linha ficou decidido que o disco seria gravado nos estúdios da Red Bull.
Nesta época, Sara conheceu Julio Cavalcante (Macaco Bong/BIKE – que inclusive já falamos por aqui) que topou além de produzir o disco, gravar as linhas de baixo. A partir daí foram chamados músicos para a gravação: Haffa Buleto (guitarra) e Gustavo Athayde (guitarra/BIKE), Daniel Fumega (bateria/Macaco Bong), os teclados e sintetizadores de Fábio Gagliotti, violino e violoncelo de Marcelo Nunes, trompete de Vanessa de Michelis (Post) e a participação especial do parceiro Guto Borges (Dead Lovers Twisted Hearts).
As gravações e a mixagem ficaram por conta de Rodrigo Costa (Funai), engenheiro de som do Red Bull Station São Paulo. Já a masterização ficou por conta do lendário Rob Grant (Tame Impala, Pond, Death Cab For a Cutie, além do próprio Bike) e foi feita direto de seu estúdio na Austrália (Poons Head Studio).
E assim no fim do ano passado, era lançado o disco: Ômega III (2015)
Mas vocês devem estar se perguntando: Por que raios Sara Não Tem Nome?
Em entrevista recente para o blog Crush Em Hi-Fi, Sara respondeu:
“Essa é uma pergunta recorrente! (risos) São vários os motivos por ter escolhido Sara Não Tem Nome, um dos principais foi notar como as pessoas se preocupam com coisas que pra mim não são o principal que um artista deve ter, por exemplo saber quem é sua família, seu sobrenome, de onde você vem, etc. Na minha opinião isso ajuda a manter um certo elitismo no cenário artístico. Às vezes o “nome” da pessoas tem mais importância do que o seu trabalho e isso é uma coisa que me incomoda, pois quero que as pessoas vejam meus trabalhos independente disso.” Sara Braga, Fevereiro/2016 – em entrevista para o blog Crush Em Hi-Fi
Algo na mesma linha de pensamento de Gabriel Olivieri do projeto O Grande Babaca. Após essa introdução fica mais fácil se preparar para a audição do disco, despido de pré-julgamentos.
A primeira canção “Dias Difícies” tem aquela atmosfera de psicodelia misturada com folk music, algo meio como um encontro de Bob Dylan com Tame Impala. A letra é uma crônica repleta de ironias sobre a vida cotidiana de um alter ego incapaz de tomar decisões.
A segunda faixa “Atemporal” logo ganhou um mini webclipe para lá de conceitual.
A faixa que me remete a uma dolorosa melancolia, alá Daniel Johnston, mostra o sofrimento de um perfeccionista que não consegue se livrar do sofrimento do passado, para seguir em frente. A voz doce te leva nas ondas da slow-wave ao caminho de um precipício.
“Água Viva” é talvez a mais emo das canções, e fala sobre o tema do vício. Explicitamente em álcool, onde a personagem bebe para esquecer de suas frustrações. A música cresce e se transforma em uma espécie de rock experimental alá Bjork com guitarradas na linha de Sonic Youth.
A quarta canção “Ômega III”, que dá nome ao disco, é cheia de ironia. Nela, ela narra a metaforicamente história de um peixe que “morre afogado”. Em certo momento, ela brinca dizendo: “deixe ele salgar na areia da praia de Minas Gerais”. Ou seja, seria uma crítica as oportunidades de alguém que precisa largar sua vida para buscar seus sonhos em um grande centro econômico?
A introspectiva “Ajude-me” parece ser uma viagem ao mundo dos amigos imaginários, onde pede socorro e ajuda. O instrumental com violino, soa em certo momento como um filme de suspense na linha de Os Outros (2001). Onde os mortos acham que estão vivos, porém apenas habitam o mesmo ambiente estéril que os vivos.
