Banda ETNO: O renascimento da Fênix e a arte de sobreviver
Sobreviver, transformar e renascer das cinzas: eis os pilares da banda ETNO, grupo que já está a 13 anos representando a prolífera cena da capital do país.
Ou seja, a fábula da fênix tem tudo a ver com os ideais e de quebra com a história do conjunto. Formado em 2002, eles passaram por duas reformulações antes de fixar com a atual, há cerca de 8 anos.
Esta que conta com Tiago Freitas (voz), Vitor Fonseca (guitarra e vocal), Iano Fazio (baixo/vocal) e Tiago Palma (bateria). Mudanças e transformações com toda certeza foram importantes no meio do caminho para renascer e reerguer-se das cinzas.
Assim como a narrativa temática das canções do ETNO. Seguindo uma narrativa pós apocalíptica, cada trabalho costuma levar um pouco o caos como crítica social ao mundo em que vivemos.
Revolução Silenciosa (2008)
No disco Revolução Silenciosa (2008), podemos sentir aquele sentimento de revolução que todo adolescente passa internamente. O querer transformar o mundo para algo melhor. As indignações com o preconceito, diferenças sociais e as dívidas históricas da sociedade. Mesclando vários idiomas talvez para mostrar o fruto da miscigenação que crava a identidade do brasileiro.
“Siglos” por exemplo, tem a veia do new metal somado a sons mais pesados como o do Sistem Of A Down/Rage Against The Machine ao mesmo tempo que tem aquele batuque inconfundível de grupos aclamados de Recife, como Nação Zumbi.
O Rap, maracatu, e o som do Korn são o caldo da faixa, “A Mesma Dor”. A luta do dia-a-dia, o sentimento de estar dizendo através da poesia a vontade de uma nação. O que tem tudo a ver com o nome do grupo, já que ETNO é um radical que remete a raça, povo ou nação assim eles quiseram desde sempre através de uma espécie de inconsciente coletivo, passar sua mensagem para o mundo.
“Equilíbrio”, carrega o peso e força do metal, o vocal é rápido e mostra a versatilidade do grupo que se alimenta do linguajar e destreza do rap. A transformação do espiritual e da mentalidade em constante mudança é o tema central da canção.
O reggae e o som dos cariocas do O Rappa, mesclados ao new metal compõe a canção tema do disco, “Revolução Silenciosa”. A revolução assistida de dentro para fora, numa espécie de caos interno a flor da pele.
“O Mito” é a balada da reconstrução, as cicatrizes deixadas por um sistema que excluí a maior parte da sociedade e privilegia poucos. Os muros sociais e o mito do bem estar social. Tudo isso mesclando o som do pop rock brasileiro, somado ao peso de grupos estrangeiros como Limp Bizket e Stone Sour.
“Recall” é a mais visceral e pesada sonoramente, com elementos de metalcore e berros. Ela abusa dos guturais e tem a raiva exalada em seu DNA. Com trechos em inglês e em português, ela tenta abrir os olhos da sociedade perante a necessidade de mudança.
Retomando a brasilidade, “Guerra Sem Fim”, tenta absorver os elementos do maracatu e a mensagem pesada de Roots (1996), do Sepultura. A mescla ao pesado metal e a busca intensiva por mostrar a realidade e o sofrimento de um povo esfacelado em suas crenças.
“Moit Et Le Monde” fecha o disco e dialoga com “A Mesma Dor”, no quesito conceitual de mostrar a luta do discurso sufocado de uma nação em chamas e pedindo socorro. Com trechos em francês e usando o artifício da rima, a melodia mostra a inquietação com o mundo e a necessidade de melhorar o ser humano, para assim conseguirmos as transformações necessárias para a revolução. A luta da alma de dentro para fora.
Setembro (2011)
Setembro (2011), é o segundo disco dos brasilienses foi um marco para o grupo. Visto que para começar, ele recebeu esse nome devido ao mês de ensinamentos que eles tiveram em São Paulo, finalizando os preparos para seu lançamento. Segundo a própria banda, foi um processo de crescimento pessoal e profissional bastante significativo.
E tudo isso reflete no amadurecimento visível que este disco nos mostra. Na parte instrumental sentimos mais peso e elementos de outros estilos como o grunge, stoner e o rock alternativo.