“Páscoa de Noel” talvez seja a canção com a temática mais nihilista. Muitas vezes questiona a existência de Deus e o comportamento humano em sua essência nas coisas mais simples do dia-a-dia.
“Carne Vermelha” talvez sob o contexto dos traumas de adolescência traduz as experiências e frustrações amorosas que colecionamos nesta etapa da vida. O folk mais roots, beira o lado mais hibilly por trás da letra pessimista.
Se a última canção agiu feito uma faca apunhalada no peito, “Queda Livre” é um blues que age como um hino dos pessimistas, sem amigos e deprimidos. Questiona temas como o vazio existencial e as paranoias enfrentadas por mentes que choram caladas.
“Prision Break”, favor não confundir com a série, é a oitava canção do trabalho. Esta faixa que é em inglês, no estilo voz e violão, cresce aos pouquinhos conforme outros elementos vão entrando. Assim ela se torna um meio que um country/blues, com o adendo de gaitas, sim, na linha Nashville, TN. O tema é a liberdade, e a prisão que a estrutura sociedade nos trancafia. Desde a igreja, a escola ao trabalho. Aquele ciclo fechado da vida de nascer, estudar, trabalhar, procriar e morrer.
A melancólica “Solidão” lembra um misto de Nada Surf e Tigers Jaw, onde o tema depressão é explorada de maneira simples e bonita. A guitarra dedilhada, casa com o violino e trás como resultado uma atmosfera e sensação de leveza. O tapa na cara vem por parte da letra, a explanação de um problema sério que é o estar presente fisicamente amontoado numa cidade grande e mesmo assim se sentir só. Um paradoxo vivido por boa parte de nossa sociedade, que esconde seus medos e frustrações através de remédios tarja preta.
“Grandma I Love You So”, soa como uma canção bastante pessoal. Como a saudade das experiências que teve com a avó. O som ainda te remete a atmosfera pesada do disco Either Or (1997) de Elliot Smith.
A música que fecha o trabalho é: “We were born dead”. A curta faixa de apenas 1 minuto, é uma canção de ninar. Que finaliza o disco com uma mensagem positiva, por mais irônica que ela pareça, veja bem.
Free Noise com Sara não tem nome @Associação Cultural Santa Cecília
O primeiro show escolhido para estrear a programação 2016 do Free Noise, foi justamente Sara não tem nome. A cantora trás em seu repertório canções de seu debut com um show que promete o despertar de muitas emoções.
A banda que fará o show será composta por Sara (voz e cordas), Fabiano Boldo (baixo), Gustavo Athayde (guitarra) e Daniel Fumega (bateria), e recebe Desirée Marantes tocando violino.
A proposta do projeto Free Noise é contar em sua programação toda terça-feira com shows de bandas autorais mais quentes do momento.
Serviço:
Free Noise com Sara não tem nome
Data: 16 de fevereiro (Terça-Feira)
Local: Associação Cultural Cecília (Rua Vitorino Carmilo, 449 (próximo ao metrô Marechal) Santa Cecília – SP
Preço: R$10
Horário: A partir das 19h | Show às 21h
++ brejas artesanais + rangos + artes visuais ++
Fique por dentro da programação da Associação Cultural Cecília: goo.gl/mmwjxB
Site Oficial
Facebook
Soundcloud
Youtube
This post was published on 12 de fevereiro de 2016 9:00 am
The Vaccines é daquelas bandas que dispensa qualquer tipo de apresentação. Mas também daquelas que…
Demorou, é bem verdade mas finalmente o Joyce Manor vem ao Brasil pela primeira vez.…
Programado para o fim de semana dos dia 9 e 10 de novembro, o Balaclava…
Supervão evoca a geração nostalgia para uma pistinha indie 30+ Às vezes a gente esquece…
A artista carioca repaginou "John Riley", canção de amor do século XVII Após lançar seu…
Quando foi confirmado o show do Travis no Brasil, pouco tempo após o anúncio do…
This website uses cookies.
View Comments