As próprias letras mudam a temática e parecem ter mais horizontes. O que é natural em toda banda, visto que não são mais os garotos que lançaram seu primeiro disco, três anos antes.
“Setembro” carrega elementos de um rock mais abrangente em estilos, abraça a calmaria do Deftones e o peso do metal de grupos como Alien Ant Farm. Na letra, o peso e o discurso desta vez tocam no tema de mudança e amadurecimento. A quebra das correntes com as certezas da vida.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=1-C6l-7huZE]
Já “A Estrada” segue o pretexto de nos contar sobre a jornada da vida, os caminhos incertos e os tapas na cara que a vida nos dá. A derrubada de certezas e a busca incansável pela paz com o “Eu”. A luta constante por satisfazer o ego. O peso e o equilíbrio tem um potencial pop com o peso de bandas como Pantera.
“Minhas Horas” revela um lado mais melódico e acústico do grupo. Com adendo de pianos e violões, o som mostra o talento dos vocais dos artistas. Quase confessional, a música explora a dificuldade em aceitar as perdas, as noites mal dormidas buscando redenção. Conforme cresce a canção, ela ganha elementos de guitar heros, como Steve Vai em seu solo.
“Perdido em uma memória” começa a mostrar um lado mais teatral na linguagem e atitude da banda. A desilusão, é dramatizada através de personas/personagens. A luta interna por superação e suas quedas ao longo do processo. A confusão mental em sí. As cavalgadas mescladas a calmaria. Algo como se o Metallica encontrasse bandas de Post-Rock.
“Pra sempre – Pt. 1”, remete mais as raízes do rock de Brasília. Este que consegue se renovar desde os anos 80, se renovando feito uma fênix e revelando artistas dos mais distintos gêneros, feito um celeiro do rock independente. A canção em sí fala sobre a vontade de superar os fantasmas do passado e encontrar um novo rumo.
A sexta faixa “Quanto tempo faz”, tem elementos de rock altenativo/post rock, mas evoluí no andamento da música para o metal. O questionamento sob a geração que se perdeu em valores e ideais. A faixa parece dialogar com os garotos do Revolução Silenciosa (2008). A mudança e a transformação dos quereres.
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“Sem Direção”, te remete a Plebe Rude, banda também de Brasília que nos anos 80 ajudou a consolidação do rock local. A música é um verdadeiro desespero de emoções, a insegurança com o futuro mostra as indefinições e as surpresas que o futuro nos trama.
“Cinco” é densa, já mostra a superação ganhando forma. Como apenas o tempo permite fechar as cicatrizes, mas nada apaga o que já existiu de certa forma. A contradição entre o querer superar, e o não negar que aquilo já fez parte um dia. A atmosfera é dark e junta o lado mais sinfônico do metal.
“Velha Oração” remete mais uma vez a espiritualidade e a busca por superar os momentos de solidão. A luta contra o vazio da alma, e a busca pelo sentido na vida. Cheia de dedilhados, o som equilibra a catarse das guitarras com trechos mais reflexivos. O poder das transições mostra o peso e a potência de seus músicos.
O dub/reggae conectado com o metal dão uma atmosfera ímpar a “Avisa Lá (Nossa Gente)”. O encanto com a cultura nacional de quem vê de fora e a valorização do maior tesouro nacional: o povo, ou melhor dizendo o ETNO.
“Meu Mundo”, volta a explorar o lado acústico e mais perfeccionista do grupo. A letra é crítica e reflexiva, pega elementos do maracatu, no som do que parecem ser atabaques e da música clássica, como violinos. Mais uma vez a veia do primeiro disco, segue pulsando. E o passado conversa com o presente.
Já se aproximando do fim do trabalho, “Tarde Demais”, já começa rasgando tudo. Inclusive com o som de elementos de vários estilos, violinos e baixo ditando o ritmo fazem com que a canção ecoe no seus ouvidos. A riqueza de elementos soa como uma canção que passeia pelo rock, de Muse a Radiohead somados ao peso do metal em sua explosão e catarse.
Fechando o segundo trabalho autoral do grupo, “Pra Sempre – Pt. 2” é a balada das escolhas, dos sentimentos e das ações. O lado apocalíptico da música, está desconstruído através de melodias harmônicas e na letra que explora a vontade de construir raízes sem olhar para trás.
As 7 Fronteiras (Novembro/2015)
Após os dois discos lançados, a banda ETNO chega a uma nova fase dentro da carreira do grupo, cheia de renovações e novidades. Pois é, a fênix teima em renascer a cada nova transformação.
E seu novo disco desta vez será lançado de uma maneira diferente. O terceiro álbum será lançado em “três capítulos”, em forma de EP’s. Sendo o primeiro deles, As 7 Fronteiras (2015), disquinho que reúne quatro faixas.
O primeiro single, “O Último Anjo”, este que começa pesado e carrega elementos do stoner rock de bandas como Eletric Wizard e Black Sabbath. O espírito caótico impresso desde o começo do grupo, em suas narrativas teatrais, também marca presença.
A canção carrega as trevas do renascimento. O ressurgir da fênix atrelado ao dia do juízo final: a morte poética e as asas da transformação. A canção inclusive ganhou um lyric video que parece desbravar o inferno interior.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=TbB4DYrDfy8]
“Diário de Morte” é a segunda faixa do EP conceitual. Ele carrega em sua atmosfera pós apocalíptica, explorada através a narrativa de diferentes personagens que não necessariamente se conhecem.
Os questionamentos filosofais que este cenário pós fim do mundo nos cria. Como lidar com essas mudanças e transformações tão extremas? Até onde o individualismo irá nos levar? Fazemos mesmo algo para melhorar o mundo e o bem-estar alheio?
Com elementos de stoner/new metal a canção trás o espírito de destruição para o ressurgimento de algo melhor. A crise da identidade pessoal e o fim da linha. O fim de um ciclo, o tema da morte tratado como mais uma fase da vida. Esta que está mais atrelada ao renascer espiritual, para só assim poder transcender e realmente fazer algo significativo para o mundo.
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O clipe continua a história de “O Último Anjo”, desta vez com o adendo dos personagens e ação. A direção e as ilustrações inclusive foram feitas pelo baterista, Tiago Palma, aliado a um time de animadores composto por Felipe Silverwood (Cope Animações) e Mattheus Macedo. O guitarrista, Vitor Fonseca ficou responsável pelo Sound Design. Assim conseguimos sentir como o grupo acha de extrema importante o lidar com todos os processos que envolve o conceito do álbum, seja na música, nos quadrinhos ou na parte narrativa teatral.
“A Sétima fronteira”, faixa título, é a terceira faixa do EP. A música bebe da fonte do rock moderno, cheia de guitarras ensurdocedoras, ela tem várias camadas sonoras. Começa com elementos de calmaria do post-rock mas conforme cresce, o lado mais sujo de estilos como grunge/stoner rock se revela.
A canção narra a história de uma pessoa que busca novos rumos através do desapego material. A busca pela transformação espiritual, a procura pela luz. A morte e o renascimento do ser, a derrubada da sétima fronteira. O auto-conhecimento e o autoflagelação da alma. O encontro com sí mesmo e o fim.
O último single do EP, “SobreViver” teve seu clipe dirigido por Gabriel Ribeiro e foi filmado no Teatro Garagem, em Brasília (DF).
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O clipe tenta te sufocar com o jogo de luzes e sombras, a claustofobia tenta de certa forma utilizar da metáfora do que seria”SobreViver”. O nome da música já brinca com o jogo de palavras Sobre Viver/Sobreviver. O caos é sonoro, o peso é sentido, sujeira, em certas horas beira a cacofonia, tudo isso para ilustrar o caos impregnado do significado do que seria sobreviver em sociedade. A luta diária sob o instinto de sobrevivência.
A letra questiona temas como individualismo, o suicídio moral, o fim dos anseios, dos desejos e sonhos. O questionamento do que é certo ou não seguir, o que é certo fazer? O que é ser independente? Estamos conectados ou isolados? Estes e outros dilemas do que é viver nos dias de hoje, ganham voz.
Com discurso tão poderoso, crítico e questionador: o primeiro EP dessa série de disquinhos que dará forma ao novo trabalho da banda ETNO deixa uma série de reflexões nos mais diversos setores da vida ao ouvinte. A emancipação espiritual e o caos, são os ingredientes que fazem a fênix e as raízes da banda, renascerem das cinzas.
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